Uma volta (atrasada) pelo Back2Black
Written by urbe, Posted in Música, Resenhas
Duas semanas atrás teve o Back2Black e a resenha ficou pendurada. Dos três dias, estive em dois pra conferir Missy Elliott e Santigold, aproveitando pra ver as belas costuras africanas da banda da malinesa Fatoumata Diawara, Sany Pitbull & Gerson King Combo e Emicida.
No palco menor, numa noite Sany Pitbull recebeu Gerson King Combo, numa mistura que não flui tão bem, atrapalhada por um MC que destoava um tanto da proposta. Na outra, Emicida tocou acompanhado por uma banda, o que eleva em muitos níveis qualquer apresentação de rap.
Ainda assim, como em quase todo show de rap, com DJ ou com banda, as letras são incompreensíveis por quem já não as conhece. Junto com a péssima dicção de boa parte dos rappers (aliada a toadas exageradamente rápidas para fazer caber tantas frases – “escrever é a arte de cortar palavras”, disse o poeta Drummond), a dificuldade de se entender o que está sendo dito dificulta demais a experiência. Mesmo com boa dicção e ritmo, Emicida não escapa desse problema ao vivo.
Mesmo que apenas seu carisma mova qualquer pista, Missy Elliott animou com seus hits mas não convenceu. Acompanhada de uma enorme equipe de dançarinos, um DJ e trocando de roupa a cada duas músicas, o que Missy menos fez foi cantar. Foi uma base pré-gravada e dublagem de vocal atrás do outro, o que esfriou bastante a experiência. Impossível deixar de notar que Missy Elliott não desperta as mesmas polêmicas que Tati Quebra Barraco, ainda que a grande diferença entre elas (além das batidas do Timbaland) seja o patrocínio da Adidas da gringa. O discurso pussy power é o mesmo, inclusive na quantidade de palavrões e letras “pornográficas”.
Quem fez valer o festival foi Santigold. Escolada, Santi não é nenhuma garota e já sabe exatamente o que precisa fazer para acertar seu público. Com mais músicas conhecidas do que a memória imediatamente acusa, Santi não tem o mesmo carisma e desenvoltura de uma Missy Elliott, porém o timbre inconfundível da voz, androginia reciclada da Grace Jones, suas dançarinas robóticas.
O mais importante é mesmo a produção musical. Sempre cercada de bons produtores, Santigold tem um bom repertório de sacolejos a disposição . Com uma banda com um pé no reggae e outro no synthpop, uma mão no pós-punk e outra no new wave, Santi ofereceu algo irrecusável: groove. Sempre infalível.
Não estava no show, mas em relação `a Missy Elliott:
A diferença entre ela e Tati Quebra Barraco não é só a Adidas. A Missy Elliott é umas das pouquíssimas produtoras mulheres, tendo ela co-produzido Alliyah com o Timbaland. Ambos influenciaram a cultura musical mainstream enormemente e ganharam milhões, o que não é o caso da Tati Quebra Barraco. As diferenças sendo a qualidade da produção, influência, capacidade de fazer uma música para o grande público (o que não é possível no Brasil, já que o funk não vai além do underground) e o dinheiro. Não é porque são negras e “rappers” que são farinha do mesmo saco.
Bem colocado em relação a questão da produção, féchion. Mto mal colocado chamar o funk de underground. O que se chama de underground é que é o mainstream, são milhões de pessoas frequentando bailes TODO final de semana.
Obrigada pela resposta, Bruno. O que eu quís dizer com “underground” é a falta de representatividade total do funk na mídia: ao contrário de Missy Elliott, etc…não está nas majors, nem no topo das paradas, nem na mídia grande em geral, nem nas rádios. E que eu saiba não estão milionários. Estão fora do “sistema” de negócios da música – da minha perspectiva. Pode ser que eu esteja totalmente errada.
Por exemplo, considero o tecnobrega mainstream. Tem novela feita sobre o tema, tem a Gaby na Som Livre/Globo/TV. Tem Nelson Motta na produção. O funk não chegou a esse patamar de apoio da mídia “oficial”.
como não? teve isso tudo mto antes, desde os tempos de xou da xuxa, claudinho e buchecha, até acerola e laranjinha.