O Radiohead e o Rio
Written by urbe, Posted in Música, Resenhas
Radiohead
fotos e vídeos: URBe
Os deuses da músicas ouviram nossas preces e operaram um milagre na Apoteose. O show do Radiohead teve um som perfeito, como nunca se viu naquele lugar. O que um bom técnico de som não é capaz de fazer…
Thom Yorke não passou, segundo algumas fontes, duas horas fazendo aquecimento vocal em vão. Era indispensável que fosse assim para que as delicadas músicas do excelente “In rainbow” que ocupam boa parte do repertório soassem tão boas quanto aparecem no disco.
Infelizmente, o show perfeito em todos aspectos técnicos (a parte gringa da equação) contrasta com a produção capenga a que estamos acostumados (a parte brasileira).
Filas quilométricas para o banheiro, a impossibilidade de pegar bebidas com tranquilidade e a truculência dos seguranças justificam a percepção do público médio (aquele que se precisa conquistar para vender 35 mil ingressos) de que o programa é uma furada.
Ouvir um “vai se fuder” e outros poemas durante um show que custou a bagatela de R$200 (x2) só por ter perguntado se o armário iria ficar mesmo parado na minha frente bloqueando a visão não é uma furada, é um total desrespeito mesmo. Se a produção se interessar — o que eu duvido — anotei o número da camiseta do sujeito.
Los Hermanos, “Todo carnaval tem seu fim”
vídeo: marceloguy (enquanto o do URBe não sobe)
Segunda atração mais esperada da noite, ou a principal para muitos dos que enfrentaram a fila desde cedo para garantir um lugar no gargarejo, o Los Hermanos fez seu primeiro show em dois anos para uma Apoteose ainda vazia.
Contratados a peso de outro, a missão dos Los Hermanos era esgotar os ingressos que teimavam em não sair das bilheterias. Falharam duas vezes: as entradas não esgotaram e o aguardado show foi frio, com a banda desentrosada no palco, mesmo com muitos fãs fazendo o tradicional coral.
A única novidade foi “Cher Antoine”, tocada ao vivo pela primeira vez. De resto, foi abaixo da expectativa (que, sim, eram altas demais), com o show sendo muito prejudicado pela má qualidade de som.
Kraftwerk, “Aero Dynamik”
Espremido entre duas bandas cultuadas como poucas, a reação ao público Kraftwerk era a incógnita da noite. A música eletrônica totalmente sintética foi bem recebida pela turma mais acostumada as guitarras.
A apresentação tem toda a elegância, eficiência e simplicidade que se espera dos alemães. Tem quem diga que a cada turnê o show cai um pouquinho, devido a substituição dos teclados por laptops e, provavelmente, pelo fato de cada vez menos integrantes originais façam parte do grupo, restando apenas um.
Seja como for, toda vez que se assiste ao Kraftwerk o embasbacamento é o mesmo. É como se eles tivessem apertado e girado todos os botões de sintetizadores possíveis e imagináveis antes de todo o mundo.
Você escuta “Trans Europe Express” e pensa “pô, parece baile funk”, ouve “Tour de France” e se questiona como o povo do trance conseguiu estragar e desgastar tantos timbres bonitos, olha pro telão e vê de onde o Daft Punk ou Etienne de Crecy tiraram algumas de suas idéias.
O show curto incluiu as músicas mais conhecidas, como “Radioactivity”, “Autobahn” e “Musique non stop”. Faltou mesmo “Pocket calculator”.
O Kraftwerk serve como matriz para boa parte do que se ouve em música eletrônica hoje, sem soar velho ou antiquado, como se mesmo depois de gravadas essas músicas continuassem sempre a olhar pra frente.
No intervalo antes do início do show do Radiohead, Maurício Valladares fez o que pode ter sido o set de dub com mais ouvintes da história dessa cidade. Certamente Jonny Greenwood, guitarrista/tecladista do Radiohead e conhecido dubhead, aprovou a seleção.
Radiohead, “Idioteque”
O Radiohead entrou em cena com apenas 10 minutos de atraso em relação ao horário divulgado, garantindo uma noite tranquila para todos que dali ainda teriam que voltar para casa. Thom Yorke já chegou apresentando o Radiohead em português.
Nos dias anteriores ao show comentou-se bastante sobre o show no México que, pelo que se sabe, deixou a banda impressionada. Como bom brasileiro, logo pareceu que o troço iria se tornar uma espécie de competição, para decidir o público mais quente.
Logo na abertura, com “15 step”, com a Apoteose bem mais cheia, deu pra perceber que o público era respeitoso com a banda. Cantou-se todas a músicas, mas não aos berros. Bateu-se palmas, mas sem estalar alto as mãos. Os desatentos conversaram durante as baladas (ah, mas como não…), porém menos do que se esperava.
A relação beirava a cerimônia, ainda que os integrantes do Radiohead chamassem o público, como não é do costume deles. Era como se depois de tanta espera, todos quisessem guardar aquelas notas na memória e os próprios gritos fossem um obstáculo. As excessões foram os coros mais fortes em “Karma Police”, “No Surprises” e “Paranoid Android”.
Talvez o Radiohead tenha estranhado a calma da platéia, talvez tenham ficado mesmo decepcionados com o público carioca, conhecido pela empolgação. Sendo esse o caso, provavelmente eles jamais saberão o quanto esse pequeno cuidado dos fãs fala da admiração pela banda.
Radiohead: o telão
Foi uma beleza poder ouvir em detalhes as experimentações de Johnny Greenwood quando se afasta da guitarra e vai mexer nos pedais e nos teclados. As interferências de rádios locais que ele sintoniza durante o começo de “National Anthem” deixaram muita gente sem entender de onde vinha tanto português.
Já tendo visto outros dois shows do Radiohead ano passado, dessa vez resolvi me afastar do palco na parte final, para poder apreciar o cenário de longe. Bom, por isso e porque as costas já estava pedindo arrego mesmo.
Os telões laterais e do fundo do palco mostram a banda de tantas posições que daqui a pouco vai faltar ângulo pra filmar de maneira diferentes. Saturando cores ou fazendo meias fusões, os efeitos aplicados nas imagens são sempre simples e extremamente funcionais. Porque bom gosto, como se sabe, não vem instalado no seu Mac.
Visto de longe, do alto da arquibancada, o cenário ganhava uma moldura bem carioca. A direita brilhava o Cristo Redentor e a esquerda o Morro da Coroa, com seu luminoso “Coroa paz” saudando a platéia. Pena que a banda não teve essa visão, pois diz tanto da cidade.
Dessa distância, os efeitos luminosos do palco ganham outros contornos, assumindo formas imperceptíveis de muito perto. Conversando com Mateus Araújo, ele levantou a hipótese de que durante “Everything in it’s right place” um texto fica correndo pelo palco, em letras gigantescas. Conhecendo a banda, faria sentido. Fica aí mais um enigma para ser desvendado.
Como um presente para platéia, uma demonstração de carinho, o Radiohead encerrou o show com “Creep”, seu primeiro grande sucesso e música que eles raramente tocam.
Foram 25 músicas no total, ainda assim ficou faltando coisa. “Fake plastic trees” e “High and dry” para os fãs de novela, e “Climbing up the walls”, tocada na passagem de som.
“Bom pra caralho”, como disse a banda em bom português ao final do show. Foi mesmo.
—
As músicas:
“15 step”
“Airbag”
“There There”
“All I Need”
“Karma Police”
“Nude”
“Weird Fishes/Arpeggi”
“The National Anthem”
“The Gloaming”
“Faust Arp”
“No Surprises”
“Jigsaw Falling Into Place”
“Idioteque”
“I Might Be Wrong”
“Street Spirit (Fade Out)”
“Bodysnatchers”
“How To Disappear Completely”
Bis
“Videotape”
“Paranoid Android”
“House of Cards”
“Just”
“Everything In It’s Right Place”
Tris
“You And Whose Army?”
“Reckoner”
“Creep”
* Dá pra assistir boa parte da apresentaçãona página do cybertechno, um doido que tranformou em regra pessoal filmar na íntegra e colocar no YouTube todos os shows que vai (nesse ficaram faltando algumas).
Post mais completo e bacana sobre a noite de ontem. Foi do caralho mesmo. (e olha, eu não sou noveleiro, mas de fato senti falta de Fake Plastic e High and Dry… mas das minha 6 preferidas eles tocaram 4, mais do que eu esperava, então tá ótimo).
Que show do Andi Watson :-)))
Estalactite, interferindo na imagem de fundo, coisa que poderia dar totalmente errada e deu certo, parabéns a i-pix.com.
No mais o Greenwood mais que o Yorke, no surprises diriam alguns .
O Kraftwerk segurou a onda bem.
Tibet ? Vou pedir para alguém contar sobre a guerra do Paraguai ou do passado ingl~es para Tom Yorke, ou então tentar entender porque o Chris Martin não coloca mais a bandeira da Escócia em cima do seu tecladinho e olha que o IRA voltou por lah.
se existisse pra texto:
globo online FAIL
“uma bandeira da escola de samba mangueira foi estendida sobre uma caixa de som no palco, fazendo uma ponte com a passarela do samba”
oglobo.globo.com /cultura/mat/2009/03/20/radiohead-sacia-os-fas-com-show-de-duas-horas-na-praca-da-apoteose-754928725.asp
em tempo: muito bom o post, tirando que não sou noveleiro mas senti falta de high and dry rsrs.
abraço.
os fãs que ficaram perto de você pelo menos foram educados, ao dar uma dançada em idioteque e ter pisado em um pé, o sujeito me chamou e disse “tu vai ver que te acontece se fizer de novo”. agora, memorável o show, sem palavras pro radiohead e o kraftwerk ao vivo me conquistou, fantástica a integração de imagens e música.
em everything… os leds formavam EVERYTHING, que ficava correndo o tempo todo. segundo um amigo, em outras músicas ocorreu também, mas só fui reparar mesmo nessa.
Pois é, li essa resenha do Globo hoje e fiquei pensando se não tinha uma bandeira da Mangueira em algum lugar do palco que eu não consegui ver. Tremendo de um FAIL mesmo.
Só pra esclarecer, Alexandre e Marcos, também gosto de “Fake plastic trees” (nem tanto de “High and dry”). O que quis dizer com noveleiros referia-se a quem só conhece essas duas músicas.
duda, essa turma que vc citou são os responsáveis pelo visual? Ouvi dizer que o programa foi desenvolvido especialmente para banda e custou a bagatela de 3 milhões e meio de libras esterlinas. E que o chão do palco é imantado, para evitar que as estalactites balancem!
abs,
Abs,
Soh 3 milhões de libras esterlinas ??? :-)))
Jah são mais de 10 anos trabalhando com Andi Watson, o cara eh fera, e essa i-pix também, imagine as “estalactites” em laterais , as variações devem podem ser inumeras.
Esses efeitos de saturação me lembrou Elogio ao Amor de Godard no qual ele coloca o mar em vermelho e a terra em azul, para logo depois no filme seguinte Nossa Música que se passa na Saravejo destruida, ficar paralisado-blasé diante da pergunta de um “aluno” que pergunta a ele em um workshop se a tecnologia digital poderia revolucinar o cinema.
Valeu Kraftwerk, Valeu Radiohead !!!
Soh mais uma coisa, pessoal reclama do Rio , mas corinho de Radiohead, Radiohead, soh em São Paulo e depois ainda teve corinho de Thom e Johnny, que fofoletes …
O show foi maravilhoso, me senti mais pobre financeiramente e rico de espírito do que nunca! Se alguém se interessar na percepção do show feito por um músico de terceiro mundo aqui está: http://fmjoaobrasil.blogspot.com/2009/03/radio-cabeca.html
bandeira da mangueira foi surreal! com as luzes do palco não dava pre identificar (eu tava na arquibancada) exatamente o que era, mas depois o verde e rosa ficou claro! rsrsrs. se o tom yorke me aparece com camisa do falmengo aí já era…
O show foi fantástico.
Agora fiquei realmente chateado por ter sofrido tentativa de extorsão de alguns seguranças (os de camisa verde) por estar portando a incrível quantidade de 01 baseados (e dos pequenos) – “vamo resolve isso aqui, você tá com essa substância ilegal, se não vou ter que te tirar do show” – Pra minha sorte chegou um “supervisor de segurança” mais ajuizado, jogou tudo fora, e me deixou curtir o show em paz.
Fiquei de queixo caído quando vi na comunidade Radiohead, do orkut, algum babaca fazer um post comentando sobre um acontecido parecido perto dele (onde um casal estava provavelmente sofrendo o mesmo tipo de extorsão – porque na verdade o q esses seguranças queriam era dinheiro, e não manter a lei.) O cara diz que os seguranças deveriam sim ter retirado o casal do show, e pra piorar fez um vídeo da cena e colocou no youtube!!! (????????)
E depois, durante o show, to la curtindo felizão, dançando feito um Thom York, e tenho q escutar um cara reclamando deu estar encostando nele durante as músicas.
Agora eu me pergunto, o que fizeram desse tal de rock ‘n roll?
oi, bruno.
de fato, em ‘everything in its right place’ a letra da música passava pelas colunas de acrílico do palco. de onde eu tava, um pouco à frente da torre do som, dava pra ler.
abraços
guilherme
Mattoso, a bandeira era do TIbete, não da Mangueira. Já pensou o Radiohead rodando o mundo com uma bandeira da Verde e Rosa?
http://www.flickr.com/search/?q=radiohead+tibet
I Might Be Wrong, manda o link para esse vídeo para cá JÁ!
Abs,
vídeo
http://www.youtube.com/watch?v=BJ7NhiMD9xQ
post no orkut, comunidade radiohead:
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=265&tid=5315404504348121927
agora, fala sério. de onde vem tanta repressão???
que gafe! mas sem querer carregar a vergonha sozinho… o que ouvi de gente comentando sobre a referência á verde e rosa na saída do show… bizarro, né?
Bruninho, belissima resenha! Parabens! Sintetizou bem o q foi o show.
Eu nao vi Loser Manos, mas fiquei mto bem impressionado com a apresentaçao, tanto musical quanto visual, do Kraftwerk. Que os musicos (pq nao?) de eletronica de hj, aprendam como se faz um show.
Quanto ao Radiohead…. so posso dizer q foi um dos melhores shows da vida. E, pela 1a vez, ouvi um som de qualidade na Apoteose, tirando uma estigma q me perseguia la.
Os teloes laterais lembravam um clipe de musica (pq nao ate um deles – Jigsaw..?!)… sensacional!
Enfim, belissima noite! Felizmente nao tive nenhum brutamontes na minha frente, mas passei o mesmo calor com banheiro, birita, etc..
Grande abs
Ah, so mais uma coisa: a banda toda é excelente, mas o Greenwood é GENIO!!! O q q ele faz com guitarra, pedais, teclados, etc?!!!! Ele e o Yorke sao pontos fora da curva…
Abs
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
Seções
Arquivos
Posts recentes
Comentários
Tags