Ruspo, "Esses Patifes" (2013)
Written by urbe, Posted in Música
Alguma coisa nesse Ruspo é muito boa, outra é muito ruim. O dilema se abate. O instrumental é interessante, diferente, só que o vocal – sempre o vocal, a grande fragilidade da música independente brasileira – não acompanha.
Não sei o que acontece com as bandas daqui que os vocais sempre entram muito mais à frente de todo o resto no mix, com efeitos estranhos e, de maneira geral, mal cantados. Incomoda quando é dito, mas essa é a verdade para 98% das bandas brasileiras, canta-se muito mal, mesmo o que esteticamente não exige muita técnica.
Voltando ao disco, que tem uma música com o sensacional título “Chatuba do Agroboy” (“máquina agrícola detona igual animal”), dá vontade de ouvir uma versão só com as bases.
Segundo o autor, um jornalista que gravou o disco durante suas viagens, o som é tropical lo-fi.
Não achei tão ruim assim, o vocal…achei bem mais interessante do que a média da “nova mpb” por exemplo . Será que é um problema de mixagem? Geralmente se usam programas pra “limpar” o desafino, tipo autotune e melodyne…o que não deve ser o caso nesse projeto.
Por exemplo eu não consigo ouvir gang do eletro de jeito nenhum, acho que os vocais tem a ver…e as letras primárias também. Então não é só o vocal, mas as letras também.
No brasil tem muito mais músicos (quem não toca violão?) do que produtores, ou seja, pessoas que estão interessadas em refinar e aprimorar o som gravado. A cultura do som ao vivo (onde a música é sempre de graça pra baixar…) não deixa muito espaço e dinheiro pra gastar no estúdio pra aprimorar as coisas. Até porque a música gravada não é fonte de renda para a maioria e sim algo apenas necessário para alcançar o objetivo final de fazer shows. Isso acaba impactando a qualidade da música gravada que não é vista como uma coisa importante, mas casual.
Sim, letras tbm, mas o vocal atrapalha até letra boa.
Mas valeu muito o que você escreveu, eu até gostaria de ler mais sobre isso. Sobre essa coisa do problema no vocal na música independente. Será que é porque não existe muito mercado então as pessoas não tem pra que se aprimorar, pra que competir? Ou será que o mercado demanda uma certa mediocridade? É difícil dizer qual o motivo disso realmente.
Esse é um assunto interessante sobre o qual já pensei um pouco.
Sobre o volume da voz, existe uma razão cultural para que as vozes sejam “altas” em geral nas mixes brasileiras desde sempre . A tradição mais literária da nossa música faz com que o intérprete tenha a intenção de que o ouvinte entenda cada palavra da letra . Em boa parte da produção de rock anglo-americano as letras são um mistério para o ouvinte. Americanos e ingleses estão acostumados com não entender direito letras desde os Roling Stones… lembro sempre de uma matéria que a MTV americana fez , quando explodiu o Smell like teen spirit , em que eles entrevistavam na rua jovens e pediam para cantar a musica , todo mundo cantava a letra diferente..porque ninguém de fato tinha entendido porra nenhuma além de “entertain us… ” Tá certo que a letra é meio críptica, uma livre associação de idéias , mas nós entendemos perfeitamente as imagens igualmente crípticas das letras do Djavan, por exemplo.
Sobre cantar mal, concordo que é uma coisa particular do indie-brazuca , e acho que aí há duas coisas , uma mais geral, que é a nossa tendência desde a bossa-nova de desvalorizar o cantor que canta “prá fora,” , que realmente emite … me lembro das comparações do Renato Russo com o Jerry Adriani … , a outra questão é mais geracional e estética , é a necessidade do “indie ” de se diferenciar dos cantores mais populares , que cantam “bem.” ( afinado, com boa emissão etc…).. Concordo também inteiramente que achar uma maneira própria de colocar a voz é o desafio fundamental da produção indie-brazuca.