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março 2009

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Rolling Stone, Fevereiro/2009

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Matéria sobre o relançamento de “Vôo de coração, grande clássico do Ritchie, que escrevi para Rolling Stone.

Menino veneno

Para comemorar os 25 anos de lançamento de “Vôo de coração”, Ritchie preparou uma edição especial do seu primeiro disco, que inclui o hit “Menina veneno” e que vendeu aproximadamente 1 milhão e meio de cópias (“no ano do lançamento, mais do que Roberto Carlos”, diz Ritchie). Em sua casa, no Rio, o inglês fala sobre os anos 80, parceiros musicais que se tornaram gigantes da música brasileira e sobre vender mais do que Roberto Carlos.

O que esse relançamento tem de especial?

Ritchie – É a versão definitiva, porque conseguimos recuperar um pouco da pressão do LP que estava perdido nas versões anteriores. Não é simplesmente um relançamento de gravadora. Foi um projeto meu, do Lee Martinez e do Carlos Eduardo Andrade (respectivamente, produtor executivo e produtor musical do disco), foi o primeiro trabalho de todos nós. É um presente para os fãs, não estou querendo reviver as vendas. Ficou comprovado que se pode fazer uma edição de luxo, com encarte caprichado e músicas bônus, por um preço popular. Com isso, os fãs talvez pensem duas vezes antes de baixar na internet.

Nomes que viriam a se tornar nomes conhecidos – como Lulu Santos, Lobão e Liminha – tocaram do disco. Sendo estrangeiro, como você conheceu essa turma?

Naquela época éramos todos principiantes, nossa revolução foi trazer o rock para o ouvido dos brasileiros. Lulu e Lobão viram um show meu em 1974, em São Paulo, de uma banda que tive, o chamada Scaladácida, depois formamos o Vímana juntos. Conheci o Liminha e os Mutantes em um estúdio em Londres, em 1972 e acabei vindo ao Brasil para visitá-los. Depois ele foi meu aluno de inglês.

Você foi um dos pioneiros do uso de sintetizadores no rock brasileiro, o que se tornou uma marca da sonoridade dos anos 80.

Eu ouvia muito Depeche Mode, Duran Duran e o (tecladista) Lauro Salazar trouxe essa informação com ele da Alemanha. As guitarras entraram para dar um apoio. Esse é o aspecto mais datado do disco. Hoje em dia minha banda tem duas guitarras e um teclado.

Os anos 80, aliás, voltaram com tudo.

O Edgar Scandurra disse que “os anos 80 são os anos 60 dos anos 2000”. Os anos 80 já refletiam a sonoridade dos anos 60, as canções de três minutos, a fórmula do pop. Naquela época, tanto quem tinha quatro, cinco anos, quanto quem tinha 80, ligavam o Chacrinha e viam a gente. Isso criou um carimbo no inconsciente coletivo muito forte. Se há um motivo da durabilidade dos anos 80, acho que é um pouco por isso. Todas as classes sociais assistiam e isso é uma coisa que foi elitizada quando a música migrou dos programas de auditório para as TVs por assinatura. O gari, o médico, crianças e velhos assistiam um leque de talentos, da música brega ao mais experimental. O pop perdeu uma veia popular que foi uma grande pena. Não sei se foi uma manobra política intencional das gravadoras para redistribuir os gêneros musicais mais ampla, porque o rock, contra tudo e contra todos, estava tomando conta de tudo.

O que você acha de ser chamado de ser visto como artista de um só sucesso?

Só nesse disco cinco músicas foram para o primeiro lugar, então de cinco sucessos, pelo menos! (risos). Mas eu entendendo o que significa isso, porque “Menina veneno” foi maior que tudo isso.

Aproveitando a oportunidade, a pergunta inescapável: o que é o “abajur cor de carne”, da letra de “Menina veneno”?

Sabia! Eu tinha um abajur meio rosado e quando a luz atravessava, parecia umas veias. Diz o Bernardo (Vilhena, letrista da musica) que não era esse, mas um outro abajur. Nós fizemos essa musica dentro do meu quarto, em São Conrado, . Mas não é carne, de bife não, era cor de pele. A idéia era algo sensual, mas tem gente que pensa num bife.

O Caetano já falou que achava que a letra era sobre heroína! O Bob Dylan já falou que quem sabe o significado das letras é o ouvinte. Não gosto muito de definir os significados.

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