terça-feira

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junho 2004

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Sound System

Written by , Posted in Urbanidades

A Jamaica tem se mostrado um lugar engraçado. A quantidade de situações absurdas que se vê e vive por aqui é impressionante. Todo dia acontece alguma bizarrice digna de nota, aquele tipo de historia que é difícil botar em palavras. Ainda mais com pressa, então vou ficar devendo detalhes.

Sem dúvidas, a coisa mais complicada aqui é falar de dinheiro. Os jamaicanos são arredios quando esse é o assunto, o que pode acabar transformando uma simples negociação do preço de uma corrida de táxi (que aqui não tem taxímetro, veja só) em uma discussão político/social, remontando aos tempos da colonização inglesa. Isso quando dá pra entender o patois dos locais.

Nesses últimos dias consegui completar parte da missão na ilha. Entrevistei Sly Dunbar, U-Roy, Mutabaruka, Gussie Clark, Dr. Carolyn Cooper (coordenadora do Reggae Studies Unity da universidade West Indies, Kingston) e Clive Jeffrey para o documentário que estou fazendo (acho que ainda não falei disso no URBe), que havia comecado meio torto e agora começa a tomar forma. Também conheci mais dois sound systems, Stone Love e Passa Passa, esse último no meio do gueto, entre Trenchtown e Tivoli Garden, dois lugares BEM barra pesada de Kingston.

Os sound systems são, sem dúvida nenhuma, a grande atração da Jamaica. Como toca de tudo, de roots a dancehall (“the selecta must praise everybody”, me disseram), é a melhor maneira de conhecer novos sons. É tambem o lugar onde se encontra as maiores figuras, desde gente dançando no estilo, até negras enormes, vestidas com roupas de vinil cor-de-rosa muito apertadas, além de vendedores carregando galhos de maconha como se fossem buquês de rosa. Deu pra imaginar o cenário?

Nesses lugares não costuma ter muitos estrangeiros, é a galera local mesmo que comparece. Apesar do clima tranquilo, claro que não dá pra um branquelo como eu ir sozinho — tem que contratar um amigo jamaicano pra ir junto — e muita gente vem pedir dinheiro ou oferecer qualquer coisa. Mas tem também gente que se aproxima só pra perguntar o que você está fazendo ali, positivamente surpresos com sua presença naquele lugar.

O que fica cada vez mais clara é a importancia que a música desempenha no cotidiano dos jamaicanos. É o assunto predileto nas ruas, dá pra conversar sobre riddims ou artitas obscuros com praticamente qualquer um. Como é o futebol no Brasil.

Ainda não entendi bem porque estou tendo essa impressão, mas parece que a paixão deles pela música talvez seja ainda maior do que a dos brasileiros. Mas isso é coisa pra pensar em casa, na volta. A única maneira de começar a entender é assistindo a galera se balaçando em frente a uma pilha gigantesca de caixas de som, cuspindo graves e grooves assassinos.

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