segunda-feira

27

agosto 2007

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Rolling Stone, Julho/2007

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Matéria sobre o astro João Brasil e resenha do último show do Los Hermanos que escrevi para a Rolling Stone Brasil 10.

Com a edição fora das bancas, seguem os textos.

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foto: Lucas Bori
João Brasil e Seus 8 Hits

“Tipo de mulher predominante no mundo. Banida das capas de revistas, é a anti-heroína, o mal necessário. Elas sempre te divertem”.

Essa é a definição de baranga no dicionário do carioca João Brasil. “Baranga”, a música, foi lançada ano passado. Com o refrão hilário “Baranga / Cheia de marra / Cintura de ovo / Pega quem quiser / Mas tem que chegar”, transformou-se num sucesso na internet e aos poucos vai ganhando o mundo real.

“Fiz ‘Baranga’ e a turma foi gostando. A música foi parar em sites e blogs e começou a crescer. Depois fiz ‘Supercool’ e as pessoas pediram mais. ‘Mamãe virei capitalista’, com participação do De Leve, veio nessa leva”, explica o hitmaker.

A rede tem tido papel importante também na formatação de João Brasil como artista. Seu estilo musical foi definido por um fã, através de um comentário no YouTube, como ”Nova Guarda”. O complemento do nome artístico, João Brasil e Seus 8 Hits, também foi pescado do recado de um admirador no MySpace.

Os temas das letras são variados, tratados sempre com ironia, seja descrevendo os antenados (“Supercool”), paixonites por prostitutas (“Elisa”), fanfarronices (“Cobrinha fanfarrona”) ou bebedeiras (“O carnaval acabou com o meu fígado”). Sem falar nas brochadas (“Pau molão”). Todas, diz João, autobiográficas. “Quero fazer as pessoas rirem, se divertirem. Algo animado, pra relaxar. Acho que falta humor e mais músicas alegres, como o funk”.

As produções simples, misturando timbres eletrônicos do começo da década de 90 com batidas de funk e levadas de soul, soam calculadamente toscas, a atmosfera kitch servindo à perfeição as letras e as melodias grudentas.

Produtor de mashups, dono do estúdio Lontra, no Rio, com um diploma de publicidade e outro da prestigiada faculdade norte-americana Berklee College of Music pendurados na parede, João às vezes é cobrado por um material mais elaborado. Ele discorda.

“Faço minhas músicas de maneira séria. As pessoas imaginam Berklee como um antro de jazz, que o cara tem que sair de lá um virtuoso. Não é assim. Tem gente que vai lá pra aprender a fazer música pop, rock, eletrônica. Estudei várias linguagens, técnicas e instrumentos. Foi bom para ter a liberdade de ser auto-suficiente”.

Suas músicas chamaram a atenção de veículos como O Globo e ele já tocou ao vivo no cultuado programa de rádio de Maurício Valladares, Ronca Ronca. A aproximação com o grande público veio quando “Baranga” foi adotada como hino da campanha “faça uma encalhada feliz”, do programa “Mucho macho”, apresentado por Marcos Mion na MTV.

“Na primeira vez, o Mion anunciou a música dizendo que havia sido enviada por mim, só que eu não sabia de nada. Só depois, um garoto me escreveu contando que tinha sido ele quem tinha mandado falando que era eu!”, conta João.

Outro sucesso, “Mônica Waldvogel”, feita em homenagem a jornalista, foi elogiada pela própria musa inspiradora. “Ela me escreveu um e-mail falando que adorou e dizendo que ‘ia acabar ficando famosa’. Agora só falta tocar no ‘Saia Justa’! (risos)”.

Os planos para o futuro incluem participar dos festivais do circuito independente e enfrentar os roqueiros armado apenas com seu teclado e laptop. “Vou na cara e na coragem. Só estou conseguindo agradar ao público porque estou agradando a mim mesmo”, conclui Brasil.

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Samba a dois

Los Hermanos
Fundição progresso – Rio de Janeiro – 07, 08 e 09 de junho
5 estrelas

Do lado de fora da Fundição Progresso, os bares permaneceram vazios durante as três noites. A tradicional social, tão característica das noitadas cariocas, foi substituída por uma apreensão.

Ao invés de beber e conversar, o público preferiu aguardar o início das apresentações de pé, encarando um palco vazio das 22h até pouco depois da meia-noite, como se o Los Hermanos pudesse entrar a qualquer momento. Ansiosos, os fãs chegaram a vaiar a demora.

A tensão no ar, misto da tristeza de alguns, com a esperança de outros da separação não durar muito, era quebrada por um urro monstruoso, assim que as luzes de serviço se apagavam. O volume da gritaria, já bastante alto, crescia ainda mais quando a banda finalmente entrava em cena. Como se fosse a última vez.

Quando no dia 23 de abril, as vésperas de entrar em estúdio para gravar seu quinto disco, o Los Hermanos anunciou através do seu saite que entraria em um “recesso por tempo indeterminado”, pegou seus fervorosos admiradores de surpresa.

Sem saber se os dois shows divulgados no mesmo comunicado (que logo se tornaram três, tamanha a velocidade com que os ingressos se esgotaram) seriam a última chance de ver o quarteto na formação clássica, o evento foi tratado por fãs e imprensa como uma despedida oficial. Mesmo com os integrantes da banda declarando que o plano não seja esse.

Apesar da péssima acústica, a Fundição, na Lapa foi o único palco no Rio capaz de obedecer a dois critérios: ter feito parte da história da banda e capacidade de comportar um público estimado em cinco mil pessoas por noite. Foi ali que o Los Hermanos fez um dos seus shows mais importantes, no festival SuperDemo, em 1998, antes da crucial apresentação no Abril Pro Rock, que os revelaria para o Brasil.

O desespero dos seguidores dava lugar à alegria quando (de terno, gravata e sapato, como o pastor de um culto) Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante (de blazer branco), Bruno Medida e Rodrigo Barba pisavam o palco.

Era hora de aproveitar a chance de jogar mais uma vez serpentina e confetes para o alto durante “Todo carnaval tem seu fim”, de gritar “vai!” no final de “A flor” e de berrar cada palavra das letras. E foi isso que o público fez, em três noites em que foram maiores que a banda.

A platéia era o palco e o palco era a platéia. Emocionados, os hermanos riam e saudavam os fãs com “vocês são foda!” (Camelo) e “não dá pra se acostumar com isso não” (Amarante), além de comentar sobre as diversas bandeiras de outros estados, das pessoas que viajaram especialmente para esse encontro.

Embora a ênfase tenha sido nos três trabalhos posteriores, combinando o repertório dos três shows, mais da metade das músicas do primeiro disco foram tocadas, uma raridade. A supostamente renegada “Anna Julia” foi tocada todas as noites, recebida com a mesma empolgação dos outros sucessos do grupo.

Foram três shows históricos, de celebração da banda com seu público. Independente de a banda ter ou não acabado, seria até besteira falar do aspecto musical numa situação dessas. Mesmo porque, as canções, abafadas pelos gritos da torcida, eram praticamente inaudíveis.

Nessas três noites, nada disso importava. O lance era entre eles dois. O Los Hermanos e seus fãs.

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