quarta-feira

19

outubro 2011

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Wado, "Samba 808" (2011)

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Demorou mas chegou. Ontem a noite Wado soltou “Samba 808”, seu sexto disco. No Twitter, antes de fazer comentários sobre cada música, o compositor anunciou o lançamento como um parto. A ilustração do rescém-nascido da capa seria então uma espécie de metalinguagem, dupla (tripla, considerando “Feto”, música do primeiro trabalho): nasceu não apenas o disco, como, cinco bolachas depois, nasce também o Wado. Ou um Wado, por precaução, já que o catarina radicado em Alagoas segue se reinventando.

Lançado exclusivamente em formato digital, não há previsão de lançamento físico. O CD é mesmo dispensável, um vinil iria bem. Seja como for, é uma atitude interessante. Sem gravadora, selo, nada. É o disco e a internet, a “cultura MP3”, como explicou Wado no texto de apresentação.

Em “Samba 808”, os sambas, funks e as chapações ensolaradas da tríade “Manifesto da Arte Periférica”, “Cinema Auditivo” e “A Farsa do Samba Nublado”, sempre enfeitados por efeitos eletrônicos e camadas de sintetizadores, encontram as batidas terceiro mundistas do “Terceiro Mundo Festivo” e a diáspora negra cantada em “Atlântico Negro”, quando Wado inverteu a ordem dos fatores e a programação ganhou destaque.

Equilibrando-se entre essas duas variações – eletrônica ao fundo ou a frente – “Samba 808” encontra, desde o título, a mistura exata. É um disco catalisador de ideias musicais espalhadas pelos outros trabalhos. Aqui, como de costume, as referências são absorvidas, filtradas e devolvidas de maneira sutil, onde as timbragens são mais importantes do que emular batidas.

Num disco carregando “samba” no nome, “Não Para Não”, re-interpretação chapada do funk “Elas Estão Descontroladas”, demonstra até onde se estica o conceito de “versão” de Wado – fará Tom Zé feliz. O sopro de inovação chega longe. Um dos destaques do disco, “Com a Ponta dos Dedos” coloca Marcelo Camelo sobre uma base eletrônica (primeira vez?) – e traz de brinde uma Mallu não-creditada.

Ao que parece, Wado chegou e cansou de esperar. E se gente suficiente não escuta suas composições pelo caminho usual, ele está disposto a encontrar algum atalho. Das dez músicas, sete tem alguma participação especial. A lista pode abrir portas físicas e janelas virtuais para Wado em diferentes públicos: além de Camelo; Zeca Baleiro, Chico César, Curumin, Fabio Góes, Fernando Anittelli, André Abujamra e Alvinho Lancellotti também participam.

Tomara. Disco após disco, Wado continua não recebendo a atenção que merece. Já é hora disso mudar, de vez.

Ouça todas as músicas:

O próprio Wado escreveu o texto de apresentação do “Samba 808” e comentou cada faixa no twitter:

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