Chegaram os discos de vinil sorteados aqui no URBe semana passada – entre eles esse lindíssimo teste de prensagem do “Tábua de Esmeralda” verde, com o selo do “África Brasil” (esse ficou pra mim) – oferecidos pela Polysom. Agora eles vão para os seus respectivos donos.
A Rádio Batuta, do Instituto Moreira Sales, produziu um áudio documentário sobre Jorge Ben. Dividido em 10 capítulos e totalizando quatro horas, “Imbatível ao extremo: assim é Jorge Ben Jor!”, roteirizado e apresentado por Paulo da Costa e Silva, faz um panorama do período de outro do Babulina, de 1963 a 1976.
— Jorge Ben Jor é um grande inconsciente — define Paulo da Costa e Silva, roteirista e apresentador do documentário, além de coordenador da Rádio Batuta. — Na obra dele, não dá para estabelecer uma linha causal clara, dizer que aquilo vem disso. Mas há ressonâncias.
Uma dessas ressonâncias está presente na voz de Ben Jor, normalmente menos destacada que seu violão ou seus versos.
— O mais surpreendente é o canto dele — diz Costa e Silva. — Nessa fase coberta pelo documentário (o período mais relevante da carreira do artista, da estreia com “Samba esquema novo”, em 1963, a “África Brasil”, de 1976), ele traz para a música brasileira uma série de sujeiras, grunhidos, timbres guturais, ásperos. É algo que vem do canto arábico islâmico que foi levado aos Estados Unidos pelos escravos, que está nos hollers (cantos de trabalho) americanos. Usar esses grunhidos é uma maneira de falar sobre o cotidiano dos africanos nas Américas. E todas as dimensões de sua música interagem para criar algo único. Quando ele canta assim em “Que nega é essa?”, usando adjetivos bantos como dengosa, é como se os elementos da canção apontassem uns para os outros.
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Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.