O Tabajaras sacode
Written by urbe, Posted in Destaque, Música, Resenhas
Subir a ladeira dos Tabajara hoje, pós-UPP, é bem diferente do que foi um tempo atrás, quando um passeio pela comunidade em Copacabana não era diferente de um pela Formiga, na Tijuca. Atualmente sem o domínio do tráfico, a quadra da GRES Unidos da Villa Rica, com tem acontecido em diversas outras comunidades da Zona Sul, tem sido ocupadas por eventos culturais feito por gente do e para o asfalto.
Sob comando da Polícia Militar, ofuscando os convidados com a sirene na porta da quadra, e produzida pelo Apavoramento e Eu Amo Baile Funk, a Shake Your Santa tinha hora pra acabar e por isso os organizadores pediam para que se chegasse cedo. Não adiantou muito e a festa só encheu mesmo a partir das 2h30, mesmo que as 5h os equipamentos tivessem que ser desligado. O carioca e seus horários.
Aos poucos frequentar as comunidades vai se tornando normal. Pessoas que há pouco tempo não chegariam nem perto da entrada de uma favela, sobem a pé, de táxi, moto-táxi ou nos próprios carros e ficam bebendo nas biroscas em volta. O equilíbrio entre integração e exotismo é delicado, estão todos aprendendo. Vi um cara desbelotando um (sim, muita falta de noção, dadas as circunstâncias) sendo convidado a jogar o produto no chão e encerrar a brincadeira.
A festa custava R$ 40, enquanto o baile funk tradicional da comunidade custa R$ 10, com “damas grátis”. Se isso gera renda e ajuda os moradores a terem noção do valor do que tem para explorar comercialmente (alguém duvida qual vai ser o programa número um dos gringos na Copa e nas Olímpiadas?), também afasta os frequentadores locais do seu ponto de diversão.
Para solucionar isso, havia um ingresso a preço promocional para os moradores, R$ 15. Nem assim eles compareceram, com a grande maioria mesmo sendo de visitantes. A mistura ficou pra depois. A pista se esbaldava com os graves sacolejantes saídos do paredão da Cash Box, com o ventinho fresco da madrugada passando pelas grades que cercam o local e na área VIP, entocadinha na mata.
Lugar novo, festa pegando e ainda é outono. Esse tipo de programa está só começando. Muita gente que nunca foi num baile funk agora vai querer conhecer. Não, não é mais a mesma coisa. E isso é bom.
A festa foi excelente. Muito legal ver que a galera subiu o morro, paredão de som classe da Cashbox, mt maneiro o evento.
E sobre “o Rio e seus horários”, eu na verdade acho positivo que a festa termine às 5h. E mais, espero que no futuro termine às 4h, que nem em NY. E que a galera chegue cedo, imagina só o pessoal chegando 23h, prestigiando todas as atrações da festa… acabando com a ‘hora caida’, em que nenhum DJ quer tocar, “ah, põe uma mixtape ai eqto nao chega ninguem”… Essa cultura de “chegar no auge” é uma cultura bem caida, tipica do descompromisso mimado do carioca vip…
E, não esqueçamos do fato de que tanto a comunidade quanto os prédios em volta da quadra só podem dormir quando o baile acaba né
Leo, é exatamente isso que estava criticando, esse lance de chegar tarde, não de começar cedo. Por mim, as 23h tava no auge já. Troquei “Rio” por “carioca”, espero que fique mais claro.
e no entanto, a aplicação da chamada resolução 013 vem proibindo bailes funks e outras festas noturnas nas comunidades que receberam upps.
o velho um peso e duas medidas tão ao gosto dos brasileiros… chega quase a ser um escárnio: quando o evento é feito por gente do e para o asfalto, tá liberado. quando é da comunidade, não pode. ou até pode, desde que…
assisti (quietinho no meu canto) a primeira reunião para “discutir a relação” entre o comando da pm e os moradores do santa marta. e a questão que ocupou a maior parte da reunião foi a proibição de festas: baile funk, pagode na laje, nada disso era mais permitido. ou melhor, o pagode até estava liberado, mas só até certo horário. a comandante priscila argumentou que a comunidade viveria agora de acordo com a lei, a mesma no asfalto e no morro.
mentira: em botafogo, o policial bate à porta pedindo para abaixar o volume; no santa marta, invade a festa e, se o som não for logo desligado, confisca o equipamento. mas, diante do protesto insistente dos moradores, a comandante acabou cedendo — apenas para encarnar o personalismo que é afinal uma das razões do descrédito das leis no brasil. disse que se os moradores “se comportassem direitinho”, ela priscila reavaliaria o horário de término das festas, e talvez o estendesse um pouco mais.
isso está acontecendo direto, infelizmente. tanto que a ong meu rio lançou uma mobilização para pressionar pelo fim da resolução 013 — algo que, veja só, depende de uma canetada do beltrame.
nada contra que festas como esta, feita por pessoas do e para o asfalto, sejam realizadas nas comunidades. aliás, pelo contrário: torço para que sejam cada vez mais frequentes.
apenas acho que os moradores das comunidades deveriam poder usufruir do mesmo direito.
para quem se interessar: http://meurio.org.br/na_atividade/18/assine_embaixo/funk013
muito bem lembrado.
Na Quadra da Villa Rica na comunidade dos Tabajaras, talves a 1º UPP da Zona Sul, tem bailes e festas todo os finais de semana desde o ano passado. Equipe Dragão Bolado é presença constante em um baile da comunidade e no dia das mães tem festa da FM ODia com o cantor Belo. Me parece que cada comando de UPP instaladas tem um reconhecimento do dia dia cultural e dos espaçøs onde isso é possivel acontecer sem a presença do financiamento ilegal nas favelas. Que venha a nova geração de bailes funks , com o Rio livre para todos e que se estabeleça um respeito musical pelos artistas e reconhecimento pelos trabalhadores dos bailes.