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segunda-feira

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maio 2011

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Transcultura #045 (O Globo): Kids & Explosions, Combo Percussivo

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Texto da semana passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

Mashup Psicodélico
Cineasta indicado ao Oscar troca os filmes por projeto musical

por Bruno Natal

Na página do Kids & Explosions, o artista descreve a si próprio como “um garoto que faz música roubando música dos outros e tornando-as piores”. Sobre a parte visual do projeto, feita pelo colega de apartamento Justin Broadbent, diz que é formada “basicamente por gatos e pornografias, assim como o disco”, estimulando a audição das faixas “enquanto se navega por uma grande variedade de imagens ofensivas”.

A auto-ironia encaixa bem no projeto de mashups com pegada glitch e seus ruídos digitais. O disco de estreia, “Shit Computer”, lançado em novembro passado e baixado no esquema “pague quanto quiser”, popularizado pelo Radiohead em “In Rainbows”.

– O disco foi baixado mais de 10 mil vezes diretamente da minha página. Um terço das pessoas pagou, uma média de 3 dólares. A variação foi muito grande, alguns pagaram 20 dólares, outros um centavo. Fico lisonjeado e encantado quando alguém pagar a quantia que seja – explica o canadense Josh Raskin, canadense, indicado ao oscar pelo curta de animação “I Met The Walrus”, feita em cima do áudio de uma entrevista de John Lennon.

Se num mashup usual identificar as músicas sampleadas por vezes é complicado, nas composições do Kids & Explosions a tarefa é dificultada pelo método de desconstrução e reconstrução dos trechos, criando uma charada dentro da charada. Em vez de “simplesmente” contrapor dois ou mais hits, Josh picota as músicas, em muitos casos rearranjando as notas, evitando modificar o andamento ou o ritmo para facilitar os encaixes.

A primeira audição não é macia, o cérebro frita com a quantidade de referências embaralhadas. Em “Everything”, as letras de “Lose Yourself” (Eminem) encontram as de Biggie, ambas totalmente alteradas, com palavras fora de lugar, a base montada com trechos da introdução de “Sweet Child O’Mine” (Guns N Roses) com as notas da guitarra em outra ordem, mas ainda assim facilmente reconhecíveis. “Swear Words” é construída utilizando apenas palavrões ditos em diversas músicas, numa base feita em cima de samples de “Such Great Heights” do Iron & Wine. Como o nome do projeto sugere, a abordagem lembra uma criança brincando de explodir coisas: mais preocupada com o resultado plástico do que com as consequências.

– Começo cortando as melhores partes de músicas que amo. Depois ataco esses pedaços num teclado MIDI até encontrar algo que funcione. Você sabe que está funcionando quando sente vontade de chorar ao mesmo tempo que quer engravar as coisas – explica Josh.

Os sons que fazem Josh querer “engravidar coisas”, o que quer que isso signifique, são encontrados nos pianos do Radiohead, riffs The Strokes, Cindy Lauper, Feist, 2Pac, Iron & Wine, M.I.A., Sigur Rós, Destiny’s Child, MGMT, Massive Attack, entre outros. Com tanta coisa junta, dançar fica meio difícil.

– As pessoas dão um jeito de dançar qualquer coisa. Dependendo da música, as vezes parece mais que estão se segurando para não mijar do que dançando mas quando as pessoas gostam de uma música, elas tendem a se mover pelo espaço. Ainda não toquei essas músicas ao vivo, então vou saber em algumas semanas.

A sonoridade do Kids & Explosions está mais para Kid Koala do que Girl Talk, comparação insistente e da qual Josh não foge, embora não veja o que faz exatamente como mashups:

– Penso em mashups como juntar duas músicas sem afetar muito nenhuma das duas. Não é exatamente o que eu faço. Acho que meu som está mais próxmo de gente como DJ Shadow e Prefuse 73 do que do 2ManyDJs ou Girl Talk. O Girl Talk é demais, é como um DJ de festa com mil braços. Perfeito para levar uma pista de dança ao orgasmo. Mas o que fazemos é bem diferente. Ele sampleia músicsa para fazer as pessoas se acabarem nas festa. Eu sampleio porque não sei cantar.

Já prometendo um novo disco, Josh não abandonou os filmes. As necessidades de cada ideia determinam o caminho a seguir.

– Ainda quero fazer filmes, mas não animações especificamente. Gosto de usar o formato que melhor servir a ideia. Por agora tem sido roubar música dos outros e fazer algo novo a partir delas. A indicação ao Oscar provavelmente vai ajudar muito algum projeto de filme quando a hora certa chegar. Não quero me apressar a fazer algo até encontrar algo que realmente me excite. Só sou bom em alguma coisa quando fico obcecado por elas. Senão, só faço besteira.

O fato de vender o disco, transformando a atividade artística em atividade comercial com ganho financeiro, pode complicar o cenário numa eventual ação de um dos detentores dos direitos autorias. Josh não se preocupa.

– As pessoas sempre criaram roubando coisas dos outros e as combinando para criar algo novo. Eventualmente as leis de direito autoral vão aceitar esse fato como parte essencial da criação de qualquer coisa. Não acho que ninguém se importe de ter suas coisas roubadas, a não ser que você esteja faturando milhões de dólares com isso. E se isso um dia acontecer, estarei ocupado demais substituindo partes do meu corpo por diamantes para me preocupar com processos.

Enquanto os mashups evoluem no universo musical, no áudio-visual o formato ainda engatinha, tendo ido muito pouco além das colagens rítmicas vistas no trabalho de VJs como o AddictiveTV ou as apresentações áudio visuais do Coldcut, DJ Yoda ou Mike Relm, em que o som é mais importante do que as imagens. A tarefa não é fácil. Um dos expoentes da não-linearidade, o beatnik William S. Burroughs tentou aplicar a técnica dadaísta de cut-ups utilizada em seus textos (literalmente cortando e colando trechos aleatórios) ao vídeo, sem o mesmo sucesso. Vindo do cinema, Josh enxerga alguns diretores buscando novos caminhos.

– Filmes são feito de coisas que as pessoas conseguem se relacionar: lugares, relações, histórias… No momento que você retira essas coisas, as pessoas perdem o interesse. Música, pra começar, é algo totalmente abstrato, é mais fácil forçar os limites sem assustar as pessoas. Não importa o quanto você bagunçar, ainda vai ser apenas ar se movendo. Nomes como Charlie Kaufmann e Paul Thomas Anderson estão empurrando o cinema numa direção boa. Eles estão fazendo coisas que nunca haviam sido feitas, mas dentro do contexto narrativo, então as pessoas não querem esfaquear os próprios olhos quando assistem seus filmes. Essa é a direção que gostaria de seguir.

Tchequirau

Acostumado a fazer intervenções vocais no show das sua Nação Zumbi, o percussionista Gilmar Bola 8 assume o microfone de vez no seu novo projeto, Combo Percussivo.

terça-feira

3

maio 2011

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