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segunda-feira

23

abril 2012

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Transcultura #078: De volta pro futuro no Coachella 2012 // Caine’s Arcade

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Meu texto da semana passada para coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

Futurologia no Coachella
Festival reapresentaou atrações em seu segundo final de semana
por Bruno Natal

Nessa sexta começa o segundo final de semana do festival Coachella, na California. Tudo igualzinho a semana passada: as mesmas atrações, tocando nos mesmo horários, com a diferença de que o efeito surpresa se perdeu. O clima “De volta para o futuro” vem desde semana passada, seja através do retorno de bandas como At The Drive In e Mazzy Star, seja através da ressurreição do rapper Tupac Shakur emformato holográfico. Com isso, o exercício de futurologia que seria tentar prever os caminhos de um festival com quase 150 atrações, torna-se quase certeiro.

Neon Indian exagerará no lo-fi e mostrará um som mais gasto do que estiloso; o GIRLS manterá a fama de ruim de palco mesmo com o discão “Father, Son, Holy Spirit” como base; o Arctic Monkeys vai mais uma vez provar que não é mais um grupo de moleques; Frank Ocean vai arrastar uma multidão para a menor tenda do festival e contará com o apoio do Bad Bad Not Good e participação do Tyler The Creator; a Mazzy Star fará um showzão, mesmo enfadada; o Atari Teenage Riot sangrará ouvidos e o M83 se mostrará mais pop do que se pensava.

A Azealia Banks não fará uso de nem metade do tempo de palco que tem direito; o tUnE-yArDs não segurará a onda num palco maior; o Andrew Bird vai mostrar um folk sem muitas inovações além do seu violino; Noel Galagher apelará para uma música do Oasis pra conquistar o público; o The Shins vai fazer um show de dar sono ao mesmo tempo que a Feist, com 18 músicos no palco, fará uma das melhores apresentações do festival; o Flying Lotus tirará onda acompanhado de baixo e bateria; o SBTRKT sentirá a necessidade de provar que não é assim tão radiofônico e carregará a mão das versões das próprias músicas; o ASAP Rocky fará uma zorra no palco com mais de 10 amigos e o Radiohead atrasará um pouco pra mostrar que simplesmente re-arranjou as luzes do palco da turnê do “In Rainbows” para essa do “King of Limbs”.

O Metronomy fará do gramado uma pista de dança sob um sol de rachar; Seun Kuti encantará os gringos com a banda do pai; o Real Estate fará um show certinho, embora mais para os fãs; Beats Antique orientalizará o hip hop e o araabMUZIK mostrará com quantas MPCs se faz um performance; o Thundercat vai se embrenhar por uma masturbação jazzística; o The Weeknd vai cometer um assassinato em massa das canções da sua ótima mixtape; Justice e Girl Talk mostrarão mais do mesmo, sem que isso seja algo ruim, e espremerão o Beirut contra o Calvin Harris, tornando impossível ouvir qualquer coisa; o At The Drive In ensurdecerá quem tiver fugido do açucar da Florence & The Machine, enquanto DJ Shadow e Modeselektor sofrerão para competir com Dr. Dre & Snoop Dogg.  E no encerramento, quando Makaveli surgir digitalmente diante dos olhos incrédulos do público, o mesmo sentimento fantasmagórico tomará conta da platéia, mais assustada do que empolgada com o artíficio.

A única coisa que não deve se repetir é o tempo, com a inédita chuva no deserto dando lugar a tradicional solaca, queimando os corpos, enquanto a música frita o coco. Ao ponto, por favor.

Tchequirau

Apaixonado por fliperamas, Caine construiu versões elaboradas dos jogos utilizando pedaços de papelão, na garagem da loja do pai, em Los Angeles. O documentário “Caine’s Arcade” conta essa história e reserva uma grande surpresa no final.

sexta-feira

20

abril 2012

16

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Coachella 2012: um festival de pessoas, sol e música

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fotos: URBe (via Instagram)

Cada Coachella é uma história diferente e por isso é um dos festivais mais legais de se cobrir. Mais do que o ano da entressafra, o Coachella 2012 será lembrado como o ano do frio, da chuva, o Coldchella. Pela primeira vez (até onde pesquisei) choveu e o frio de 10 graus desnorteou um evento pautado, primordialmente, pelo sol. E ficou bastante claro esse ano o quanto o sol é fundamental para o festival.

Espécie de termômetro da música pop independente contemporânea (OK, ficou parecendo estatística do Zagallo: “nunca perdi pra país com a letra Z e que joga com listras vermelhas verticais”), goste ou não, através das suas escalações, apresentações e até horários, entende-se um pouco do momento pelo qual passa o cenário musical.

A ascensão do festival e o interesse em participar de medalhões como Madonna e o empenho em impressionar do Daft Punk e sua pirâmide em 2006, a expansão de dois para três dias de shows em 2007; a consolidação como rito de passagem e afirmação para bandas visto em 2009; o gigantismo atingido em 2010, quando todas as bandas agora graduadas juntaram-se na mesma escalação e aumentou-se o número de ingressos disponíveis; a correção de rumo em 2011. Cada edição tem as suas peculiaridades (as intros de cada uma das resenhas apontadas dão uma analisada melhor em cada assunto).

A julgar pelo que se viu em 2012 (e se verá novamente nesse final de semana, quando pela primeira vez o Coachella terá um segundo final de semana, espelhando as atrações do primeiro) o momento atual é de entressafra. A escalação trouxe as tradicionais reuniões de bandas extintas (At The Drive In, Mazzy Star), nomes grandes pra chamar público (Dr. Dre & Snoop, Radiohead) e muitas, mas muitas bandas novatas.

O que não se vê, ao menos não em números expressivos, são aquelas bandas recém-estouradas, equilbrando-se entre um público médio, quase chegando no grande. Não faz sentido escalar novamente a última leva a conseguir fazer essa transição de pequeno para médio porte (MGMT, Hot Chip, Vampire Weekend, 2ManyDJs/Soulwax, Chromeo, etc), porém, não há novos postulantes a esse posto. Com isso, foram muitas apostas, algumas das quais podem voltar ao festival em outras condições.

Isso não deixa de ser totalmente alinhado como espírito do Coachella, mesmo que hoje ele tenha se tornado muito maior. É muito bom que não haja um desespero pelo sucesso (mesmo porque, hoje os ingressos esgotam antes da divulgacão da escalação) e se repeite o tempo das coisas. Mérito da curadoria. O fato de a atração mais comentada ter sido um holograma diz muito sobre isso.

Resta ao público garimpar, é esse interesse que move o festival. Ainda que em alguns casos o hype do mundo real seja mais rápido que o da rede, fazendo com que shows fiquem abarrotados no início e, de repente, esvazie, com as pessoas indo buscar outras coisas, num universo de mais de 140 atrações o que predomina é um público aberto ao novo, mesmo que para alguns isso dure apenas três dias.

Isso faz toda diferença do ponto de vista prático. Sem um público interessado cena nenhuma, de nada, se sustenta (sim, estou falando sobre o Queremos!de maneira enviezada).


Nuvens, vento, gorros… (foto do @rhermann)

Dia 1
Breakbot, Givers, James, Neon Indian, GIRLS, Arctic Monkeys, Pulp, Frank Ocean, Mazzy Star e M83

Dividido entre ver as novas instalações e correr atrás de alguma das boas atrações que ficam salpicadas no horário em que o campo de polo ainda está vazio, a entrada é sempre um momento confuso. Enquanto Breakbot fazia um set bem parecido com o que fez no Rio, tocando depois do Mayer Hawthorne The Rapture no Circo Voador (e sem banda, como era esperado), o Givers fazia um show sub-qualquer bandeca de rock. Restou passar pelo palco principal pra pegar um pouco do rapper Kendrick Lamar. Tarde demais; só deu tempo de ouvir o ele se despedindo e aturar a velharia do James enquanto almoçava.

As coisas começaram frias, no amplo sentido da palavra. Os shows não impressionavam e o frio ia piorando conforme o dia passava. Logo a previsão de 30% de chances de chuva se confirmaria, sem muita intensidade, só que as gotinhas estavam geladas que só vendo. Muita gente não levou a metereologia  sério e a cena de meninas de roupa curta se encolhendo tornaram-se tão comuns quanto as alienígenas jaquetas de couro circulando pelo gramado.


GIRLS

No palco menor, o Neon Indian levou o lo-fi a extremos, mostrando um show mais sujo do que gasto pelo tempo. Mesmo com três sintetizadores, guitarra e bateria, o som saia fraco e abafado, sem empolgar a boa quantidade de gente assistindo. Melhorou um pouco nas duas últimas,  os “hits” falando de uma garota polonesa e num verão caloteiro,  “Polish Girl” e “Deadbeat Summer”. Bem apropriado.

Tudo prometia melhorar com o GIRLS, mostrando as músicas do excelente “Father, Son, Holy Ghost”, um salto de qualidade tremendo da banda. Só que… O que quer que tenham aprendido no estúdio, não chegou ao palco. Sem nenhum carisma, Christopher Owens teve sua voz e violão encobertos por um baixo rachando e até pelas boas cantoras de apoio. Não foi terrível, porém não chega perto do disco.


Arctic Monkeys

No palco principal, o Arctic Monkeys mostrava como é que se faz. É impressionante o quanto a banda se converteu de um bando de moleques em um grupo de rock com cancha de palco. A única vez que havia visto a macacada ao vivo foi naquele mesmo palco, em 2007, quando estavam lançando o segundo disco, ainda desconhecidos nos EUA e fazendo brincadeiras com a situação.

Com quatro discos nas costas, projetos paralelos e sabe-se lá quantas horas de palo, Alex Turner sente-se a vontade como front man. Isso é bom e ruim. Se por um lado o domínio de palco propicia um espetáculo mais controlado, é justamente esse controle que tira um pouco do frescor juvenil que foi uma parte tão importante no estouro da banda. O tempo passa, é incontrolável. O volume das guitarras não, pelo contrário, e poderiam estar um pouquinho mais altas.

O Pulp deu sequência inglesa, com um show bem produzido, cenário grandioso e Jarvis Cocker inspirado. Vista uma música e os fãs enlouquecendo, voei para conferir o Frank Ocean. Integrante mais velho do coletivo de hip hop angelino Odd Future, Frank se debruça sobre o r&b, cantando sobre relacionamentos, não sobre escatologias como os rappers do grupo.


Frank Ocean

A Gobi, menor das tendas, transbordava e foi difícil abrir caminho. Ao conseguir avistar o palco, deu pra identificar o BadBadNotGood como seus músicos de apoio, o que subiu bastante o nível (eles ainda tocaram toda as noites no acampamento).

O trio de baixo, bateria e piano canadense já vinha ciscando pela área, fazendo versões jazzísticas das músicas do Odd Future, então foi até uma junção lógica – no show a formação era guitarra, baixo, bateria e MPC/teclado (até onde deu pra ver, a ausência de uma câmera cobrindo o lado direito do palco no vídeo com a íntegra do show não ajuda a identificar).

Ao Frank Ocean restou fazer o que sabe, cantar. Bem a vontade frente a multidão, ele perdeu bastante tempo reclamando do som. O público não viu tanto problema, as meninas soltando gritinhos sem parar. Quando acabou, Mazzy Star já estava no palco menor fazia dez minutos.


Mazzy Star

A luz azul que preenchia o espaço durante quase todo o show escondia uma Hope Sandoval emburrada, quieta, sem que ela dissesse o motivo (olhando bastante para mesa de monitor, a qualidade do som devia ser a razão). O folk blues chapado, de linhas de órgão doorianas e slides viajantes, atraiu pouca gente – o frio certamente não ajudou.

Uma pena, pois o show foi bastante bom (dá pra assistir todo no YT). Mesmo eles tendo “se livrado” de “Fade Into You” lá pela metade, era um show pra ter encantado se as condições tivessem sido melhores.

A caminho do M83, o extremo oposto acontecia em uma das tendas, onde o Atari Teenage Riot rasgava os ouvidos dos poucos que se encorajaram a encarar a bagaceira. Surpresa mesmo viria a seguir.


M83

Contrariando todos os prognóstico de um show indie e cabeçudo de shoegaze eletrônico, o  show do M83 é totalmente pop (assista completo no Daily Motion). Com luzes frenéticas e ênfase nas programações eletrônicas e na própria bateria (por vezes 4×4) em quase todas as músicas, a tenda lotada quicou sem parar enquanto Anthony Gonzales se deliciava, sem cansar de agradecer e fazer menção ao fato de estar sendo tão diferente de quando tocou no festival, em 2005.

A saída de um dos fundadores, o sucesso de “Hurry Up, We’re Dreaming”, o M83 está mesmo vivendo um recomeço. É como se fosse outra banda, nascida pra fazer sucesso. Não é exatamente meu tipo de som, principalmente os gritos de “mãos pra cima” ou nos momentos em que soa como se o Miike Snow (com quem guardam semelhanças, o que é bom) tocasse as músicas do Arcade Fire (o que seria ruim) Gostos a parte, é um showzão- e bombaria por aqui. Dispensável mesmo só o solo de sax no final de “Midnight City”.

Falando em Miike Snow, no dia seguinte eles tocaram e receberam a Lykke Li, assista a partir do minuto 29.  De volta a sexta, a atração seguinte seria o The Horrors. O frio venceu e esse ficou pra depois, encerrando a noite mais cedo.


Galocha? (foto do @rhermann)

Dia 2
Big Pink, Jaques Lu Cont, tUnE-yArDs, Andrew Bird, Noel Gallagher’s High Flying Birds, The Shins, Feist, Flying Lotus, SBTRKT, ASAP Rocky e Radiohead

O otimismo sobre uma melhora das condições climáticas se realizou apenas parcialmente: o frio continuou, mas pelo menos não choveu, o que já ajudou bastante. O sol até ameaçou aparecer algumas vezes.

Tendo perdido os shows do Destroyer e da Azealia Banks (essa tendo utilizado metade do tempo de palco que tinha), ambos muito cedo, o dia começou com o Big Pink, aturado somente tempo suficiente para Jaques Lu Cont começar seu set na tenda Sahara.


Jaques Lu Cont

Nome por trás do Les Rythmes Digitales e produtor do “Confessions On a Dancefloor”, da Madonna, Jaque Lu Cont é o pseudônimo mais utilizado pelo inglês Stuart Price (um trocadilho anglo-franco significando algo como Jack O Cuzão), talvez seu trabalho mais consistente. Agradando a atual demanda por sons rave 90, a primeira metade do set foi bem comercial, téquinêra pesada (e ainda sim bom, sim é possível), encerrada com um explosão de fumaça ao som de “Also Sprach Zarathustra”, para marcar a transição para um som mais com a sua cara.

E essa cara é um groove borrachudo, sirenes de synth, camadas de melodia se cruzando, a bateria 909 estourando no peito, em remixes de “Harder Better Faster Stronger” (Daft Punk), “Blue Monday” (New Order) e “Mr. Brightside” (The Killers, de quem também produziu o terceiro disco). Mesmo com o dia claro, a pista pegou e pegou bem.


Andrew Bird

Numa mudança brusca, o tUnE-yArDs pegou um palco grande demais para o seu som. O som etéreo, de tempos e divisões estranhas e melodias tortas, lembrando bastante o Dirty Projectors , não consegue cativar uma multidão. A atmosfera experimental e hippie provavelmente ganha muito se vista, por exemplo, num centro cultural ou na sala de casa de um dos integrantes. Andrew Bird entrou na sequência e fez um show correto com seu folk e violino, sem empolgar muito.

No almoço deu para ouvir Noel Gallagher apelar para “Don’t Look Back In Anger”, do Oasis, pra conquistar o público. Mesmo sem nenhum hit desse calibre no repertório, quem não precisou de muitos truques pra fazer um dos shows do festival foi a Feist. 19 pessoas no palco, som perfeito, o máximo da apelação foi uma piada dizendo que uma de suas músicas era sobra de estúdio do “The Chronic”, clássico do Dr. Dre, estrela maior do Coachella esse ano. Bem classudo.


Flying Lotus

Embicando para o final, vei uma sequência na tenda pequena, começando pelo trecho final da apresentação do Flying Lotus, dessa vez acompanhado por baixo e bateria, tão bom quanto sempre nos toca-discos.

Logo depois entrou o SBTRKT. Acompanhado apenas pelo cantor Sampha, o produtor Aaron Jerome reconstrói as músicas, tornando-as muito mais peadas e minimalista (show todo no DM).


SBTRKT

Passando uma lixa na produção detalhada do disco, tirando todo polimento pop, “Never Never” vira um dubstep dark, “Something Goes Right” não repete as programações, o sintetizador some e surge reta e seca. “Wildfire”, na versão com Drake e cantada por Yukimi Nagano (do Little Dragon), que deveria ser a mais adaptada devido a ausência dos intérpretes, é praticamente tocada como é gravada, antes de um final em que é toda entortada.

O ponto fraco é a decisão de Aaron de tocar bateria ao vivo (ele e Sampha dividem os sintetizadores). O que poderia ser um adendo interessante pro show acaba limitando as execuções pelo simples fato dele ser um baterista regular, porém incapaz de repetir as programações originais na munheca. Com isso, todo o show acaba sendo mais linear e perdendo dinâmica. A discussão se um artista novo deve ou não alterar tanto suas músicas quando tem apena um lançamento é secundária. Afinal, cada artista sabe de si.


Um integrante do ASAP Rocky vai pra galera

Certo de que o Radiohead não entraria em cena no horário marcado, fiquei para ver um pouco do ASAP Rocky. Acompanhado por 11 amigos no palco, pulando e dançando sem parar, alguns fazendo raps ou se jogando na plateia, do pouco que deu tempo de conferir, pareceu energético, embora rapidamente se torne monótono com a presença de apenas um DJ em cena.


Radiohead

Atração principal da noite, o Radiohead fez um show basicamente focado no “The King of Limbs” e no “In Rainbow”, com algumas concessões. No geral, foi um repertório mais lento e o cansaço de um dia inteiro de shows, somado ao frio, congelou o público.

A amigos, o guitarrista Ed disse que foi um dos piores shows do Radiohead em muito, muito tempo. Foi um certo alívio saber disso, aliviando um pouco a culpa de ter saído um pouco antes do fim (não aprendo…) para evitar o engarrafamento da saída do estacionamento.


O sol! O Sol!

Dia 3
Metronomy, SeunKuti & Egypt 80, Real Estate, Beats Antique, araabMUZIK, The Weeknd, Justice, At The Drive In, Dr. Dre & Snoop Dogg


Josh Homme é fã do Metronomy

Eis que no derradeiro dia o sol apareceu, mudando COMPLETAMENTE a atmosfera do festival. O dia começou bem, com o Metronomy fritando o coco no palco menor, transformando o gramado numa pista de dança. Josh Homme (Queens of the Stone Age) foi tietar a banda nos bastidores após o show e foram embora juntos.


Santigold

Finalmente deu para aproveitar o calor e curtir o visual do deserto largado no chão, ao som do Seun Kuti e a lendária Egypt 80. A melhora no clima aumentou a pilha, então deu pra correr descalço e ver um pedaço da Santigold, grande, dominando o palco principal bem cheio.

De lá, para o Real Estate. Longe de ser algo elaborado, é na simplicidade que eles se dão bem (show inteiro aqui – e que beleza é não ter que subir essa quantidade de vídeos no  YT!).


Real Estate

O indie preguiçoso se destaca pela guitarra enxarcada de Matthew Mondaline (também do Ducktails) e pelas longas incursões instrumentais, apoiadas em camadas de teclado (o pai do tecladista mora no Rio e trabalha n Bloomberg, ele contou depois). De ruim, a demora entre as música para afinação dos instrumentos, atrapalhando a fluidez. Uma belezura de show que teria ido muito bem no por do sol.


Thundercat

Produzido por Flying Lotus, o Thundercat fez um show de jazz funk chato enquanto na tenda ao lado, a Mojave, o Beats Antique orientalizava o hip hop através do balkan beats, com banda e dançarinas exóticas, antes do araabMUZIK destroçar os sonhos de qualquer um que toque ou queira tocar uma MPC.


araabMUZIK

O prodígio americado descendente de guatemaltecos e dominicanos arregaça não uma ou duas, mas três MPC,  numa velocidade e destreza assutadoras. Isso sem perder de foco o pequeno detalhe de fazer um som bom, algo que poderia ser relegado a segundo plano, encoberto pela performance, construindo batidas e melodias e samples de Damian Marley. No palco principal, o The Hives se esgoelava.

Com finalmente um sol para se por, a melhor escolha de banda para esse horário de ouro do festival flopou desastrosamente (veja você mesmo). Reunindo o maior público visto no palco menor, com muita gente sabendo as letras de cor e sendo celebrado com gritos histéricos dignos de ídolos adolescentes, o The Weeknd não correspondeu.


The Weeknd

Com uma voz pequena e sem alcance nenhuma, Abel Tesfaye mais geme do que canta. Ele não se aperta e bota banca, com atitude de postar, como se não fosse um sub D’Angelo ou Justin Timberlake e não percebesse que está mais próximo de um participante do American Idol do que de qualquer um dos citados.

A banda – ou os arranjos – não ajudam, soando vazia naquela imensidão a céu aberto. Uma grande decepção, considerando as boas mixtapes, no nível da causada pelo The xx, naquele mesmo lugar e horário. Agora, como dito lá em cima, pode ser questão de tempo, estrada, experiência mesmo. O The Weeknd ainda é pequeno.

Contrariando o que vinha sendo comentado, o Justice não se apresentou com uma banda e mostrou praticamente o mesmo show do disco passado, adicionando apenas luzes aos amplificadores cenográficos e as música novas de sonoridade parecida (já que o disco é mais hard rock do que metal), como “Orion”. A banda entrou bastante atrasada e fez um set bem curto num espaço já limitado de tempo. Muito pouco para o palco principal, mesmo sendo muito bom.

Espremido entre a catarse causada pelo Girl Talk no palco menor e o poperô do Calvin Harris (com Rihanna como convidada) na Sahara, o Beirut se esforçou pra conseguir se fazer ouvir na Gobi. Tarefa ingrata para eles e para os muitos que lotaram a tenda na esperança de ver o show.

No palco principal o At The Drive In fez seu retorno, enquanto a Florence and The Machine agradava a mulherada no menor. Nada disso importava, a essa altura o campo de polo já estava a espera de Dr. Dre, Snoop Dogg e sua turma.


Dr. Dre & Snoop Dogg e todo o resto

Como num especial de TV, Dr. Dre fez as vezes de anfitrião, falando bem mais que Snoop, enquanto recebia seus convidados (já sabe: clique e assista o show todo). Passeando quase cronologicamente por alguns dos sucessos que produziu, recebeu Kurupt, Warren G, homenageou Nate Dogg (morto recentemente), ouviu Snoop puxar “Jump Around” do House of Pain e cantar “Young, Wild and Free” com Wiz Khalifa e então o caldo começou realmente a engrossar.

Confirmando os boatos, 50 Cent e depois Eminem também participaram, transformando a noite num encontro de medalhões do hip hop, faltando apenas Jay Z, Lil Wayne e Kanye West pra fechar o primeiro time (mas eles não tinham nada a ver com aquilo). O que aconteceu entre essa duas apresentações foi o que se tornou o assunto mais comentado do Coachella, possivelmente não apenas dessa edição.

Durante o dia já rolava um falatório sobre a participação virtual do Tupac, o próprio holograma (papo que você vem escutando falar aqui no URBe pelo menos desde 2006) sendo citado. Não deu outra. E mesmo sem ser exatamente uma surpresa, causou espanto no sentido estrito da palavra. Mais do que uma comoção ou celebração, a visão de Tupac no palco, gritando “qualé Coachellaaaa”, deixou o clima meio sombrio. Era mais como ver um espírito do que o artista. Embora o objetivo não pareça ter sido esse, funcionou, afinal, o rapper foi assassinado há 16 anos.

No final, mesmo com a chuva e escalação “tímida” (e bota aspas nisso!), foi uma das edições que mais repercutiu. Curioso pra saber qual vai ser a história ano que vem.

Obs 1 – Para assistir: Tem alguns links para vídeos com os shows inteiros no texto. Uma busca no Google por “nome da banda” + Coachella + full entrega os resultados. Muitos dos vídeos estão marcados como “privados”, para não serem tirado do ar pelo YouTube, então uma busca no próprio YT não acusa. Tem muitos no DailyMotion também.

Obs 2 – This is an extensive Coachella ’12 Weekend 1 review written in Portuguese, here’s an automatic translated English version (through Google Translator)

sexta-feira

6

janeiro 2012

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Melhores discos internacionais de 2011

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Ano muito bom de discos e de músicas. O critério é o mesmo da lista de melhores discos nacionais de 2011 (e de sempre): a ordem dos discos é baseada no volume de audições. Sem falar que ao longo de 2012, sempre se pode encontrar um disco de 2011 que não conhecia e a lista mudar, como já aconteceu com o Tame Impala.

Deixe suas dicas nos comentários.

10.

Radiohead, “The King Of Limbs”

 

9.

The Weeknd, “House of Ballons”

 

8.

James Blake, “James Blake”

 

7.

Girls, “Father, Son, Holy Spirit”

 

6.

Real Estate“Days”

 

5.

Toro Y Moi, “Underneath The Pine”

4.

The Rapture, “In The Grace Of Your Love”

3.

Metronomy, “The English Riviera”

2.

SBTRKT, “SBTRKT”

1.

Peaking Lights, “936”

Bônus: outros bons discos de 2011 que merecem ser mencionados:

Ducktails, “Arcade Dynamics III”

Danger Mouse & Daniele Luppi, “Rome”

Mayer Hawthorne, “How Do You Do”

Lykke Li, “Wounded Rhymes”

Com Truise, “Galactic Melt”

Youth Lagoon, “The Year Of Hibernation”

Mark McGuire, “A Young Person’s Guide”

Shit Computer, “”

2562, “Fever”

Seun Kuti & Egypt 80, “From Africa With Fury: Rise”

Cerulean Crayons, “_Batch2”

Frank Ocean, “Nostalgia/Ultra”

segunda-feira

20

dezembro 2010

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Melhores shows de 2010

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A lista de 2010, em nenhuma ordem específica:

Gil Scott-Heron (Coachella, EUA)

“Na tenda, longe da corrida do hype, Gil Scott-Heron mostrou como se faz. Magrinho, com o rosto escondido por uma boina e parecendo frágil, o herói do funk soul chegou devagar, na classe.”

Thom Yorke & Atoms For Peace (Coachella, EUA)

“Soltinho no palco, Thom Yorke parecia estar curtindo bem mais do que nos shows do Radiohead. Talvez eu também. As referências, principalmente pela influências mais escancaradas do dub e da música eletrônica, deixam Thom menos indie.”

LCD Soundsystem (Coachella, EUA)

“Tendo estado em duas das três tendas do festival em anos anteriores, o LCD Soundsystem assumiu o palco principal como penúltima atração da noite e confirmou a aposta, echendo o lugar.”

Seun Kuti (Back 2 Black, Rio)

“Responsável por levar o legado do afrobeat adiante, Seun apresenta-se acompanhado pela última banda do pai, a Egypt 80 e faz um show hipnótico. Para alguns, o trabalho de Seun é uma continuação natural de Fela (com quem tocou desde os 9 anos), para outros é uma imitação sem graça.”

Mayer Hawthorne (Coachella, EUA)

““Just Ain’t Gonna Work Out”, “Green Eyed Love” e até “Just A Friend”, do Biz Markie, foram mantendo o pique alto até Hawthorne sair com o público na mão e consagrado do salão.”

Air (Circo Voador)

“(…) a influência do Kraftwerk salta mais do que nos discos. A eletrônica gelada, os grooves retos, ainda que aquecidos pelo baixo ou entortados pelas teclas, serve como um filtro, por onde passa todo o resto: psicodelia floydiana, texturas kraut, transes trip hop, meditações dub e até mesmo l’amour da chanson francesa.”

Hypnotic Brass Ensemble (Field Day, Londres)

“Composta apenas por metais e uma bateria, a big band conquista assim que entra em cena, só pelo visual inusitado. Quando começam a tocar isso vira um detalhe e o que chama atenção é a tuba fazendo as vezes de baixo, a coreografia dos integrantes e o fato de tocarem perfeitamente encaixados sem partitura ou maestro.”

Leitieres Leite & Orkestra Rumpilezz (Teatro Rival)

“A frente da Orkestra Rumpilezz, o maestro Letieres Leite fez uma apresentação avassaladora no Teatro Rival.”

Phoenix (Coachella, EUA)

“Era por do sol e a luz natural apenas intensificou a beleza de “Love Like A Sunset”, até no telão funcionou. Embora as vezes possa não transparecer nos textos aqui, sei exatamente o tamanho da sorte que é poder vivenciar momentos assim, e esse foi, literalmente, de chorar.”

Bomba Estéreo (Teatro Rival, Rio)

Ligado no 440 volts, a vocalista Liliana Saumet toma conta do palco com uma segurança que Lily Allen ou M.I.A. (a colombiana fica em algum lugar entre as duas) apenas sonham. Cuspindo letras agressivas enquanto faz charminho, a menina desembesta e toma a frente da banda, que começou como um projeto solo de Simón Meíja.”

Flying Lotus (Coachella, EUA)

“As batidas instrumentais tem forte influência dos graves do dub, do clima soturno do trip hop e dos blips do EBM. Utilizando apenas um laptop e sem tirar o sorriso do rosto, ao vivo o Flying Lotus entortou ainda mais suas produções.”

Deodato (Multiplicidade, Rio)

“Foi uma noite totalmente fora do usual, felizmente de casa cheia. Vamos ver se o Deodato encolhe ainda mais os períodos de ausência por aqui.”

Franz Ferdinand (Fundição Progresso, Rio)

A guitarrinha funkeada de “No You Girls”, a versão deles de “All My Friends”, do LCD Soundsystem, a pegada disco de “Outsiders” e a batucada no final, os 15 minutos alucinógenos de “Lucid Dreams”, a presença dos sintetizadores do disco “Tonight: Franz Ferdinand” invadindo as outras músicas… Não há um minuto de descanso no show.”

Paul McCartney (Morumbi, São Paulo)

“A verdade é que fui até lá corrigir um erro histórico, quando tentando fugir do tumulto da saída do show do Paul no Coachella ano passado, perdi o segundo bis e a chuva de clássicos enquanto andava pro estacionamento dando socos na própria cabeça. Missão cumprida.”

segunda-feira

30

agosto 2010

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Seun Kuti & Egypt 80, ao vivo no Rio

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Num final de semana que tinha shows de Lucas Santtana, Siba e Nina Becker, o festival Back 2 Black centralizou as atenções da cidade. Uma das principais atrações, Seun Kuti, filho mais novo do Fela Kuti, cumpriu as expectativas.

Responsável por levar o legado do afrobeat adiante, Seun apresenta-se acompanhado pela última banda do pai, a Egypt 80 e faz um show hipnótico. Para alguns, o trabalho de Seun é uma continuação natural de Fela (com quem tocou desde os 9 anos), para outros é uma imitação sem graça.

Concordo os primeiros. Mesmo quem pensa o contrário, tem que admitir — e aproveitar — o fato de que a banda é irretocável e não teria como imitar a si mesma, visto que 2/3 é composta por membros originais.

O sucesso do musical “Fela!”, em cartaz em Nova York, comprova que o afrobeat anda em alta. As apresentações contam com o Antibalas como banda de apoio, o que por si só já valeria o ingresso. Poder assistir os músicos de apoio originais é melhor ainda.

O papo é que o show da evento foi o da Erykah Badu. Perdi porque passei o final de semana registrando as gravações do segundo disco do Seun Kuti, inteiramente gravado em três dias no Rio (sem participação nenhum músico local, foi aqui por questões de agenda da banda mesmo).

A julgar pela espancação de “Planet Rock” executada pela Badu no vídeo abaixo, o troço deve ter sido bom mesmo.

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