Sigur Rós Archive

terça-feira

7

junho 2016

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Tapas, sol e concreto: Primavera Sound 2016

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fotos: @urbe
ilustrações: Ben Rubin (Upstate, New York) / @bwrubin

Finamente, Primavera. Após adiar por anos, fui conhecer o tão comentado festival espanhol. Fiz também uma cobertura para O Globo (dando uma geral no evento) e para o Ponto Eletrônico (contextualizando o festival entre seus pares) – e você pensando que isso aqui é só lazer).

As três resenhas são complementares, bem diferentes uma da outra,. Confira os textos “Porque é primavera” e “Primavera Sound: um festival de música”. Vou manter a introdução curta por aqui e cair nos comentários sobre os shows.

No Primavera Sound Barcelona não tem muito espaço para fru-fruzice. É show em cima de show, muitos palcos simultâneos, caminhadas gigantes, incluindo escadarias de respeito. O Parc del Fórum é um concreto só e, mesmo estando na beira da praia da Barceloneta, não é fotogênico.

Com certeza isso espanta aquela parte do púbico (cada vez maior, dependendo do festival) mais preocupada com o Instagram do que com as bandas e isso ajuda a assistir os shows. E quem quer passear, tem toda cidade e seus muitos bares de tapas pra curtir. O público é majoritariamente composto por trintões, a imensa maioria de homens.

Por outro lado, os shows começam e acabam tarde pra burro e a falta de espaço de convivência além da praça de alimentação tornam a experiência bastante cansativa. Afinal, deitar no cimento sujo não é exatamente convidativo.

Empiezó! #primaverasound #primaveraurbe

A photo posted by URBe (@urbe) on

Entre as 130 atrações, com destaque para o rock e para o pop, apresentaram-se o Radiohead, LCD Soundsystem Tame Impala, Brian Wilson, Sigur Rós, Beach House,The Last Shadow Puppets, LCD Soundsystem, PJ Harvey, Air, Beirut, Goat, Action Bronson, John Carpenter Alex G, Andy Shauf, Nao, Kamasi Washington, Orchestra Baobab, Mbongwana Star, Moses Sumney, Pantha Du Prince, Floating Points, Holly Herndon, DJ Koze e Moderat. Representando o Brasil, os grupos O Terno, Aldo The Band e Inky tocaram num dos palcos secundários, com público diminuto, porém atento.

Segundo a organização, o Primavera Sound reuniu 200 mil pessoas em cinco dias em diversos eventos em Barcelona, com a presença de pessoas de 124 países diferentes. A maior parte do público é de trintões, com ampla maioria de homens (esse sendo um comentário feito por mulheres).

Dividido em cinco dias, as três noites principais são de quinta a sábado no Parc del Fórum e seus oito palcos. Nos outro dias (quarta e domingo) há shows gratuitos em museus e casas de show, como contrapartida para cidade.
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Dia 01
Andy Shauf, Julien Baker, Beak>, O Terno, Kamasi Washington, Suuns, Floating Points, Tame Impala, John Carpenter, Mbogwana Star e LCD Soundsystem

Buenos dias! #primaveraurbe

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Primeiro dia num festival que você nunca esteve é complicado. Não se sabe ainda onde fica nada, a sinalização não era boa e, pra piorar, o primeiro show do dia era um dos que mais queria ver. Após encontrar o Auditori Rockdelux, que fica fora da parte principal do festival, cheguei a tempo de pegar um lugar na primeira fila e assistir o Andy Shauf.

Acompanhado de um baterista num kit simples, com surdo bem abafado, teclado e baixo, Andy se revezou entre a guitarra e o violão de aço. As primeiras poltronas ficam na mesma altura e bem perto do palco, sem grade de separação, até a fumaça do gelo seco que abraçava os músicas envolvia também parte do púbico. Cenário perfeito para um show delicado, com arranjos lindos e suaves, proporcionando mudanças sutis de dinâmica em seus momentos altos.

O sol rachando lá fora e na escuridão do auditório Andy Shauf optou por formatos diferentes ao vivo. De cara, o clarinete que atravessa o ótimo disco do ano passado sumiu, sendo substituído pelo teclado.

ATUALIZAÇÃO: acabei de descobrir que Andy lançou um novo disco, “The Party”, dia 20 de maio, pouco antes do show, motivo pelo qual havia tantas músicas desconhecidas, outra formação e pouquíssimas do “Bearer of Bad News”.

Mesmo com convenções, os arranjos ficaram um pouco mais previsíveis, as vezes monótonos, perdendo a aspereza ou crueza das versões gravadas. Esquecendo as comparações com o disco, o show é ótimo por si só.

Beak> ajudando Bristol a se adaptar ao sol #primaverasound #primaveraurbe

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Saindo do ar condicionado para caloreira e atravessando a ponte e a escadaria que ligam a parte alta a parte baixa do Parc del Fórum, vi uma música da Julien Baker (chato e só fui parar lá porque confundi com a Julia Holter) e subi novamente para conferir o Beak> no palco Primavera (o único que não leva o nome de um patrocinador).

Honrando a tradição de Bristol, casa do Massive Attack e Portishead, o trio de guitarra, teclado e batera passeou por algumas influências que se espera vindo desse berço: baixo dub, bateria ora jazz, ora disco punk, teclado psicodélico e pegada dançante.

O som é bom mas não diz muito a que veio. Rapidamente se tornou um tanto repetitivo, como se fossem mais temas do que músicas acabadas, cansando.

O Terno ?? Palco escondido mas até que tem uma galerinha #primaveraound #primaveraurbe

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Saindo antes do fim deu tempo de pegar um pedacinho do show dos paulistanos d’O Terno. Tocando num dos palcos secundários o NightPro, já passavam das 20h e o dia seguia claro (ah, a temporada primavera-verão no hemisfério norte…) e os meninos conseguiram reunir umas poucas dezenas de pessoas, entre elas muitos brasileiros.

Apesar de não ser um dos palcos de maior destaque, o NightPro fica num ponto estratégico da caminhada entre as duas áreas mais importantes do festival e é também o que tem o visual mais legal, colado na água. Não deu pra ver até o final porque era quase hora de outro dos destaques do festival.

Kamasi Washington, puta que los pares! ??? #primaverasound #primaveraurbe

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De volta ao Auditori, a fila para o Kamasi Washington estava gigantesca. Ainda bem que o auditório é enorme e coube quase todo mundo, pois seria muita injustiça pessoas fazendo fila pra ouvir free jazz num festival predominantemente de rock ficarem sem ouvir o saxofonista. Entra daqui, pergunta de lá, descolei novamente uma cadeira na primeira fila.

Com uma big band incluindo trombonista, tecladista percussionista, vocalista de apoio, dois bateristas e um contrabaixista que arregaçou tudo, Kamasi fez um dos shows do festival. Indo de temas funkeados e acessíveis a esporros experimentais, um Kamasi Washington totalmente relaxado demonstrou controle sobre a banda entrosada. De quebra ainda teve uma canja do próprio pai.

Em apenas dois shows o Auditori já provava seu valor, mas infelizmente não vi nenhum outro show ali.

O trap rock do Suuns faz um clima hein #primaverasound #primaveraurbe

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Já estava escurecendo quando acabou o show e só deu tempo de pegar uma música do Suuns no palco ao lado. Estava animado, gostaria de ter visto mais, mas não deu muito pra sacar o som. A que ouvi parecia uma banda de rock trap (soa desastroso, mas isso é pra ser bom). Fora essa, a trilha dos vídeos com vinhetas que passavam antes de cada show do festival era o trecho de uma música deles.

Floating Points live, só no transe #primaverasound #primaveraurbe

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Descendo a escadaria do anfiteatro (essa é uma segunda escadaria, diferente da primeira), o Floating Points apresentou no palco Rayban (o mais legal deles) sua versão ao vivo, com bateria e todo o resto, num show bem viajante e chapado. Coisa boa. Correria de lá para pegar o Tame Impala no palco H&M, um dos dois principais. E não deu pra ver foi nada.

Os australianos arrastaram quase todo festival para o lugar, provando que apesar da torcida de nariz de alguns fãs, o terceiro disco catapultou mesmo a carreira da banda. Kevin Parker deve saber o que está fazendo.

Um dos grandes defeitos do festival, o som baixo fica ainda mais grave pela falta de torres de repetição no amplo espaço aberto. Some-se a isso que houve um apagão durante o show e calcule o tamanho da saudade de vê-los no Imperator ou no Circo Voador.

John Carpenter aterrorizando a plateia #turumtss #primaverasound #primaveraurbe

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Atravessando o complexo mais uma vez, dei de cara com o diretor cult John Carpenter apresentando algumas trilhas dos seus filmes, fazendo o que era apenas o seu segundo show. Interessante mais para fãs e pela curiosa proposta.

Mbongwana Stars mei careta… ? #primaverasound #primaveraurbe

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Sem muita animação com essa volta do LCD Soundsystem (e satisfeito com a quantidade de shows que já vi da banda), optei por conferir o Mbogwana Star, dos quais conhecia apenas uma música. Ao vivo o lance veio bem careta, uma formação básica que não empolgou o suficiente para afastar o comichão que repetia dentro da minha cabeça: “vai mesmo perder o LCD? vai mesmo perder o LCD?”.

Não vou não. Corri de volta para o palco Heineken, um dos dois principais e… de novo, não dava pra ouvir nada. LCD com som baixo não funciona, então furando a barreira humana cheguei o mais perto que pude do palco, bem perto na verdade, e… nada.

O peso da viagem no dia anterior, o fuso e o cansaço do próprio dia, além do fato de que o LCD parece nunca ter parado, com tudo que há de bom e ruim nisso (show afiado, mas idêntico ao que se viu cinco anos atrás), trouxeram a voz novamente, dessa vez dizendo “quero dormir” e lembrava “o metrô está em greve e vai ser complicada a volta”.

Dei ouvido as vozes novamente e fui pra casa quando já eram 2h15 da manhã e o James Murphy estava na metade do set.

Dia 02
Alex G, Moses Sumney, Steve Gunn, NAO, Beirut, Radiohead, Last Shadow Puppets, Animal Collective, Holly Herndon, Beach House, Avalanches e DJ Koze

Anochecer en Barça #primaverasound #primaveraurbe

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Nada como dormir e acordar descansado. A não ser, claro que você tenha passado 1h30 brigando pra tirar uma lente de contato que aparentemente nunca esteve lá e não tenha dormido muito ou mesmo descansado. E logo no dia do sufoco, com 12 shows para ver, chegando bem cedo e saindo bem tarde.

Você pode perguntar: dá pra ver 12 shows em nove horas? Não, não dá. Então cabe a cada artista cativar o coração do ouvinte e conquistar mais minutos. Festival é isso aí, menu degustação ligado e que vença o melhor.

O primeiro derrotado do dia foi o Alex G no palco Adidas. Tenho certa preguiça de folk, porém o que ouvi dele pareceu bem legal. Ao vivo o rapaz abandona o violão, empunha uma guitarra e embarca uma viagem noventista indie experimental que, com essa descrição, não preciso nem dizer o resultado.

Logo ao lado, no palco Pitchfork, começava o Moses Sumney, querido da rádio KCRW. Seu som é muito introspectivo e ao vê-lo no palco acompanhado apenas de três microfones, uma guitarra e uma mesa de efeitos, lutando contra o zum zum zum ao redor parecia o prospecto de mais uma derrota. Mas o carisma não é considerado algo tão forte a toa. Nem a barulheira do Alex G ao lado conseguiu atrapalhar.

Montando bases bom beat box e conversando com o público sem parar, Sumney, visivelmente feliz, botou a platéia no bolso. Cantando num falsete que por vezes faz lembrar o Finley Quaye, o cantor saiu aclamado do palco.

Steve Gunn e o por de sol de concreto #primaverasound #primaveraurbe

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Quicando novamente pro palco Adidas, logo ao lado, Steve Gunn fez um show que teria sido uma trilha ótima para uma espreguiçada, não fosse a falta de um lugar legal pra deitar e curtir o som. Como o Tame Impala na noite anterior, Gunn também sofre com uma pane no som.

De volta ao Pitchfork, a NAO fez o que deve ter sido o show de estética mais pop do festival. Com ótimas músicas gravadas, o show estava chato. E muito longe dali, uma escadaria ou ladeiras depois, o Beirut tocava no H&M.

Beirut #primaverasound #primaveraurbe

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Por algum motivo o curral VIP (não apenas para convidados, mas também para quem pagou por um ingresso ainda mais caro) que fica bem em frente ao palco estava aberto e deu pra ver Zach Condon de perto. O show estava ótimo, final de tarde, mas como já havia visto (e aposto que ele ainda paga essa ida ao Brasil em breve), tive a infeliz ideia de atravessar o complexo inteiro novamente para ver o Freddie Gibbs, apenas para descobrir que o show havia sido cancelado. Fiquei sem um, nem o outro.

Menos mal que com esse tempo de sobra, pude chegar mais cedo para tentar pegar um lugar no Radiohead. Com os problemas de volume da noite anterior e sabendo que ver o Radiohead de longe e baixo não seria exatamente o ideal, estava considerando até mesmo perder o show por falta de disposição de ficar brigando por um lugar. Então resolvi tentar e deu para ao menos ficar num lugar que deu pra ouvir o show direito.

Ao contrário do que pensava, no entanto, o repertório do show não priorizou o disco novo. Como ainda não está no Spotify e tive preguiça de baixar, estava ansioso por essa primeira audição ao vivo que acabou não vindo. O cenário, sempre um ponto alto dos ingleses, também não surpreendeu, parecendo um arremedo do telão da turnê de “In Rainbows”com as luzes de palco do “King of Limbs”.

Num espaço daquele tamanho, as experimentações visuais podiam se manter mais ao palco, fazendo melhor uso do telão, pois para quem estava longe, estava bem difícil de entender o que se passava no palco. Ruim não foi, porque, mesmo assim, chato não é. Mesmo que a adoração messiânica dos fãs (que a banda em sua atitude blasé finge que não gosta) as vezes dê no saco. Mas é aquilo, pra mim foi mais do mesmo – mesmo que o mesmo seja mesmo muito bom.

Holly Herndon entortando as coisa tudo #primaverasound #primaverasound

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No final do show ainda deu pra pegar um pedaço da tiração de onda de Alex Turner a frente do seu Last Shadow Puppets no palco oposto. Depois de mais de duas horas parado no mesmo lugar para ver o Radiohead, a pedida era sentar e dar uma descansada em algum lugar.

Hora de atravessar o Parc inteiro mais uma vez pra tentar o Animal Collective (onde eu estava com a cabeça?). Não deu. Tentar então o Holly Herndon, um pouco mais longe ainda. E estava bem bom, bem doido, interagindo com a plateia através de mensagens escritas no telão, como se fosse um chat (incluindo um alô pro Radiohead).

Beach House, 2:30 da manhã, tocando pra umas 20 mil pessoas #primaverasound #primaveraurbe

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Tarde pra dedéu pra um show com a levada do Beach House, já eram 2h quando Vicotria Legrand e companhia ninaram uma plateia surpreendentemente gigantesca, de umas 20 mil pessoas, num dos palcos principais. Não mudou muito do show que fizeram no Rio, porque nada ali muda muito, mas o cenário novo estava muito bonito e o Beach House é classe.

Um do artistas que mais causaram burburinho no pré-Primavera, o Avalanches era uma das atrações mais aguardadas. Sem lançar disco novo desde 2000, quando lançaram seu único, “Since I Left You”, famoso pelos mais de 350 samples utilizados, a dupla australiana havia anunciado no dia anterior que vem um disco novo por aí (algo que já estavam dando dicas há pelo menos duas semanas em redes sociais). O set do festival foi bem de pista, bastante funk, não dá pra saber o que ali vai estar no novo trabalho, mas foi bem animado.

E fechando a noite, DJ Koze #primaverasound #primaveraurbe

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Quatro y vinte de la matin DJ Koze começou seu set. Estava ansioso para conferi-lo ao vivo. Ele começou na maciota, mas depois descambou pra um tech house reto pra frito ver que não animou ficar. Isso ou estava cansado. Ou as duas coisas. Era hora de partir.

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Dia 03
Brian Wilson, Pusha T, Orchestra Baobab, Action Bronson, Sigur Rós, Julia Holter, Pantha du Prince e Islam Chipsy & Eek (+ Mudhoney e Black Lips)

Se alguém se deu ao trabalho de fazer as contas (claro que não), o sono estava beirando seis horas por noite, após andar em méida 20km por dia (segundo o gps de um amigo), muito pouco para o pique que um festival desses exige. Por isso, no terceiro dia foi vez de chegar um pouco mais tarde.

20h, “final de tarde”, a noite se aproximando no palco principal e Brian Wilson tocando o clássico “Pet Sounds” na íntegra, comemorando os 50 anos do disco que inspirou os Beatles a compor outro clássico, o disco “Sgt. Peppers”. Terminado o disco, ainda emendou clássicos dos Beach Boys.

PrimaveraSound2016_BrianWilson_Illustration-Ben Rubin
ilustração: @bwrubin

Todo festival desse porte guarda um show que, quando você olhar pra trás, vai te fazer ter certeza que valeu a pena todo o esforço e investimento pra ir. No Primavera Sound 2016 pra mim foi esse.

PrimaveraSound2016_OrchestraBaobab_Illustration-Ben Rubin
ilustração: @bwrubin

Ficou difícil pra todo mundo depois desse show e não ia ser o Pusha T quem ia fazer o trabalho de conquistar atenção depois disso. E não fez mesmo. Show de hip hop apenas com DJ e MC é chato pra dedéu e de lá corri pra Orchestra Baobab.

Animados, suingados, mântricos e até mesmo caribenhos via carnaval de Salvador, os africanos da Baobab botaram pra quebrar e fizeram um showzaço. Transe completo, guitarras cantando, percussão comendo solta e metaleira fervendo, entrou também no topo da lista de melhores do festival.

Action Bronson #primaverasound #primaveraurbe

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Pra você ver como são as coisas, o rapper Action Bronson, mesmo acompanhado apenas pro um DJ e enfrentando mais um apagão no som, estrondou o palco Primavera com uma presença de palco impressionante. Deu vontade de ver mais do que as quatro primeiras músicas, mas tinha Sigur Rós do outro lado do Parc e a caminhada precisava começar.

Num lindo cenário de luzes e projeções, como lhe é característico, com as cores variando entre o azul, vermelho e branco, bem viajante. As fortes luzes de serviço do festival, iluminando a praça de alimentação logo atrás do palco, atrapalharam bastante o efeito.

Em todo caso, como no caso do Radiohead, quando uma banda fica desse tamanho e faz shows dessa magnitude, o entendimento completo dos efeitos não deveriam ficar restritos a quem consegue uma visão frontal do palco.

Como aconteceu na noite anterior com o Beach House, novamente a combinação de show chapado com altas horas da madrugada não caiu bem. Uma passada pela Julia Holter não convenceu e restava aguardar mais uma hora, até as 3h, para conferir o Pantha du Prince. E eles não decepcionaram.

Vestindo espelhos convexos na cabeça, o trio de batera e dois laptops produziu um efeito visual sombrio, fazendo o clima pro som aguardado. Surpreendentemente, eles vieram forte pra pista, fazendo um som mais acessível do que o esperado e botaram o anfiteatro pra balançar.

Islam Chipsy & Eek (saideira, tá difícil ir embora) #primaverasound #primaveraurbe

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Na saída ainda deu pra dar uma bizoiada no Islam Chipsy & Eek, só que o sujeito martelando a caixa de uma das duas baterias como se pregasse algo na parede não animou a ficar.

No dia seguinte, domingo, foi dia de passear. Mesmo assim acabei topando com o show do Mudhoney e Black Lips no CCCB. Vi mais um pouquinho, mas a cabeça já estava longe. Hora de voltar pra casa.

sexta-feira

10

agosto 2012

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Os vídeos de “Valtari”, novo disco do Sigur Rós

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foto: Lilja Birgisdottir

Para promover o novo disco, “Valtari”, o Sigur Rós convidou 12 diretores para filmar, com o mesmo orçamento, um clipe para cada música, totalmente livres, cada um fazendo o que quisesse. Os vídeos estão sendo lançados mensalmente na página do projeto. Obviamente, há um concurso de vídeos feitos pelos fãs, com inscrições abertas até 10 de setembro.

quinta-feira

5

março 2009

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Sigur acústico ao vivo em vídeo

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Parte 1 de 5: tem no YouTube também, lógico

O blogue Nočný Obraz está meio paradão e não dá pra saber o motivo, pois até o títuto da página é incompreensível. Os links para os vídeos disponibilizados no saite continuam fucionando e tá cheio de coisa boa.

Tem, por exemplo, a transmissão de TV do exclusivo show acústico do Sigur Rós no BBC Electric Proms. Tive a sorte de ser um dos 300 sortudos que presenciaram ao vivo.

sábado

27

dezembro 2008

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Melhores shows 2008

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Como passei o ano fora, é uma seleção solitária, de shows que assisti longe de casa, portanto sem muita conexão com o que rolou por aqui. Foi tanta coisa boa que não deu pra encurtar a lista muito não. Em nenhuma ordem específica, segue a lista:

Radiohead (Victoria Park, Londres)

O show é muito simples e é justamente aí que está o truque. Das timbragens dos intrumentos a execução das canções — mesmo com as constantes mudanças de formação de palco, indo de guitarras, piano, baixo, bateria e programação para voz e violão de uma música para outra — não tem firula.

Vampire Weekend (Electric Ballroom, Londres)

“Bem mais pesados ao vivo do que em disco, o segredo do sucesso da banda talvez resida justamente em saber dosar as influências africanas.”

Late of the Pier (BarFly, Londres)

“O LOTP não parecia cansado do péssimo show da noite anterior, em Birmingham, como contou o baixista Andrew Faley. Elétricos e derretendo no palco, talvez movidos a MDMA, o quarteto fez a mesma bagunça que vem fazendo, misturando rock, metal, eletrônica, psicodelia e histeria adolescente.”

Friendly Fires (KCLSU,Londres)

“Vendo a banda em seu ambiente, tocando para o seu público, algo que havia passado despercebido nas outras apresentações ficou claro: a presença de palco expansiva do vocalista Ed MacFarlane. Como um Mick Jagger nerd, Ed rebola na frente do palco na abertura, com “Photobooth”, se requebra e faz caras para as meninas, que gritam de alegria.”

Stevie Wonder (O2 Arena, Londres)

“O show ia morno, correto, alternando uma música “esquenta o sovaco” com uma “mela cueca” — técnica preferida do grande Tim Maia, como bem lembrou um amigo. Até que no final, uma fila de hits, colados um no outro, mudou tudo. “Overjoyed”, “Signed, sealed, delivered, I’m yours”, “My cherie amour”, “You are the sunshine of my life”, “I just called to say I love you”, “Isn’t she lovely” e a infalível “Superstition” fizeram valer cada centavo.”

Casiokids (Hoxton Grill, Londres)

“Nem vale a pena tentar definir o som do Casiokids. Tem referências bem diversas, de música africana a eletrônica maximalista. A galera no palco e a quantidade de teclados lembra o Hot Chip; a pegada alucinada de pista o Soulwax; os ruídos eletrônicos o Late of the Pier; o teatro de sombras, as cabeças de papel machê e o monstro vermelho que invade a platéia, o Flaming Lips.”

Lykke Li (ICA, Londres)

“Imagine o susto que a M.I.A. tomaria se um dia acordasse presa no corpo da Britney aos 14 anos, de calcinha e com uma vontade incontrolável de se tornar um chanteuse. Taí uma possível descrição da Lykke Li.”

Kings of Leon (Brixton Academy, Londres)

“Sem se repetir e com coragem de experimentar, o mais interessante de acompanhar o KoL é que trata-se de uma das poucas bandas dessa geração que vem constantemente melhorando, seja em disco ou ao vivo.”

Bloc Party (Circo Voador, Rio)

“Contrariando todas as expectativas, o Bloc Party fez um show avassalador nessa segunda a noite, no Circo Voador. Já tinha visto uma vez, em 2006 no Coachella, e tinha achado frouxo. Quem viu em São Paulo nesse finde também comentou que foi morno. No Circo Voador não. O negócio foi sério.”

Cidadão Instigado (Jockey Club, Rio)

“Um dos mais talentosos compositores de sua geração, Fernando Catatau e seu Cidadão Instigado chaparam a tenda do Claro Cine com sua psicodelia, a base de Jovem Guarda, Santana, guitarrada, bagaceiras eletrônicas e letras insanas.”

Sigur Rós (Rock Werchter, Bélgica)

“Com um dos cenários mais bonitos do festival e chuva de papel picado no encerramento contra um céu rosado pelo pôr-do-sol, os islandeses domaram a platéia, conseguindo silêncio geral.”

Justice (Astoria, Londres)

“Fechando a noite no Astoria, o Justice sentou a mamona, no que deve ter sido uma de suas aparições mais, hmm…, metálicas. Podreira pura. Tanta, que em muitos momentos só dava pra se defender da chuva de cotovelos. Seria bom se tivesse sido um pouco mais dançante.”

Soulwax Nite Versions (Rock Werchter, Bélgica)

“Emendando “Gravity’s rainbow” (Klaxons), “NY Excuse” (deles mesmo, explodindo a tenda), “Robot Rock” (Daft Punk) e “Phantom Pt. II” (Justice) fizeram uma das apresentações mais legais da música eletrônica recente (tem notado como os live PAs andam sem graça? ou é comigo?).”

sexta-feira

11

julho 2008

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Rock Werchter '08: Festa no interior

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URBe TV (com excessão do Radiohead) e
URBe Fotos (inclusive as fora de foco)

Como dito anteriormente, todos os caminhos apontavam para Bélgica. O que pode ter faltado foi placas sinalizando melhor as intempéries.

Após quatro dias enfiado na lama e cercado de adolescentes bêbados, a maratona de shows do Rock Werchter 2008 ficou assim:

Vampire Weekend, The National, Shameboy, Lenny Kravitz, R.E.M., Soulwax, My Morning Jacket, Jay-Z, Duffy, The Verve, Hot Chip, Digitalism, MGMT, Band of Horses, Kings of Leon, Ben Harper, Sigur Rós, Radiohead, Hercules & Love Affair, Mark Ronson, The Racounteurs, Justice e Beck.

Uma sequência dessas apaga qualquer má impressão que um festival muito bem organizado, porém mal produzido, possa deixar — afirmação parece antagônica, mas não é. Os principais problemas foram a superlotação e a má distribuição do espaço.

O bom é que passada as chateações, ficam apenas as recordações dos shows. E que shows.

Dia 1onde os urubús tem asa


Uniforme

Werchter é uma pacata cidade, de poucos habitantes, no interior da Bélgica. Não tem nada perto, ou mesmo longe. Como é que um lugar desses faz pra reunir uma escalação desse peso — e sem o nome de nenhuma mega corporação intrometida no logo do evento — é um mistério.

Parte do intuito da ida a Bélgica era desvendar esse segredo, seguindo uma dica quentíssima de uma pessoa que por motivos profissionais já visitou praticamente todos os principais festivais do planeta (mesmo), apontando Werchter como o melhor.

Como comparação, foi dito que barrava o Coachella. É uma afirmação bem ousada, pois escalações a parte, o evento californiano tem algo que os festivais europeus não tem (tirando os espanhóis): certeza de dias ensolarados.

Nunca quis ir para o zoológico de Glastonbury justamente porque assistir a shows de galocha, com barro até os joelhos, vestindo uma capa e tremendo de frio não é exatamente meu ideal de uma tarde agradável.

A decepção com o ensopado verão europeu doeu ainda mais ao descobrir que, não apenas Werchter também é bem molhada, mas os frequentadores estão muito pouco preocupados com o que se passa nos dois palcos.

E tem também a bebida. No Coachella não é permitido circular com bebidas alcóolicas fora da área determinada, o que acaba deixando as coisas bem mais calmas. Já na Europa, os festivais são uma espécie de primos distantes do carnaval, com ênfase nos desastres.


Vampire Weekend, “A-Punk”

No primeiro dia, enquanto a maior parte do público se esbaldava nas poças e curtia o som comercial do quiosque patrocinado por uma rádio (estranhamente uma das maiores áreas do evento), o Vampire Weekend tocava na tenda.

O show é rápido e direto, emendando todas as músicas do disco sem intervalos. Animados com a reação da platéia, o vocalista do Vampire Weekend elegeu os belgas como os melhores dançarinos da turnê.

Isso porque eles ainda não foram para o Brasil. Torça para esse show aterrisar por aí, porque é coisa fina.

Antes do próximo show interessante da noite, o R.E.M., tocaram os Chatolas do The National (com “C” maiúsculo mesmo) e o farofeiro Shameboy quase levou a tenda abaixo.

Começando bem, com músicas de seus primeiros discos, Lenny Kravitz descarrilhou no final e fanfarronou como de costume. Quando finalmente chegou a vez do R.E.M., o som do palco principal deixou o público na mão. Baixo e embolado, como se fosse no Brasil, mal dava pra ouvir as músicas.

Uma pena, pois o repertório estava caprichado, abrindo com “Orange crush” e fechando com “Man on the moon”.


Soulwax, “Robot rock” + “Phantom Pt. II”

De volta a tenda, os heróis locais Stephen and David Dewaele encarnaram sua faceta de banda a frente do Soulwax.

Bastante coisa mudou no Soulwax do show no Tim Festival 2004 para cá. Se antes a banda era uma mescla de rock e electro (tendendo mais para o primeiro), sob o nome Soulwax Nite Versions ênfase é na eletrônica, tocando seus remixes ao vivo. Stephen e David se dividem entre sintetizador, vocais e ocasionalmente guitarra, com um baterista somando-se a dupla.

Emendando “Gravity’s rainbow” (Klaxons), “NY Excuse” (deles mesmo, explodindo a tenda), “Robot Rock” (Daft Punk) e “Phantom Pt. II” (Justice) fizeram uma das apresentações mais legais da música eletrônica recente (tem notado como os live PAs andam sem graça? ou é comigo?).

Os irmãos ainda voltariam mais tarde, com seu projeto mais conhecido, o 2ManyDJs, antes do show do Chemical Brothers encerrando a noite no palco principal. A essa altura, com os ossos enxarcados, o banho quente e a cama gritavam bem alto, tão alto que foi impossível não atender a seus apelos.

Dia 2lá vem o sol


Jay-Z

Vir, vir, o sol não veio, mas pelo menos a chuva também não. Começando o dia devagar, o My Morning Jacket fez um show correto, mas repetitivo e um tanto cansativo na tenda. No palco principal, e cedo, a presença mais comentada no circuito de festivais de verão desse ano mostrou que não estava a passeio.

Bom de palco que só ele, Jay-Z veio com banda, o que costuma ser a diferença entre um monólogo de rap terrívelmente insuportável e um belo show.

Sem vergonha nenhuma, botou a branquelada pra rebolar ao som de sucessos seus, com sua participação ou com seu dedo: “99 problems”, “Crazy in love” (Beyoncé), “Umbrella” (Rihanna) e a música da estação, “American boy” (Estelle).

A distância entre o Jay-Z, brincando no palco, para a insossa Duffy na tenda era maior do que a caminhada em si. Sem graça, apelando para seduções baratas e com uma voz de pato, ao vivo a loirinha não segura a onda. Aliás, nem em disco.

No palco principal (eita, vai-e-vem…), o reunido The Verve angariava seus tostões simulando um retorno do brit-pop, que nem está tão longe assim ainda.


Hot Chip, “Ready for the floor”

A nerdice tomou conta da tenda, lotada para ver os ingleses do Hot Chip. Não dá pra dizer exatamente o que é, mas falta alguma coisa ali.

Pode ser o vocal, sempre no mesmo tom e sem dinâmica, pode ser a transposição das músicas para o palco, pode ser o excesso de esforço para parecer bacanas. Pode ser qualquer coisa, a bem da verdade, mas que falta algo, falta.

O show deu uma crescida em “Over and over” e na ótima “Ready for the floor”, ficando curioso na versão de “Nothing compares 2 U”, do Prince, imortalizada por Sinead O’Connor.


Digitalism

Cheio da onda, com cenário especial e tudo mais, o Digitalism era aguardado ansiosamente na tenda, super lotada.

Devido ao excesso de empolgação dos integrantes, o show quase se perde. É um tal de vir a frente do palco pra cantar ou fazer danças esquisitas, tocar bateria eletrônica com baqueta e pedir gritinhos que fazem pensar nos clichês do que é o “DJ Ibiza”.

Entretanto, a pancadaria do som é tão forte que sossega até a dupla. Contrariando a “tendenssa” atual, nem todo show de música eletrônica é feito para ser assistido. O Digitalism certamente funciona melhor de olhos bem fechados.

Dia 3dobradinha histórica


MGMT

Provavelmente por estratégia do festival, todos os dias algumas das bandas mais esperadas tocavam bem cedo. O MGMT entrou no palco 13h25.

A impressão deixada no público no show de Londres, dois meses atrás, não foi das melhores. Grande parte saiu do show antes do fim.

É aquele negócio de banda de internet. Muita gente só conhece uma música e, talvez nivelando por baixo, espera mais dez iguaizinhas. Quando elas vem diferentes entre si — o que deveria ser uma boa coisa — a turma impaciente do hype debanda.

O MGMT é um prato cheio pra esse tipo de reação. O disco é bem diverso e ao vivo as músicas ganham roupagens de rock psicodélico que assustam quem está a fim de só “mandar um dance”. O pouco espaço de tempo entre os dois shows cancelam a idéia de uma evolucão da banda, mas o fato é que o show de Werchter foi infinitamente melhor do que o de Londres.

O repertório estava mais bem distribuído, a banda mais entrosada e o público mais atento. Os músicos fizeram tudo que o professor mandou e… Brincadeira. É que essa frase acima parecia resenha de futebol.

Show bom bagarái. Vamos ver como será recebido no Brasil.

O Band of Horses adormeceu a galera na tenda antes do Kings of Leon fazer justo o contrário no palco principal. No caso do KoL, a distância entre o fraco show no Brasil e o que a banda vem apresentando atualmente é o suficiente para apontar uma evolução.

Os integrantes tocam e parecem não estar nem aí, como se aquilo não fosse nada ou não estivessem empolgados. Vai ver não estão mesmo. Pouco importa. Com uma das músicas mais tocadas nos intervalos dos show, “On call”, e lançando um disco melhor do outro, o KoL já provou que cresceu.


Sigur Rós

Tudo que é bom tem seu preço. No caso do show do Sigur Rós, era aturar o Ben Harper destruindo, uma a uma, suas melhores músicas. É um caso ainda mais grave do que o do Lenny Kravitz. Era de se esperar que depois de três discos excelentes, o sujeito estivesse encaminhado. Mas não.

Inacreditavelmente, vieram bombas atrás de bombas (com excessão de “Woman in me”, um musicão) e, hoje, assistir um show do Ben Harper é, infelizmente, uma dureza.

Divida paga, os islandeses do Sigur Rós fizeram valer o esforço.

Com um dos cenários mais bonitos do festival e chuva de papel picado no encerramento contra um céu rosado pelo pôr-do-sol, os islandeses domaram a platéia, conseguindo silêncio geral. Até mesmo um lamentável grupo de trintões que insistia em brincar de botar um pinto de borracha na boca para aparecer no telão ficou quieto. A tarefa não era fácil, acredite.


Radiohead, “Climb up the walls”

Duas bandas tão distantes e estranhamente próximas como Sigur Rós e Radiohead, tocando uma após a outra, é pra jogar as mãos pro céu.

A grande “falta de sorte” foi que o repetório dos ingleses foi bem parecido com o da apresentação no Victoria Park, com pouquíssimas alterações.

A inclusão de “Paranoid android” fez valer o ingresso. Novamente, o clássico (é, já) “In rainbows” foi tocado quase integralmente e “Climb up the walls” surgiu numa versão dub de cair pra trás de tão boa.

Obviamente, o festival inteiro queria assistir o show colado no palco, o que ocasionou um espreme-espreme raro por essas bandas. Na tentativa de evitar o tumulto no final da apresentação, escolhi sair antes da última música pelo vão onde fica a equipe técnica, alegando que era impossível atravessar a massaroca de gente.

Sem saber, foi um prêmio. Sabe-se lá porque, o caminho levava até a boca do palco, a cinco metros da banda tocando “Everything in it’s right place”, antes da saída. Só não deu tempo de sacar a câmera pra mais uma foto fora de foco.

Dia 4arrancada final


Hercules & Love Affair

Arrebentado, com os pés doloridos das benditas galochas e mal alimentado (o Rock Werchter é o paraíso das porcarias), o último dia começou bem mal com o Hercules & Love Affair.

O grupo mal consegue ser uma paródia de si mesmo, com músicos fracos, versões magras e a ausência da voz do Anthony (and the Johnsons). Toma um baile, fácil, fácil, do Celebrare no quesito disco-music águada para casamentos.


Mark Ronson

Eis que surge Mark Ronson e sua banda gigante, os Version Players, chegando a somar 19 músicos no palco em alguns momentos. A idéia por trás do projeto é tão simples que soa até boba. A princípio. Como um DJ, Ronson comanda uma sessão de versões de hits do rock, hmmm… contemporâneo.

Lembra um pouco a proposta da Orquestra Imperial, fundada pelos produtores Berna Ceppas e Kassin e reunindo músicos amigos pra tocar músicas que influenciaram suas carreiras. A diferença é apenas cultural, o que cada um ouviu de seu país enquanto crescia.

Produtor conhecido pelo trabalho com Amy Winehouse e Lilly Allen, Mark Ronson entorta as músicas até ficarem quase irreconhecíveis, criando uma unidade sonora impensável entre “Toxic” (Britney Spears), “Just” (Radiohead), “Stop me” (The Smiths) e “God put a smile upon your face” (Coldplay).

O show é praticamente um portifólio itinerante, mostrando o talento de Mark Ronson na produção. O único detalhe é que é um show tão intenso e empolgante que as pessoas sequer pensam nas músicas originais. É como se tudo fosse material inédito.

O show agrada desde o indie mais exigente até quem nunca ouviu falar em Mark Ronson antes. Impressiona também porque, com tantas participações especias no disco, seria difícil imaginar as versões sem seus intérpretes.

A catarse provocada por “Valerie”, logicamente sem Amy Winehouse nos vocais, prova o contrário.

Mais tarde, Ronson ainda deu uma canja no palco do Kaiser Chiefs.


Racounteurs

Já em seu segundo disco, não se sabe até quando o Raconteurs será chamado de “projeto paralelo do guitarrista Jack White”. O White Stripes parece cada vez mais distante, ainda mais vendo o estrago que White pode fazer com uma banda completa.

Sem a responsabilidade de prover ao mesmo tempo a melodia e a base, White ganha mais espaço para explorar seus talentos na guitarra, no piano ou mesmo no vocal. O resto da banda também não é nada boba, resultando num show mais redondo que o do White Stripes.


Justice

O que não é um conceito. Ouvindo os zilhões de ruídos e distorções do Justice, fico pensando o que aconteceria com a dupla se vem vez da opção por um show encenado, tentassem fazer um simples DJ set com as mesmas músicas.

Se a pista ficaria vazia ou não é pura especulação. De qualquer forma, é inegável o apelo das referências ao rock e ao metal (jaquetas de couro, amplificadores Marshall e, claro, as cruzes). Como no caso do Daft Punk, não é apenas um show de música, é também uma espécie de peça teatral.

Nesse contexto, as críticas de que os shows são sempre iguais, com pouquíssimos adendos, e acusações de que é tudo pré-gravado (na montagem do palco um roadie apertou algum botão por acidente e em vez de uma nota ou algo parecido, disparou foi a base de “Genesis”, prontinha) perdem um pouco o sentido. Teatro é assim.

O perigo é os atores começarem a acreditar nos papéis e quererem se transformar nos personagens. Sinal amarelo para a pose da foto acima, que durou uns 20 segundos, mais pra Poison do que pra Metallica.


Beck

Fechando a tampa, o grande Beck, um tanto apagado e acompanhado por uma banda meio frouxa,mostrando músicas do novo disco, “Modern guilt” e alguns de suas melhores canções.

Entre “Loser”, “Devil’s haircut”, “New polution”, “Where it’s at”, o grande momento foi “Everybody’s got to learn sometime”, do The Korgis, que fez parte da trilha do filme “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”.

Moído, restava uma última coisa a fazer: sair correndo para escapar da sequência letal Underworld / Nightwish.

São e salvo.