segunda-feira

24

fevereiro 2014

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O recado de Llewyn Davis para nova geração

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LlewynDavis_Alison Rosa ©2012 Long Strange Trip LLC
foto: Alison Rosa ©2012 Long Strange Trip LLC / via página oficial do filme

Protagonista de , “Inside Llewyn Davis”, novo filme dos irmãos Cohen sobre a dura vida de um compositor de folk no início dos anos 60 em NY, a trajetória de Llewyn Davis deixa um recado para atual geração de artistas: não é só porque você sabe fazer música bem que vai viver disso.

Ao contrário do que pode parecer, não se trata de uma obra menor na filmografia dos Cohen – e o gato tem muito a ver com isso (cuidado que ambos os links contém spoilers).

Siga a leitura apenas se você já assistiu o filme ou não se importa em saber detalhes reveladores da trama. Abaixo tem detalhes do interessante uso de um roteiro não-linear. Se alguém quiser opinar ou tiver alguma teoria, compartilhe.

É intrigante tentar entender o significado das duas narrativas paralelas causadas por uma quebra de linearidade na história logo no início do filme. O mesmo Llewyn vive duas histórias diferentes, embora seja difícil entender em que ponto se dá a bifurcação ou reviravolta que levaria a dois destinos diferentes no mesmo filme. Não encontrei nada de relevante escrito a esse respeito por quem entende do riscado.

No resumo simplista das principais cenas do filme abaixo (marquei com um “***” as partes onde se dão as quebras de linearidade e/ou alterações na narrativa no roteiro) dá pra relembrar as duas narrativas apresentadas:

– O filme começa com Llewyn tocando “Hang Me, Oh Hang Me”, encerrando seu show no Gaslight. Ele fala que o público já deve ter ouvido aquela antes, conversa com dono de bar, que o avisa que tem alguém o esperando do lado de fora.

– Llewyn sai do bar e entra na porrada por conta dos gracinhas proferidos da noite anterior.

***

– Fade out/fade in e Lewyn acorda no apartamento dos amigos mais velhos que o ajudam vez ou outra. Ele não tem marcas de socos no rosto, portanto entende-se que houve uma passagem de tempo: um flashback ou um flashforward.

– Llewyn acorda com gato na sua cara, gato pula pra janela

– Ao deixar o apartamento, o gato foge. Ele bate um papo com o ascensorista no elevador

– Llewyn vai na casa do Jim & Jean e Jean conta que está grávida

– Numa noite, Llewyn destrata a mulher do casal de amigos mais velhos que eventualmente o ajuda porque ela começa a cantar junto com ele.

– Llewyn viaja pra Chicago, se dá mal numa audição com um poderoso da indústria e volta pra NY.

– Desiludido com a carreira, Llewyn tenta retomar a carreira na marinha mercante, mas até isso dá errado pois ele perdeu sua carteirinha do sindicato.

– Sem muitas opções, ele volta a casa de Jim & Jean para pedir para deixar suas coisas por lá. Jean conta que conseguiu incluí-lo numa apresentação no Gaslight na noite seguinte, que teria a presença de jornalistas.

– Na noite anterior ao seu show, Llewyn vai ao Gaslight, enche a cara e xinga a mulher que se apresenta.

– Bêbado, ele vai para casa dos amigos mais velhos, pede desculpas pela briga em sua última visita, e dorme lá.


***

– Llewyn acorda com o gato na sua cara, mas dessa vez o bichano sai pelo outro lado da cama. Todo resto da cena é idêntico. Ou seja, a cena do início do filme era mesmo um flashback, por isso Llewyn não tinha as marcas dos socos, pois ainda não havia apanhado.

– Ao sair do apartamento, dessa vez o gato não foge.

– Llewyn passa em frente a um cinema anunciando um filme da Disney estrelando um gato, “The Incredible Journey”.

– Já no Gaslight, Llewyn toca “Hang Me, Oh Hang Me” e faz a mesma piada da cena início do filme sobre já conhecerem aquela música, também com a mesma roupa.

– Só que dessa vez em vez de encerrar o show com “Hang Me, Oh Hang Me”, Llewyn ainda toca “Fare Thee Well”.

– Ele acaba aplaudido, conversa com dono de bar de vermelho que o avisa que tem um amigo aguarando-o do lado de fora.

– Llewyn sai do bar e vemos Bob Dylan começando seu show.

– Do lado de fora do bar, Llewyn apanha. É exatamente a mesma cena do início do filme, mas dessa vez sabemos porque ele está apanhando.

– Fim do filme.

Resumindo: na segunda realidade, quando o gato não foge da casa, todo o resto do filme não acontece. Da saída da casa, vamos direto para as duas noites no Gaslight (quando ele xinga a catora e quando ele apanha).

É aí que esse flashback fica bastante confuso. Por um lado, sugere que ao não perder o gato a vida de Llewyn toma um rumo diferente e bem mais simples (o que faz bastante sentido, ainda mais o gato sendo uma representação tanto dele próprio quanto do sucesso), Porém, independente dele perder ou não o gato, ele chegou aquele dia através da história que acabamos de assistir. Se ele não perde o gato e vamos direto para o Gaslight, onde estava Llewyn antes de dormir na casa dos amigos mais velhos?

Duvido muito que seja um buraco no roteiro, mesmo porque seria muito grosseiro. Difícil é entender onde a história se bifurca. E fica a certeza que os Cohen não dão mole nem quando usam um clichê tão batido quanto um flashback.

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13 Comments

  1. Victor
  2. Ribas
  3. Ribas
  4. Ribas
  5. Ribas

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