sexta-feira

17

julho 2009

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5 perguntas – Rodrigo Lariú (midsummer madness)

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A midsummer madness está comemorando 20 anos de serviços prestados a música independente com uma série de shows (hoje tem Fanfarra Paradiso e Luisa Mandou Um Beijo).

Aproveitando a data, Rodrigo Lariú falou por e-mail sobre sua experiência comandando gravadora, nesses tempo em que os modelos de negócio da música vão cada vez mais se aproximando do que sempre foi feito pelos independentes.

URBe – 20 anos depois, o que mudou na mm?

Rodrigo Lariú – Eu diria que mudou muita coisa, são dezenas de ajustes e adaptações às mudanças do mercado. Começamos sendo apenas um fanzine que falava das bandas independentes nacionais no final dos anos 80 e começo dos 90; depois começamos a lançar fitas cassete. Das fitas, passamos para o CD-R e daí pros CDs. Hoje, ainda temos a continuação deste catálogo de K7s só que num suporte diferente, o MP3. E continuamos a lançar CDs.

Algumas coisas continuam iguais: lançamos 99% de bandas brasileiras, procuramos sempre bandas novas do circuito independente. Sempre lançamos primeiro um single ou EP (antigamente era a fita cassete ou o CD-R) para depois lançar um CD (físico ou online). Hoje nós trabalhamos muito em parceria com os artistas, administrando expectativas e pensando em alternativas para fazer o melhor possível dentro da realidade de cada banda.

Nós nunca lançamos qualquer coisa, quantidade não é o objetivo mas sim a qualidade. Hoje acho que temos um belo catálogo, uma seleção relevante do que foi bom, do que é bom e estamos sempre procurando o que pode ser a próxima coisa muito boa. Para mim isso é o que define uma gravadora: a curadoria.

URBe – Com a derrocada das grandes gravadoras, qual o papel de selos menores como o mm?

Rodrigo Lariú – O papel da midsummer madness sempre foi o mesmo… Pelo menos no nosso caso, não acho que o papel tenha mudado. Antigamente costumava se dizer que os selos menores eram provedores de novos artistas para as grandes gravadoras… Existiam selos assim, mas esta nunca foi a função do midsummer madness. Nós sempre buscamos artistas para nosso cast, nunca fomos trampolim para gravadora grande.

Outra função importante é a de continuar divulgando a produção local. Eu continuo acreditando na necessidade de gravadoras, sejam elas majors ou pequenas. Repito, uma gravadora é um selo, uma grife, que ajuda a selecionar artistas de acordo com sua curadoria. Como as majors hoje em dia basicamente se preocupam com artistas para as massas, talvez um dos papéis reservados aos pequenos selos seja o de continuar lançando novidades dentro de seus estilos.

URBe – Como você escolheu as atrações dos shows de comemoração?

Rodrigo Lariú – A programação deste shows obedeceu a alguns critérios: eu queria ter bandas de outras cidades para poder mostrar o alcance nacional do midsummer madness e aproveitar a oportunidade para trazer estas bandas para tocar aqui em boas condições técnicas e financeiras. Estamos trazendo bandas da Bahia, Ceará, Pernambuco e São Paulo. Ceará e Pernambuco são dois dos três estados que mais tem artistas no nosso cast, o 3º é Santa Catarina, mas não foi possível trazer nenhum artista de lá.

Outro critério foi o tempo de casa de cada artista: eu acho muito bacana juntar gerações como Pelvs e Cigarettes (início dos anos 90) com Wallace Costa e Sweet Fanny Adams (respectivamente de 2009 e 2007).

Alguns nomes eu queria ter incluido na programação mas não foi possível, como Smack e Fellini, que são bandas dos anos 80 que lançaram discos pelo selo.

Um dia da programação que representa bem esta mistura de gerações e alcance nacional é o dia 24, com Wallace Costa (de SP, recém fundada), Mr. Spaceman (de Fortaleza, que participa do mm desde os anos 90, com EPs e CD lançados também nos anos 2000) e The Cigarettes, uma das primeiras contratações. O mais legal é que apesar de separadas no tempo, o estilo musical delas se assemelha muito: todas são influenciadas por Smiths, Velvet Underground e uma coisa meio Bob Dylan.

URBe – O que leva uma banda a procurar a mm e o que interessa a mm numa banda?

Rodrigo Lariú – As bandas procuram o serviço, a produção, a promoção. A grande maioria dos emails e cartas que recebo (uma média de três emails por dia, cinco a seis CDs por mês) são absolutamente equivocados… são bandas de metal, reggae, cantoras de MPB e outras coisas que não tem nada a ver com o estilo do mm. Eu fico puto com isso: é como ir pedir emprego sem saber aonde você quer trabalhar. Além disso, mesmo entre as bandas de rock, 9 entre 10 bandas são horrorosas!

Então, quando chega uma banda muito boa, fica fácil eu me interessar. Acho que os interesses são parecidos, existe uma parceria, uma troca. Para a banda, é bom estar num selo que tem um cast coerente, que tem catálogo relevante e anos de trabalho honesto. Para a gravadora, é essencial ter bandas relevantes, bandas boas… O midsummer madness não merece os parabéns pelos 20 anos, quem merecem são as bandas, sem elas, o mm não seria nada.

URBe – Tendo atravessado tantas fases, como você vê o futuro da comercialização da música? Isso ainda pode dar dinheiro?

Rodrigo Lariú – Isso já dá dinheiro. Pode dar mais, com certeza. Entretanto, não acho que vai chegar o dia que o midsummer madnes vai pagar minhas contas e a das bandas. E isso não é uma confissão de fracasso, pelo contrário! É justamente por saber por onde andamos, onde pisamos, por saber o tamanho do mercado que estamos lidando, que dá para ter a noção de que este não é, e — pelo menos pro mm — nunca vai ser um mercado gigante.

Por isso, o que a gente faz aqui no mm é administrar expectativas. Se o cara tem uma banda mas o que paga as contas dele é o seu trabalho como advogado, eu tenho que trabalhar a banda pensando nas limitações de tempo deste cara. Jamais cobraria dele que largasse o trabalho para participar de festivais ou que investisse grana e tempo neste esquema muito divulgado hoje em dia de “músico pedreiro”… Só é músico pedreiro quem está organizado para isso e pretende investir nessa vida.

Se o cara é músico-artista, ou músico de estúdio, isso não impede o mmrecords de lançá-lo (ao contrário de várias outras gravadoras, inclusive os selos pequenos). O que a gente faz é conversar com este artista e explicar para ele qual é o máximo que ele vai chegar sendo músico-artista. E buscamos tirar o melhor possível dentro da realidade dele.

Por exemplo, o Dois em Um não é uma banda que possa sair por ai tocando em qualquer buraco. O tipo de som deles não permite, a vida dos integrantes também não permite. O que tentamos fazer no caso deles é explorar o potencial de sincronização das músicas deles em comerciais, trilhas sonoras de tv e publicidade e tentar faturar daí.

Acho que existem dois possíveis futuros para faturamento no midsummer madness e para as bandas:

1) criar um site com assinatura anual que dará direitos exclusivos aos assinantes (e não serão apenas músicas online, mas prêmios bimestrais exclusivos, como camisas, edições limitadas, entradas em shows, etc.);

2) investir na administração de fonogramas, como uma editora que seja ativa no serviço de tentar lucrar com uso das músicas.

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