Os opostos se atraem em SP
Written by urbe, Posted in Música, Resenhas
Franz Ferdinand: “This fire” (vídeo: Lúcio Ribeiro)
Quando a produção de um evento sequer responde ao pedido de credenciamento, pode apostar que não vem algo muito organizado pela frente. Com o Motomix, nesse final de semana em São Paulo, não foi diferente. Como aliás, já não havia sido a edição carioca, em 2005.
Devido a falta de um alvará do Espaço das Américas, local dos shows, na sexta-feira o Motomix chegou a ser cancelado pela Prefeitura. Até as 14h de sábado, dia do evento, ainda não se sabia o que iria acontecer, apesar do saite informar que as 13h haveria um comunicado oficial.
Horas depois definiu-se que a programação original seria mantida, com todas as apresentações acontecendo no Espaço das Américas no próprio sábado. Mais tarde, nova mudança, dessa vez definitiva. As atrações foram divididas entre sábado e domingo, a primeira noite priorizando o rock e a segunda a eletrônica.
Como consequência, bastante gente que viajou apenas para assistir o evento, gastou dinheiro com ingressos, passagens e hotel, não pôde assistir metade do que estava programado. A solução? O que ouvi de um dos envolvidos na produção dantesca foi um “que pena”. E só.
Por sorte, restou a boa música.
Chico Buarque
foto: divulgação/Patrícia Cecatti
Antes do Motomix, Chico Buarque no Tom Brasil, porque até essa turnê chegar ao Rio, falta um bocado. A temporada de “Carioca” em São Paulo está em sua terceira semana de casa lotada e a banda, já quente (Wilson das Neves virando nos pratos e o escambau), se prepara pra gravação do DVD.
Além das músicas do novo disco, Chico revisita seu repertório (“João e Maria”, “Futuros amantes”, “Bye, bye Brasil”, “Quem te viu, quem te vê”), algumas tocadas por ele pela primeira vez ao vivo.
O público se mantém sentado e em silêncio, respeitoso, o máximo de tempo possível. Na segunda metade do show, Chico se levanta e essa é a deixa pro pessoal começar a se soltar, terminando com a casa toda em pé. Clássico.
Franz
O Franz Ferdinand, encerrando sua turnê mundial, deu aos paulistas um gostinho do que o Rio havia visto no Circo Voador, no início do ano. Se não teve o mesmo clima intimista, obviamente por se tratar de um lugar muito maior, a energia da banda estava bem parecida.
“Do you want to” foi a primeira música a levantar a platéia e “Take me out” fez o estrago de sempre. A temperatura foi subindo gradativamente durante a apresentação. Em “Outsiders”, integrantes do Radio 4, a DJ Annie e outros participaram tocando bateria com Paul Thomson e em peças avulsas do instrumento.
No encerramento, com “This fire”, o vocalista Alex Kapranos, sem camisa, incorporou Jim Morrison e balbuciava as letras como um poema, enquanto o teclado era entregue para galera destroçar e a bateria destruída no palco, como há muito tempo não via. Sensacional.
O show foi gravado para um especial da MTV que, se for feito com as mesmas imagens em preto e branco e documentais exibidas no telão, será um belo programa.
Aos nova-iorquinos do Radio 4 coube a ingrate tarefa de suceder o FF no palco. Não deu. Enquanto o vocalista forçava um patético sotaque britânico e o percussionista enganava (mal) nos atabaques, o baixo sofria distorções bizarras que só podia ser algum defeito, não estilo, porque sempre tentava-se corrigir.
Soando como pastiche do The Clash (com direito até a uma incursão sarapa pelo dub, com cara de Sublime), a banda renegou o sucesso que nunca veio e não tocou sua única música conhecida, “Party crashers”. O show fraco serviu de requiém do festival, já que a maior parte do público resolveu ir embora.
Modeselektor
Os alemães do Modeselektor conseguiram, as 5h da manhã, fazer os presentes quicarem ao som do seu gélido dancehall robótico. Os graves vinham com força e a quebradeira também, enfeitados pelo telão bacana do grupo.
Uns 40 minutos depois, o som caminhou para um tech-house pesado, o produtor que estava com uma camisa da Underground Resistance ficou só de camiseta e a coisa toda deu uma certa farofada. Tudo certo, já era hora de ir pra casa.