sábado

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dezembro 2020

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Wired (2020)

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Muito feliz de editar o primeiro número da WIRED no Brasil! Não posso falar que é um sonho realizado porque nunca nem pensei em capitanear um número de uma das principais revistas de tecnologia do mundo e uma das minhas favoritas desde sempre.

É uma edição especial, listando 50 nomes que expandiram a criatividade no Brasil nesse estranho 2020. A revista funciona como uma “edição impressa” do Prêmio CreativeX Wired Festival, uma parceria da Ambev CreativeX e Wired Festival Brasil, já que esse ano não foi possível o evento presencial.

O time montado foi só de fera braba: Alexandre Matias entrevistou, o Wendy Andrade fotografou, a Juliana Azevedo fez o projeto gráfico e a Cris Naumovs, além de me convidar, juntou toda essa turma, conectando com a Condé Nast e Ambev.

Agradeço muito pela oportunidade e pelos meses de intensas trocas e aprendizados à Flavia GozoliAnita CastanheiraMarina ChiccaKarina Mendes CardosoRicardo DiasArthur ConteVivian HipólitoRafaela F. Pascowitch e todo time!

Abaixo, o editoria que escrevi para abria revista, que está sendo distribuída gratuitamente em alguns pontos de venda no Rio e em São Paulo (e não vai ser vendida em bancas) e a lista dos 50 nomes escolhidos, com os respectivos links para cada um dos perfis.

Carta do editor

Antes de mais nada, é preciso tirar o elefante da sala: a pandemia mudou tudo e transformou 2020 em um dos anos mais desafiadores no passado recente. 

Felizmente o Brasil é um manancial de inventividade, então já seria complicado organizar uma lista com apenas 50 nomes que expandiram a criatividade em qualquer ano. Em 2020 foi ainda mais. Não há como falar de criatividade em qualquer área sem considerar como foi afetada pela maior emergência sanitária global dos últimos 100 anos.


Por um lado, a luta contra o coronavírus fez surgir tantos heróis e heroínas que seria impossível listar apenas 50 pessoas que fizeram a diferença especificamente nesse campo. Aqueles que tomaram qualquer atitude para minimizar os impactos da pandemia, principalmente os da linha de frente, merecerem todos os aplausos. Sua dedicação ficará marcada na história, não importa o tamanho dos seus esforços.

Por outro lado, é também muito complicado desassociar a epidemia das soluções e invenções surgidas nesse período. Momentos de crise aceleram mudanças de paradigma. E com adversidades nas proporções que estamos vivenciando,  não houve setor que não tenha sido diretamente afetado por essa situação. A pandemia permeia tudo.

Exatamente por isso, a criatividade foi colocada a prova. E expandiu. Cientistas, atrizes, músicos, influenciadores, humoristas, jornalistas, ativistas, empresários, empreendedores, todos foram obrigados a a se adaptar, a se reinventar e criar soluções para atravessar essa fase.
Algumas dessas mudanças foram provocadas pela crise, mas não para atender diretamente a crise. Diversas mentes brilhantes foram obrigadas a ir além justamente por conta das limitações impostas pelo momento atual.

Essa lista reúne nomes que ousaram em suas áreas – apesar ou por conta da pandemia. Graças a elas (e a tantas outras), 2020 deixará também um legado positivo e de ensinamentos para nossos próximos desafios.

Os 50:

sábado

12

dezembro 2020

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RESUMIDO na lista de favoritos de 2020 da Apple

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Meu podcast, RESUMIDO, foi escolhido pela Apple Podcasts como um dos favoritos de 2020! E o RESUMIDO segue em primeiro 1º lugar na categoria Notícias & Comentários na Apple desde 2019!

Baita reconhecimento e fico muito feliz de ver o RESUMIDO chegando cada vez mais longe.

Resumido - RESUMIDO
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Resumido – RESUMIDO

No RESUMIDO número 90: a estética e a ética das campanhas políticas da esquerda, a vida na Algoritmolândia, o que acontece quando nossas personas se transformam em perfis e muito mais assuntos num bate papo com o jornalista Bruno Torturra.

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12

dezembro 2020

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Globo News e o 5G

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A proximidade do leilão para implementação da rede 5G no Brasil faz o assunto entrar em pauta. Participei de um dos episódios da série da Globo News sobre o tema.

sexta-feira

16

outubro 2020

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TAB Uol (outubro 2020)

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Escrevi esse artigo para o TAB, do Uol, sobre como a estratégia de podcasts exclusivos das plataformas pode prejudicar o cenário a longo prazo. E porque, mesmo assim, essa pode ser a única opção viável para podcasters:

A ascensão das redes sociais acabou com os blogs, contribuindo para a consolidação de “cercados digitais” fechados, onde a informação é mediada por algoritmos.

Seduzidos pelo alcance das plataformas, podcasts e ouvintes podem estar repetindo o mesmo erro. O que acontece agora com o formato é a manifestação mais recente de um problema estrutural da distribuição de conteúdo na era das redes sociais.

Leia o texto completo no TAB.

Opinião: Acordos de exclusividade podem ser tiro no pé dos podcasts?
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Opinião: Acordos de exclusividade podem ser tiro no pé dos podcasts?

A ascensão das redes sociais acabou com os blogs, contribuindo para a consolidação de “cercados digitais” fechados, onde a informação é mediada por algoritmos.Seduzidos pelo alcance das plataformas, podcasts e ouvintes podem estar repetindo o me

Opinião: Acordos de exclusividade podem ser tiro no pé dos podcasts?

A ascensão das redes sociais acabou com os blogs, contribuindo para a consolidação de “cercados digitais” fechados, onde a informação é mediada por algoritmos.

Seduzidos pelo alcance das plataformas, podcasts e ouvintes podem estar repetindo o mesmo erro. O que acontece agora com o formato é a manifestação mais recente de um problema estrutural da distribuição de conteúdo na era das redes sociais.

O mercado de conteúdo exclusivo (quando um programa só pode ser escutado em determinada plataforma) virou notícia fora no nicho quando, além de lançar programas de celebridades como Michelle Obama e Kim Kardashian, o Spotify comprou o podcast Joe Rogan Experience por inacreditáveis US$ 100 milhões.

No Brasil, segundo maior mercado consumidor de podcasts do mundo, atrás apenas dos EUA, produções locais também estão se tornando exclusivas. Sucessos de público como Um Milkshake Chamado Wanda, Quebrada Pod, Hoje Tem, Infiltrados no Cast, É Nóia Minha, Primocast e Poc de Cultura agora só podem ser escutados no Spotify.

Para tornar-se o equivalente ao Google no campo do áudio e dominar esse espaço, o Spotify mistura as estratégias da Netflix, oferecendo conteúdo exclusivo, e do YouTube, facilitando a produção de podcasts por qualquer pessoa.

Como destruir os podcasts

No livro “10 argumentos para você deletar agora suas redes sociais”, o cientista e filósofo da computação Jaron Lanier fala sobre como podcasts escaparam, até aqui, da degradação de conteúdo promovida pelas redes sociais, muito por conta do conteúdo de áudio ainda ser pouco explorado pela interpretação dos algoritmos.

Jaron dá a receita de como destruir esse ecossistema: abandonar o caráter pessoal, episódico e contextualizado dos podcasts, desenvolvendo uma inteligência artificial que seja capaz de transcrever o conteúdo de um episódio, para assim categorizá-lo de acordo com palavras-chave, inclusive combinando pequenos trechos de diferentes programas para criar uma colcha de retalhos de opiniões sobre determinados assuntos.

Essa ferramenta otimizaria o sistema de buscas e supostamente pouparia o tempo do ouvinte, mas o conteúdo ficaria completamente fragmentado e descontextualizado.

Na busca por audiência, os criadores cederiam a essa lógica e passariam a produzir segmentos cada vez mais estridentes, na esperança de serem pescados pelo algoritmo. Isso tudo, claro, salpicado de anúncios e também, possivelmente, de trechos com notícias falsas, sem que o usuário consiga diferenciar uma coisa da outra.

Se essa descrição lembra a cacofonia do feed de redes como Facebook ou Twitter, onde manchetes rolam pela sua tela numa velocidade impossível de acompanhar, é porque você já entendeu o problema.

Uma história que se repete

As plataformas de streaming deram um fôlego inédito aos podcasts. O termo existe desde 2004 e o formato é baseado no RSS, um modelo de distribuição em que os usuários assinam conteúdos e o recebem através de um agregador.

Na época do RSS, além de entender minimamente como utilizar um agregador, você precisava assinar, baixar e transferir o arquivo de áudio para algum aparelho para então escutar o programa. Dava trabalho. Com a chegada das plataformas de streaming, ficou tudo mais prático.

Em troca da facilidade de encontrar uma audiência, criadores de áudio migraram para as plataformas, numa escolha similar a que levou blogueiros a contar com o Facebook para espalhar seu conteúdo a uma audiência maior.

No início, parecia mágica. Um post no Facebook atingia uma multidão, trazia novos leitores e aumentava o tráfego dos blogs. Para os leitores também funcionava, era só curtir as páginas de seus criadores favoritos e visualizar todas atualizações num só lugar, exatamente como um agregador de RSS.

Em pouco tempo, os leitores perderam o hábito de ir até os veículos em busca de informação e criadores, assim como grandes veículos de mídia passaram a depender do Facebook para alcançar sua audiência.

Com a dependência estabelecida, o próximo passo da empresa foi diminuir o alcance dos posts das páginas. Para atingir a própria audiência que construiu, criadores passaram a ter que pagar por um anúncio. Caso seu criador favorito não fizesse anúncios, dificilmente um leitor veria suas atualizações.

Quando os criadores se deram conta, já era tarde demais. Blogs e sites haviam perdido tráfego direto, quase ninguém chegava até eles sem ser através do Facebook.

Nesse processo perderam os criadores, perdeu o Google, ao ter menos páginas para indexar, e perderam muito mais os consumidores, vendo suas decisões serem cada vez mais conduzidas por inteligências artificiais pouco transparentes. Estamos vivenciando o resultado agora, com a disseminação de desinformação e teorias da conspiração impulsionadas por algoritmos.

Viabilidade financeira

Se os artistas de música reclamam, com razão, da baixa remuneração das plataformas de streaming, para os podcasters a situação é ainda pior.

As principais plataformas não remuneram os criadores, nem por execuções, nem por exibição de anúncios. Podcasts não também não recebem direitos autorais. Em troca de um prometido alcance, o criador disponibiliza seu conteúdo de graça, enquanto as plataformas vendem assinaturas e veiculam anúncios, sem dividir esses valores.

YouTube concentra o conteúdo em vídeo e remunera os criadores, mesmo que não seja de maneira satisfatória. A recém-lançada plataforma brasileira de podcasts Orelo também os remunera, mas são necessários centenas de milhares de ouvintes para fechar a conta.

Essa relação de forças explica o atual apetite corporativo por podcasts. Em 2019, o Spotify investiu cerca de US$ 600 milhões adquirindo grandes estúdios de produção como Parcast e Gimlet Media, ferramentas de criação e distribuição como Anchor e redes de podcasts como The Ringer.

A Amazon é a mais nova big tech a entrar nesse mercado. A Apple ainda não gera lucro com seu aplicativo de podcasts. O Google também não dá muita atenção a esse espaço e por enquanto atua apenas como agregador. Para o Spotify, contudo, podcasts podem representar a tão sonhada forma de sair do vermelho.

A estratégia do Spotify

A maior parte da receita do Spotify vem de assinaturas. Menos de 10% vem de anunciantes. Avaliado em mais de US$ 20 bilhões e com mais de 250 milhões de usuários ativos, o Spotify tem 130 milhões de assinantes pagos. Ainda assim, a empresa sueca não dá lucro e acumula um prejuízo avaliado em quase US$ 3 bilhões (números aproximados a partir de diferentes registros na imprensa).
Existem duas razões para o Spotify ainda não ser lucrativo. Primeiro, porque o foco principal é crescimento da base de usuários e gasta-se bastante para atingir esse objetivo. A segunda está relacionada à natureza dos acordos que possibilitaram o Spotify existir.

As grandes gravadoras (Universal, Sony e Warner) são responsáveis por 87% do catálogo disponível no Spotify. Para conseguir a liberação, os suecos cederam participação acionária na empresa. Além disso, boa parte da receita gerada pelo Spotify volta para as grandes gravadoras em forma de royalties. Além disso, por esse acordo a plataforma não pode atuar como uma gravadora e lançar artistas e tem que se manter neutra. É uma ladeira bastante íngreme para subir.

Se o Spotify não pode criar uma gravadora com seus próprios artistas de música, não haveria impedimento de lançar e promover podcasts. Quanto maior a proporção de plays de podcasts no total da plataforma, menos dinheiro de royalties precisaria ser repassado e o Spotify ficaria mais próximo de se tornar lucrativo.

Essa visão comercial foi apresentada pelo próprio fundador Daniel Ek em uma reunião de ganhos e também por um membro do conselho, segundo a revista Rolling Stone.

Outro aspecto atraente é a publicidade programática. O Spotify exibe anúncios mesmo entre os assinantes que pagam, livres de propaganda apenas quando ouvem música. Escutar um podcast é uma experiência que gera intimidade, anúncios ao pé do ouvido têm alto impacto. Quanto mais podcasts tiver em sua plataforma, mais espaços comerciais a plataforma terá para vender e dados de ouvintes para coletar.

Um cenário pouco transparente

Podcast é uma das mídias mais difíceis de ser divulgada. Existem basicamente duas formas efetivas para um podcaster aumentar sua audiência: participar ou ser citado em outros podcasts, ou ser destacado ou recomendado pela própria plataforma.

Num ambiente tão fechado e com tanto dinheiro envolvido, existe conflito de interesses quando a plataforma precisa destacar seus próprios produtos. Se podcasts grandes comprados pela plataforma ganham mais destaque, o mercado fica menor para o restante.
Os pequenos produtores ficam enfraquecidos e as plataformas ganham um poder de decisão sobre o que o ouvinte vai escutar, baseado no que acredita que pode gerar lucro.

Sem remuneração pelos plays e anúncios, sem interesse das grandes plataformas em investir no crescimento de podcasts menores, sem métricas claras, restam poucas opções de monetização para os criadores. Restam os financiamentos coletivos ou desenvolver conteúdos extras pagos.

Se vingar no universo das plataformas de áudio a mesma lógica do Facebook, o criador só chegaria a sua audiência pagando.
Ainda assim, a tendência da maior parte dos podcasters é aceitar uma proposta de exclusividade atraente. Afinal, todos querem ser pagos por seu trabalho. A posição dos podcasters é fragilizada demais para agirem diferente.

Em tempos de notícias falsas e desinformação, é extremamente importante que conteúdos produzidos com responsabilidade tenham alcance. A lógica do paywall, ao menos como está, pode prejudicar as próprias instituições que o utilizam para proteger seus ganhos.
A questão não são os conteúdos exclusivos e nem é relacionada apenas ao Spotify. Acordos comerciais são mais do que bem-vindos. Alguém tem que pagar a conta.

A solução é as plataformas dividirem o bolo, compartilhando a receita de forma justa, distribuída por todo o ecossistema, encontrando modelos que têm dado certo, como do Twitch.

Bruno Natal é jornalista, documentarista e apresenta o podcast RESUMIDO.

* Este texto não reflete necessariamente a opinião do UOL.

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10

outubro 2020

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MIT Tech Review (agosto 2020)

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Artigo sobre cultura do cancelamento que escrevi pra MIT Tech Review Brasil. Também participei do podcast “Digital de Tudo” para repercutir o texto.


Os muitos significados da cultura do cancelamento

por Bruno Natal

A cultura do cancelamento é umas das manifestações coletivas mais controversas da atualidade.  A lista de cancelados é tão extensa quanto diversa: Anitta, Gabriela Pugliesi, R. Kelly, Kanye West, Scarlett Johansson, Kevin Hart, Louis CK, Kevin Spacey, MC Gui, Nego do Borel e vários outros. Cada um por diferentes motivos e períodos de tempo.

Comumente associado ao ambiente das redes sociais, o cancelamento ocorre quando um internauta manifesta opinião que não é tolerada por um determinado grupo de pessoas. Quando isso acontece, o alvo de uma campanha de cancelamento é massacrado por críticas, agressões, tem a vida particular exposta, num movimento que visa esvaziar a relevância daquela pessoa.

Eleito o “termo de 2019” pelo dicionário australiano Macquarie, fato comprovado pelo pico de incidências no Google Trends, o cancelamento foi definido como “uma atitude tão persuasiva que tornou-se, para o bem ou para o mal, uma força poderosa”. Outro dicionário, o americano Merriam-Webster, relacionou o comportamento com a ascensão do #MeToo e outros movimentos que demandam prestação de contas por atitudes de figuras públicas. A relação de disputa entre partes de forças desiguais é determinante.

Atrás de uma definição mais precisa do significado de cultura do cancelamento, uma vez que o termo recebe diferentes interpretações, o jornalista Glenn Greenwald perguntou pelo Twitter e recebeu do psicólogo evolutivo Geoffrey Miller a seguinte resposta:

“É um sistema social de controle ideológico em que uma multidão online se reúne por uma indignação para apelar às autoridades (seja o governo, empregadores ou a grande mídia) para destruir a vida de alguém porque eles disseram algo supostamente ofensivo.”

Não existe unanimidade em torno da prática. Nomes de peso, como o ex-presidente dos EUA Barack Obama, o comediante Dave Chappele ou a ativista Loreta Ross já criticaram publicamente o cancelamento, questionando a validade da estratégia.

Isso porque, na maior parte das vezes, os cancelados sequer permanecem nessa situação por muito tempo, principalmente quando são pessoas com uma grande audiência. É muito mais fácil atacar celebridades, mas é também muito mais difícil cancelar de fato vozes com alcance tão grande na mídia.

Recentemente, a editora de opinião do The New York Times, Bari Weiss, pediu demissão do cargo. Na carta de despedida, ela disse que os usuários do Twitter se tornaram os editores do jornal e que o medo de desagradar limitou o escopo de abordagens dos assuntos.

A demissão de Weiss foi seguida por uma carta assinada coletivamente e publicada na revista Harper’s Bazaar criticando a cultura do cancelamento. Embora não tenha feito referência direta ao termo, o texto descreve um cenário que estaria sufocando as vozes de muitos. O manifesto intitulado “Uma carta sobre justiça e debates abertos”, foi assinado por nomes tão diversos como o filósofo e linguista Noam Chomsky, a feminista Gloria Steinem, o psicólogo Steven Pinker e a autora da saga Harry Potter, JK Rowling.

Os críticos do cancelamento apontam que na cultura tóxica das redes sociais, um erro genuíno, que antes poderia servir de aprendizado, agora se torna fatal. Não importa o tamanho, se foi intencional ou cometido por desconhecimento. Ademais, além de gerar medo, um cancelamento gera poucas mudanças práticas e poderia anular oportunidades de expansão individual e coletiva.

Analisando o cenário atual para avaliar se a cultura do cancelamento é justa ou se está reprimindo as discussões, o The New York Times listou dez pontos a serem considerados sobre o tema. Segundo o jornal, ser atacado por suas opiniões, ou mesmo insultado, não é ser cancelado. O cancelamento se dá quando o alvo é a reputação, emprego ou ambos.

É por isso que Greenwald define como “chilique” o protesto dos signatários da carta da Harper’s Bazaar, incomodados apenas por estarem sendo confrontados. O compositor e ativista Billy Braggs, em artigo no Guardian, discorreu sobre como essa é uma troca de valores calculada. A nova geração prioriza responsabilidade e prestação de contas acima de liberdade de expressão.

Porém, muitas vezes os alvos dessas campanhas não são poderosos. Em diversos casos, pessoas comuns têm suas reputações destruídas por terem transgredido minimamente os novos limites sobre o que é ou não aceitável no discurso atual. Isso quando não são canceladas por engano e não conseguem se defender ou reverter os prejuízos.

A cultura do cancelamento tem impacto muito maior em pessoas que normalmente não têm destaque (ao menos não até serem canceladas). Por isso, acaba moldando e determinando comportamentos baseados exatamente no receio de serem, de fato, canceladas.

Os adeptos da cultura do cancelamento apontam que essa talvez seja a única ferramenta disponível para comunidades minorizadas fazerem suas vozes ouvidas, em um equilíbrio de forças possível apenas por meio da rede.

Pessoas que historicamente tiveram a exclusividade do megafone na mão, agora passaram a experimentar respostas a seus posicionamentos com uma força que antes não existia. O rapper Emicida abordou a questão em recente entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, quando disse que os cancelados muitas vezes apenas estão sendo questionados ou responsabilizados pelo que falaram.

Participar diretamente na decisão sobre quem deve ter alcance é parte dessa negociação. É como se os menos favorecidos falassem para esses poderosos: “você pode ter mais status, mais fama ou mais dinheiro do que eu, mas você não vai mais ter a minha audiência, porque isso eu controlo”. Em um mundo em que audiência cada vez mais é poder, isso é uma arma poderosa.

Essa busca por um nivelamento é justamente o motivo da cultura do cancelamento desagradar tanto os privilegiados, desacostumados a ouvir. Antigamente o alcance da fala era um privilégio e uma via de mão única. As críticas raramente chegavam aos autores ou, quando chegavam, não tinham grande repercussão. Agora as respostas têm alcance e isso pode incomodar quem não está acostumado com essa disputa por equilíbrio.

O debate sobre a cultura do cancelamento desperta outras questões sobre a natureza e as consequências das trocas nas redes sociais. Por um lado, a liberdade de todos falarem o que quiserem gera pluralidade. Prova disso é que se pode encontrar qualquer tipo de opinião na internet. Por outro, esse confronto de forças, às vezes com consequências desproporcionais, pode levar a uma autocensura, limitando o discurso.

Voltando ao ponto sobre a dinâmica tóxica das redes sociais e de como esses comportamentos têm moldado os debates até mesmo fora delas, o que costumamos ver é que nunca a máxima “fale mal, mas fale de mim” foi tão verdade. Quanto mais controverso e polêmico o discurso, mais ele se espalha.

A indignação é o combustível mais eficiente para a viralização, algo que muitas vezes acaba se desdobrando na amplificação de vozes que não merecem ser realçadas. Nesse contexto é importante pesar e analisar o que de fato merece o holofote do cancelamento (discursos de ódio, preconceituosos, machistas), daquilo que é pura tentativa de pegar embalo no alcance de uma revolta. Cuidar para não deixar que pessoas mal-intencionadas pautem o debate utilizando a polêmica como estratégia de repercussão.

Nesses casos, uma das formas de reagir é ignorar. Para algumas atitudes, o silêncio é a melhor resposta.

Por Bruno Natal, apresentador do podcast RESUMIDO