Com no caso do nodata.tv, nem bem o OneDDl caiu e os criadores desse que foi um dos melhores agregadores de conteúdo áudio-visual da rede voltaram com outro projeto, idêntico ao original, o wrzKO.com. Então, já sabe.
O tempo em que o lançamento de um disco era um evento exclusivo vai, ainda bem, ficando para trás. Também comem poeira o pinga-pinga de faixas avulsas e a bisonha “sacação” de liberar alguns segundos de determinada canção – algo que pode funcionar no cinema, na literatura, porém totalmente sem sentido na música. Cientes de que a audição prévia tem o poder de alavancar as vendas, cada vez mais artistas oferecem uma audição completa do disco antes do lançamento para os fãs decidirem se gostam o suficiente antes de comprar, sem a necessidade de baixar as músicas ilegalmente.
Esta semana, os novos trabalhos do Friendly Fires e do produtor Danger Mouse foram disponibilizados no Hype Machine (onde também foi lançado o segundo disco de Lykke Li) e na NRP Music, respectivamente. Além deles, há um mês o estreante The Weeknd fez o mesmo no Soundcloud, além de permitir baixar o disco todo. Também de presente para os fãs, Mayer Hawthorne lançou um EP de versões pra baixar de graça na página de sua gravadora, Stones Throw Records.
“Rome”, Danger Mouse & Danielle Luppi(participação especial de Jack White e Norah Jones): Numa época em que todo ser humano parece ter um trabalho artístico, observar o tamanho e a quantidade de projetos do Danger Mouse nos últimos anos (um produtor que chamou a atenção inicialmente com um disco de mashups de Beatles com Jay Z, montou o Gnarls Barkley e produziu o Gorillaz), é ter certeza que da quantidade pode vir qualidade. E viva as facilidades digitais. Seu mais recente projeto é uma parceria com Daniele Luppi e conta com a participação de Jack White e Norah Jones nos vocais. Produzido ao longo de cinco anos e inspirado nas trilhas de Ennio Morricone, “Rome” foi gravado em… Roma, em formato analógico, com músicos originais das trilhas de Morricone, incluindo Edda Dell’Orso, uma das cantoras prediletas do compositor, presente também nas trilhas dos três principais filmes de Sergio Leone, mestre do western spaghetti. O resultado serviria perfeitamente para uma trilha de Tarantino. Bem contemplativo, “Rome” lembra em alguns momentos “Dark night of the soul”, outro projeto de Danger Mouse, sempre em boa companhia, com David Lynch e Sparklehorse. Os músicos disseram em entrevista que uma turnê está nos planos. É aguardar pra ver se conseguem juntar tanta gente num mesmo palco.
“House of balloons”, The Weeknd: A influência da estética do dubstep, mais do que o próprio estilo surgido na Inglaterra, vai cada vez mais longe, se distorcendo e se transformando, como mostram os recentes discos de James Blake ou Mount Kimbie. No caso do novato The Weeknd, que é formado pelo cantor Abel Tesfaye e os produtores Doc McKinney and Illangelo, as pancadas graves no vazio e os reverbs secos do dubstep encontram o r&b, resultando num melado trip hop de derreter a orelha e dançar devagarinho, como sugere a psicodelia soft porn da capa.
“Pala”, Friendly Fires: O trio inglês chegou de mansinho com “Paris”, acelerou com “Skeleton boy” e explodiu com “Jump in the pool”, rapidamente passando de aposta da semana para banda da vez, título que o Friendly Fires pretende consolidar com o segundo disco. O mais próximo do que se conhecia do Friendly Fires é “True love”, dançante, com bateria “disco” e baixo pulsando. “Pull me back to earth” e “Show me lights” também não passam tão longe. De resto, “Pala” (nome da ilha utópica do livro “A ilha”, de Aldous Huxley) é muito diferente, o que é ótimo. Muito influenciado pelos anos 80, às vezes de forma direta, outras perto da releitura da década proposta pelo hypnagogic/ chill wave e seus vocais filtrados e camadas de teclado, o trio pula a furada nu-rave e vai direto de rave, acid-house e tudo mais. O clipe da música que abre o disco, “Live those days tonight”, ganhou uma versão editada pela banda só com imagens de festas na virada dos anos 1980 para os 1990 encontradas no YouTube. Como todo bom disco, cresce a cada audição.
“Impressions”, Mayer Hawthorne: Com apenas um disco, Mayer Hawthorne conseguiu uma boa base de fãs para o seu soul retrô, com uma leve atualizada via hip hop. Bom de palco, um dos seus trunfos são as versões – a interpretação de “Gangsta Love”, do Snoop Dogg, faz frente a original. Por isso, enquanto o segundo disco não vem, Mayer dá uma acalmada oferecendo de graça um EP só de covers. São seis músicas: “Work To Do” (Isley Brothers), “Don’t Turn The Lights On” (Chromeo), “You’ve Got The Makings Of A Lover” (The Festivals), “Fantasy Girl” (Jon Brion), “Little Person” (Steve Salazar) e “Mr. Blue Sky” (Electric Light Orchestra). Fino.
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Tchequirau
O Google lançou seu serviço de música, no qual o usuário hospeda sua discoteca de graça e pode acessá-lo de qualquer lugar, incluindo celulares rodando o sistema Android. É basicamente um Spotify gratuito com pontencial pirata, já que aparentemente não questiona a procedência das músicas.
O horizonte é digital e, por agora, essa é a única certeza foto: _ares_
Espremidos entre duas eras — a passada e a que se desenha — os que hoje têm aproximadamente entre 20 e 30 anos são os que mais sofrem com a transição do formato analógico para o digital. Tateando o mundo novo, a geração do meio paga o preço de viver num tempo de inovações, correndo o risco de ser resumida a um elo entre duas épocas prósperas.
Os que trabalharam na indústria fonográfica até um pouco além da metade dos anos 90, sentiram na pele (e ainda sentem) o baque dessas transformações. Nos nem tão distantes tempos pré-digitalização, disco era um negócio que dava dinheiro. Muito. Com as mudanças impostas pela novas mídias esse mercado encolheu e hoje definha.
Uma coisa, porém, é um fato: bastante gente acima dos 40, de artistas a executivos e lojistas, costurou seu pé de meia nos tempos de fartura. Não se trata de uma “crise” de formatos. O que se atravessa é uma crise de continuidade, de perpetuação, da insistência por um modelo com o qual se está acostumados.
O futuro é digital, não adianta espernear. O que começou com os discos, hoje atinge a indústria do cinema, os grandes jornais, os produtores de software, enfim, se alastrou. Não há dúvida de que, em termos objetivos, essas mudanças são para o melhor.
Mais pessoas tendo condições de produzir e distribuir seu trabalho é bom para quem cria. A facilidade de acesso a esses trabalhos é bom para quem consome. O encontro dessas duas pontas, faz com que o trabalho chegue a um púbico maior, sem (ou com menos) intermediários, o que é bom para ambos.
Muito do que é distribuído online voluntariamente por seus criadores tem em vista os chamados ganhos laterais. Espera-se que com a exposição surjam outras oportunidades. Para os músicos pode ser mais shows; para os jornalistas, convites para escrever em grandes publicações; para os cineastas, novos trabalhos; e assim segue.
Hoje há quem resista aos torrents, esmurrando a ponta da faca e tentando impedir a troca de arquivos. Isso não vai acontecer. O que ocorrerá, muito em breve, é justo o contrário.
Tanto os grandes conglomerados de mídia, quanto os independentes brigarão por um lugar nesses espaços, simplesmente porque é ali que as pessoas estão indo buscar entretenimento. Será difícil se destacar. Estar presente no catálogo de um ripador de filmes (o sujeito que digitaliza e disponibiliza o filme on line) como o aXXo, um dos mais respeitados e seguidos no meio (segundo me disse o Mateus), será indispensável.
A grande falha desse sistema é que ele ainda não se definiu como um formato de negócios. Se no futuro o ripador puder até vir a ser pago pelos estúdios para hospedar e distribuir seus filmes e o público tiver livre acesso ao conteúdo (o que, de fato, já tem), quem paga a conta? Porque o filme (ou o disco, o livro, fotografia, etc) continuará tendo custos para ser produzido, isso não muda.
Para estúdio de Hollywood, com dinheiro em caixa, esse modelo até pode ser viável num primeiro momento. Para os independentes, nem tanto, visto que o investimento para entrar no mercado é muito alto e nem sempre os ganhos laterais são palpáveis. Um filme, por exemplo, não tem a opção de se apresentar ao vivo.
Sendo assim, corre-se o risco de se replicar as falhas do modelo anterior, onde só quem tinha recursos financeiros próprios (ou acesso a eles) podia produzir. Seria um retrocesso. Outras opção seria essas atividades culturais tornarem-se hobbies, um tanto incerto se isso seria algo positivo ou negativo.
As primeiras respostas para essas questões normalmente passam pela publicidade, anúncios e patrocínios. É um pensamento imediatista, que faz sentido num primeiro momento. Porém, torna toda a cadeia dependente de uma única fonte de recursos, que logicamente é limitado.
O ideal, claro, seria que os consumidores pagassem diretamente aos criadores, mas isso não parece realista. Mesmo porque, devido a facilidade de acesso, por menor que fosse a quantia a ser paga, a quantidade de produtos que se consome aumentou muito, tornando inviável equilibrar essa conta. Seria ingênuo imaginar que o consumidor estará disposto a aumentar os seus gastos ou que consumirá menos para se adequar.
A solução chegará, é inevitável. O problema é para quem vive entre esses dois momentos, o passado e o futuro. São pessoas que não usufruíram dos benefícios do velho modelo e que agora esperam resistir até um novo formato de negócio se estabelecer.
É a geração do meio, a generation in between pra internacionalizar, cujo símbolo bem poderia ser o CD, uma mídia transitória, que provocou modificações tão grandes, incluindo a digitalização que terminou por decretar seu próprio fim. É uma ambiguidade sem tamanho viver numa época de tantas mudanças positivas, onde coisas antes inimagináveis hoje são possíveis e, ainda assim, não enxergar perspectivas concretas.
Enquanto as resposta não vem, batuco textos nesse saite, produzo filmes de maneira independente. É tudo uma enorme aposta, onde os ganhos podem ser tão grandes quanto o prejuízo. Dedos cruzados.
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/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.