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18

junho 2007

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Orquestra Imperial – "Carnaval só ano que vem"

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Segue o texto distribuído para imprensa que escrevi para o lançamento do primeiro disco da Orquestra Imperial, “Carnaval só ano que vem”.

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Orquestra Imperial
“Carnaval só ano que vem” (Som Livre/Ping Pong)

De brincadeira. A Orquestra Imperial começou assim, sem maiores pretensões, quando Berna Ceppas e Kassin foram convidados para fazer uma temporada de quatro semanas no extinto Ballroom. A saudosa casa de shows no Humaitá ofereceu as datas para que eles fizessem o que bem entendessem. Junto com Domenico Lancellotti, chamaram os amigos e organizaram uma orquestra de gafieira especialmente para as essas datas, dedicada a sambas antigos, sem nem saber se isso funcionaria. O importante era se encontrar e se divertir. Nascia a Orquestra Imperial.

“A pelada da galera”, como as apresentações foram apelidadas pelo ex-integrante Seu Jorge, deu tão certo que a temporada inicial foi extendida por vários meses. Hoje, os bailes da Orquestra Imperial fazem parte do calendário musical do Rio.

O grupo foi se formando aos poucos, até chegar à escalação atual, com 19 integrantes. São eles: Nina Becker (cantora e estilista), Thalma de Freitas (cantora e atriz), Rodrigo Amarante (Los Hermanos) e Moreno Veloso (+ 2 e produtor do “Cê” de Caetano Veloso) nos vocais; Nelson Jacobina (parceiro de Jorge Mautner e co-autor de “Maracatu atômico”), Bartolo (Duplexx, Arnaldo Antunes e Branco Mello) e Pedro Sá (guitarrista e produtor do “Cê” de Caetano Veloso) nas guitarras; Rubinho Jacobina (autor do sucesso dos bailes “Dr. Sabe Tudo”) e Berna Ceppas (produtor musical) nos teclados e efeitos; Kassin (+ 2, Acabou la Tequila) no baixo, Domenico (+ 2) na bateria, Stephane San Juan (Amadou & Marian), Cesar Farias “Bodão” (Fernanda Abreu), Leo Monteiro (ALT) e Wilson Das Neves na percussão; e nos metais Max Sette (do disco “Parábolas ao vento”), Felipe Pinaud (Gabriel O Pensador e responsável pelos arranjos do disco), Mauro Zacharias (Los Hermanos e Só Pra Contrariar) e Bidu Cordeiro (Paralamas do Sucesso e fundador do Reggae B).

Fora o fato das funções não serem fixas (Wilson, Max e Rubinho também cantam), ao vivo, a Orquestra sempre conta com participações especiais. Já passaram pelos bailes artistas como Marisa Monte, Luiz Melodia, Erasmo Carlos, Zeca Pagodinho, Caetano Veloso, Roberto Silva, Fernanda Abreu, Bebel Gilberto, Marcelo Camelo e DJ Marlboro.

Apesar do estranhamento causado pela distância sonora entre os grupos pelos quais os integrantes do núcleo inicial da Orquestra se tornaram conhecidos e o que é feito na big band, o samba é o denominador comum, unindo as diversas vertentes através do gosto pessoal de cada um. Ainda assim, o espírito anárquico dos bailes está mais para show de rock do que gafieira.

Envolvidos em seus projetos principais, a quantidade de integrantes transforma a marcação de um simples ensaio numa tarefa complicada. Gravar um disco então, nem se fala. Obrigados a esperar, amadureceram. Logo começaram a compor músicas próprias, no estilo do repertório da Orquestra.

Nesse sentido, a entrada do sambista Wilson Das Neves foi crucial. A sabedoria de quem segurou as baquetas em boa parte das gravações originais das músicas que a Orquestra toca em seus bailes, fez a diferença. Não por acaso, na Orquestra “Seu” Wilson é tratado como um mestre, cantando ou tocando percussão, mas principalmente por seus ensinamentos.

Assim, o que poderia ter sido um disco de versões — tivesse sido gravado em 2002 — transformou-se num disco de inéditas. “Carnaval só ano que vem” (Ping Pong Discos/Som Livre), estréia em disco da Orquestra Imperial, é o passo final em direção a se tornar, verdadeiramente, uma banda.

Não se trata, portanto, de uma reprodução dos bailes, que até hoje contam com as tais versões — isso fica para um futuro DVD. O disco é um registro de canções originais. Natural. Afinal, apesar de a Orquestra ter surgido tocando covers, todos ali são também compositores.

Os metais calmos, a guitarra havaiana, os vocais de apoio fantasmagóricos, o vibrafone e a levada mais lenta do bolero “O mar e o ar” (Domenico/Kassin/ Amarante) abrem os trabalhos dando um recado direto: disco é disco, baile é baile.

As composições e os arranjos revelam sutilezas dos instrumentistas que não se consegue perceber ao vivo. Menos clima de festa e mais sonho. O título do disco não é à toa.

O samba “Não foi em vão” (Thalma de Freitas), na seqüência, comprova isso. Misturando passado e futuro, a música resume bem o espírito da Orquestra Imperial. Tamborim e surdo, percussão e ruídos eletrônicos seguem o vôo da caixa da bateria de Domenico, enquanto a cantora derrama um lamento de separação.

O clima contemplativo que caracteriza o disco, também está marcado nas bossas “Jardim de Alah” (Moreno Veloso/Quito Ribeiro) e “Rue de mes souvenirs” (Das Neves/Stephane San Juan), cantada em francês por Thalma.

Gravado e mixado em 15 dias, a qualidade do som do disco impressiona. Principalmente levando-se em conta que foi gravado ao vivo, inclusive os vocais, com apenas alguns metais e detalhes sendo gravados posteriormente.

Além das 11 músicas presentes nesse disco, nesse período também foram gravadas as quatro regravações. Lançadas previamente num EP, essas faixas estarão presentes na edição internacional de “Carnaval só ano que vem”, que será lançada pelo selo Totolo.

Como os produtores Berna & Kassin estavam envolvidos também como músicos, acharam por bem ter mais alguém que pudesse exercer, ao mesmo tempo, a função de produtor e técnico de som, para avaliar e dar uma opinião final sobre os takes gravados.

O escolhido foi o amigo Mario Caldato Jr. Brasileiro radicado nos EUA, conhecido mundialmente pelo trabalho com os Beastie Boys e Jack Johnson, Caldato está cada vez mais próximo da música brasileira, tendo produzido recentemente discos de Marisa Monte, Marcelo D2 e Vanessa da Mata.

Conhecida dos freqüentadores dos bailes, “Yarusha Djaruba” (Nelson Jacobina/Tavinho Paes) faz a conexão Cuba-Brasil, com uma parada em Nova York para buscar a pegada disco do refrão.

“Ereção” (Domenico/Pedro Sá/Max Sette/Rubinho Jacobina/Felipe Pinaud/Nina Becker/Sandra de Sá) e “Salamaleque” (Rubinho Jacobina/Max Sette/Jonas Sá) também relembram o clima de folia. Outra que vem dos palcos é o samba “Era bom”, dueto de Wilson da Neves e Max Sette, composta por ambos.

A viajante “De um amor em paz” (Domenico/Délcio Carvalho), na voz delicada de Nina Becker, pontuada por uma cítara e metais deslizantes, ganha ares psicodélicos de um samba sorturno. Coisa fina.

“Supermercado do amor” (Bartolo/Jorge Mautner), também cantada por Nina, mais animada, tem discurso do padrinho Mautner (que também assina “Ela rebola”, com o parceiro de sempre Nelson Jacobina) e brinca com clichês, fazendo referência a introdução de “Alegria alegria” (Caetano Veloso).

“Carnaval só ano que vem” é o resultado natural de um grupo de amigos fazendo algo sem compromisso com nada, apenas por diversão. E com tanta gente numa boa, o resultando não poderia ser outro que não um excelente disco.

Um clássico. Sem brincadeira.

Bruno Natal
Junho/2007

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2 Comments

  1. marcos

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