Lançamento: Gabriel Muzak, "Quero Ver Dançar Agora" (2013)
Written by urbe, Posted in Destaque, Música
Já se vão nada menos do que 11 anos desde que Gabriel Muzak lançou seu primeiro disco, o elogiado“Bossa Nômade” (ouça “Rude Boy”). De lá pra cá, Muzak tocou no Rockz, Funk Fuckers e no Seletores de Frequência (com BNegão), foi músico de apoio em sabe-se lá quantas bandas e trabalhou como técnico de estúdio (o vizinho Calbuque entrevistou o Gabriel hoje).
Seu segundo disco, “Quero Ver Dançar Agora”, pela Bolacha, era aguardado – e cobrado – por todos a sua volta. Finalmente saiu – e a audição é feita a partir de hoje com exclusividade aqui no URBe. O show de lançamento é hoje no Oi Futuro.
Abaixo, Muzak comenta as músicas:
“Belém não para” – Essa faixa é um carimbó das arábias, compus em 2004, mas a letra fiz em 2006. Sempre achei que alguns ritmos do norte e nordeste brasileiros tinham uma ligação com ritmos árabes. Essa música foi feita no violão, mas desde o início ela pedia aquela pegada vigorosa do norte. Tive a sorte de poder contar com os músicos Domênico Lancelotti e Alberto Continentino. Gracias amigos!
“Uma mulher” – Esse samba narra a amargura de um fim e a inexorável verdade da existência: estamos sós, somos sós. Por mais que se tenha amigos, pessoas amadas e queridas, cada um sente a sua dor e o seu prazer. O narrador é a personagem, atordoada e confusa, errante, mas sábia em relação à profundidade da existência.
“Quebra tudo” – tem esse nome porque foi composta em compassos não convencionais, ora de 3 tempos, ora de 5. Além disso narra tempos difíceis, estabelecimentos comerciais são o objeto da espreita dos cidadãos acossados por suas dificuldades. Fala do mundo insustentável da opressão, do consumismo como fator de afirmação social e de como o mundo caminha nos tempos da imagem.
“Harmônico” – Acordei um dia às 4 da manhã, peguei o violão e toquei alguns harmônicos que soavam como base, como um mantra. Voltei a dormir e, inacreditável, me lembrei da idéia no dia seguinte. Gravei de tarde no estúdio em que trabalhava na época e acrescentei a melodia. É um momento mais relaxado, por isso veio depois de quebra tudo.
“Andaluzia” – A idéia de fazer um flamenco com guitarra, baixo e bateria era antiga, mas a letra foi finalizada em uma viagem de van atravessando a Espanha, durante uma turnê do BNegão pela Europa. Essa é a primeira vez que escrevi uma letra em espanhol. Nessa faixa, rolaram as luxuosíssimas participações de Altair Martins no trompete e Jr Tostói na guitarra.
“Ligação” – Samba e guitarra… Mais uma vez uma narrativa de algo que degringolou. Aqui nosso herói sabe bem qual deve ser o proceder do malandro. Sabe que “falar é prata e ouvir é ouro”, sabe que deve pisar devagar em solo novo. Saber ele sabe, mas nem sempre se salva com aquilo que se sabe. O rapaz acaba no xadrez e tem um telefonema pra tentar sair de lá e ao mesmo tempo conferir se sua amada é também sua amante. — Só fiz a ligação pra ver se ela ainda me queria…
“In the sky” – experiência psicotrópica natural, sem necessidade de auxílio químico de procedência externa ao organismo. Espacialidade através do tempo. Respirar, caminhar, voar, superfícies terrestre e estelar. O eu lírico, um voyer das constelações narra uma estrela sonhada. Das idéias para os fatos, o poeta anseia pelo vôo, não pela volta. Alguns amigos disseram que é música de doidão… talvez.
“Made of sand” – Mais um personagem que sonha, se apaixona e cogita. Quer saber o que vai ser depois que o mundo se acalmar, quer saber também o que será feito do amor. O refrão: Made of sand… representa aquilo que não se pode controlar, representa um mundo onde tudo que se edifica, por mais que esteja real, não é o que fica… Nada fica, como dizia um amigo que virou Hare e eu nunca mais vi: “—Isso é apenas um instante da eternidade.
“Brincadê” – Nessa música o personagem está em seu momento hedonista e dionisíaco, orgiástico e carnavalesco, quando é surpreendido por uma voz que o convoca secamente a despertar. Essa faixa tem uma levada mais rap. Ela fala do fechamento das portas da percepção, como num filme de suspense, o sujeito passa do umbral e é surpreendido pelo som da porta que bate.
“Noite selva” – Blues em violão de nylon e cânticos espirituais, é um desfecho da experiência. Quando gravei fiz alguns sons com a voz, achei que era só um lalaiá universal, mas depois vi que tinha mandado um Eparrê (saudação a Iansã) e falava Oyá (um dos nomes de Iansã) algumas vezes. O mais curioso é que eu não sabia que Oyá era Iansã. Quando fui transcrever para o papel o que tinha cantado, resolvi pesquisar em dicionários de Yorubá e documentos sobre as religiões afro.
Excelente!
Uma fusão maneiríssima. Por momentos a guitarra tem algo de africana, tipo a rapaziada do Mali.
Parabéns!
somzera demais da conta! tá em loop!