Foram realizados nos dias 31 de agosto e 7 de setembro, as duas primeiras etapas da Batalha do Real, tradicional evento carioca que revela jovens talentos do rap, que disputam uma vaga na grande final, que será realizada nos Arcos da Lapa.
Na primeira etapa, realizada no Teatro Imperator, os MC’s Pelé e Xan disputaram a preferência do público. Já na segunda fase, feita na Lona Cultural de Jacarepaguá, foi a vez de Xan e Estudante brigarem por uma vaga na próxima etapa, que será realizada na Arena Carioca de Madureira.
As coisas desandaram na Lapa numa velocidade alucinante. Um dos principais pontos turísticos do Rio, sobretudo pela vida noturna, a área que até final do ano passado era fortemente policiada, agora anda abandonada, voltando a servir de cenário para crimes pesados. Maria Juçá, fundadora e diretora do Circo Voador, escreveu um artigo para o Globo, batendo forte no Estado:
“O abandono e a inoperância com a segurança da Lapa são uma questão cultural. O olhar da administração pública é carregado de preconceitos. A polícia classifica os frequentadores como consumidores de drogas e desordeiros. Seus moradores não são ouvidos. Esse preconceito é consequência da imagem construída ao longo de décadas de histórias folclóricas relacionadas à malandragem, a personagens mitológicos como Madame Satã, Joãozinho da Lapa, prostitutas importadas para os cabarés, travestis com gilete guardada na bochecha.
“É comum ouvir da polícia frases como “Isso aqui é um antro”. Por quê? Respondo: porque a polícia não atua. Eles sabem onde estão os pontos de venda de drogas, de maior incidência de assaltos, os esconderijos desses bandidos e quem comanda essa violência. Grupos de moradores de rua se acomodam na Praça dos Arcos, na Ladeira de Santa Teresa e nas ruas Joaquim Silva e do Lavradio.”
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O título do documentário “L.A.P.A.”, de Cavi Borges e Emílio Domingos, pode fazer pensar que o filme é sobre a Lapa. Os personagens, levam a crer que é sobre hip hop.
Só que esses são apenas os verniz de um filme que fala sobre muito mais: sobre jovens lidando com a arte, numa época em que é cada vez mais fácil ser escutado, o poder de transformação e a dor de deixar seu talento para trás.
O mais interessante são as histórias dos personagens e suas vidas fora do bairro e da cena hip hop. Nesse sentido, o MC Chapadão é o protagonista. É através dele que se vislumbra a realidade da grande maioria dos rappers.
Formado por McCert, Rany Money, Maomé (campeão da Liga dos MCs), Batoré e Papatinho, o ConeCrewDiretoria (que nome espetacular) representa a nova geração do hip hop da Lapa.
Chorofunk 14: Sany Pitbull, Sergio Krakowsky e o convidado
Carlos Malta tocam alguns clássicos da música brasileira em
versão choro-funk. foto: URBe
Tem coisas que só podem acontecer na Lapa. Hoje em dia, com a vida cultural do bairro fervendo, isso é mais verdade do que nunca. Uma passeada pelo berço da boemia carioca numa sexta ou sábado dá a exata dimensão da efervescência cultural que acontece sob (e além) os Arcos.
Tem festa de samba (pra todos os bolsos), funk, forró, hip hop, ciganos, rock, eletrônica, boteco, barzinho, restaurante, carrocinha de cachorro quente… Não importa a direção que se tome na Avenida Mem de Sá, as chances de você encontrar algo que te agrade são enormes.
Não poderia mesmo haver cenário melhor para mistura proposta por Sérgio Krakowski e Sany Pitbull. A parceria entre os dois começou quando o conjunto de choro Tira Poeira, de Sergio, convidou o funkeiro Sany para uma parceria inusidada: uma versão choro-funk de “O morro não tem vez” (Tom Jobim / Vinicius de Moraes).
O encontro deu caldo e daí para o Baile Chorofunk? foi um pulo. Durante o mês de janeiro, Sergio e Sany receberam convidados (Carlos Malta, Pedro Luis, Moyseis Marques) para uma festa no Clube Democráticos, tradicional ponto de encontro de samba, honrando o nome e abrindo o espaço para novidades.
Na sexta passada, o convidado foi Chico César. O público da noite há quatro anos dedicadas ao choro, estranha o som que vem do palco. Talvez não questionem tanto devido ao peso dos convidados, ainda que a casa não fique tão cheia quanto de costume.
A princípio, a mistura não é tão dançante quanto se esperaria de dois estilos como o samba e o funk. A dinâmica da mistura choro-funk por si só já exige atenção, some a isso um convidado e fica mais complicado ainda.
Na festa, até pelo local escolhido, é o samba que faz o papel de padrinho do gênero perseguido e mal visto. Pra você ver como o mundo dá voltas… Há menos de um século, quem precisava de padrinho era o próprio samba.
O negócio pega mesmo quando ficam Sany, Sergio e a banda, por já estarem ensaiados e, principalmente, entrosados. Seja como for, ambos os estilos só tem a ganhar com o encontro, disso não resta dúvidas.
Para o samba, é a absorção de mais uma linguagem. Para o funk, só a interação com músicos, ao vivo, é um caminho totalmente novo, afinal o trabalho do produtor de música eletrônica é quase sempre solitário, em estúdios.
Sany tem se destacado pela inventividade. Tido como precursor do estilo batizado como pós-baile funk, através de suas experimentações Sany vai alargando o que se acostumou esperar da música dos bailes. Não apenas pelas faixas instrumentais, mas também pela quantidade de novos estilos e referências que vem aproximando do funk.
Essa abordagem vai se alastrando, através de nomes como João Brasil, Bonde do Rolê, DJ Sandrinho e DJ Chernobyl, que como Sany, vão traçando novos caminhos e possibilidades para o baile funk, garantindo com isso a continuidade de uma das suas características mais interessantes: a falta de pudor de se apropriar do que quer que seja para construir uma boa faixa.
No palco, o melhor momento de Sany, Sergio e banda é a versão de “Construção” (Chico Buarque), cantada ao vivo por uma convidada. Repleta de efeitos dubwise, os violões, o vocal, a percussão e todo resto sustentam-se apenas sobre a clássica base de funk conhecida como Volt Mix, desacelerada até chegar aos 60 BPM. Coisa fina.
Na platéia, alguns não aprovam e vão embora. Outros, como Eugene Hutz, vocalista do Gogol Bordello e DJ residente de uma festa na Lapa, se esbaldam na pista com os remixes ao vivo de Sany para “We are your friends” (Justice) e “Harder, better, faster, stronger” (Daft Punk).
A noite tinha hora marcada pra acabar e o aviso foi feito no PA com o som do Windows sendo desligado. Sob aplausos. Numa noite de tantos cruzamentos, foi sintomático.
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Nessa terça (03 de fevereiro), Sany toca na festa Dancing Cheetah, na Casa da Matriz.
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.