domingo

21

setembro 2008

0

COMMENTS

Rolling Stone – Setembro/2008 (gongada)

Written by , Posted in Imprensa, Música, Resenhas

Resenha do disco “Ritmo, Ritual e Responsa” do Charlie Brown Jr que escrevi sob encomenda da Rolling Stone e que acabou não publicada.

Charlie Brown Jr.
2 ESTRELAS e meia
“Ritmo, Ritual e Responsa”
EMI

Coisa de cinema

Nos quase dez anos que separam a estréia “Transpiração contínua prolongada” e “Ritmo, ritual e responsa”, nono disco do Charlie Brown Jr., muita coisa mudou para banda.

No início, a mistura de rock, funk-metal, hip-hop e reggae do CBJR, apesar de soar como uma versão aguáda de uma combinação imaginária entre o Rage Against the Machine, Beastie Boys e Red Hot Chilli Peppers, se destacou simplesmente por soar diferente do que as bandas de rock da época estavam fazendo.

Não demorou muito e a molecada se identificou com a banda, sobretudo os skatistas, já que o esporte é citado em quase todas as letras. A banda, porém, teve curto fôlego criativo. A cada disco novo – praticamente um lançamento por ano – as letras e riffs pareciam reciclagem de trabalhos anteriores, tornando tanto o discurso quanto as músicas repetitivas. A predileção por um exagero no número de canções em cada disco, chegando a mais de 20 faixas em alguns deles, também colaborou para canseira.

Independente disso, o Charlie Brown Jr. se fixou como um dos principais nomes do pop-rock nacional, com música na abertura do seriado “Malhação”, da TV Globo, estrelando campanha publicitária e com singles sempre bem colocados nos Top 10 das rádios. Tanto sucesso pode ter causado acomodação.

Sinal disso é a entrada tardia do grupo no mundo digital. O site oficial do grupo foi criado há menos de dois anos. Ou seja, o CBJR, que já não cresceu no ambiente da internet, chegou bastante atrasado aos tais “novos tempos”. Enquanto papava mosca, outros nomes com Fresno e NX Zero (que têm diferenças, mas são essencialmente iguais quando se fala do universo radiofônico) construíam seu público, com ares de novidade, tomando o espaço do Charlie Brown Jr.

Some a isso o custo da antipatia gerada pela super exposição e por atitudes do vocalista e líder da banda, Chorão, como a agressão ao músico Marcelo Camelo (do Los Hermanos). O entra e sai de integrantes, fez a banda parecer uma empresa aos olhos dos fãs, onde os músicos são meros funcionários. O resultado dessa equação é um público difuso, superficial, formado basicamente por ouvintes de rádio. A banda perdeu o contato com a garotada e ficou sem referencial.

É nesse contexto que chega as prateleiras “Ritmo, ritual e responsa”, trilha sonora do longa (ainda inédito) “O magnata”, estréia de Chorão no cinema, como roteirista. Estrelado por Paulo Vilhena, o filme conta a história de uma estrela do rock, imatura e encrenqueira (levando alguns a falar em auto-biografia).

Ao contrário dos videoclipes, por se tratar da trilha de um filme, as músicas desse disco tem a obrigação de servir as imagens. Isso deve ter levado a banda a experimentar, ainda que timidamente, novas opções para a combinação hardcore-ska-reggae-rap característica do Charlie Brown Jr.

Produzido por Chorão e pelo guitarrista Thiago Castanho, “Ritmo, ritual e responsa” se apóia em participações especiais para encontrar esses caminhos. São muitos convidados: ForFun (“O universo a nosso favor”), Sacramento MCs (“Vivendo a vida numa louca viagem”), João Gordo (“Vida de magnata”) e Marcão, do Lobotomia (“Que espécie de vermes são vocês”), entre outros.

A toada baile funk do vocal de MV Bill em “Sem medo da escuridão” chama atenção, mas são as batidas eletrônicas do DJ Zyz em “Nua, linda, inigualável” e “Panormal” que realmente causarão estranhamento nos fãs do CBJR. A mistura de rock com trance, no pior estilo Tiësto, é um desastre.

Há também quatro faixas instrumentais, entre elas um funk setentista, “Liberdade e tudo”, novamente destoando do repertório da banda, dessa vez positivamente. As 23 faixas passam durante cerca de uma hora e vinte minutos de lições de moral das letras, tornando o disco longo demais.

Tecnicamente, não há como dizer que é ruim. É bem gravado e a banda é competente, tornando perfeitamente compreensível seu sucesso entre os adolescentes. O que causa estranhamento é a distância entre as mensagens pregadas nas letras e a postura dos integrantes. Mas isso também pode ser mera ficção.

Deixe uma resposta

Deixe uma resposta