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terça-feira

3

fevereiro 2009

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Choro funk

Written by , Posted in Música, Resenhas


Chorofunk 14: Sany Pitbull, Sergio Krakowsky e o convidado
Carlos Malta tocam alguns clássicos da música brasileira em
versão choro-funk.

foto: URBe

Tem coisas que só podem acontecer na Lapa. Hoje em dia, com a vida cultural do bairro fervendo, isso é mais verdade do que nunca. Uma passeada pelo berço da boemia carioca numa sexta ou sábado dá a exata dimensão da efervescência cultural que acontece sob (e além) os Arcos.

Tem festa de samba (pra todos os bolsos), funk, forró, hip hop, ciganos, rock, eletrônica, boteco, barzinho, restaurante, carrocinha de cachorro quente… Não importa a direção que se tome na Avenida Mem de Sá, as chances de você encontrar algo que te agrade são enormes.

Não poderia mesmo haver cenário melhor para mistura proposta por Sérgio Krakowski e Sany Pitbull. A parceria entre os dois começou quando o conjunto de choro Tira Poeira, de Sergio, convidou o funkeiro Sany para uma parceria inusidada: uma versão choro-funk de “O morro não tem vez” (Tom Jobim / Vinicius de Moraes).

O encontro deu caldo e daí para o Baile Chorofunk? foi um pulo. Durante o mês de janeiro, Sergio e Sany receberam convidados (Carlos Malta, Pedro Luis, Moyseis Marques) para uma festa no Clube Democráticos, tradicional ponto de encontro de samba, honrando o nome e abrindo o espaço para novidades.

Na sexta passada, o convidado foi Chico César. O público da noite há quatro anos dedicadas ao choro, estranha o som que vem do palco. Talvez não questionem tanto devido ao peso dos convidados, ainda que a casa não fique tão cheia quanto de costume.

A princípio, a mistura não é tão dançante quanto se esperaria de dois estilos como o samba e o funk. A dinâmica da mistura choro-funk por si só já exige atenção, some a isso um convidado e fica mais complicado ainda.

Na festa, até pelo local escolhido, é o samba que faz o papel de padrinho do gênero perseguido e mal visto. Pra você ver como o mundo dá voltas… Há menos de um século, quem precisava de padrinho era o próprio samba.

O negócio pega mesmo quando ficam Sany, Sergio e a banda, por já estarem ensaiados e, principalmente, entrosados. Seja como for, ambos os estilos só tem a ganhar com o encontro, disso não resta dúvidas.

Para o samba, é a absorção de mais uma linguagem. Para o funk, só a interação com músicos, ao vivo, é um caminho totalmente novo, afinal o trabalho do produtor de música eletrônica é quase sempre solitário, em estúdios.

Sany tem se destacado pela inventividade. Tido como precursor do estilo batizado como pós-baile funk, através de suas experimentações Sany vai alargando o que se acostumou esperar da música dos bailes. Não apenas pelas faixas instrumentais, mas também pela quantidade de novos estilos e referências que vem aproximando do funk.

Essa abordagem vai se alastrando, através de nomes como João Brasil, Bonde do Rolê, DJ Sandrinho e DJ Chernobyl, que como Sany, vão traçando novos caminhos e possibilidades para o baile funk, garantindo com isso a continuidade de uma das suas características mais interessantes: a falta de pudor de se apropriar do que quer que seja para construir uma boa faixa.

No palco, o melhor momento de Sany, Sergio e banda é a versão de “Construção” (Chico Buarque), cantada ao vivo por uma convidada. Repleta de efeitos dubwise, os violões, o vocal, a percussão e todo resto sustentam-se apenas sobre a clássica base de funk conhecida como Volt Mix, desacelerada até chegar aos 60 BPM. Coisa fina.

Na platéia, alguns não aprovam e vão embora. Outros, como Eugene Hutz, vocalista do Gogol Bordello e DJ residente de uma festa na Lapa, se esbaldam na pista com os remixes ao vivo de Sany para “We are your friends” (Justice) e “Harder, better, faster, stronger” (Daft Punk).

A noite tinha hora marcada pra acabar e o aviso foi feito no PA com o som do Windows sendo desligado. Sob aplausos. Numa noite de tantos cruzamentos, foi sintomático.

Nessa terça (03 de fevereiro), Sany toca na festa Dancing Cheetah, na Casa da Matriz.