Lily Allen, troca de arquivos, olho grande e onde você entra nisso tudo
Written by urbe, Posted in Urbanidades
“Desconstrução”: meu primeiro milhão?
A notícia se espalhou rapidamente: a cantora Lily Allen criou um blogue e convidou os artistas contrários ao compartilhamento de arquivos para se manifestarem no novo espaço.
A atitude causa espanto, pelo simples motivo de que Lily Allen deve sua carreira justamente a internet. Um dos primeiro casos de sucesso do MySpace, foi o burburinho na rede que fortaleceu seu nome.
A decisão de criar o blogue veio em resposta ao movimento Featured Artists Coalition, que inclui nomes como Radiohead, Pink Floyd, Blur e Robbie Williams, criado para tentar brecar a ameaça de censura na rede que ameaça o Reino Unido.
A FAC no entanto defende as trocas não comerciais de arquivos. Os que fazem uso comercial dos arquivos trocados, cobrando pelos downloas ou por streamings, por exemplo, devem ser mesmo alvo das leis já existentes.
A exemplo da França, o projeto de lei britânico utiliza a música como desculpa, mas vai bem além, pois propõe vasculhar todas as trocas de arquivos feitas na rede, as legais e as ilegais, a de quem troca músicas e a de quem nunca fez e nem pretende fazer isso na vida. Todos serão vigiados.
É uma questão de privacidade do interesse de todos. Aqui no Brasil, a ameaça é a medonha Lei Azeredo, nos mesmos moldes da França e Inglaterra.
Ao indicar que é favorável a proibição das trocas de arquivo Lily Allen pisa num terreno perigoso. E sua atitude pode (e provavelmente será) usada como bandeira de políticos com interesses duvidosos.
A cantora argumenta que é muito fácil para artista estabelecidos como os do FAC defenderam o livre compatilhamento de arquivos após terem construído suas carreiras (e fortunas) no modelo antigo, vendendo discos. Seria injusto com os novos artistas defender o “liberou geral”, privando-o dessa fonte de renda.
Como argumento, Lily diz que apesar de alguns artistas lucrarem com shows, as pessoas envolvidas no processo de gravação não seriam remuneradas.
Estou pra ver técnicos de som, designers, divulgadores e etc. que recebam participação nas vendas de discos, em todo caso, seria um problema de fácil solução, bastando que os artistas pagassem pelas gravações independente de serem comercializadas ou não (como aliás já devem fazer).
O que parece mesmo é que Lily Allen (e outros artistas) está de olho mesmo é numa fatia de um bolo que não existe mais. Num pensamento torto, a menina deseja os lucros provenientes de um outro formato de negócio, que caminha para extinção.
Quando dirigi o documentário “Desconstrução”, sobre as gravações do mais recente disco do Chico Buarque, “Carioca”, pensei sobre a mesma coisa, embora de brincadeira.
O DVD com o filme vinha encartado com a edição especial do CD e considerando que as vendas do disco foram boas, se fossem outros tempos talvez tivesse vendido aos milhões. Teria ficado milionário com a participação nas vendas.
A pegadinha é o seguinte: se fossem os tempos pré-digitais, dificilmente teria tido a chance de sequer ter feito o filme, principalmente pelos custos de produção e falta de acesso aos equipamentos necessários. Muito menos ter lucrado alguma coisa direta ou indiretamente com ele.
Não dá pra entrar nessa viagem. São dois tempos distintos, quase sem cruzamentos. O negócio é parecido, mas mudou bastante.
Portanto, em vez de reclamar que seus discos não vendem, Lily Allen deveria simplesmente aproveitar uma carreira que, se fossem outros tempos, talvez ela sequer tivesse.
Li apenas um trecho da entrevista em que Fred 04 diz “Se o mangue beat tivesse surgido num ambiente parecido com o que rola hoje, com gravadoras em crise, talvez o mangue beat tivesse se limitado a uma ou duas comunidades de Orkut, uma coisa de gueto. (No início dos anos 90) A Sony foi a Recife, contratou o Chico Science e bancou o primeiro clipe da banda, que rodou direto na MTV. Finalmente a indústria olhava para nós. E teve um efeito multiplicador forte. As pessoas esquecem isso. Hoje há uma situação sem indústria, sem cadeia produtiva. Está se instalando uma religião da tecnologia, um fundamentalismo tecnológico. Fala-se muito em economia sustentável, mas na cultura não existe consumo sustentável”. Ainda não consegui formar uma opinião sobre esse assunto, por se tratar de um tema tão complexo, mas a única certeza é que lutar contra um fato consumado me parece perda de tempo. Muito melhor seria buscar novas formas de fazer a engrenagem girar beneficiando o maior número de pessoas e profissionais envolvidos, do que desperdiçar energia querendo controlar o incontrolavel (como disse Marcelo Taz ontem, “é a mesma coisa que ir contra a lei da gravidade”..rs).
A hipocrisia e mudança de bandeira fazem parte da brincadeira… Os Beastie Boys, depois de terem samplado 1/2 mundo, tambem itveram sua crise de negar os direito de uso de suas músicas, para um mashup. Nao me lembro quem era o artista em questao….
Mas é isso ai, para artista comecando ou ja consagrados ,vale muito a pena a distribuicao gratuita, para os que estao no meio, que ja estao com uma certa divulgaçao, mais ainda não lotam estádios, nao vale muito a pena nao..
A hipocrisia e mudança de bandeira fazem parte da brincadeira…
Os Beastie Boys, depois de terem samplado 1/2 mundo, tambem itveram sua crise de negar os direito de uso de suas músicas, para um mashup. Nao me lembro quem era o artista em questao….
Mas é isso ai, para artista comecando ou ja consagrados ,vale muito a pena a distribuicao gratuita, para os que estao no meio, que ja estao com uma certa divulgaçao, mais ainda não lotam estádios, nao vale muito a pena nao..
É uma discussão que não estamos comprometidos a resolver.Porque claramente os dois lados não cedem!Eu obviamente sou a favor que se tenha acesso a informação,desde que também venha a onerar com quem está envolvido no processo.Todos sabem que existem compositores que não são músicos,engenheiros de som e técnicos que não acompanham os shows…E eles vão minguar dos meus caprichos?É menosprezar tanto o “artista” quanto o processo?!Agora quero relacionar isto com o que é real!O custo de um cd ou dvd com a realidade,criou esse comércio “informal”…Para mim a mais bela e correta saída de possibilidade a música!Onde se vê que um Calypso bate em diálogo onde o povo está e consome!Pena que sempre uma artitsta desconhecida ( no fundo,quem é Lily Allen???)vai levantar uma bandeira que desconhece a fundo…E cada vez mais se faz uma voz minguada de um mercado obsoleto!E num mercado consumidor muito mimado!!!O que peço sempre quando se fala nesse assunto é saber ceder aos seus interesses…E sempre é a parte mais difícil!!!
Ah, e pra me localizar na discussão…Continuo comprando meus cdzinhos,comprando camisetas,indo a shows…
Acho que o destino dos musicos eh virar aquela coisa meio trovador, contador de historia movido a paixao.. e sem nenhum puto no bolso.,..provavelmente muitos profissionais de musica, principalmente tecnicos de estudio, etc vao ter que se virar e arranjar um novo modo de ganhar a vida…
eh o lado negro do compartilhamento gratuito…
olha, na boa, é só ver o nome do blog lá em cima no browser: “i don’t want to change the world” (depois foi transformado num moralizante “it’s not altight”). quer dizer, a garotinha esperta, dona do seu próprio nariz, virou uma tiazinha reclamona que dá tiros no próprio pé. claro que isso não vai dar em nada (a não ser alguma publicidade pros envolvidos). claro que a discussão é mais complexa e tá só no começo. bolas fora (e pode colocar no mesmo balaio, fred 04 e jorge du peixe).
no mais, o show da moça aqui em sp foi bem bom e ela tá um piteuzinho.
Mensagem para a Lily Allen:
http://www.youtube.com/watch?v=mTXQFEdXTiQ
Ótimo artigo.
Sobre a capitalização com o grátis:
Grátis não significa lucro zero. Grátis significa que a trajetória do produto à receita é indireta.
Cada vez mais experiências editoriais demostram que a lógica ‘cópia pirateada = cópia não vendida’ de lógico não tem mesmo nada. Em realidade, editorialmente, quanto mais um obra circula, mais vende
[editorialmente] Uma cópia ‘pirateada’ = uma cópia vendida. Há quem tenha pego um livro e, depois de lê-lo, o deu de presente pelo menos seis ou sete vezes. Uma cópia ‘piratata’ = mais cópias vendidas.
Em: O Copyleft explicado às crianças e Grátis – O Futuro dos Preços.
o vinil vai salvar a porra toda ainda
Eu sempre sonhei que essa coisa de compartilhamento poderia mudar o relacionamento entre consumidor e musico. Principalmente tirando o consumidor dessa posição de cliente chato e pidão “quero meu dinheiro de volta”, “o cliente tem sempre a razão”, “não pago para ter que pensar”. Que reforça artistas sem graça e subservientes.
Mas não. Agora o consumidor pode consumir mais! infinitamente! sem sair de casa! EBA! vamos consumir! uhu! Há 10 anos atrás, a gente gostava de pensar que mp3 era uma revolução… adolescente é meio bobo né?
Gente, só para não parecer que concordo com o 04, pq nao concordo mesmo, explico o meu mau humor.
Os artistas que chamam mais a atenção são os que estao na MTV, os que gravaram discos “mesmo” e nao lançam em mp3 (radiohead gravou muito por majors pra poder lancar mp3)
Eu acabei de lançar dois discos em vinil e eu sei q ninguem no brasil vai comprar e que a gravadora (q é gringa) vai ter prejuízos. Mas eu quis entrar nessa por dois motivos: primeiro pq vinil é legal e eu gosto muito, ainda mais q um é 7 polegadas eu acho eles muito legais. Depois pq isso é q me referencia, mais no exterior que aqui, mas me referencia.
“olha, o cara lançou disco… e na gringa, uau”.
GRANDES MERDA. Gravei mesmo e como 90% dos artistas que gravam, o dono do selo é meu conhecido há tempos e isto foi o motivo predominantes na hora de lançar. Logico que ele gosta das musicas, mas ele me procurou atras de musicas pq me conhece pessoalmente.
Agora tenho mais chances de arrumar show na europa. Mesmo que ninguém ouça o disco aqui no brasil ou mesmo por lá, pq são 400 copias só. Sou um produto, há quem me venda e me compre, então deve ser bom.
Isso é uma grande merda. talvez seja disso que devemos falar, ao invés de lembrar como é legal ganhar tudo de graça
uma garota normal ????
quando criaram a gravação , criaram também a cópia então …
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
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