quarta-feira

30

julho 2008

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O Globo, Julho/2008

Written by , Posted in Imprensa, Música, Resenhas


foto: URBe

Resenha do show de Seun Kuti em Londres que escrevi para o Rio Fanzine, do jornal O Globo.

Família Kuti

A frente do Egypt 80 no palco do festival Lovebox, em Londres, Seun Kuti prova que não é um mero aproveitador do legado de seu pai, o expoente maior do afrobeat, Fela Kuti.

Última banda de Fela antes da morte em 1997, 12 dos 16 do integrantes do atual Egypt 80 são veteranos das longas noitadas comandadas pelo pai no seu The Shrine, lendária casa de shows em Lagos, na Nigéria. É difícil imaginar que músicos desse nível aceitassem ser comandandos por qualquer um.

O caminho escolhido por Seun é mais próximo do pai e diferente do traçado pelo filho mais velho de Fela, seu meio-irmão Femi Kuti (que tocou na derradeira edição do Free Jazz Festival, em 2000), vez ou outra acusado de amaciar o afrobeat para ouvidos estrangeiros.

É uma encruzilhada e tanto: se a escolha é atualizar os camihos, é chamado de água com açucar, se a opção for dar continuidade, pode-se facilmente ser chamado de oportunista.

Felizmente, isso não está acontecendo com Seun, cujo disco de estréia “Seun Kuti & Fela’s Egypt 80” está sendo bastante elogiado.

Além do quê, com a leva de afrobeat brotando nos EUA, através do Antibalas, Nomo, Amayo’s Fu-Arkist-Ra ou Ocote Soul Sounds, nada mais justo que o filho do homem também tenha direito a dar sua contribuição.

A relação musical de pai e filho no caso dos Kuti, é bem diferente, por exemplo, da dos Marley. Seun toca com a Egypt 80 desde os 8 anos (Femi também) e assim como o pai, foi para Inglaterra estudar música.

Ele tem carisma, energia e talento próprio de sobra, ainda que a semelhança física com Fela e o jeito de dançar possam criar uma atmosfera saudosista. Abrindo o show com uma música de seu pai, “em respeito”, como Seun mesmo disse, suas próprias músicas não ficam para trás.

As frases dos metais grudam na cabeça já na segunda volta, as levadas de guitarra, simples e funcionais fazem a cama para hipnose, enquanto o baixo e a percussão lá na frente vão empurrando o conjunto. A sonoridade solidifica-se na dança das duas vocalistas de apoio.

Seguindo os politizados passos do pai, letras falam do sofrimento africano e clamam por mudanças. “Quero fazer afrobeat para minha geração. Em vez de ‘levante e lute’, será ‘levante e pense'”, disse em entrevista ao jornal inglês The Independent.

É curioso como tanta gente gosta de música politizada, mas poucos gostam de política. Em vez de instigar a consciência, esse tipo de música faz o contrário; como se suprisse a necessidade diária de cada cidadão de se indignar. Como se ouvir um disco bastasse.

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