Scientist vs. Jammy
Written by urbe, Posted in Música
O título do texto não diz respeito aos conhecidos discos em que Scientist e
King Jammy disputam a coroa do dub. É uma briga de verdade mesmo.
O motivo é um processo que Scientist moveu contra a Greensleeves e no qual Jammy testemunhou contra seu compatriota. Além dos dois jamaicanos, a confusão envolve a gravadora inglesa, a Rockstar Games, telefonemas gravados e ameaças de morte.
Provando que a Jamaica é mesmo o berço da abordagem moderna em relação a música, o quiprocó se refere a — veja só, que assunto atual — direitos autorais, de discos produzidos na virada dos anos 70 para os 80. A questão é tão delicada, quanto é complicada.
Scientist exige da Greensleeves pagamento de direitos autorais sobre a série de discos que a gravadora lançou (clássicos como “Scientist rids the world of the evil curse of the vampires” e “Scientist meets the space invaders”) e do licenciamento dessas músicas para o video game “Grand Theft Auto III”, da Rockstar Games.
O lance é que, apesar do nome na capa, tecnicamente Scientist não é o autor dos discos. O que ele fez, como engenheiro de som, foi remixar as faixas a partir das fitas originais, produzidas por Junjo Lawes, compostas e tocadas por diversos músicos.
Por mais que tenha feito seu trabalho com muito estilo, Scientist não compôs as músicas ou pagou pela produção do disco, pelo contrário, foi contratado para o trabalho específico de mixar as faixas.
Acontece que “mixar as faixas” como Scientist fez (seguindo os passos de King Tubby, Lee Perry, Jammy e outros) acabou se tornando uma arte: o dub. As músicas acabam totalmente transformadas, num processo que é difícil não chamar de autoral. Não por acaso, não são os nomes dos músicos ou produtores que aparecem nas capas dos discos de dub, mas sim o dos engenheiros de som.
Se o disco não tem participação autoral do Scientist, porque o nome dele está na capa? Se ele recebeu para mixar os discos e não exigiu que autoria fosse compartilhada na época, por que cobrar isso agora? Advogados de direito autoral quebram a cabeça há um tempo, num ensaio do que pode vir acontecer quando músicas feitas a base de samples começarem a ser sampleadas.
Sente o clima e imagina o que é viajar atrás dessa galera pra fazer um documentário. Money, money, money, is the root of all evil…
Vigi … dois malucos em ação.
ai vc tocou num ponto interessante…
no caso do scientist e de qualquer outro dubmaster existe direito autoral na mixagem sim!
é diferente de estar sendo pago pra mixar uma banda. quando se faz uma dub version vc muda a concepcão da música,
como um remix.
as vezes a musica muda tanto que quase nao sobra nada do original…
mas ai é outra historia…
na jamaica antigamente (e na black music em geral, até mesmo nos states)
neguinho nao tinha muito essa noção de ganhar direitos autorais de acordo com vendas e execução….
neguinho queria receber na hora.
entao ele mais ou menos vendiam os diretos pra outros selos…
assim como fez a greensleves como scientist, que comprou os direitos do produtor
junjo laws (que era o dono da obra), varios outros produtores venderam musicas pra outros selos
europeus…
é por isso que é muito facil de achar coletanea do bob marley com gravacoes pré-island em qualquer selo furreca….
todos os produtores que tinham musicas do bob, como o coxsone, lee perry, leslie kong, johnny nash venderem
os direitos pra qualquer selo….
só nos anos 90 é que criaram uma lei de direitos autoral na jamaica….
entao agora tem um monte de gente tentando rever a grana “perdida”
Brunão, o interessante é que este tipo de “negócio”, que é a venda de direito patrimonial da criação intelectual, continua acontecendo, e muito, até hoje. Não só na produção musical, mas também na editorial, etc.,etc.
Trabalho justamente com DA numa editora, e o que mais acontece aqui hoje em dia é a compra de textos através de cessão de direitos patrimoniais, e estes textos são adaptados, editados, revisados, etc. Seria isto a mixagem do texto? ;>)
De qualquer forma, se existe o documento assinado, um grande abraço! Como sei que este não é o caso da produção musical jamaicana, putz, que encrenca das boas esta hein?
Por acaso alguém tem a Lei de Direitos Autorais Jamaicanas aí? Eu gostaria de ler, e até já procurei na internet, pois gostaria de saber o prazo deles para o “domínio público”.
Um abraço,
Luiz
Segundo indica MPC no Bandit, escuta a briga aí e tente decifrar: http://www.dubmusic.com/jammyslies/
Já sugeri ao MPC baixar, mandar um riddim na bagaça e aí sim, eis o verdadeiro Jammys X Scientist !
Abraço,
Luiz
Fala Luiz!
Os links relacionados no texto as palavras “telefonemas” e “ameaças de morte” são justamente a gravação da briga. Reconheci as vozes, são eles mesmos.
Sobre direitos autorais e domínio público na Jamaica, de repente o Dubstrong sabe alguma coisa. Eles usaram o riddim “Stalag” no disco. Parece que depois do riddim ter sido usado em 50 versões ou mais, ele cai em DP.
Bruno, desculpe sobre os links. Confesso que não reparo nunca, mas vou prestar mais atenção.
Quanto a Lei de DA Jamaicana, encontrei. Pertence ao Autor e só vira domínio público depois de 50 anos. Como disse anteriormente, a impressão que tenho sobre a produção musical jamaicana é de que tudo era feito na base do “toma lá da cá”. Nada de documento assinado, etc. Era no fio da barba, como disse outro dia um conhecido meu sobre algo parecido, estes acordos malucos.
No Brasil são 70 anos e já dá problema pra dedéu!
Por isto, essa história do riddim ser mixado 50 vezes não acho seguro. A única coisa que fico imaginando é “quem vai cobrar o que”. Acho que só os Marley são meio organizados neste sentido. O resto…
Bom, segue um link bacana pra consulta: http://www.jipo.gov.jm/pages/copyright.htm
Abraço,
Luiz
nao existe isso de 50 vezes que o riddim foi gravado…
existe esse prazo de 50 anos…
mas nao tem nenhum riddim com mais de 50 anos…
e os diretos se referem a composição. independente disso existe a gravação.
se uma musica cair em dominio publico isso quer dizer qualquer um pode regrava-la. agora a gravacoes original é sempre o produtor (ou se o produtor vender pra alguem será dese alguem… dependendo do contrato).
Independente da brigalhada toda, tudo por causa da dinheirama envolvida, o interessante é ver que um dos pivôs é uma empresa de videogames. No caso a Rockstar do famoso GTA. Que fez uma coisa que nunca tinha visto, CDs com a trilha sonora de cada rádio que tem no jogo.
Baixem a trilha sonora da rádio K-Jah West, do GTA San Andreas. Musicas matadoras e jingles divertidos… Destaque pra Ring My Bell com as Bloody Sisters numa bela versão.
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
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