terça-feira

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dezembro 2006

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Rolling Stone, novembro 2006

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Matéria sobre as gravações do disco da Orquestra Imperial e algumas resenhas de shows do TIM Fest que escrevi para o segundo número da Rolling Stone Brasil. Com a edição fora das bancas, reproduzo os textos aqui.

O Império contra-ataca
Orquestra Imperial prepara estréia em CD só com inéditas

Após mais de 100 bailes pelo Brasil e no exterior (em Londres, Portugal e EUA) promovendo do samba-canção ao cha-cha-cha, a Orquestra Imperial finalmente entrou em estúdio para gravar seu primeiro disco. Não se trata de uma simples transposição do repertório de versões tocadas nos shows para a bolacha. Será um disco de inéditas.

Formada por músicos cariocas, entre eles Rodrigo Amarante, Moreno Veloso, Thalma de Freitas e Domenico Lancelotti, a Orquestra Imperial começou como uma brincadeira. “Era a pelada da galera”, define Berna Ceppas, produtor e co-fundador do grupo. Kassin, o outro fundador, continua, “a gente não achava que iria fazer um disco, a Orquestra foi montada para fazer apenas quatro shows no [extinto] Ballroom. Foi por isso que todo mundo topou”.

A brincadeira cresceu. Com o título provisório de “Carnaval só no ano que vem”, o disco sairá no início de 2007, pelo selo Ping-Pong, de Berna e Kassin, e terá cerca de 12 músicas, a maioria resultado de parcerias entre membros da banda, com arranjos de Felipe Pinaud. “Todos nós achávamos que não valia a pena fazer um disco com regravações, banda cover”, explica Kassin.

Entre as escolhidas estão “Iara” (Nelson Jacobina e Tavinho Paz), conhecida dos shows, “Ereção” (criação coletiva do grupo com Sandra de Sá), “Jardim de Alah” (Moreno Veloso) e “O mar e o ar” (Amarante, Domenico e Kassin). Influenciadas pelo repertório da própria Orquestra, a sonoridade é a mesma que já se conhece.

Complicado foi coordenar as agendas dos atuais 18 integrantes da Orquestra para gravar e mixar em apenas três semanas. Além de Kassin e Berna, Mario Caldato, amigo da dupla e mais conhecido por seus trabalhos com os Beastie Boys, Marcelo D2 e, recentemente, Marisa Monte, assina a produção. “Foi tudo gravado ao vivo, todos tocando juntos, menos os metais. Só refizemos um ou dois erros, 98% ficou do jeito que estava”, detalha Mario Caldato.

A edição internacional do disco incluirá algumas das versões dos bailes da Orquestra Imperial, como a dobradinha “Obsessão” (Mirabeau e Milton de Oliveira) e “Sem compromisso” (Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro), tida como a primeira música do conjunto, quando foi escolhida por Seu Jorge no camarim do primeiro show, na época em que ele ainda fazia parte do grupo.

DJ Shadow
Marina da Glória (TIM Festival), Rio de Janeiro
28 de outubro de 2006
4 estrelas
Saindo das sombras
* por problemas de espaço, essa resenha acabou não sendo publicada na revista.

Responsável por um dos discos mais importantes da história do hip hop, “Endtroducing” (o primeiro feito apenas com samples), DJ Shadow veio pela primeira vez ao Brasil num momento de mudanças na carreira.

Em seu terceiro disco, “The outsider”, Shadow abandonou suas as produções sombrias e atmosféricas, quase sempre instrumentais, para apostar em sonoridades mais comerciais.
A apresentação mesclou sons dessas duas fases. O começo privilegiou músicas viajantes, como “Six days”, para depois o rapper Lateef agitar o público com “Enuff”, “Mashin’ on the motorway” e “The number song”.

Além dos toca-discos e laptop, Shadow pilotou um DVJ, comandando as ótimas imagens no telão atrás dele. Isso pode explicar a economia nos scratches e viradas, duas de suas virtudes.

Shadow está mais eclético. Indo além do hip hop, solta pancadões (o novo samba de DJs querendo agradar os locais) e passeia pelo rock. “Midnight in a perfect world” fechou o set que provou que DJ Shadow ainda é o DJ Shadow.

Daft Punk
Marina da Glória (TIM Festival), Rio de Janeiro
27 de outubro de 2006
5 estrelas
Bright Side of the Moon

Do momento em que a dupla Daft Punk, em trajes de robôs, subiu na pirâmide (ao som do tema de “Contatos imediatos do terceiro grau”) para disparar “Robot rock”, até o encerramento com “Human after all”, o que se viu foi uma catarse coletiva na tenda principal do TIM Festival.

Fazendo mash ups deles mesmos (“One more time” + “Aerodynamic”, “Face to face” + “Harder, better, faster, stronger”), os franceses passeiam por todos os estilos, do house ao rock, passando pelo techno, breaks e electro.

A parte visual é espetacular. Coberta por telas de plasma e cercada de luzes, a pirâmide psicodélica se destaca. Emoldurada por uma estrutura metálica que brilha, muda de cor e pisca no tempo das músicas, os efeitos arrancam urros de felicidade da platéia.

Depois de ótimos discos, o Daft Punk conseguiu atingir a perfeição também ao vivo. Apesar das justas comparações com o Kraftwerk, o que está sendo feito nessa turnê nunca foi visto antes. Daqui a muitos anos, esses shows deverão ser lembrados como um marco. O “Dark side of the moon” da geração 00.

Thievery Corporation
Marina da Glória (TIM Festival), Rio de Janeiro
28 de outubro de 2006
3 estrelas
Só o dub salva

Fãs de música brasileira e com uma legião de seguidores por aqui, os americanos do Thievery Corporation finalmente fizeram seu show por aqui.

Enquanto a dupla fez o que sabe melhor — misturar batidas eletrônica com a pressão dos graves da música jamaicana (o tal do downtempo) — tudo foi bem, principalmente nas participações dos rastas Roots e Zee como MCs.

Do centro do palco, Rob Garza e Eric Hilton, com toca-discos e samplers, comandavam as ações. Quando a dupla abandonava o minimalismo do dub, o exagero de elementos no palco (metais, cítara, dois percussionistas, três cantoras…) congestionava o som.

Sem se incomodar com nada disso, a tenda chacoalhou sem parar ao som de “Lebanese blonde” “Le mond” e outras. A presença constante dos rastas puxava o som pro lado certo, garantindo momentos memoráveis como as clássica “.38.45 (A Thievery Number)” e “The richest man in Babylon”.

Robbie Williams
Praça da Apoteose, Rio de Janeiro
12 de outubro de 2006
2 estrelas e meia
Debochado, Williams não vinga nos EUA nem no Brasil

Das 40 mil pessoas esperadas para o show na Praça da Apoteose, apenas cerca de 20 mil (segundo números divulgados) enfrentaram a chuva para assistir o show do inglês.

Como bom britânico, Robbie iniciou o show pontualmente às 21h, uma “novidade” em termos de eventos cariocas. Brincando com a platéia o tempo todo (gerou uma vaia ao falar de Ronaldinho, pediu maconha pra platéia), o cantor enfileirou sucessos da carreira (“Angel”, “Rock DJ”), fez citações à “Staying alive” (Bee Gees), “Walk on the wild side” (Lou Reed) e “Garota de Ipanema” (Tom e Vinícius).

Debochado, Robbie Williams parece não levar muito a sério o meio musical em que está inserido, como se criticasse o próprio universo pop. A estrutura gigantesca, com telão e iluminação especiais (mas que veio desfalcada para o Brasil), as longas pausas entre uma música e outra e o fato da banda ficar quase escondida no fundo do palco (com algum destaque para o excelente coral), transformam o espetáculo numa espécie de programa de auditório, onde a música parece menos importante que o papo.

Perto do fim, a pegada eletro de “Rude Box” proporcionou um dos melhores momentos visuais do show, apesar da recepção um tanto morna do público. Na despedida, Robbie pediu para quem gostou contar para os amigos, pra ver se, da próxima vez, eles não enchem as arquibancadas, que ficaram vazias.

Após cantar “Kids”, o cantor saiu do palco com a bunda de fora, deixando talvez, uma última mensagem.

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  1. Rod

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