segunda-feira

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julho 2012

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Transcultura #86: Lucas Paiva (People I Know) // Thrillah

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Meu texto da semana passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

O toque da novidade
Depois de produzir SILVA e Mahmundi, Lucas Paiva lança disco solo

por Bruno Natal

De tempos em tempos aparece um produtor que ajuda a formatar e lapidar algumas bandas, organizando a cena. Não se pode falar isso de Lucas Paiva ainda, porém, no espaço de um ano, o produtor participou de dos lançamentos de dois dos artistas mais elogiados da nova cena, SILVA (já comentado na Transcultura) e Mahmundi. Não satisfeito, agora Lucas lança seus próprios sons, sob o nome People I Know (Pessoas Que Eu Conheço).

– Sempre quis lançar alguma coisa mas por muito tempo não me senti pronto. Fiz várias coisas com voz na verdade e por muito tempo pensei em lançar um album de musicas pop, mas a verdade é que o que eu mais ouço é música eletrônica de quem escuta musica eletrônica mesmo, coisas que pude viver em Londres. Lancei o disco agora porque me senti pronto, para poder dar outra perspectiva da música eletrônica, uma espécie de contraponto ao som mais pop do SILVA e da Mahmundi – conta Lucas.

Antes de trabalhar com SILVA e Mahmundi, Lucio tinha produzido apenas uma banda, Dead Farmers, da Austrálias. Estudou engenharia de som, trabalhou como técnico de PA em Londres e como técnico de gravação no estúdio Visom e produziu muita coisa em casa – mais de 130 faixas, das quais 40 foram finalizadas e apenas seis entraram nesse primeiro EP. Mesmo com as faixas chamadas “Brasil 01” até “Brasil 06”, as influências brasileiras, ao menos as tradicionais, são inaudíveis.

– Não ouço muita coisa brasileira, mas gosto. Acho estranho essa nossa percepção de “música brasileira”. A verdadeira música brasileira é das tribos indígenas, o resto todo foi importado de algum lugar de alguma forma. O samba tem raiz na musica africana, o forró usa a sanfona, que é um instrumento alemão, a bossa nova puxa do jazz e por aí vai. O nome Brasil é para constatar que a música brasileira se define pelo que nós optamos por chamar de música brasileira. Se nós desenvolvermos um som assim no Brasil, esse som passa a ser uma parte da identidade brasileira também – explica.

As influências de Lucas mais claras do EP são todas de eletrônica experimental, minimal techno, juke, glitch, chiptune, ambient, de selos como Night Slugs, Workshop e até jogos de videogame, como “Final Fantasy 7”, “Sonic” e “Panzer Dragoon Saga”.

– 80% do que tenho como influência são sons que comecei a ouvir de uns três anos para cá, sons que descobri na Inglaterra. Sou fascinado pelas batidas quebradas do dubtep e pelo pratos e tons aceleradissimos do juke. O que gosto destes gêneros é que muitas vezes as batidas são feitas com tanto carinho que as musicas não precisam de muito mais. No videogame, gira em torno da escala pentatônica. Quanto aos sintetizadores, gosto mais de sons coloridos e acidos. O Brasil usou muitos timbres de sintetizadores digitais, que é uma coisa que vem sendo usado cada vez mais nos ultimos anos pela galera do Night Slugs e pelo Legowelt. De uma forma geral pode se dizer que eu gosto do som de eletronico europeu – lista Lucas.

Como quase todo novo artista que surge atualmente, os anos 80 marcam presença forte, e normalmente através de referência que na época não eram bem vistas. Nada como o tempo para reavalizar as coisas.

– Os anos 80 tem uma associação muito forte com sintetizadores, então muita música que o tem como instrumento principal acaba remetendo a essa época. Tenho uma ligação muito forte com a música dos anos 80 porque foi o que ouvi na minha infância. Os Beatles faziam as musicas que eles ouviam quando eram moleques, os rappers usam samples de discos que eles tiravam da coleção dos pais. Não estou necessariamente sempre tentando reproduzir esse som, uso o sintetizador porque é o instrumento mais prático, versatil e cheio de timbres que conheço. É questão de qual instrumento vai me dar mais caminhos musicais

Entre seus contemporâneos, Lucas indica o projeto solo do guitarrista do Dorgas, Gabriel Guerra, chamado Finalzinho Chegando (“é animal, ela está num nível que compete com os europeus”, confira em finalzinhochegando.bandcamp.com), e Reark, de Belo Horizonte. Com a agenda tomada, apresentações ao vivo do People I Know não é uma prioridade, até por Lucas não saber se existe um público para isso.

– Não conheço muita gente que ouve os artistas que me influenciam, então talvez meu trabalho não faça sentido para muita gente. Lancei porque quis dar esse meu trabalho mais eletrônica uma chance. Uso uma bateria eletrônica, um sintetizador e meu computador para fazer loops e tocar alguns sons que já estão prontos.

Lucas está produzindo o disco de Felipe Velozzo, baixista da Mahmundi, e prepara o lançamento do selo La Costa Brava, focado em eletrônica, com contribuições de produtores novos e algumas pessoas mais conhecidas que lançarão com pseudônimos.

– O foco vai ser na musica intrumental. Quero usar o Costa Brava para mostrar pro as pessoas que o mundo de Night Slugs, Burial, James Blake, Nicolas Jaar é todo o mesmo. Muita coisa do underground eletrônico vai se popularizando com o passar do tempo.

Tchequirau

Michael Jackson ressuscitou e foi dar uma volta em Kingston. Não é bem isso, mas é a tentativa da Easy Star, que já fez versões dub de discos do Pink Floyd, Beatles e Radiohead, com o autoexplicativo “Thrillah”.

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