peru Archive

segunda-feira

6

maio 2013

0

COMMENTS

quarta-feira

25

março 2009

8

COMMENTS

Cumbia digital

Written by , Posted in Música

Um dos produtores da Dancing Cheetah, o DJ Chicodub escreveu um texto dando uma geral na cena da cumbia digital, que vem varrendo a América Latina, para o blogue da festa.

Sem dó nem piedade, tunguei o texto inteirinho, com todos os vídeos, links, MP3s e imagens. Fala aê, Chicodub:

colombia

A cumbia nasceu na região caribenha do que hoje é a Colômbia, principalmente nas províncias de Cartagena e Barranquila, durante o período de colonização espanhola. Tentando preservar suas tradições culturais, escravos trazidos da África pelos espanhóis começaram a usar sua danças típicas e forte percussão com intuitos de flerte.

Nessa época, a cumbia (que tem seu nome derivado do termo cambé, que significa festa) era mais conhecida como dança, já que a música era apenas percussiva – tambores e clavas, Numa segunda fase, influenciados pela música dos nativos habitantes de regiões montanhosas e seus instrumentos de sopro, criou-se no início do século 19 uma mistura tal que fez surgir a figura do gaitero, o intérprete.

Posteriormente, surge o violão e o acordeón dos espanhóis, acrescentando mais um elemento numa mistura sonora que conquistou, no século 20, Panamá, Mexico, Argentina, Chile, El Salvador, Honduras, Equador, Perú, Bolívia, entre outros, cada qual com a sua versão particular do gênero.

chicha libre

No Perú, por exemplo, surgiu nos anos 60 uma variação da cumbia chamada chicha. Basicamente, uma mistura de cumbia e rock, principalmente o surf rock de Dick Dale, só que com uma pegada andina nas melodias. Seleciono aqui três clássicas cumbias colombianas dos anos 60, sonoridade tida como supra-sumo pelos críticos especializados.

Destaque também para duas chichas coletadas na obra prima “The roots of chicha: psychedelic cumbias from Peru”. Por conta dessa coletânea, vejam vocês, até mesmo os norte-americanos tem explorado a sua peculiar sonoridade. Entrem no myspace do Chicha Libre e confiram.

Armando Hernandez – “La Zenaida”

Luiz Pérez – “La morena encarnacion”

Alfredo Gutierrez – “El diario de un borracho”

Los Mirlos – “El milagro verde”

Los Mirlos – “Sonido Amazonico”

Até o século 20, a cumbia era conhecida como uma dança vulgar praticada pelas camadas economicamente mais baixas da sociedade. Isso permaneceu pelo menos até o meio do século passado, quando o termo “cumbia” passou a ser mais assossiado a música. Ainda assim, o preconceito aristocrata permanece até hoje, mesmo com a explosão popular que tomou conta do gênero na segunda fase do século 20.

Durante muito tempo, seus temas não saiam muito de histórias de amor, romances impossíveis tipo novela mexicana, experiências do cotidiano, enfim, música pop. Eis que surge na Argentina uma nova sonoridade a partir dos anos 2000 através da cumbia villera, ou a cumbia das favelas.

Cansados dos mesmos temas e sentindo falta de músicas que retratassem de fato a (dura) vida nos guetos, a cumbia villera surge, talvez incluenciada pela grave crise que assolou aquele país, e inaugura uma espécie de fase gangsta rap na cumbia. E tome música falando de armas, crime, tráfico de drogas e sexo.

é um show de rock? de hardcore?? de speed-trash-metal??? não! é um show do damas gratis!!!
É um show de rock? Hardcore?? Speed-trash-metal??? Não! É o Damas Gratis!

Pablo Lescano, do Damas Gratis, é, talvez, o grande herói da cumbia villera, o cara que moldou esse tipo de som.

Damas Gratis – “Re loco re mamado”


Damas Gratis, “Alza la manos”

Quem duela pau a pau com o Damas Gratis em termos de popularidade na Argentina é o Pibes Chorros. Reparem como cai por completo o estereótipo que temos dos argentinos – Cadê as louras com carinha de européia? E os mullets?

Pibes Chorros – “Que calor”


Pibes Chorros, “Pamela”

Abaixo, um vídeo com Pibes Chorros e Damas Gratis duelando num programa de auditório argentino!


Pibes X Damas

E duas das maiores paixões portenhas: cumbia e futebol num vídeo do Yerba Brava:


Yerba Brava, “La cumbia de los trapos”

sonidero nacional

Só que foi do México, mais precisamente de Monterrey, estado com uma cena fortíssima de artistas de cumbia, que surgiu o hit que levou a cumbia ao crossover internacional, muito por causa do filme Babel.

Com produção de Toy Selectah, membro de um dos grupos mais famosos de hip-hop da história mexicana, o Control Machete, “Cumbia sobre el rio”, de Celso Piña, é uma bomba poderosa.

Celso Piña – “Cumbia sobre el rio”


Celso Piña, “El tren”

(em ambas as músicas acima os vocais estão a cargo do venezuelano Blanquito Man, da seminal banda King Changó)

tormenta tropical

Toy Selectah, também membro do Sonidero Nacional e hoje parte do elenco da Mad Decent, do Diplo, tem presença ativa num dos discos mais sensacionais dos anos 2000 em todos os estilos, o “Mexican Sessions”, dos ingleses do Up Bustle & Out. Disco que dá um panorama muito bom da cena de Monterrey, recheada de flertes com o reggae, o hip-hop e o reggaeton.

“Mundo Insolito” (Toy Selectah/ Control Machete Remix)


Up, Bustle & Out, “Cumbion Mountain”

zzk

É também da Argentina, através do coletivo Zizek, ou ZZK, que vem uma espécie de cumbia digital que não tem medo algum de absorver outros estilos, flertando com tudo quanto é guetto music, funk carioca inclusive. Festa, selo, e agência (os três beem hypados) com vários artistas portenhos liderados por Villa Diamante, o ZZK produz os sons mais interessantes da cumbia hoje em dia.

Por conta do cruzamento colossal com outros estilos – os Zizeks também são muito bons nos mashups – a cumbia está tomando conta dos Estados Unidos na forma do label Bersa Discos e da sua festa regular em São Francisco, a Tormenta Tropical.

Mês que vem, o ZZK estará representando a cumbia no mais importante festival de música hoje, o americano Coachella. Se hoje já tem até holandês fazendo cumbia, o sensacional Sonido Del Principe, depois do Coachella el cielo es el límite.

Termino este breve panorama cumbiambero com quatro pepitas do Zizek crew (uma delas com uma certa cantora que vocês devem conhecer) e um petardo subsônico do Sonido Del Principe via Bersa Discos. Cuuuuuuuuumbia!!!

frikstailers

Frikstailers – Ta duro kuduro”

El Trip Selector – “Cumbia del piano triste”

El Remolon feat. Marina – “Vem que tem”

Sonido del Principe – “El principe”

terça-feira

20

abril 2004

0

COMMENTS

Vizoo, Jan/2001

Written by , Posted in Imprensa

Umbigo do mundo

Reportagem sobre uma viagem de ônibus do Brasil ao Chile, passando por Bolívia e Peru, originalmente publicado na revista Vizoo, em janeiro/fevereiro 2001.

Encarar um ônibus até Machu Picchu vai muito além de somente chegar até lá, existe muito mais para aproveitar no caminho. Por mais que uma viagem assim possa parecer uma furada, não é. É sim uma grande aventura, além de ser uma maneira relativamente barata, de se conhecer um pouco do Brasil, Bolívia, Peru e Chile.

Estão no caminho, além do famoso centro energético da terra, o Titicaca, lago navegável mais alto do mundo, a cidade de Cusco, no Peru, e o Vale de la Luna, em La Paz. Tudo que é necessário é ter a cabeça aberta para situações novas e inusitadas e um pouco de disposição para passar alguns apertos.

O melhor de uma viagem destas é chegar lá e aprender. Por isso neste texto você não encontrará a história dos Incas ou elucubrações sobre os costumes locais, vai encontrar uma sugestão de roteiro e algumas dicas de como fazer uma viagem pra lá de boa. E como toda viagem começa quando se decide viajar, é legal planejar tudo com antecedência (veja as informações básicas no box).

O começo de tudo é na rodoviária Novo Rio, de onde sai o ônibus rumo a Corumbá, no Mato Grosso do Sul, fronteira com a Bolívia. Depois de 28 horas sentado a melhor pedida é dormir por lá mesmo e partir no dia seguinte para Quijaro, já na Bolívia, de onde parte o “trem da morte”.

O famoso “trem da morte” faz o trajeto entre Quijaro e Santa Cruz de la Sierra e é exatamente como dizem: lotado de galinhas, porcos e traficantes. Traficantes de açúcar, é bem verdade, já que este pó branco é muito mais barato no Brasil. Mesmo assim, há várias buscas policiais no caminho, uma das razões que fazem o trajeto de 18 horas poder chegar a até três dias.

Para fugir dos animais, pode-se pagar um pouco mais para ir na classe Bracha ou na Pullman, que ao contrário do que sugere o nome, são superiores a Primeira classe. De Santa Cruz parte-se para La Paz na mesma tarde, chegando na manhã seguinte. E é aí que se enfrenta o maior dos problemas.

La Paz, capital da Bolívia, está a 3.600 metros acima do nível do mar. À noite, ainda no ônibus, já começam os efeitos da altitude: tonturas, ânsia de vômitos e uma pressão absurda na cabeça. Um dos melhores remédios para o mal das alturas, ou “soroche” como é chamado pelos locais, é a folha de coca. O cultivo e o comércio desta folha, planta sagrada dos Incas, é legal tanto na Bolívia quanto no Peru e não se trata de droga alguma. A cocaína é um derivado da folha, alterado quimicamente. Normalmente a folha é consumida em forma de chá ou simplesmente mascada.

Depois de um bom dia de descanso e de uma noite de sono a altitude já não incomoda tanto. Mesmo assim é bom ficar pelo menos mais dois dias em La Paz para se adaptar totalmente, pois todos os outros pontos da viagem estão a pelo menos 2.200 metros acima do nível do mar. Em La Paz não se pode deixar de visitar o Vale de la Luna, as ruínas de Tiwanako e, se sobrar um tempinho, o estádio onde o Brasil perdeu da Bolívia nas eliminatórias da Copa de 94, com aquele tremendo frango do Tafarel. Deve ter sido a altitude.

A próxima parada é a cidade de Copacabana, as margens do lago Titicaca. A melhor opção antes de seguir para Puno, no Peru, é dormir na Isla del Sol, que nem sempre tem água, mas com certeza terá uma das melhores trutas que você pode comer. Dois dias são o suficiente em Puno, o bastante para conhecer as ilhas flutuantes dos Uros, construídas no meio do Titicaca com uma raiz típica da região, e as imperdíveis ruínas de Sylustani.

A doze horas de Puno está Cusco, que em quechuá, língua original dos Incas e até hoje uma das línguas oficiais do Peru, quer dizer “umbigo do mundo”. Isto porque esta foi a capital do império incaico até ser dominada pelos espanhóis, quando adquiriu a atual aparência européia. A Plaza de Armas é onde tudo acontece. É lá que você vai encontrar desde agências de viagens que oferecem passeios às atrações turísticas da cidade até as boates que agitam a noite de Cusco e, o que é melhor, de graça. Nos arredores de Cusco estão às maiores e mais impressionantes construções Incas. Existem dois passeios que levam as mais importantes: o que vai ao Vale Sagrado, passando por Pisac e Olataytambo, e o que vai a Qorikancha (Templo do Sol) e Sacsaywaman, entre outros. Não se pode deixar de ir. Quanto as boates, as mais indicadas são a Mama Africa e a Xcess, cheias de turistas de toda parte, principalmente argentinos e chilenos.

Mas o que tornou Cusco conhecida mundialmente é que daqui se sai para o “Camino Inca”, ou o caminho real Inca até Machu Picchu. É possível fazer a trilha por conta própria, mas é melhor comprar um pacote em uma das agências de viagem da Plaza de Armas. É fundamental pesquisar bastante, pois os preços variam muito, indo de U$50 até U$435. Os pacotes normalmente incluem barraca de acampar, saco de dormir, comida para os quatros dias, um guia credenciado e carregadores. Os carregadores são os responsáveis pelo conforto durante a caminhada; são eles que levam toda a cozinha, comida e as barracas, além de cozinhar todas as agradáveis refeições.

Nos quatro dias de caminhada você vai ver de tudo; turistas de todo lugar do mundo, animais, plantas exóticas e muitas, muitas escadarias. A trilha de trekking mais famosa da américa do sul tem 42 quilômetros de extensão. No primeiro dia caminha-se bastante, com subidas leves, saindo dos 2.200 metros de Cusco até os 2.800 metros do local do primeiro acampamento. A empolgação ajuda muito durante todo o caminho, mas sem dúvida ela é mais necessária no segundo dia. É então que se parte rumo ao Pico da Mulher Morta, nome sintomático deste pedaço da trilha. Além das folhas de coca uma boa pedida para esta subida é uma pastilha chamada Coramina-Glucosa (laboratório Novartis), vendida em farmácias de Cusco. Em apenas sete quilômetros se vai dos 2.800 até os 4.300 metros deste pico. Falta ar, faltam pernas, falta tudo. Mas quando se chega ao topo a emoção é indescritível. Um misto de felicidade com uma sensação de superação que é inigualável.

O terceiro dia é o que mais se anda e também é o que mais tem coisas para se ver e fazer. Além da paisagem montanhosa dos Andes, atravessa-se um bom pedaço de floresta e visita-se algumas ruínas muito interessantes. Winay Wayna, enorme construção Inca com muitas fontes purificadoras de água está a apenas cinco minutos do local do último acampamento. Há também um alojamento perto onde se pode tomar banho e até aproveitar para tomar umas cervejas, já que o dia seguinte é curto, com três horas de caminhada. Mas é sem dúvida o mais esperado de todos.

No quarto dia o ideal é acordar de madrugada, aproximadamente as 5:00h, para poder chegar bem cedo às ruínas. A trilha Inca é a única forma de se chegar a Machu Picchu pela parte de cima, através de Intipunku (Portal do Sol), a entrada oficial do santuário utilizada pelos incas. Os turistas que vão de trem, ônibus ou até mesmo de helicóptero só chegam à partir das 9:30 h, e chegam pela parte debaixo da cidade. Por isso os que fizeram a trilha Inca madrugam neste dia, para merecidamente ter o privilégio de avistar Machu Picchu de cima e completamente vazia. Intipunku é onde começa a choradeira. Depois de quatro dias de muita expectativa caminhando, a alegria bate forte e quase todo mundo desaba num choro coletivo.

Têm-se algumas horas até os turistas começarem chegar e mais algumas para se conhecer a cidade. Machu Picchu é realmente muito mística e energética, mas esses tipos de comentários são inúteis e ineficazes porque não há adjetivos que realmente descrevam a sensação de andar descalço por aquele lugar. Tem que ir, tirar o tênis e experimentar para entender.

Se sobrou algum…

Se sobrar tempo e um pouco mais de grana, uma idéia muito boa é ir de Cusco até San Pedro de Atacama, no norte do Chile. San Pedro fica no meio do deserto de Atacama e é lá que fica o Vale de la Luna, mais famoso do que o de La Paz, por ser muito maior e mais bonito. Tem também o Vale de Marte, utilizado pela Nasa para testar veículos e sondas antes de serem mandadas ao planeta vermelho, e passeios pelas Lagunas Andinas. Isso sem contar a própria cidade de San Pedro, bem rústica, mas com muitos restaurantes e uma vida noturna bem agitada. Para chegar lá, vá de Cusco para Arequipa, de lá para Tacna e depois para Arica. Depois é só ir até Calama, no Chile, na fronteira com o Peru, a uma hora e meia de San Pedro e pegar mais um ônibus.

Voltando para o Brasil você terá que passar pela Bolívia de novo. Saindo de San Pedro tem um trem que vai até Uyuni, mas a melhor opção é fazer uma excursão de três dias em um jipe 4×4 pelo deserto. Os preços variam de U$60 à U$80 e o passeio inclui – além de transporte, comida e alojamento – o “desfile de las lagunas” de todas as cores, verde, azul, vermelha, lotadas de flamingos andinos. No último dia se chega à maior salina do mundo, o Salar de Uyune, um deserto de sal onde se enxerga o branco até perder de vista. Um visual meio futurista, lembra o Matrix do filme. A sensação é de que se está no céu, só se vê nuvens e uma ilha lotada de cactos solitária no meio da salina.

Essencial – o que levar e o que fazer

• Peru, Bolívia e Chile não exigem visto de entrada para turistas brasileiros, somente o passaporte, mas é bom dar uma conferida se a situação não mudou antes de ir.
• vacina contra febre amarela, OBRIGATÓRIO em todos os três países.
• comprar as passagens para Corumbá com antecedência, elas acabam rápido
• bota de trekking, impermeável e capa de chuva. Chove bastante durante a caminhada, principalmente no verão.
• repelente de mosquitos
• remédios que normalmente você usa no Brasil
• Seguro de saúde para viagens internacionais