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setembro 2005

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rraurl, 05/09/2005

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Cobertura do Motomix 2005, que escrevi para o saite rraurl.com.

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Motomix ou mortomix?

Se São Paulo é o túmulo do samba, o Rio de Janeiro deve ser o da música eletrônica. A frase pode soar ranzinza e um tanto exagerada, sim, mas é impressionante como esse tipo de festa dificilmente rola bem por aqui. Muito disso se deve ao fato de, até hoje, poucos eventos terem sido feitos com a cara do Rio. Geralmente, tentam empurrar um clima que não tem a ver com a cidade, adaptar fórmulas que não se encaixam.

A etapa carioca do Motomix, no Clube Mourisco, não foi diferente. Com pouca divulgação e acreditando que o simples fato de acontecer num clube na beira da praia de Botafogo (o Mourisco, antiga casa da festa Delírio) seria o suficiente não apenas para atrair público, como também garantir o público certo, foi um engano e tanto. O visual da praia não é novidade para carioca nenhum, só isso é muito pouco pra sustentar uma festa. Distribuir convites a granel (até em vôo da ponte-aérea Rio-São Paulo, como contou o DJ Marlboro) também não resolve.

A noite começou cedo, às 22h, com BiD. Graças ao inexplicável hábito carioca de chegar nas festas o mais tarde possível — independente disso fazer com que se perca boa parte das atrações — praticamente ninguém viu o bom show do multi-instrumentista. Uma pena.

Na sequência veio a Project Band, grupo formado pelos participantes de uma oficina promovida pelo evento. Capitaneados pelo brasileiro Soul Slinger, figura seminal do drum ‘n’ bass e da música eletrônica verde e amarela, os alunos mostraram um som chapado, com influências de dub e interferências de alguns instrumentos tocados ao vivo, como flauta e bateria. Com tantas pessoas e idéias no palco, naturalmente o som, apesar de bem produzido, ficou devendo coesão. Tudo certo, o resultado de um encontro desses não é mesmo para ser imediato. Interessante é ver o que pode sair dali agora que os pontos se conectaram.

Durante as apresentações, os VJs (mal posicionados a beça, na frente do palco, obstruindo a visão do público) cuidavam da parte visual. Ao invés do tradicional telão atrás do palco — onde havia um painel de luzes bem bacana — a parede lateral do galpão foi utilizada como suporte, com as imagens sendo projetadas em cima de grafites e lambe-lambes de artistas cariocas como Lelo e Raffo.

Acompanhar as projeções, aliás, era uma das únicas opções para passar o tempo enquanto se aguardava as demoradas trocas de palco entre uma atração e outra, já que (tirando umas faixas de reggaetón e dancehall) as vezes não tinha nem música pra preencher o ambiente, só o zum zum zum do bate-papo.

Depois de muito atraso, o rapper MC Solaar subiu ao palco. Acompanhado por uma banda e MCs de apoio, o senegalês radicado em Paris decepcionou os que esperavam um show à altura de seus bem produzidos discos. Com discurso afiado e tendendo ao pop(erô), MC Solaar soou como uma espécie de Gabriel O Pensador da França, com tudo que isso tem de bom e de ruim.

Se o som mal passado e embolado que saía do PA não ajudava, as coreografias constrangedoras (com direito a beijo na boca no final de uma baladinha) e a barreira da língua afundaram a apresentação de vez. Além disso, existe um outro fator: o público de hip hop do Rio, quem sabe diferente de São Paulo, é predominantemente fanfarrão. Não à toa, nomes de qualidade como Quinto Andar ou Inumanos penam pra conquistar espaço. A equação banda ruim + público chocho não podia mesmo acabar bem.

As coisas melhoraram bastante quando o Super Discount 2 começou a tocar. Formado por Ettiene de Crécy e Alex Gopher, o grupo contou com a participação de Alex Kid para sacudir o lugar com sua mistura de electro, house e esbarrões na batida reta do techno. Só a versão breakbeat de “Aero Dynamik”, do Kraftwerk, e uma música que convocava insistentemente “sensimilla, marijuana” valeram o set. A apresentação talvez tenha sido um pouco longa demais, fazendo com que o Super Discount perde-se o foco no final. Nada grave, no entanto.

Bem grave foi a entrada da dupla Gil le Gamin e Olivier M, do The Youngsters, que abriram seu set com uma freqüência baixa e continua, acalmando os ânimos antes de iniciar os trabalhos. Artista do selo F-Communications, do Laurent Garnier, o Youngsters atacou de electro com influências de rock e breakbeat utilizando um computador, toca-discos, uma mesa de som, abusando dos scratches e do vocoder. Sem soar retrô e tocando bem pesado, a dupla fez o lugar pegar fogo, literalmente. Um incêndio, rapidamente controlado, perto do curral VIP, encheu o lugar de fumaça e cheiro de queimado.

Ao final da apresentação, as 5h, as luzes foram acesas e o público que ainda estava lá descobriu que os atrasos cobraram seu preço. As atrações anunciadas Alex Kid, Ben Dubphonic e Soul Slinger foram simplesmente canceladas.

Musicalmente, foi um evento de altos e baixos, normal. Já em termos de produção, foi uma noite pra ser enterrada. No túmulo da música eletrônica.

fotos: Carol Mariotto e Bruno Natal

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