Transcultura #015 (O Globo): Grime, Mayer Hawthorne
Written by urbe, Posted in Imprensa
Texto da semana passada da coluna coletiva que publico todas as sextas no jornal O Globo:
Um gênero musical que sobrevive online
O grime conta com festas transmitidas ao vivo
por Bruno Natal
Passando pela porta do clube The Alibi, em Dalston, Londres, ninguém diria que ali acontece a Just Jam, uma das noites mais respeitada da cena de grime local. Descer as escadas e entrar também não ajuda muito a mudar essa percepção. Numa terça a noite cerca de 40 pessoas ocupavam o pequeno lugar. Na pista de dança, a proporção entre o número de MCs e câmeras em relação ao público era desigual. A impressão é que todos que estavam ali para se apresentar ou para registrar as apresentações. O rapaz com um laptop rodando o Final Cut não deixava dúvida: estavam mesmo. A festa era transmitida ao vivo, um fato normal para um gênero que (sobre)vive on-line.
Quando o Grime explodiu em 2003 e todas as grandes gravadoras estavam atrás do seu próprio Dizzee Rascal, grande expoente do gênero, o estilo parecia destinado ao sucesso comercial. Entretanto, apesar de referências ao estilo estarem presentes em trabalhos de artistas que repercutiram, como o de M.I.A., até mesmo Dizzee se afastou da sonoridade áspera, indo em busca de algo mais suave aos ouvidos, atingindo o primeiro lugar das paradas de sucesso em dois verões seguidos, com “Dance Wiv Me” e “Bonkers”.
Sem espaço nas rádios e ofuscado pelo estouro do filho bastardo dubstep, o grime retraiu-se. De volta as pequenas festas, apoiou-se na enorme base de fãs para continuar existindo. O caminho encontrado, é claro, foi a internet. Divulgar música online é algo trivial hoje em dia, a diferença é que no caso do grime, além dos artistas possuírem sua próprias páginas e perfis, surgiram canais independentes cobrindo o estilo de maneira ampla, atuando em rede e utilizando YouTube, Twitter e Facebook como ferramentas, não como plataforma. Mais do que forma de divulgação, coisa feita por tantos outros, o grime utilizou esses canais para sobreviver. Passou a existir online.
Enquanto páginas como grimepedia.co.uk, grimeforum.com facilitam o entendimento da cena, biografando artistas e mapeando gírias, saites e blogues especializados dão conta das resenhas e da agenda, as rádios online, notoriamente a Rinse.fm, tocam o som e saites dedicados a produção e divulgação de vídeos, como sbtv.co.uk (entre os 100 canais mais assistidos do YouTube) e dontwatchthat.tv, fazem os registros áudio-visual. Tão importante quanto uma boa atuação no mundo real, é ela estar bem coberto na rede.
Com o tempo, novas páginas surgiram (hyperfrank.blogspot.com, kidsoftheunderground.wordpress.com, grimedaily.com, butterz.co.uk, rwdmag.com) e a equação entrou em modo exponencial e o resultado foi uma segunda geração de artistas de sucesso. Tinchy Strider e Chipmunk atingiram o topo das paradas comerciais, ainda que para isso tenham adicionado bling e, como Dizzee, amaciado o som. Não importa. Donos dos seus próprios canais, somente os fãs podem decidir o que é grime.
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Tchequirau
Dono de um dos discos mais legais do ano pasado, Mayer Hawthorne andou tuitando que deve vir ao Brasil em janeiro de 2011. Infelizmente muitas bandas estrangeiras vem ao país e pulam o Rio, por falta de público. Se ninguém sai de casa ou quer pagar ingresso, não dá mesmo pra reclamar.
Esse clipe não é louváve????l: bom som, skate, minas bonitas, good vibrations…