Popular
Written by urbe, Posted in Urbanidades
Assistindo a entrevista da diretora da série “Ó paí ó”, Monique Gardenberg, no Programa do Jô, meio sonado, ouvi algo que achei estranho.
Resolvi conferir no saite do programa outra vez hoje, bem acordado. Antes de continuar a leitura, preste atenção no que é dito no vídeo abaixo entre 2 minutos e 25 segundos até 3 minutos e 50 segundos:
É uma análise extremamente elitista em relação a cultura popular — que só não costuma ser “bem recebida” pelas classes altas, minoria no país. E, diga-se sobrevive muito bem sem essa aprovação, independe disso.
Embolando-se para tentar justificar a colocação infeliz, Monique improvisou um “do ponto de vista da arte em si, você trazer a coisa popular nem sempre é algo que seja bem recebido”, citando como exemplos a banda Calipso e Roberto Carlos (!!!).
Roberto Carlos não é bem recebido por quem? Até o Jô Soares, manso faz tempo, espetou: “realmente, ele não vende um disco…”.
A cultura popular não precisa e não depende da chancela das elites. É inacreditável alguém nessa posição ainda enxergar como uma benfeitoria, ou alguma espécie de ajuda, o ato de dar espaço para essas manifestações em um veículo de comunicação de massa.
Trata-se de uma simples adequação a realidade atual. Praticamente uma obrigação, comercial inclusive.
Tremendo contrasenso esse tipo de pensamento vindo de uma das principais produtoras culturais do país, responsável por um dos maiores festivais de música e agora dirigindo uma série… popular.
Bruno, acho que ela foi infeliz no comentário. Infeliz e contraditória. Me parece inclusive que em determinado momento ela se enrola, se arrepende do que estava dizendo, mas aí não dá mais tempo de voltar atrás. Mas a série fala por si, é melhor do que qualquer bobagem que ela diga. De qq forma, não sei se dá para julgar a visão dela de cultura apenas por essa grande escorregada…
abraço,
Lucas
Oi Lucas,
Não é minha intenção julgar ninguém sobre nada, nem tenho esse direito. Fiquei surpreso com a colocação — que torço para realmente ser uma escorregada — por isso comentei.
É aquele negócio, né, escorregou, custava voltar atrás? Quando confrontadas, as pessoas tendem a se retrair e firmar seus pontos de vista, como se se corrigir fosse um grande defeito. Por isso que discussão nenhuma costuma dar em nada.
Bastava ela fazer a colocação com todas as letras, dizendo que a cultura popular não é aceita pelas elites, que mesmo sendo a minoria, é quem apita no que vai e no que não vai ao ar num canal como a TV Globo.
Vi um dos capítulos da série e achei bem legal também.
Abs,
Concordo com você em tudo… Aliás, além de dizer que “a cultura popular não é aceita pelas elites”, ela tinha que incluir: “da qual eu faço parte”.
abraço
Bruno, a Monique Gardenberg é a produtora responsável por um dos eventos mais elitistas do Brasil, o Tim Festival. é compreensível que ela tenha essa visão que talvez denote sua própria visão sobre a cultura popular.
muitissimo preconceituoso
Qual o problema em dizer que a cultura popular não é aceita pelas elites?
Tudo bem, o exemplo dela não é o melhor, uma vez que o RC é popular mas ama-lo é cada vez mais “super cool”.
Mas diz aí, o que vocês acham do Calipso, do Funk, do Vitor e Léo?
Aposto que nunca ouviram falar do Aviões do Forró.
Ainda não vi o filme ou a série, mas acho excelente a idéia de um produto com atores de fora do Rio-SP, tratando da cultura popular ou não desses locais exteriores.
Oi Marcelo,
Não teria problema nenhum, se fosse isso que ela tivesse dito. Isso é um fato.
Mas ela não disse isso. Ela disse que a cultura popular sofre preconceito e deu o péssimo exemplo do RC.
Caso você não tenha assistido o trecho, sugiro assistir para entender melhor o que está sendo falado aqui.
Calipso e Aviões do Forró não encaixam no meu gosto pessoal, o que não quer dizer que eu pense menos da banda. Vitor e Léo eu não conheço.
Todas essas bandas e movimentos, aliás, tem sido mostrado de maneira sem tantos preconceitos no programa Central da Periferia.
Se você estiver interessando no que eu acho sobre funk, pode fazer uma busca pelo tema aqui no URBe ou ler as matérias que fiz para revista XLR8R sobre o assunto (em inglês):
http://www.xlr8r.com/features/2005/05/funk-phenomenon
http://www.xlr8r.com/features/2008/02/sany-pitbull-baile-funks-future
Abs,
Muito bom o texto Funk phenomenon da xlr8r, Bruno.
Cara, revi o vídeo e continuo achando tranqüilo o que ela falou. A elite brasileira, na qual me incluo, é mais preconceituosa que o normal e a cultura popular pode não perder com isso, mas não tenho dúvida de que a cultura do país perde muito.
Me parece que era isso o que ela ia dizendo quando o Jô fez a sua tradicional e insuportável interrupção.
Citei aqueles exemplos mais para o pessoal pensar no seu (não do autor do blog, necessariamente) preconceito.
Também não sou fã de nenhum deles, há muito que não ouço as minhas k7 piratas como os Funks da Furacão e do Big Mix.
Mais uma coisa, se não me engano, o festival organizado pela moça fez muita falta quando deixou de acontecer.
Para encerrar, digo que sou fã do Central da Periferia e da Regina Casé, essa sim, o tipo de elite que o país merece.
Abs.
Oi Marcelo,
Pois é, a importância dela não foi colocada em dúvida. Pelo contrário: é exatemente devido a essa importância que a deslizada merece atenção.
Abs,
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
Seções
Arquivos
Posts recentes
Comentários
Tags