quinta-feira

3

setembro 2015

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Transcultura, 2010-2015

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transcultura_2010-2015

E lá vou eu escrever mais uma despedida.

2015 tem sido um ano de muitos finais e recomeços. E esse 1º de setembro se destacará por ter tido muito das duas coisas.

Meu dia começou com notícias do passaralho avassalador no O Globo, em que centenas de pessoas foram demitidas. Nesse corte, vários colunistas foram dispensados e assim acaba a página Transcultura, que publicava há cinco anos, toda sexta-feira, em companhia do Fabiano Moreira e Alice Sant’Anna.

Mais tarde, a noite terminou no Prêmio Multishow, assistindo o resultado de uma consultoria que presto há quatro anos levando ao centro da premiação artistas como Cidadão Instigado, Ava Rocha e Carol Konká.

Altos e baixos, como é a vida.

O fim da Trans era esperado. Nesse cenário de crise na mídia e numa sangria dessas proporções, não seria a página de cultura alternativa que sobreviveria.

Sinto muito mais pela perda do espaço do que pela perda do salário (que, como vc pode imaginar, não era lá essas coisas). E quando digo espaço, não me refiro ao meu pessoal, o “pomposo” título de colunista do Globo. Falo mesmo do espaço no jornal dedicado a manifestações culturais fora do usual, novos sons, tudo isso que a gente gosta e que molda minha vida pessoal e profissional.

Dava trabalho a beça, mais do que se imagina, ocupava bastante tempo, mas acreditava que aquele espaço era muito importante para circular e oxigenar a cena. Era uma missão. Ou mais que isso até, era um legado.

A Transcultura foi um filhote do saudoso Rio Fanzine, editado pelos mestres Carlos Albuquerque e Tom Leão, que abriu portas e educou tanta gente. Aprendi muito sobre jornalismo e a vida naquelas páginas, ganhei um amigo, irmão mais velho e guru pra sempre na figura do Calbuque. Tenho orgulho de ter sido o colaborador mais constante do RF, sentia que era um tantinho meu.

Assumir esse papel, fazer daquele tantinho algo todo meu, era mais que uma honra, era uma responsabilidade. Lembro com carinho da empolgação da Isabel De Luca, recém-nomeada editora do 2Cad, no almoço em que ela me convidou para escrever a página e juntos escolhemos o resto do time.

Por conta da página, me aproximei de vários colegas, mesmo não estando na redação. Sempre fui respeitado e – muito importante dizer – tive toda liberdade para escrever o que quisesse, sobre o que quisesse.

Sei bem da importância que é para um artista ter uma página inteira num grande jornal pra anexar ao seu material e ir cavar shows, correr atrás de patrocínios, até acalmar a própria família sobre os rumos da carreira. Era muita alegria poder escancarar as páginas do Globo para uma turma que muito provavelmente não teria vez por ali, ao menos não tão cedo. Esse era o prêmio, esse era o “pagamento”.

Pensando nisso, busquei ser o mais diverso possível, dando espaço para todo tipo de trabalhos, música experimental, pop, folk, quadrinhos, publicações digitais, festivais, festas… Falamos de Spotify e streaming de música, Tulipa Ruiz e Porta do Fundos (então ainda Anões em Chamas) ainda em 2010.

Tenho guardada cada matéria publicada. Recortava, dobrava e arquivava, esperando a coluna fazer aniversário para encadernar um volume anual. Só que semana seguinte saia outra matéria, que ia ficar sozinha e então deixava pro ano seguinte.

Nessa, passaram-se cinco anos. Montei o Queremos com meus amigos, fui pai, encerrei OEsquema com outros amigos, publiquei mais de 170 matérias (de acordo com o tag /transcultura aqui no blog, onde republiquei cada uma delas para protegê-las das muitas mudanças de URL do jornal).

Agora chegou o fim. Vou finalmente poder encadernar essa história em um só volume, reunindo os meus 5 anos e 4 meses de Transcultura, pra poder folhear, relembrar e me reconhecer ao longo desses últimos anos.

Sigo escrevendo no URBe , provavelmente agora dando um necessitado gás no blog.

Minha solidariedade aos demitidos. E MUITO OBRIGADO Bel, Fatima Sa, Calbuque, Tom, Fabiano, Alice! E também Gregorio Duvivier, Carol LuckAntonio Pedro Ferraz, que fizeram parte do time original.

Foi foda!

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