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junho 2014

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Transcultura #140: Marcão Baixada // Pássaros

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Versão integral e sem edição do texto de março da “Transcultura” (coluna que publico todas as sextas no jornal O Globo) e esqueci de republicar aqui:

Poesia dá ritmo a Marcão da Baixada
Com parcerias variadas, o rapper de Mesquita é uma das revelações do gênero
por Bruno Natal

Crescido no bairro BNH, em Mesquita, e hoje morando em São João de Meriti, Marcão Baixada escreve poemas desde os 9 e participou de bandas de igreja, mas foi quando escutou Gabriel O Pensador e Charlie Brown Jr. que encontrou sua vocação. A relação com o rap se aprofundou a partir dos 14, quando ouviu sons do Mos Def, Wu-Tang Clan, Nas, Jay Z, Pharrel Kanye West, C4bal, Inumanos, Parteum, Black Alien, BNegão, Marcelo D2, De Leve e Costa a Costa em campeonatos de basquete de rua.

Agora com 20 anos, Marcão toca hoje na Shake Your Lapa, festa organizada pelo Apavoramento no Majestade Show, na Lapa, com o americano DJ Assault, além de Shawlin, Inumanos, Ladies Gang’s, DJ Erik Scratch e Tikano Calderon, Rebeca Dues e DJs Baré e MouChoque.

– Vi no rap uma forma de transformar minhas poesias em música. Conheci o Movimento Enraizados e fiz uma oficina de produção de batidas com o Léo da XIII, que além de MC, era também é produtor. Isso abriu meu leque de informações, passei a frequentar eventos e conhecer outros artistas da Baixada Fluminense e formei, com o Léo e Dudu de Morro Agudo, o coletivo #ComboIO – conta Marcão.

Há exatamente um ano o coletivo #ComboIO esteve na França, em Nancy, para tocar e ministrar oficinas de rap e DJing. Por aqui, entretanto, Marcão começou a aparecer mais só agora, com o lançamento do clipe de “Baixada em Cena”. Filmado pela produtora Pitanga Audiovisual, Marcão aparece com os amigos de BNH em cenas no bairro, no estúdio do Movimentos Enraizados e também no Calçadão de Nova Iguaçu. A faixa, produzida por Ualax, faz as vezes de manifesto.

– “Baixada Em Cena” pra mim é um movimento, é um sentimento de orgulho da minha origem. A Baixada Fluminense é uma região que fica fora do plano de ação do Estado em relação à políticas de segurança pública, educação, saúde, infra-estrutura e equipamentos de lazer. Mesmo com tudo isso, o povo da Baixada se mantém forte, sorridente. Muitos não tem orgulho de falar que moram aqui, mas a ideia é mostrar que mesmo com todas as carências e dificuldades a gente pode tentar fazer algo pra mudar a realidade em que vivemos. Temos que começar por nós mesmos – diz.

Segundo Marcão, a cena do rap na Baixada está em ascensão.

– Estamos num processo de formação de público dos artistas locais. As rodas culturais estão se expandindo por aqui, os eventos pagos também. Aos poucos essa situação está se estabelecendo, com tanto os artistas quanto os produtores conseguindo lucrar ao menos o bastante pra cobrir despesas como aluguel de som, iluminação, transporte e alimentação dos artistas.

Fora da Baixada, Marcão trabalha com produtores como Sants, Jay Moska (ambos de São Paulo), Átomo, Morf (do Rio) e Lukaz Duz Beatz (Curitiba). Todos se conhecera, obviamente, pela rede. Além de ter produzido “Hora do Troco” para Cartel MCs, com participação do D2, Marcão gravou “C.D.R.” (sigla para “Carro, Dinheiro e Rua”) com Sants para versão com vocais para o seu elogiado disco instrumental “Low Moods” (que já foi assunto aqui na Transcultura).

– Começamos à trocar ideia pelo Facebook. O Sants é muito querido pela galera da cena bass daqui do Rio, nos conhecemos pessoalmente na festa Palaflou, na Comuna, e depois nos encontramos na Wobble. Ele é um dos caras mais promissores dessa cena, e passei a me interessar bem mais por essa cena justamente por ter conhecido o trabalho dele. A música une as pessoas de uma forma incrível, a gente fica perto mesmo estando longe.

Entre os artistas que fazem parte da mesma cena, Marcão cita diversos nomes ainda pouco conhecidos. A lista serve como fonte de pesquisa para quem gosta de hip hop: Dudu de Morro Agudo, Kall Fator Baixada, U-Sal, Slow da BF, Nyl MC, BZ, Antiéticos, LekiN, Vegaz, Rom3u, Carta Na Manga, Crente Crew, e Cartel MCs. É possível ouvir a influência de outros desbravadores do rap nacional.

– Quinto Andar foi uma das minhas maiores referências, “Piratão” é um clássico. Eles trouxeram essa visão mais descontraída, irônica e debochada que o carioca tem. Quando lancei “Baixada Em Cena” o De Leve foi um dos primeiros caras a divulgar. É muito legal quando o artista que você tem como referência fala do seu trabalho. A Filial sempre se mesclou com outros gêneros, curto essa mistura, soa bem aos ouvidos. “Volume Dez”, do Inumanos, é outro clássico, divisor de águas do rap carioca. Escuto ConeCrew desde o demo “Ataque Lírico” e tenho como referência não só na área musical, mas também na área do empreendedorismo.

Mais afeito ao boom bap tradicional, Marcão tem buscado experimentar com remixes, freestyles, dubstep e, claro, o onipresente trap. Depois de alguns EPs e do disco com o #ComboIO, vários projetos estão na mira antes do disco solo de estreia.

– Estou preparando uma mixtape que deverá se chamar “Geração 90, o Bug do Milênio”, retratando a sonoridade do rap dos anos 90 e as transformações ocorridas durante os anos 2000. No momento estou trabalhando junto com o Aori e o Apavoramento Sound System em um projeto chamado “In Trap Tha Troop”. Nosso primeiro som foi um freestyle para as vinhetas de divulgação da festa #EPIC. Tem novos sons à caminho.

Tchequirau

arms3

Como se pareceriam as aves se tivessem braços de humanos? Existe um tumblr dedicado apenas a essa ideia bizarra que você não teve – mas alguém teve.

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