Castigo
Written by urbe, Posted in Urbanidades
foto: Marcelo Valle
Se você tem uma conta de e-mail já deve ter recebido umas 20 vezes uma mensagem indignada de alguém pedindo apoio ao Projeto de Lei do Senador Cristovão Buarque, determinando a “obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014”.
Não sei você, mas pra mim isso soa um bocado estranho.
Em vez de brigarmos por uma escola pública melhor para todos, vamos sedimentar o ensino público como uma sucursal do inferno, um castigo medonho, perfeito para os filhos dos políticos corruptos.
Embora não tenha dúvidas da boa intenção do Senador, essa lógica não parece fazer muito sentido.
Fala-se muito da qualidade do ensino público nos países do primeiro mundo, porém fala-se pouco de como nesses lugares a comunidade toda se envolve nas questões da escola.
Em vez de esperarmos esse problema afetar os políticos e desejar que eles resolvam a questão, seria mais sensato a própria população matricular seus filhos nas escolas públicas e brigar por melhoras.
Não? Idealista demais? O que você acha?
Tem uma coisa q sempre me intrigou muito aqui no Brasil. Não sei como funciona em muitos outros países, mas tomando como base o sistema americano, a maioria das pessoas estuda em escolas públicas e as faculdades boas, essas sim, custam uma nota. A lógica é que o ensino fundamental e médio é pra todos, e enquanto os filhos passam a vida na escola (de graça) os pais juntam uma grana pra tão sonhada “college education”, o que faz muito mais sentido. Claro que não é todo mundo que consegue pagar, ou entrar, mas mesmo esses pelomenos garantiram uma formação fundamental e mesmo assim, podem tentar bolsas, ajudas de custo e outros benefícios. Nunca entendi essa coisa das “melhores” faculdades aqui serem de graça ….
Não vejo isso como um “castigo aos filhos de políticos corruptos”, e sim uma maneira de fazer com que a classe política olhe com mais cuidado as questões relativas à educação. Quer dizer, espera-se que eles tratem melhor da educação pública uma vez que é a qualidade da educação dos próprios filhos que está em jogo. Teoricamente isso não seria necessário, mas no nosso caso e nesse momento, acho justo o projeto.
Eu ainda não recebi esse email, aliás. (e isso nao é um pedido :D)
eu concordo. É diálogo entre o político, o poeta e a física. Teorias e ideais bonitos mas que a política coloca o lado humano no jogo. Acho que Cristovão Buarque quis dar uma sacaneada, um projeto como obra de arte irônica. Que bem ou mal fará efeito, de maneira não tão bonita. Como sempre: “pra que atirar no amiguinho?” tem maluco pra tudo, bota polícia então. “Roubar não pode ein”. Só que a política tá acima da ordem, é tudo vulgarizado… ironia pra mim foi bem interessante.
Poizé – a idéia não é eles colocarem os filhos em escola pública como castigo, e sim que resolvam cuidar das escolas públicas por conta de serem obrigados a terem os filhos lá.
Não acho que seja uma idéia lá muito efetiva, mas acho que você não pegou a lógica da coisa.
Entendiia lógica da coisa, André, claro. Apenas não concordo, pois isso é pura e simplesmente querer empurrar para “os outros”, “os políticos”, “para eles” questão que pedem envolvimento de todos os cidadãos.
Interpreto o projeto de lei de outra forma, entendo que a questão não é castigar o filho do político e sim cobrar maior atenção para a educação do país.
Infelizmente dispomos de um sistema tão deteriorado que não podemos esperar boa vontade e honestidade dos nossos governantes. Sendo assim, por que não colocar os políticos a prova do próprio veneno? Eles desviam, roubam e fecham os olhos pra a realidade gritante da educação no Brasil. Se esses sentirem na carne que seus filhos terão um péssimo nível educacional, farão “de um tudo” para melhorar suas perspectivas e assim teremos respostas imediatas na educação.
Acho utópico pensar que colocando os nossos filhos em colégios públicos e cobrando do sistema uma melhora, teremos respostas em um ano. Eu não colocaria um filho hoje em um colégio municipal no Rio sabendo que sacrificaria o seu futuro; vou além, colégio estadual só colocaria no CAP da UFRJ.
Concordo com você e me cobro maior envolvimento para brigar pelos nossos direitos, mas não da forma sugerida.
É, discordo disso.
Pra mim parece muito cômodo empurrar tudo para os políticos e esperar que resolvam por nós.
Tem que ter uma interação entre as duas partes. Do jeito que está proposto tendo a concordar com o eduardo c., que fala do projeto como uma “obra de arte irônica”.
Conhecendo a laia, periga eles tranformarem as escolas de seus filhos em algo do nível das escolhas particulares, esquecendo todas as outras.
Acredito em mudanças, mas de dentro pra fora. De fora pra dentro é difícil…
Concordo com o André Monnerat.
A lógica do argumento do Cristóvão Buarque não é transformar a escola pública como sucursal do inferno, mas justo o oposto: com a obrigatoriedade dos políticos matricularem seus filhos nelas, as escolas públicas receberiam a atenção que merecem e deixariam de ser a sucursal do inferno que são hoje em dia.
Mas meu problema com a solução proposta pelo Cristóvão Buarque, assim como o meu problema com a solução proposta por vc, Bruno, não é ideológico — é pragmático. Pois ambas as propostas defendem soluções que jamais vão acontecer. Idealismo puro, sim.
A proposta do Senador supõe que os políticos sejam acometidos por um surto súbito de cidadania e bom-mocismo. A sua proposta, Bruno, supõe que o mesmo surto aconteceria entre pessoas de classe média e alta. Ora, nem uma coisa, nem outra, tem qualquer chance de acontecer.
“Ah, mas então o que vc sugere?”, perguntarão.
Não há saída fácil, rápida ou milagrosa.
Concordo que deva haver participação inidividual, de todos, para tentar melhorar as coisas. Mas esta participação pode acontecer de formas diferentes. Cobrando efetivamente os políticos (coisa que ninguém faz). Contribuindo com a escola pública perto de sua casa ou trabalho (uma ex-namorada minha era professora voluntária, não ganahva nada por isso). Juntando-se a ONGs que tem alguma forma de atuação dentro de escolas públicas. Ou , sei lá, ajudando alguém que esteja perto de vc a se educar e subir na vida. (Como síndico do prédio dele, conheço um sujeito que sacou que o porteiro era trabalhador e tinha disposição para aprender: cotizou o condomínio para pagar cursos de eletricista e bombeiro para ele — hoje o cara faz diversos reparos no próprio prédio e na rua toda, juntou uma graninha e construiu uma lan house no morro do Turano, e o dinheiro que vem ganhando já deu pra comprar a casa própria). Isso para ficar em apenas alguns exemplos.
Mas achar que todo o poder está com o indivíduo é ingênuo. É preciso mudanças institucionais também. Sim, precisamos de uma elite política melhor, mais preparada. E para aqueles pessimistas inveterados, que acham que político é tudo a mesma merda, eu pediria apenas que lembrassem de duas coisas: da novidade representada pela atuação do Ministério Público, e dos 16 anos de FH-Lula, certamente muito melhores que Sarneys e Collors da vida.
Abraço,
A idéia é boa: matriculando os filhos em escolas públicas os políticos cuidariam melhor da educação. Na prática isso ia apenas criar algumas escolas públicas de elite para os filhos dos políticos… com alguns abençoados não-filhos-de-políticos conseguindo estudar lá via pistolão. Afinal isso resolveria o problema dos políticos e seria mais fácil do que melhorar todo o sistema, né.
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
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