Praga
Written by urbe, Posted in Urbanidades
Hipster olympics
A revista Adbusters analisa o fenômeno global dos hipsters, cujas referência retrô 80, 90 com pitadas de nerdice cool (não é um contra-senso, acredite), é comumente confundida com o inexistente “movimento” nu-rave.
Um trecho, resumindo bem os hipsters:
“Dê uma volta por qualquer grande cidade norte-americana ou européia e você certamente verá diversos fashionistas de vinte e poucos anos pelas ruas exibindo diversas marcas registradas estílisticas: jeans skynny [bem apertados], leggins de algodão, bicicletas de corrida sem marchas, roupas de flanela, óculos falso e um keffiyeh — inicialmente utilizado por estudantes judeus e manifestantes ocidentais para demonstrar solidariedade aos palestinos, o keffiyeh tornou-se um acessório cliché dos hypsters, completamente desprovido de sentido”
É uma bela bordoada. O engano do autor é esperar dessa turma algum engajamento nunca prometido. Nem tudo que acontece a margem do grande mercado (se é que existe isso hoje em dia) é contra-cultura.
É impressionante como esse estilo está presente nas principais capitais do mundo, inclusive no Brasil, numa pasteurização estética que o movimento hippie levou uma boa década para atingir. Não haver ideologia além do hedonismo, combinado com a internet, deve ter ajudado bastante.
O argumento do cara é sedutor, e tem lá sua razão de ser. De fato, é fácil observar o individualismo, a falta de engajamento político e excesso de preocupação estética dessa rapaziada. Tudo isso é inegável. Mas daí a dizer que os “hipsters” (seja lá o que isso signifique) representam o fim da civilização ocidental vai uma distância enorme.
Eu sempre desconfio de argumentos catastróficos. Em geral, eles são mais uma visão nostálgica do passado do que um diagnóstico preciso do presente.
Jovens que não estão nem aí para o mundo e só se importam com o seu próprio prazer (sexo e drogas), ora porra, isso sempre teve. Toda geração teve os seus desregrados, loucos e hedonistas. O artigo do cara dá a entender que, antigamente, o ato de despirocar tinha um cunho político (e utópico), como no caso dos hippies – hoje, não teríamos mais nada disso. Mas acho um equívoco ver as coisas desse modo. Uma coisa é dizer que um segmento da juventude, os hipsters, é alienado em termos políticos. Outra, totalmente diferente, é generalizar o raciocínio, e dizer: “nós perdemos uma geração”.
Acho que o autor do artigo se apegou ao conceito de contracultura tal como ele se apresentava nos anos 60, isto é, ligado às drogas etc e tal. E se esqueceu de enxergar que a contracultura, hoje, está nos movimentos sociais: negros, homossexuais, feministas, ambientalistas e anti-liberais, porque são eles que estão lutando para redefinir a agenda política da democracia.
O pau quebra toda vez que tem uma reunião do G-8.
Abs,
Ah, só mais um adendo.
O bom e velho Simmel (“Georg”, para os íntimos) já dizia, lááá em mil novecentos e poucos, que a essência do mecanismo da moda é a diferenciação. Você procura um determinado estilo para se diferenciar de todos os outros estilos, e assim, afirmar quem você é. No momento que um estilo que era, no início, restrito a alguns poucos, se dissemina e populariza, aqueles que o seguiam inicialmente vão procurar um outro estilo — afinal, precisam se diferenciar. A moda alimenta a si própria dessa forma. Porque eu tô dizendo isso? Porque em breve o “cool” ou o “movimento” será outra coisa — e, ao fim e ao cabo, é bem provável que este artigo que o Bori linkou tenha servido apenas para apressar este processo.
Curioso, não? O cara que o escreveu certamente é um crítico que considera a si próprio como estando fora deste processo, mas, dessa perspectiva que eu estou propondo, ele na verdade é uma das engrenagens desse processo, que faz a roda girar uma vez mais.
Abs,