Black Joe Lewis & The Honeybears Archive

sexta-feira

22

abril 2011

7

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Coachella 2011, acertando o passo (completo)

Written by , Posted in Música, Resenhas

Sunset
fotos: URBe (Instagram)
+ no flickr.com/URBeFotos e urbemicro.tumblr.com

O caos do ano passado foi uma visão triste. Filas por toda parte, dificuldade para assistir os shows, gente demais no lugar. Em uma de suas edições de atracões mais quentes (todo mundo estava tocando), o Coachella aparentava ter ficado grande demais. Ficou no ar a questão: valeria a pena voltar em 2011?

Mas… que outro festival do mundo tem esse sol, essa escalação e esse clima tranquilo (mesmo no ano do tumulto)? A praticidade conta e, chegada a hora (e “a hora” é meses antes da data), a esperança de melhora, confiando no histórico do evento, transportaram a mente até o deserto. Como se sabe, a mente decide, o corpo só obedece. Em abril, o destino era Indio.

Checkpoint

Com a proximidade do festival, as notícias eram boas. A organização arrochou a segurança para evitar invasões, aumentou muito a área do evento e redistribui as praças de alimentação, vendeu menos ingressos, diminui os convites, o credenciamento de imprensa e instituiu um controle mais rigoroso na entrada, com pulseiras com chips. Com a importância que tem hoje, o Coachella não poderia mais mesmo liberar entrada com ingresssos impressos em casa.

vista aérea / airview

A grande diferença em relação a 2010 foi a própria escalação. Num consciente passo atrás, o Coachella deu uma segurada no tamanho das atrações, ou na quantidade de nomes muito grandes. O que foi visto por alguns como enfraquecimento, provou-se uma decisão acertada. Era necessário esfriar as coisas um pouco.

ants / formigas

Quem já foi sabe, não adianta ler a lista de mais de 100 atrações e achar que conseguirá assistir tudo. frustração certa. No Coachella existem diversos caminhos e, uma vez escolhido o seu, é melhor esquecer todo o resto.

Como uma das coisas mais legais é a oportunidade de assistir justamente os shows menores, mais difíceis de se ver em outros lugares ou mesmo em casa, os medalhões não fizeram tanta falta. E olha que tinha bastante gente grande.

Foi muito bom ver o festival retomar o seu espírito inicial. Muita gente atrás de música boa, bem menos pessoas na badalação e a oportunidade de se poder assistir tranquilamente tudo que se escolhesse. Abaixo, um remix da cobertura por twiter, agora com bem mais do que 140 caracteres, que fiz das minhas escolhas (sem revisão, depois faço adendos, links e acerto os eventuais erros).

Dia 01
Black Joe Lewis & The Honeybears, Brant Brauer Frick, The Drums, Odd Future, Warpaint, Tame Impala, Lauryn Hill, Sleigh Bells, Black Keys, Kings of Leon, Emicida

A saga de três dias começou com o Black Joe Lewis & The Honeybears, pegando bem mais pesado do que o groove de sua música mais conhecida, “I’m Broke”. Com uma metaleira funk, o que se destacava mesmo eram os riffs de guitarra, fugindo das expectativas. Saindo de lá, ainda deu tempo de conferir o finalzinho do Brant Brauer Frick, filhotes de Kraftwerk tocando eletrônica.

The Drums
The Drums

Primeira atração mais conhecida do dia, o The Drums confirmou a fama de ruim de palco, com um show bem morno, apesar da força que o vocalista faz para emular Ian Curtis. O som brilha demais ao vivo, perdendo um pouco da introspecção. Ruim não é, só não empolga.

O que prometia empolgar era a polêmica molecada do Odd Future. Nomes da vez do hip hop (ao menos o undergrond), estava numa marra sem tamanho antes antes mesmo do show começar. Com 10 minutos de atraso (gigantesco para pontualidade do Coachella), xingando o técnico de som, entraram com um sub-grave chacoalhando a tenda aos gritos de “Wolf Gang! Wolf Gang!”.

O cenário estava promissor, não fosse o fato de não haver uma banda no palco (não que se esperasse uma) e a correria para pegar o Warpaint do começo. Quem também atrasou foi o Cee-lo Green, tendo tempo de cantar apenas quatro músicas antes do som ser cortado e sair sob reclamações do público.

Warpaint
Warpaint

O do Warpaint arrastou bastante gente para o palco aberto menor e fez valer a pena, com o primeiro bom show do Coachella. As harmonias vocais, com camadas de guitarras ao fundo, fazem delas um Fleet Foxes indie, com momentos delicados, hora lembrando The xx, hora o Explosions In The Sky.

Fez muito sentido uma banda só de mulheres no festival com um público de maioria feminina. É praticamente um desfile. Falando na mulherada, ia fazer vários vídeos com elas resenhando os show, chamaria “Hot Chicks Review Coachella”, com grande potenciarl viral. A preguiça não deixou.

Tame Impala. Showzão!
Tame Impala

O pôr-do-sol é o momento mágico do Coachella e o shows escolhidos para essa hora nos palcos ao ar livre são sempre especiais. Os do palco menor, mais aconchegante e melhor posicionado para o visual, costumam ser os melhores.

Não por acaso, foi justamente nessa hora e local que o Tame Impala fez o melhor show do festival. Falar em mistura de rock setentistas (Led Zeppellin, Floyd, Beatles, Cream, King Crimson) faz soar pouco inspirado, quase óbvio. O diferencial é o que os australianos adicionam.

Como se todas as influências passassem obrigatoriamente por um filtro pós-stoner (não esqueçamos que os garotos tem 20 e poucos anos, os anos 70 estão lá atrás), as guitarras se arrastam, enquanto o baixista olha para a bateria com um faminto para um prato de comida, mantendo o encaixe perfeito, e o vocal voando em efeitos pelo ar seco.

A chapação psicodélica debaixo do sol desértico foi uma experiência e tanto. Não poderia haver lugar melhor.

Duck Sauce
Sleigh Bells

Pausa para o almoço ao som da Lauryn Hill, bem disposta e com um bandão, mandando “Ready Or Not” e outros sucessos dos Fugees, antes de conferir o Sleigh Bells.

Ao vivo, a podridão da dupla faz muito mais sentido do que em disco. Com apenas a vocalista e um guitarrista em frente a uma parede de amplificadores Marshall, não sei qual dos dois soltando as bases eletrônicas, o Sleigh Bells abriu logo entregando as referências, ao som de “Iron Man” (Black Sabbath).

A blusa da cantora era uma réplica da 23 do Jordan no Chicago Bulls, com o nome da banda no lugar do jogador, dava mais senhas. Os anos 90 se (re)aproximam e o Sleigh Bells consegue ser ao mesmo tempo metal, hip hop e Miami bass, lembrando em vários momentos o NIN ou um Prodigy mais lento.

Prontinha pra estourar, até um hit mais calminho eles tem, uma fofurinha na onda de “Paper Planes” (M.I.A.) que não encontrei ainda pra escutar outra vez. Esse troço no Brasil ia ser bom demais.

No palco principal, o Black Keys fez um show correto, bastante prejudicado pelo som, baixo e falhando. O problema se repetiu em outros shows por ali, algo fora do normal para o Coachella.

KoL
KoL

De banda que mal sabia passar de uma música pra outra, a banda grande (com “super” telão, horrorendo, com todos os efeitos que o operador pudesse encontrar), fechando uma noite do Coachella, foi um longo caminho, no qual o Kings of Leon perdeu bastante do que a fazia interessante.

“Vamos tocar coisa antigas, estamos cansados das novas”, disse Caleb Followill, para melhorar as coisas. Assim, o show foi bem mais legal do que poderia ter sido e ainda acendeu a esperança de que o caminho poser atual possa estar com os dias contados. Quem sabe, com os bolsos cheios, talvez eles mesmos queiram retomar o caminho anterior.

Emicida
Emicida

Depois dos problemas com o visto, Emicida teve dor de cabeça na imigração, perdeu a conexão para Los Angeles em Atlanta, se atrasou e perdeu o horário do próprio show. Na hora marcada, a tarde, um DJ botava som na tenda Oasis.

Remarcado para as 23h30, a apresentação foi para uma dezena de testemunhas. Fora do horário – na realidade tocando num horário em que a tenda já deveria estar fechada – visivelmente incomodado com a situação, Emicida tocou para quase ninguém. Uma pena.

Fechando a noite, o Chemical Brothers atrasou mais de meia-hora (muitos atrasos, como se vê) e não deu pra esperar. Tinha mais dois dias da maratona pela frente e era preciso descansar. No caminho para o carro deu pra ouvir “Star Guitar”, alto pra cacete, uma belezura que só.

penas / feathers

Dia 02
The Twelves, Bomba Estereo, Here We Go Magic, Foals, Radio Dept, Two Door Cinema Club, Erykah Badu, Broken Social Scene, The Kills, One Day As A Lion, Big Audio Dynamite, Animal Collective, Arcade Fire

Dormiu, acordou, começou o Coachella de novo. Sol a pino no dia mais quente do festival. Zooey Deschanel deu uma volta pelo gramado e até Paul McCartney passeou pelas tendas – vi o tumulto na área de imprensa e quando disseram que era ele, pensei que era pilha.

Aproveitando que o trânsito estava colaborando, foi dia de chegar cedo, a tempo de pegar o The Twelves na Sahara, a maior das tendas, 13h30.

The Twelves
12s

No dia anterior, João e Luciano estavam preocupados. Tiveram o laptop roubado na Colômbia e por isso, além de ter que usar com um computador reserva, inferior ao original, teriam que tocar a partir de uma versão mais antiga dos arquivos do seu show.

Fora isso, havia outra nóia: de que tocando tão cedo, não haveria ninguém para assisti-los. Nenhum dos receios se confirmou. O set rolou perfeito no computador substituto e a tenda estava muito cheia, até o fundo. Melhor do que isso, o público embarcou bonito no repertório de remixes de M.I.A., Daft Punk e Black Kids.

Não é fácil sacudir o povo debaixo de um calor insano e de dia. Os niteroienses do The Twelves não apenas conseguiram, como saíram ovacionados, aos gritos de “olê olê, olê olê” (gringolês para “viva sulamericanos”) e gente levantando a bandeira do Brasil. Tarefa cumprida, com louvor.

Sombra

No palco principal, o Bomba Estereo tocava o zaralho para os que estavam aguentando o sol na moleira. No palco menor, o Here We Go Magic fez um show correto e xoxo. A banda embarca num lance sub-Yo La Tengo, sub-su- Wilco, longe do folk com efeitos da ótima “Tunnelvision”, última música do show, em versão mais carregada nas guitarras e esporros.

Logo depois, o líder do Gogol Bordello protagonizou uma das cenas mais feias da história do Coachella. Claramente sabotado, foi obrigado a subir ao palco com uma blusa do Fluminense, para horror do público, sem entender a bizarra combinação de cores, mesmo num show do Gogol.

Do they really?
We Put Out

Foals
Foals

A aposta no Here We Go Magic custou metade do show do Foals, que com apenas metade da apresentação botou muitas outras atrações no bolso. Com suas melodias, bateria quebrada e guitarras fraseadas, o Foals poderia se tornar uma banda de estádio se tivesse mais exposição. O público cantava tudo, fazia coro e batia palma.

Vendo esse tipo de resposta do público ao Foals é a certeza de que todos ali baixam músicas e só conhecem a banda por isso. É uma constatação besta e lógica, porém não se pode perder de vista que ainda há bastante gente que não baixa (por medo, por não saber, por culpa).

O Foals ainda não foi mastigado e digerido pelo grande público talvez por conta disso, por não ter chegado a eles ainda. Se chegasse a mais gente, o sucesso poderia ser proporcional. A questão é: isso é desejado/desejável? No ano passado, com a escalação repleta de bandas do indiestream, foi o pandemônio que foi.

Na tenda menor, Gobi, o Radio Dept. fez um show sonolento, baixo e sem sal. O som estava uma desgraça, como se os integrantes tivessem esquecido cobertores sobre os amplificadores.

Two Door Cinema Club: saudades do @queremos
2DCC

De volta a tenda Mojave, o Two Door Cinema Club teve público e recepção de bandas que tem bem mais estrada com eles. Sem economia, “Something Good Can Work” apareceu como terceira música, levantando de vez a plateia. Mesmo sem a mesma pressão do show no Circo Voador, até por conta do tamanho do espaço, deu saudades do verão Queremos.

Eryka Badu
Erykah Badu

Pausa para o almoço, ao som de Erykah Badu. A diva escolheu um repertório um tanto irregular e, ao estourar o tempo, teve o seu som cortado no meio de uma música. Bandão, tudo no lugar, só o horário atrapalhou, e também o palco. Como era dia ainda, em uma das tendas poderia ter dado mais liga.

BSS, "7/4 Shoreline"
Broken Social Scene

A hora mágica, dessa vez no palco grande, foi reservada para o lindo show do Broken Social Scene. Mesmo pra quem não é fã da banda, daqueles de saber todas as músicas, o show foi uma beleza. Difícil era decidir entre assitir ao show ou simplesmente escutá-lo, observando o por do sol e curtindo a tranquilidade do gramado, relaxando e pensando na vida. A segunda opção é um dos grande diferencias do Coachella, um festival que se basta, independente das atrações.

The Kills
The Kills

Já de noite, quase pulei o The Kills, que fazia um show bem bom, até dar a hora de conferir o One Day As A Lion e ser deixado no meio.

One Day As A Lion
One Day As A Lion

Projeto de Zack De La Rocha, vocalista do Rage Against the Machine, o One Day As A Lion é feroz. Acompanhado de um baterista (Jon Theodore, ex-Mars Volta) e dois sintetizadores fazendo os riffs linhas de baixo e porradas de graves, com Zack tocando um deles algumas vezes.

A estrutura das músicas do combo de synth metal lembram as do RATM muito mais nas versões gravadas do que tocadas ao vivo, quando ficaram bem mais barulhentas e pesadas. A frente da tenda virou uma roda de pogo de 45 minutos, com a pancadaria comendo solta e bastante fair play, com os nocauteados sendo levantados pelos participantes.

Em meio as cotoveladas e ombradas, um casal destoava. Ele de blusa branca e calça jeans, ela de vestidão azul meio hippie, curtiam o show da primeira fila, enquanto eram lançados de uma lado para o outro. Deu gosto ver.

Animal Collective
Animal Collective

Embicando para a reta final, o Big Audio Dynamite, com Don Letts pulando e cantando animadaço, divertiu na mesma proporção que o Animal Collective constrangeu. Com iluminação especial da estrutura do palco e telão feito pelo Black Dice, a sequência de ruídos que nunca formavam uma música era de uma pretensão e chatice tão grande que faziam até desejar que o Arcade Fire começasse logo.

Nada contra os canadenses, questão de gosto mesmo. Fora “The Suburbs” e “Ready To Start” – dois musicaços – aquele clima Iron Maiden de “ôôô” que não acabam não é pra mim. A afetação de alguns integrantes, um excesso de uma “garra” forçada, cansam. Ainda assim, o show é inegavelmente bom e vale a pena se assistido nem que apenas pelo espetáculo.

Nesse quesito, o Arcade Fire não decepcionou. Começou com um filme, projeto abaixo de um letreiro de cinema com o nome da banda. Durante o show a briga entre as imagens do telão do palco (do festival, sempre classe) e do telão no palco (do Arcade Fire) foi bem boa.

Perto do final, uma caixa enorme foi içada por um guindaste acima do palco e ficou claro que a prometida surpresa estava próxima. Quando começou a cair bolas e mais bolas brancas lá de cima, pensei que o Arcade Fire fosse conseguir se superar no nível chatice, ao multiplicar por dezenas a pentelhice daquelas bolas que só atrapalham quem quer ver o show.

Que nada. Quando as bolas começaram a piscar e mudar de cor, coordenamente, revelando um sistema remoto de controle dos LEDs embutidos em cada uma delas, a coisa literalmente mudou de figura. Fato que atrapalhou um bocado a visão do palco, porém para quem estava atrás apenas do espetáculo, foi um lindo encerramento.

Assim, o show do Arcade Fire, contra todos os prognósticos URBísticos, entrou no top 5 do Coachella 2011. Isso quer dizer muito de um festival que, mesmo com uma escalação supostamente mais fraca que a do ano anterior, conseguiu superá-lo. O Coachella é mais do que os shows.

Zzzzz...
Cansou? Levanta que ainda tem mais!

Dia 03
Menomena, Delorean, Nas & Damian Marley, Wiz Khalifa, Best Coast, Foster The People, Duck Sauce, The National, The Strokes, Kanye West, Leftfield, The Presets

O terceiro e derradeiro dia foi também o mais devagar em termos de atração, o que caiu bem para as costas e pernas chumbadas. O clima era de sábado, com o maior público dessa edição, culpa do Kanye West.

Hipsterdom is safe, next generation is

Nova geração: os hipsters estão salvos

Delorean
Delorean

O dia começou logo com duas decepções, a mesmice do Menomena e o aguardado Delorean. Com baixo, dois sintetizadores e batera com pad no lugar dos tons, o Delorean focou no “som dançante” e conforme o show foi caminhando, passou a atirar cada vez para mais lados. Falta alguma coisa, a banda ainda é bem crua e falha na unidade.

Nas & Damian Marley
Nas & Damian Marley

Iniciando os trabalhos do hip hop, Wiz Khalifa tentou demais agradar a platéia bem cheia da área principal, mas o pessoal não entrou na dele não. Show de hip hop sem banda é um negócio complicado pra funcionar num festival. MCs e DJs num palcão daqueles fica muito magrinho, some na imensidão.

Pra comprovar a teoria, Nas & Damian Marley vieram logo na sequência, com um bandão e provocaram uma catarse com o projeto que une rap e reggae. Além das músicas originais da dupla, Nas levantou o gramado primeiro, com a sua “If I ruled the world”, antes de Damian lançar “Welcome To Jamrock” e juntos mandarem “Could You Be Loved” (Bob Marley). Clichê, sem dúvidas, só que funcionou que só vendo.

A despedida do por do sol foi com o Best Coast, num show chato. A vocalista tem uma falsa modéstia irritante para falar de si própria, atestada pela quantidade exagerada de vezes que fez isso, ainda mais no curto tempo do show. O som vira uma espécie de Hole mais lento, o que pode ter certeza, não é um elogio.

O Foster The People fez mais um show chato (escrevendo agora não há duvidas, domingo foi o pior dia), um troço meio brega, querendo ser arena ou sei lá o que. A essa altura, o festival já migrava para Sahara para conferir o Duck Sauce, cuja “Barbara Streisand” foi ouvida cantarolada o dia todo.

Se existe um atalho rumo ao sucesso eletrônico no Coachella ele é o 4×4 com toques de farofa. O Duck Sauce não fugiu a receita, ainda que tenha surpreendentemente regulado a farofinha.

Na hora do jantar, The National de trilha. Hora mais tarde, no aeroporto, o guitarrista Bryce Dessner falou que o show do Rio dificilmente será superado e que havia falado do Queremos para diversas bandas, entre elas o Sufjan Stevens, que gostou muito da ideia. Veja só.

The Strokes
The Strokes

O show do Strokes foi um caso a parte. O cenário simples, seis setas de tecido iluminadas por cores alternadas era simbólico. Com três setas apontando para um lado e três para o outro, era como se representassem forças opostas, puxassem a banda em diferentes direções, tal e qual os recentes relatos da convivência do grupo.

Se isso é o Strokes brigado, está ótimo. Mesmo com as músicas novas funcionando meio mal e a banda meio desconectada e burocrática, o show foi divertido. Julian Casablancas perdeu a linha nos papos com o público (pensamentos em voz alta define melhor) entre as músicas.

Numa viagem “artista artomentado”, zoou o público, Kanye West, Duran Duran, os integrantes e técnicos da própria banda… Não sobrou nada de pé. Lá pelas tantas mandou “Aê, Kanye depois, hein!”, ao que a galera responde aos gritos de “Ééé!” até ser interrompidos com um “vocês estão de sacanagem? Como ousam?”, de Julian, rindo de si mesmo.

Sentindo-se obrigado a fazer o papel de estrela do rock e atração principal do festival, fazia perguntas idiotas ao público, como “vocês acreditam no amor?”. O deboche parecia mais voltado a própria banda, como se estivessem ali cumprindo uma obrigação. O que, sendo esse o caso, fizeram com qualidade.

Se o Julian chegar no Planeta Terra com metade das piadas do show no Coachella, esse show do Strokes já esta valendo.

Finito
Acabou

Na saideira, deu pra pegar a parte final do Leftfield, de volta e meio fora de prumo, utilizando Theremin e batidas quase techhouse. Quando as músicas antigas tiveram vez, como “Phat Planet”, as coisas iam bem. Fechando a tampa, duas músicas do Presets foram o suficiente.

Um último dia bem morno em termos musicais, porém feliz ao se constatar que o Coachella atual ainda pode ser o Coachella de alguns anos atrás. Agora que o caldo deu uma esfriada, é esperar para ver o que acontece no ano que vem. Abril de 2012 já está pré-reservado para a ida ao deserto.

terça-feira

19

abril 2011

4

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Coachella 2011, acertando o passo (parte 1/3)

Written by , Posted in Música, Resenhas

Sunset
fotos: URBe (Instagram)
+ no flickr.com/URBeFotos e urbemicro.tumblr.com

O caos do ano passado foi uma visão triste. Filas por toda parte, dificuldade para assistir os shows, gente demais no lugar. Em uma de suas edições de atracões mais quentes (todo mundo estava tocando), o Coachella aparentava ter ficado grande demais. Ficou no ar a questão: valeria a pena voltar em 2011?

Mas… que outro festival do mundo tem esse sol, essa escalação e esse clima tranquilo (mesmo no ano do tumulto)? A praticidade conta e, chegada a hora (e “a hora” é meses antes da data), a esperança de melhora, confiando no histórico do evento, transportaram a mente até o deserto. Como se sabe, a mente decide, o corpo só obedece. Em abril, o destino era Indio.

Checkpoint

Com a proximidade do festival, as notícias eram boas. A organização arrochou a segurança para evitar invasões, aumentou muito a área do evento e redistribui as praças de alimentação, vendeu menos ingressos, diminui os convites, o credenciamento de imprensa e instituiu um controle mais rigoroso na entrada, com pulseiras com chips. Com a importância que tem hoje, o Coachella não poderia mais mesmo liberar entrada com ingresssos impressos em casa.

vista aérea / airview

A grande diferença em relação a 2010 foi a própria escalação. Num consciente passo atrás, o Coachella deu uma segurada no tamanho das atrações, ou na quantidade de nomes muito grandes. O que foi visto por alguns como enfraquecimento, provou-se uma decisão acertada. Era necessário esfriar as coisas um pouco.

ants / formigas

Quem já foi sabe, não adianta ler a lista de mais de 100 atrações e achar que conseguirá assistir tudo. frustração certa. No Coachella existem diversos caminhos e, uma vez escolhido o seu, é melhor esquecer todo o resto.

Como uma das coisas mais legais é a oportunidade de assistir justamente os shows menores, mais difíceis de se ver em outros lugares ou mesmo em casa, os medalhões não fizeram tanta falta. E olha que tinha bastante gente grande.

Foi muito bom ver o festival retomar o seu espírito inicial. Muita gente atrás de música boa, bem menos pessoas na badalação e a oportunidade de se poder assistir tranquilamente tudo que se escolhesse. Abaixo, um remix da cobertura por twiter, agora com bem mais do que 140 caracteres, que fiz das minhas escolhas (sem revisão, depois faço adendos, links e acerto os eventuais erros).

Dia 01
Black Joe Lewis & The Honeybears, Brant Brauer Frick, The Drums, Odd Future, Warpaint, Tame Impala, Lauryn Hill, Sleigh Bells, Black Keys, Kings of Leon, Emicida

A saga de três dias começou com o Black Joe Lewis & The Honeybears, pegando bem mais pesado do que o groove de sua música mais conhecida, “I’m Broke”. Com uma metaleira funk, o que se destacava mesmo eram os riffs de guitarra, fugindo das expectativas. Saindo de lá, ainda deu tempo de conferir o finalzinho do Brant Brauer Frick, filhotes de Kraftwerk tocando eletrônica.

The Drums
The Drums

Primeira atração mais conhecida do dia, o The Drums confirmou a fama de ruim de palco, com um show bem morno, apesar da força que o vocalista faz para emular Ian Curtis. O som brilha demais ao vivo, perdendo um pouco da introspecção. Ruim não é, só não empolga.

O que prometia empolgar era a polêmica molecada do Odd Future. Nomes da vez do hip hop (ao menos o undergrond), estava numa marra sem tamanho antes antes mesmo do show começar. Com 10 minutos de atraso (gigantesco para pontualidade do Coachella), xingando o técnico de som, entraram com um sub-grave chacoalhando a tenda aos gritos de “Wolf Gang! Wolf Gang!”.

O cenário estava promissor, não fosse o fato de não haver uma banda no palco (não que se esperasse uma) e a correria para pegar o Warpaint do começo. Quem também atrasou foi o Cee-lo Green, tendo tempo de cantar apenas quatro músicas antes do som ser cortado e sair sob reclamações do público.

Warpaint
Warpaint

O do Warpaint arrastou bastante gente para o palco aberto menor e fez valer a pena, com o primeiro bom show do Coachella. As harmonias vocais, com camadas de guitarras ao fundo, fazem delas um Fleet Foxes indie, com momentos delicados, hora lembrando The xx, hora o Explosions In The Sky.

Fez muito sentido uma banda só de mulheres no festival com um público de maioria feminina. É praticamente um desfile. Falando na mulherada, ia fazer vários vídeos com elas resenhando os show, chamaria “Hot Chicks Review Coachella”, com grande potenciarl viral. A preguiça não deixou.

Tame Impala. Showzão!
Tame Impala

O pôr-do-sol é o momento mágico do Coachella e o shows escolhidos para essa hora nos palcos ao ar livre são sempre especiais. Os do palco menor, mais aconchegante e melhor posicionado para o visual, costumam ser os melhores.

Não por acaso, foi justamente nessa hora e local que o Tame Impala fez o melhor show do festival. Falar em mistura de rock setentistas (Led Zeppellin, Floyd, Beatles, Cream, King Crimson) faz soar pouco inspirado, quase óbvio. O diferencial é o que os australianos adicionam.

Como se todas as influências passassem obrigatoriamente por um filtro pós-stoner (não esqueçamos que os garotos tem 20 e poucos anos, os anos 70 estão lá atrás), as guitarras se arrastas, enquanto o baixista olha para a bateria com um faminto para um prato de comida, mantendo o encaixe perfeito, e o vocal voando em efeitos pelo ar seco.

A chapação psicodélica debaixo do sol desértico foi uma experiência e tanto. Não poderia haver lugar melhor.

Duck Sauce
Sleigh Bells

Pausa para o almoço ao som da Lauryn Hill, bem disposta e com um bandão, mandando “Ready Or Not” e outros sucessos dos Fugees, antes de conferir o Sleigh Bells.

Ao vivo, a podridão da dupla faz muito mais sentido do que em disco. Com apenas a vocalista e um guitarrista em frente a uma parede de amplificadores Marshall, não sei qual dos dois soltando as bases eletrônicas, o Sleigh Bells abriu logo entregando as referências, ao som de “Iron Man” (Black Sabbath).

A blusa da cantora era uma réplica da 23 do Jordan no Chicago Bulls, com o nome da banda no lugar do jogador, dava mais senhas. Os anos 90 se (re)aproximam e o Sleigh Bells consegue ser ao mesmo tempo metal, hip hop e Miami bass, lembrando em vários momentos o NIN ou um Prodigy mais lento.

Prontinha pra estourar, até um hit mais calminho eles tem, uma fofurinha na onda de “Paper Planes” (M.I.A.) que não encontrei ainda pra escutar outra vez. Esse troço no Brasil ia ser bom demais.

No palco principal, o Black Keys fez um show correto, bastante prejudicado pelo som, baixo e falhando. O problema se repetiu em outros shows por ali, algo fora do normal para o Coachella.

KoL
KoL

De banda que mal sabia passar de uma música pra outra, a banda grande (com “super” telão, horrorendo, com todos os efeitos que o operador pudesse encontrar), fechando uma noite do Coachella, foi um longo caminho, no qual o Kings of Leon perdeu bastante do que a fazia interessante.

“Vamos tocar coisa antigas, estamos cansados das novas”, disse Caleb Followill, para melhorar as coisas. Assim, o show foi bem mais legal do que poderia ter sido e ainda acendeu a esperança de que o caminho poser atual possa estar com os dias contados. Quem sabe, com os bolsos cheios, talvez eles mesmos queiram retomar o caminho anterior.

Emicida
Emicida

Depois dos problemas com o visto, Emicida teve dor de cabeça na imigração, perdeu a conexão para Los Angeles em Atlanta, se atrasou e perdeu o horário do próprio show. Na hora marcada, a tarde, um DJ botava som na tenda Oasis.

Remarcado para as 23h30, a apresentação foi para uma dezena de testemunhas. Fora do horário – na realidade tocando num horário em que a tenda já deveria estar fechada – visivelmente incomodado com a situação, Emicida tocou para quase ninguém. Uma pena.

Fechando a noite, o Chemical Brothers atrasou mais de meia-hora (muitos atrasos, como se vê) e não deu pra esperar. Tinha mais dois dias da maratona pela frente e era preciso descansar. No caminho para o carro deu pra ouvir “Star Guitar”, alto pra cacete, uma belezura que só.

Daqui a pouco, a parte 2.