Transcultura #014 (O Globo): Field Day, bateria
Written by urbe, Posted in Imprensa, Música
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Texto da semana passada da coluna coletiva que publico todas as sextas no jornal O Globo:
Um dia no campo
Um dia de sol em Londres para conferir o festival Field Day
por Bruno Natal
Num país onde festivais de música são verdadeiras instituições (Glastonbury já é praticamente um rito de passagem adolescente), após um início tímido o Field Day Festival começa a se destacar entre tantos outros eventos. Em sua quarta edição, realizada semana passada no Victoria Park, em Londres, conseguiu fugir das obviedades das repetitivas escalações dos concorrentes, quase sempre com os mesmos chamarizes, sem com isso comprometer seu apelo pop. Uma tarefa que soa mais fácil do que de fato é.
Ainda que não seja um festival de bandas independentes, a escolha do Phoenix como principal atração da noite definiu o tamanho do resto das bandas presentes no evento. Num país saturado de shows, o principal acerto do Field Day é ser fiel a própria proposta de ser médio, não apenas em termos de público (cerca de 20 mil), mas também das atrações que oferece.
Com curadoria de conhecidos grupos promotores de festas e shows londrinos (Adventures in the Beetroot Field, Bloggers Delight, Bugged Out, Eat Your Own Ears), as cinco tendas trouxeram bandas que talvez fossem atrações intermediárias em algum outro festival tendo a chance de se apresentar para um público atento, não apenas contando as horas para ver quem quer que fosse.
O dia de sol começou devagar e bandas como Is Tropical e Egyptian Hip Hop (que não tem nada de egípicio ou de hip hop, apenas uma molecada de Manchester mandando meio mal ao vivo) tocaram pra pouca gente. Ambas com integrantes mascarados, o que deve ser alguma nova tendência sem sentido.
Com o recém lançado “Crooks & Lovers” entre os discos mais elogiados do ano, o Mount Kimbie foi o primeiro a encher uma tenda, ainda que minúscula. Utilizando o dubstep como plataforma, a dupla expande a sonoridade, adicionando guitarras, percussão digital e analógica ao vivo, construindo bases atmosféricas e seguindo uma estrada ensolarada, paralela a aberta por Burial. Em seguida o Memory Tapes fez um show negando o que tem de mais interessante, substituindo as experimentações eletrônicas por uma formação guitarra e bateria sem graça.
Apresentado-se como “gênio musical”, o pianista Chilly Gonzales, colaborador de Feist, Peaches e Jamie Lidell, subiu ao palco de roupão e acompanhado por dois bateristas. Irreverente, o canadense autor da mixtape “Pianist Envy”, com versões ao piano de Daft Punk a 50 Cent e Beyoncé, mostrou habilidade no instrumento e ainda mais na interação performática com o público.
No momento brasileiro da noite, Gruff Rhys (do Super Furry Animals) se apresentou com o brasileiro Tony Da Gatorra. O californiano Dâm Funk, acompanhado de um baterista e de um tecladista, emulou o G-Funk de George Clinton – influência que não faz questão nenhuma de esconder, chegando a mostrar uma bandeira do Parliament Funkadelic no palco – e a marra do Prince, trocando o visual entre cada música.
Formada por oito irmãos, filhos do trompetista da Sun Ra Arkestra, Phil Cohran, os americanos do Hypnotic Brass Ensemble fizeram o melhor show do festival. Composta apenas por metais e uma bateria, a big band conquista assim que entra em cena, só pelo visual inusitado. Quando começam a tocar isso vira um detalhe e o que chama atenção é a tuba fazendo as vezes de baixo, a coreografia dos integrantes e o fato de tocarem perfeitamente encaixados sem partitura ou maestro. Caminhando pelo gramado, um dos integrantes afirmou que o HBE toca no Brasil, no Rio e em São Paulo, em outubro.
Líder da banda Deerhunter, Bradford Cox mostrou seu projeto parelelo, Atlas Sound, de músicas densas, tão delicada quanto seu físico, alterado por consequência de uma doença conhecida como síndrome de Marfan, que faz com que braços e pernas fiquem desproporcionalmente longos. Sozinho no palco, multiplicou seu violão através de loops, mostrando que folk não precisa ser apenas imitar o Bob Dylan.
No mesmo horário, o antes experimental Caribou mostrou as músicas de “Swim”, mais macias sem perder a psicodelia. O Phoenix entrou logo depois, herdando os problemas de som (baixo e abafado) que haviam prejudicado o Caribou. Com as guitarras baixinhas, a banda fez uma apresentação apagada, sem a pegada de sempre. É torcer pra durante o(s) show(s) do Brasil estarem perfeitos.
Nas saída o Moderat, projeto paralelo misturando Modeselektor e Apparat, sacudia a tenda. Ninguém se importando se esse não era o maior festival de todos os tempos, apenas ouvindo boa música. Estavam exatamente como sugeria a faixa acima do palco principal: como a formiga nos dias de verão.
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Tchequirau
Chocalho e ovinho é coisa do passado, viciei nessa bateria eletrônica online, encontrada por acaso, pra tocar usando o teclado. Perfeita pra você participar (e estragar?) a rodinha de violão dos seus amigos mais talentosos.
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