quarta-feira

22

abril 2009

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Coachella 2009, formatura no deserto (parte 2/4)

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1o dia, sexta
Molotov, Los Campesinos, Franz Ferdinand, N.A.S.A., Beirut, Ghostland Observatory, Girl Talk e Paul McCartney


vídeos e fotos: URBe

Um vôo de oito horas pra Miami + quatro horas de espera + seis horas até Los Angeles + uma hora até estar dentro do carro alugado + duas horas até Indio (santo GPS!) + check in no hotel + fuso horário configuram uma maratona que pede o mínimo de descanso.

Isso tudo pra dizer que chegar cedo no primeiro dia do festival logo no dia seguinte é uma perspectiva desanimadora, ainda mais sem nenhuma grande atração como motivação.

Chegando as 15h, ao som do chato We Are Scientists, foi o tempo de comprar água, encontrar os amigos e partir para o Molotov. As atrações latinas são uma marca do festival e quase sempre vem coisa boa. Surpresa foi ver os mexicanos fazendo rock sobre batidas de Miami bass, soando bastante como “Popozuda Rock and Roll”, do De Falla.


Los Campesinos

As baixas expectativas em relação ao Los Campesinos foram confirmadas. Até músicas legais como “You! Me! Dancing!” ficam magrelas ao vivo. Alguma coisa ali lembra o Clap Your Hands Say Yeah, que também não convence ao vivo, só que mais bobo. O vocalista se esforça tanto na afetação que consegue tirar atenção do resto da banda, sem fazer disso algo positivo.


Ting Tings, “Great DJ”

De afetação para… mais afetação! O Ting Tings mostrou muita frescura e pouco som. Começaram 15 minutos atrasados, reduzindo bastante o tempo do seu show. O que pode ter sido proposital, visto que eles tem bem pouco pra mostrar.

Antes de subirem ao palco, veio um aviso, avisando que o público era bem vindo para tirar fotos, mas não deveria usar flash, pois incomoda a banda. Era dia.

Como se vê, a dupla se leva a sério demais e a postura no palco confirma isso. É como se eles não entendessem que o público de “That’s Not My Name” ou “Great DJ” é majoritariamente adolescente. Ou pior que isso — é como se o Ting Tings enxergasse algum demérito nisso.

De qualquer maneira, foi um dos shows mais disputados de sexta, com gente tentando assistir do lado de fora da tenda (a Sahara, a maior delas), debaixo duma solaca que não é brincadeira não. O mesmo sol foi o principal fator na decisão de assistir o Ting Tings e não o Black Keys no palco principal.

Grande erro. No jogo de apostas do Coachella, cada movimento deve ser detalhadamente calculado. Cada escolha envolve um custo, as vezes alto demais para valer o risco. Mais tarde isso ficaria ainda mais claro.


Alex Kapranos (Franz Ferdinand) e a blusa do George Harrison

A primeira grande escolha do dia envolvia duas atrações tocando exatamente no mesmo horário, uma nada a ver uma com a outra. Na disputa mental entre ouvir “Poison Dart” ou “Lucid Dreams”, terminei não ouvindo nenhuma.

Optei por assistir o Franz Ferdinand (pela quarta vez) em vez do The Bug & Warrior Queen (que nunca vi) pra poder ouvir ao vivo faixas do terceiro disco. Infelizmente, justo a que mais queria ouvir, “Lucid Dreams”, ficou de fora.

O show foi morno, muito por conta da distância que o palco principal impõe entre os artistas e a platéia. A luz do dia também não ajudou muito o clima dançante e carregado nos sintetizadores das novas músicas.

No primeiro dia do festival era o show do Paul McCartney que centralizava as atenções, lógico. Tocando no mesmo palco, Alex Kapranos (do Franz Ferdinand) apareceu com uma camiseta escrita “George Harrison”. Desde cedo, fãs dos Beatles se expremiam na grade. E por fãs dos Beatles entenda-se pessoas acima dos 50, raramente o perfil de quem enfrenta um dia inteiro debaixo do sol para aguardar um show.


N.A.S.A., “Watchadoin”

Se o começo foi calmo, a parte final da sexta-feira foi corrida. Do Franz Ferdinand direto pro N.A.S.A., já começado. Estava bem curioso pra saber que tipo de apresentação eles fariam. Fosse um mero live PA perigava ser meio xarope. Cada vez parece fazer menos sentido ficar olhando para um palco onde um sujeito faz coisas que você não pode ver.

A lição do Daft Punk e sua pirâmide parece ter sido assimilada em larga escala por artistas de música eletrônica, caminhando cada vez mais em direção de soluções visuais para suas apresentações, indo além de telões e apostando em cenários e até instalações.

Formado pelo brasileiro Zé Gonzales (ex-Planet Hemp) e Squeak E. Clean (irmão do cineasta Spike Jonze), o N.A.S.A. (North America South America) aterrisou no Coachella a bordo de uma nave retrô-tosco-futurista, acompanhado por duas dançarinas ETs, alguns monstros e um MC.

Funcionou. O set misturando músicas próprias e trechos de Daft Punk (olha eles aí de novo), Beni Benassi e hip hop levantou a tenda e fez a festa. Kanye West faria uma participação via telão, se o equipamento de transmissão não tivesse “falhado”. Tudo teatro.


Beirut, “Nantes”

O primeiro artista a realmente arrastar uma quantidade grande de fãs foi o Beirut. Nem bem soaram as primeiras notas de “Nantes” e o coro e aplausos começaram, se extendendo por todo show.

A delicadeza das músicas se repete ao vivo. Projeto solo de Zachary Condon, o Beirut se transformou numa banda sem perder o clima intimista dos discos. Baixo acústico, acordeon, metais, bateria e teclado servem as canções sem exageros, priorizando os arranjos aos solos.

Teve até gente gritando “Leãozinho”, do Caetano, música as vezes tocada pelo Beirut. Dessa vez não rolou, teria sido divertido. Foi um dos shows mais legais e bonitos do festival.


Instalações espalhadas pelo gramado

Na sequência, um pedaço do Ghostland Obervatory e do Girl Talk. O primeiro tava numa onda meio téquineira que desanimou e o segundo deu uma preguiiiiiça… A tenda estava lotada, bem animada, só que as colagens do Girl Talk começam a cansar.

Não sou fã dos discos dele, muito por conta da predileção aos samples de hip hop. Essa onda de mashup está começando se tornar um tanto formulática, com a sonoridade de todos os produtores se assemelhando bastante.

Pior que isso, a volta se aproxima dos 360 graus, chegando ao ponto de partida, com alguns desses mashups soando como remixes, utilzando acapelas sobre uma nova base. É hora de um passo a frente, em outra direção.

Ou isso ou então foi simplesmente falta de disposição pra dançar mesmo.


Paul McCartney, “Blackbird”

Chegada a hora do Paul McCartney o festival parou. Quase todo mundo foi em direção ao palco principal para conferir o beatle.

O começo foi meio estranho. Acompanhado por uma banda perfeitinha demais na execução, o show soava plástico, certinho além da conta. Os arranjos soavam comerciais, como se fosse um DVD genérico de “rock n roll”, bem chato.

Além disso, os integrantes da banda de apoio faziam caras e bocas dignas dos piores clichês do rock, o que era um tanto contrangedor. O sujeito toca com o Paul McCartney e quer aparecer? Sei não…

A apresentação, ainda bem, guardava momentos memoráveis.

Quando Paul tocava violão ou piano sozinho a atmosfera mudava completamente. Com as canções que o sujeito tem, realmente não precisa de quase nada pra soar fantástico. Menos é mais, costumam dizer por aí. E nesse caso, é mesmo.

Paul estava comunicativo, falando das músicas e até da sua vida pessoal como se não estivesse diante de uma multidão. O momento mais emotivo foi quando ele lembrou que naquela data faziam 11 anos da morte de Linda McCartney, antes de dedicar “My love does it good” para a ex-mulher.

John Lennon também foi homenageado com “Here Today”. George Harrison também foi lembrado quando Paul tocou “Something” em um ukulele presenteado pelo próprio, seguida por “I’ve got a feeling”. Obviamente, as músicas dos Beatles (“The Long and Winding Road”, “Blackbird”, “Eleanor Rigby”) causavam comoção.

Ver Paul ao piano, violão ou ukulele faz pensar porque um compositor desses prefere tocar o baixo em quase todas as músicas. Seria de pensar que Paul fosse ter preferência pelo violão, mais harmônico, no lugar de um instrumento melódico e comumente usado ritmicamente.

Eis que chegou a hora do erro. Lembra que falei das escolhas e dos riscos envolvidos? Pois bem, um julgamento mal feito me assombrará pelo resto da vida (ou até o próximo show do Paul — vai ter no Rio, andam dizendo).

Com quase duas horas de show, perto da meia-noite, horário limite dado pelas autoridades locais para o término das apresentações, cansado, resolvi começar a andar para o carro, pra fugir do tumulto da saída. Em 2007, após o Rage Against the Machine, levei quase duas horas só pra sair do estacionamento e chegar na estrada.

Sendo Estados Unidos, terra da organização (ah, como eu gosto…), era razoável pensar que o show estava pra terminar. Certo?

Não. Fui andando e escutando “Give Peace a Chance”, “Let it Be”, “Live and Let Die”, “Hey Jude”, o que animou a longa caminhada. “Raras vezes na vida pode-se procurar o carro pelo estacionamento com uma trilha dessas”, dizia para me consolar.

Até chegar ao carro ainda tocaria “Can’t Buy Me Love”, “Yesterday”, “Helter Skelter”, “Get Back” e “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band”. Foi praticamente um show inteiro, que se estendeu até quase uma da manhã, e eu ouvindo tudo de longe.

Um erro imperdoável. De novo: IM-PER-DO-Á-VEL!

Menos mal que, por ter saído mais cedo, ainda consegui comprar uma da últimas cópias numeradas e assinadas do pôster especial feito por Shepard Fairey para comemorar o show do Beatle no Coachella. Custou 75 dólares e hoje, quatro dias depois, já vai passando de 200 dólares no eBay.

Toda vez que olhar para ele vou lembrar de uma das maiores lambanças da minha vida. Belo castigo. Literalmente.

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