Rolling Stone, Outubro/2007
Written by urbe, Posted in Imprensa, Música
Fui convidado para votar e resenhar algumas bolachas para lista dos 100 maiores discos da música brasileira, publicada na Rolling Stone Brasil 13.
Com a edição fora das bancas, seguem os textos.
De brinde, a minha lista completa, sempre mutante.
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Os 20 (em nenhuma ordem específica):
“A tábua de esmeralda”, Jorge Ben
“Coisas”, Moacir Santos
“Da lama ao caos”, Chico Sciense & Nação Zumbi
“Bloco do eu sozinho”, Los Hermanos
“Nadadenovo”, Mombojó
“Disfarça e chora”, Cartola
“Lado B, Lado A”, O Rappa
“Ando meio Desligado”, Mutantes
“A bad Donato”, João Donato
“Prelude”, Deodato
“Racional”, Tim Maia
“Os afrosambas”, Baden Powell e Vinícius de Moraes
“Chega de saudade”, João Gilberto
“Construção”, Chico Buarque
“Estudando o Samba”, Tom Zé
“Transa”, Caetano Veloso
“A dança da solidão”, Paulinho da Viola
“Roberto Carlos (1970)”, Roberto Carlos
“Funk Brasil”, DJ Marlboro
“Edison Machado é samba novo”, Edison Machado
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“Transa”
Caetano Veloso
1972 – Phillips
Gravado em Londres em 1971 e lançado no Brasil em 1972, “Transa” foi o terceiro e último disco gravado por Caetano Veloso no exílio e o primeiro a sair após seu retorno ao país (desconsiderando “Barra 69”, que saiu antes, mas foi gravado ao vivo com Gilberto Gil, antes dos compositores irem “passear” na Inglaterra, à convite da ditadura). Se pode-se dizer que algo de bom pode ser extraído de um exílio, o encontro de um tropicalista com uma cultura extrangeira, in loco, é um bom exemplo. Intercalando letras em inglês (cinco no total) com versos do poeta Gregorio de Mattos (“Triste Bahia”) e um samba de Monsueto de Arnaldo Passos (“Mora na filosofia”), “Transa” é auto-biográfico até o osso. Fala sobre estar sozinho e longe de casa (“You don’t know me”) e de como incorporar o choque cultural, como a citação ao reggae na Portobello Road, em “Nine out of ten”, que Caetano já afirmou ser a primeira gravação brasileira a citar os compassos do ritmo caribenho. Talvez pela distância, pela falta de olhares vigilantes, Caetano nunca tenha sido tão Caetano.
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“Da Lama ao Caos”
Chico Science & Nação Zumbi
1994 – Chaos (Sony)
1994 foi um ano de renovação musical intensa, um momento chave para música brasileira. E o principal fato dessa renovação foi o lançamento do disco “Da lama ao caos”. Reza a lenda que a gravadora contratou Chico Science & Nação Zumbi no escuro, pensando ter encontrado, em Recife, uma resposta para o fenômeno de vendas do axé É o Tchan!, colocando no mapa não apenas uma das mais criativas bandas do país, mas boa parte da cena de Pernambuco, o Mangue Bit e seu manifesto. A mistura de maracatu, rock, hip-hop, dub e música eletrônica era tão inovadora e abrangente que continua repercutindo até hoje.
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“A Bad Donato”
João Donato
1970 – Blue Thumb Records (EUA)
Morando nos EUA, Donato ganhou carta branca da gravadora para fazer o disco que quisesse, com direito a uma boa verba para adquirir equipamentos,. Decidiu então fazer experimentos com sintetizadores e pianos elétricos. Montou uma banda assustadora (incluindo Dom Um Romão, Emil Richards, Bud Shank e integrantes da orquestra de Stan Kenton), convidou o arranjador Eumir Deodato e gravou “A bad Donato”. Declaradamente influenciado por James Brown e Jimi Hendrix, o disco (tido como um marco do jazz fusion) faz uma fusão genial do funk com música brasileira.
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“Bloco Do Eu Sozinho”
Los Hermanos
2001 – Abril Music
Após uma exposição nacional massiva e massificante, provacada pelo hit Anna Júlia, o Los Hermanos surpreendeu sua gravadora, a imprensa e, principalmente, seus fãs com a mudança de direção proposta pelo “Bloco do eu sozinho”. Em vez de seguir a fórmula do sucesso, que implorava por outra anna-qualquer-coisa, a sonoridade ska-hardcore-pop do primeiro disco deu lugar a andamentos quebrados, melodias intrincadas e letras reflexivas. Como num recomeço, voltaram a tocar em lugares pequenos e renovaram de seu público, que se cristalizaria no terceiro disco e tomaria proporções messiânicas no quarto. O culto começou aqui.
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“Ando Meio Desligado”
Os Mutantes
Polydor – 1970
Não é tarefa fácil competir com discos como “Jardim Elétrico” ou o homônimo “Os Mutantes”, porém faixas como “Desculpe babe” e “Ando meio desligado” – talvez o maior clássico da banda – pesam a favor. Admirado no exterior por nomes como Beck, David Byrne e Kurt Cobain, o disco tem arranjos de Rogério Duprat e marca o distanciamento dos Mutantes do movimento tropicalista, aproximando-se mais do rock e da psicodelia, embora seja praticamente impossível definir um estilo, tamanha é a variaçao temática das canções. Você nunca mais verá seu refrigerador da mesma maneira.
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“Quem é Quem”
João Donato
1973 – Odeon
O time reunido em “Quem é quem” por João Donato é forte, como quase sempre é em seus discos. Dori Caymmi e Laércio de Freitas assinas arranjos e Marcos Valle é o assistente de produção, enquanto o baixista Bebeto, o percussionista Naná Vasconcelos e outros músicos acompanham o pianista no estúdio. Donato finalmente se permite cantar, inaugurando um estilo inconfundível. Lançado um ano depois do retorno de Donato ao Brasil, após mais de uma década nos EUA, o disco é um reencontro do pianista com o samba-jazz, envenenado e entortado por seus experimentos elétricos no exterior.
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