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segunda-feira

10

setembro 2012

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Transcultura #095: Jessica Povoa // Porta dos Fundos

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A íntegra do meu texto da semana passada da coluna “Transcultura”, que publico todas as sextas no jornal O Globo:

Foco no corpo feminino
Fotógrafa explora o corpo feminino em ensaios
por Bruno Natal

Num mercado pelo machismo e por imagens apelativas, uma menina que fotografa outras meninas nuas seria o suficiente para despertar atenção. Ainda mais quando a proposta é sofisticar os registros de gosto duvidoso. Esse é o objetivo da mineira radicada no Rio Jessica Póvoa, 23, em ensaios que divulga em sua página. Esses dias suas fotos foram censuradas pelo Facebook, em mais um capítulo no interminável debate sobre os limites entre erotismo e pornografia.

– Não sei muito que diferença faz trabalhar com nú ou com roupa grifada, muito menos que diferença faz ser menina, homem, bicha ou sei lá o quê, então isso é meio nonsense pra mim. Sempre achei as formas femininas muito mais interessantes que as masculinas, sempre me chamou mais atenção e tive mais curiosidade. Desde criança pegava Playboy escondida no armário do meu pai, super curiosa. Lembro da Marisa Orth, a única que eu alcançava ela num cavalo branco – escreve Jessica por email, da Romênia, onde está a trabalho, entre vários “hahaha”.

Formada em cinema pela New York Film Academy e em direção de arte pela Central Saint Martins de Londres Jessica combina sua múltipla formação (ela ainda passou pelos cursos de história da arte da UFRJ e de design da UniverCidade) em trabalhos pelo mundo, tendo atuado em mais de 15 países como videomaker, produtora, diretora de arte, cenógrafa e fotógrafa para trabalhos comercias.

– Estou viajando pelo Leste Europeu com uma série transmitida pela Multishow, Cidade Nua, fazendo direção de arte, elenco e produção de locações. Comecei a fazer parte da produção ano passado, na terceira temporada, filmando em Londres, Berlim, Madri e Paris. Nessa temporada estamos percorrendo Croácia, Romenia, Hungria e República Tcheca. Vou atrás de pessoas interessantes em cada cidade e dos lugares mais alternativos, mostrando bastante do submundo de cada lugar – conta.

Os trabalhos comerciais são legais e pagam as contas, porém o foco de Jessica está nos projetos pessoais.

– Vou atras de amigas e amigas de amigas, nao pago ninguém, quando é comercial elas são pagas pelo trabalho, claro.

– Tenho um livro publicado, “Ácido”, e outro em fase de produção e arrecadação de patrocínio, “Animal”. O conceito se baseia em fotografar meninas normais, encontradas nas ruas ou em qualquer outro lugar que não sejam revistas de moda ou agências de elenco, justamente pelo fato de sempre ter que respeitar esses padrões estabelecidos nos meus trabalhos comerciais.

As modelos são amigas e amigas de amigas, sem pagamento, pela arte.

– Preparo, junto com minha equipe, um projeto para cada menina, uma produção cinematográfica. Fazemos uma pesquisa com elas pra saber seus interesses, dia a dia, e a partir disso escolho as locações, crio um conceito, montamos cenário e produção dignas de editoriais de moda. Viso inserir a visão da realidade de meninas com formas reais, que poderiam até ser chamas de “imperfeições” ou “defeitos”, captando a verdadeira sensualidade em imagens simples, sem poses forçadas e o mais natural possível.

Do pedido de uma Polaroid de Natal, aos 8, até os dias de hoje, Jessica fotografou bastante em 35mm antes de ganhar uma câmera digital e agilizar as brincadeiras. Assim, pequenos filmes tomaram o lugar dos slides das apresentações das tarefas escolares. Numa era em alguns acreditam que a fotografia esteja banalizada por câmeras digitais, Jessica prefere somar.

– Essa história de que todo mundo pode ser fotógrafo acho bom e engraçado, pois daí surgem cada vez mais propostas diferentes e pessoas somando. Cada um com o seu, cada um mostrando sua visão, com técnica ou sem técnica, o negócio é fazer acontecer e mostrar coisas bonitas. Sou grande fã da fotografia analógica e uso muito digital também, claro. Todas as formas de se fotografar devem somar uma as outras e não extinguir os processos anteriores a cada nova invenção, como vem acontecendo. Isso é um enorme fracasso na arte da fotografia.

O olhar diferenciado, feminino e mais elegante vem rendendo convites para clicar para revistas masculinas. Será o fim

– Tem revistas interessadas nesse novo conceito. Tenho também um piloto pra TV, só com essas meninas “normais” e bastante sensualidade, inspirado em filmes da época da chanchada, dos quais sou sou fã, além de tema da minha monografia na Escola de Belas Artes da UFRJ. Estou montando um estúdio em Copacabana pra poder abusar mais um pouquinho, tendo um espaço para produção e uma sala especial para a maquiadora e cabeleireira que trabalha sempre comigo, Camila de Alexandre.

Tchequirau

Fundado por por Gregório Duvivier, Fabio Porchat, João Vicente e Antonio Tabet, o canal de humor Porta dos Fundos está fazendo sucesso, veja só, com humor que não é mera sátira, gritos ou insultos. Coisa rara.