Numa Gamboa
Written by Bruno Natal, Posted in Destaque, Música
Transitando pela Gamboa, do avesso há anos com tanta obra, você fica na dúvida se o Estado está muito ausente ou muito presente (mentira, basta olhar o abandona dos casarios e a falta de condições de quem mora lá para saber a resposta).
As redondezas andaram agitadas nesse final de semana por conta da movimentação trazida pelo Art Rio e o Art Rua (ouvi que extenderam a programação) e domingo estive lá pra conferir o Antimatéria, evento com o melhor da música experimental carioca realizado na sede da Super Uber.
De lá fui parar sétima edicão da festa Bota na Roda, num lugar inusitado que por si só valeu a visita.
No Antimatéria consegui chegar a tempo apenas de três shows: Dorgas, Ceticências e Epicentro do Bloquinho – perdi o Bemônio, sobre o qual quem viu falou muito bem. Vi apenas parte do Dorgas, o suficiente para comprovar que ao vivo soam tremendamente melhor do que no disco homônimo recém lançado, ainda que as viagens as vezes tornem a experiência um tanto hermética.
Para apresentar as experiências eletrônicas, glitch industriais do seu Ceticências, Cadu Tenório juntou-se a Sávio de Queiroz. Apesar de contar muito com a improvisação e a reação em tempo real a sons inesperados, é tudo bem controlado e resolvido, há uma direção compreensível dentro do caos. O resultado é uma narrativa que não aliena o ouvinte, pelo contrário, hipnotiza.
O mesmo não se pode dizer ainda do Epicentro do Bloquinho. Vítimas do próprio talento, o excesso de ideias – Lucas de Paiva (People I Know, Opala, Mahmundi, SILVA), Gabriel Guerra (DJ Guerrinha, Dorgas) e Sávio de Queiroz – polui a audição e a coisa toda fica com pinta de ensaio ou composição ao vivo. Coisa que não acontece nas produções gravadas do trio.
Esse espírito free jazz é parte da proposta, sem dúvida, porém essa seria uma justificativa fácil demais para a falta de uma ordenação mínima nos sons. Fica difícil acompanhar ou mesmo dançar – e é som pra pista, 4×4 boa parte do tempo – quando as programações estão sendo constantemente ajustadas na metade dos compassos.
Um “problema” dessa nova geração é uma certa aversão aso graves. Ah, como uma linha de baixo iria bem naquilo… O Epicentro do Bloquinho ainda é novo, boto fé que vai encontrar seu caminho. Pode ficar de olho.
De lá fui parar na Bota na Roda, festa que começou na Comuna e encontrou num galpão abandonado, as vésperas de ser demolido, um bom motivo para fazer uma edição especial. A quantidade de desvios, ruas fechadas e desencontros tornavam chegar no local uma vitória por si só.
Bota Na Roda 7 from Daniel Santos on Vimeo.
O lugar (e a produção feita pela festa) era de fato a grande atração. Caindo aos pedaços, com partes ao ar livre devido a simples ausência de telhas, a atmosfera rústica dava o tom de rave dos anos 90 – é, eles estão voltando.
Entre o bar, pistas de dança, a bancada servindo caldinhos vegan de feijão e ervilha, havia também instalações, projeções e obras de arte interativas (a com quatro ventiladores montados acima de um canhão de luz estroboscópica apontando para o alto, em que era possível controlar a velocidade e direção das pás, assim como o bpm da luz, era divertida demais). O público que não parecia mto empolgado.
Saturada por festa temáticas, a noite alternativa do Rio borbulha novamente. Ótima notícia.