Rolling Stone, Abril/2007
Written by urbe, Posted in Imprensa
Matéria sobre o segundo disco do cantor de reggae Ras Bernardo que escrevi para o sétimo número da Rolling Stone Brasil.
Com a edição fora das bancas, segue o texto.
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Ras Tafari
Os grupos de reggae brasileiros que tem a chance de gravar um disco, na maioria dos casos, buscam incessantemente copiar a sonoridade com a qual Bob Marley conquistou o mundo. Os cariocas do Digitaldubs e os paulistas do Echo Sound System são a exceção que prova a regra. Ras Bernardo, vocalista original do Cidade Negra, resolveu se juntar a essa crescente turma, em “Jah é luz” (Muzamba).
“O roots não tem que ser o Bob Marley da década de 70. Temos que fazer o roots da ‘nova era’, o som não pode ficar no passado. Os próprios filhos do Bob fazem coisas novas. A galera tem evoluir musicalmente e nas letras. O brasileiro sabe fazer reggae, vou sempre acreditar nesse potencial”, explica Ras.
Fugindo dos estereótipos do gênero no Brasil, o disco põe o foco no baixo e na bateria, resgata a sonoridade de produções setentistas e capricha nos efeitos espaciais. Ainda que soe cru demais em alguns momentos (percussão, metais e vocais de apoio fazem falta), “Jah é luz” e suas linhas de baixo monstruosas é, sem dúvida, um passo à frente em relação a seus pares nacionais. Se “Só pra te provar” tem potencial radiofônico, “Pedido de Jah” pode agradar ao mais exigente amante do reggae.
Para atingir esse resultado, Ras se cercou da tal nova turma. A produção ficou a cargo de Nelson Meirelles (fundador d’O Rappa e integrante do Digitaldubs) e Ricardo Barreto, que também tocaram baixo e guitarra, respectivamente. A mixagem, ponto fundamental quando se fala de reggae, foi feita por Marcus Paulo Cientista (Digitaldubs, F.UR.T.O.), e a masterização foi feita na Alemanha, por Neil Perch, líder do Zion Train.
“Busquei inspiração no que o canadense Twilight Circus vem fazendo — um trabalho atual junto a artistas clássicos”, conta MPC.
Foram 11 anos entre o lançamento de sua estréia solo (logo após abandonar o Cidade Negra por divergências em relação à sonoridade da banda) e seu segundo disco, “Jah é luz”. Para Ras, a espera valeu a pena.
“Acho ótimo o Cidade ter conseguido fazer sucesso com essa fórmula, mas não é meu estilo. Mantive meus ideais, o que talvez tenha me travado no mercado por tanto tempo. Esse tempo me permitiu pesquisar novas fontes e aprimorar o trabalho. Estou renovado.”
como é q arruma esse disco natalino?
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esquemageral@esquemageral.com.br
O Nelson Meirelles é, além de fundador do “O Rappa”, ex-empresário (ou produtor) do Cidade Negra, da época do Ras Bernardo. E o guitarrista Ricardo Barreto, ex-Blitz, costumava pertencer à banda de apoio do Cidade “das antigas”. Ou seja, o Ras Bernardo acabou utilizando uma dissidência do CN no novo disco dele. Agora, não, acho bom ter cuidado com essa história de olhar tanto para as novidades e denegrir (essa talvez não seja a melhor palavra) os “discípulos” de Marley. Tudo bem, esse reggae brasileiro opta geralmente por um caminho burro e fácil, mas o importante é se o resultado final é bem feito, musical. Não basta ter muitas referências e não saber fazer música, assim como não basta ficar idolatrando Bob Marley e o reggae roots a vida inteira. Digo isso porque acho que imprensa carioca anda um pouco desequilibrada neste sentido. Ou seja, idolatrando quem segue as novas tendências e subestimando que não as segue.
Entendi seu ponto, Marcos.
Porém, no caso específico dessa resenha, não é olhar para quem faz “novidades”. O disco do Ras não tem novidades, está calcado em sonoridades setentistas, sem soar como simples Marley cover. E isso, pra mim, já é novidade a beça.
Abs,