quinta-feira

27

junho 2013

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Lançamento: Gabriel Muzak, "Quero Ver Dançar Agora" (2013)

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Já se vão nada menos do que 11 anos desde que Gabriel Muzak lançou seu primeiro disco, o elogiado“Bossa Nômade” (ouça “Rude Boy”). De lá pra cá, Muzak tocou no Rockz, Funk Fuckers e no Seletores de Frequência (com BNegão), foi músico de apoio em sabe-se lá quantas bandas e trabalhou como técnico de estúdio (o vizinho Calbuque entrevistou o Gabriel hoje).

Seu segundo disco, “Quero Ver Dançar Agora”, pela Bolacha, era aguardado – e cobrado – por todos a sua volta. Finalmente saiu – e a audição é feita a partir de hoje com exclusividade aqui no URBe. O show de lançamento é hoje no Oi Futuro.

Abaixo, Muzak comenta as músicas:

“Belém não para” – Essa faixa é um carimbó das arábias, compus em 2004, mas a letra fiz em 2006. Sempre achei que alguns ritmos do norte e nordeste brasileiros tinham uma ligação com ritmos árabes. Essa música foi feita no violão, mas desde o início ela pedia aquela pegada vigorosa do norte. Tive a sorte de poder contar com os músicos Domênico Lancelotti e Alberto Continentino. Gracias amigos!

“Uma mulher” – Esse samba narra a amargura de um fim e a inexorável verdade da existência: estamos sós, somos sós. Por mais que se tenha amigos, pessoas amadas e queridas, cada um sente a sua dor e o seu prazer. O narrador é a personagem, atordoada e confusa, errante, mas sábia em relação à profundidade da existência.

“Quebra tudo” – tem esse nome porque foi composta em compassos não convencionais, ora de 3 tempos, ora de 5. Além disso narra tempos difíceis, estabelecimentos comerciais são o objeto da espreita dos cidadãos acossados por suas dificuldades. Fala do mundo insustentável da opressão, do consumismo como fator de afirmação social e de como o mundo caminha nos tempos da imagem.

“Harmônico” – Acordei um dia às 4 da manhã, peguei o violão e toquei alguns harmônicos que soavam como base, como um mantra. Voltei a dormir e, inacreditável, me lembrei da idéia no dia seguinte. Gravei de tarde no estúdio em que trabalhava na época e acrescentei a melodia. É um momento mais relaxado, por isso veio depois de quebra tudo.

“Andaluzia” – A idéia de fazer um flamenco com guitarra, baixo e bateria era antiga, mas a letra foi finalizada em uma viagem de van atravessando a Espanha, durante uma turnê do BNegão pela Europa. Essa é a primeira vez que escrevi uma letra em espanhol. Nessa faixa, rolaram as luxuosíssimas participações de Altair Martins no trompete e Jr Tostói na guitarra.

“Ligação” – Samba e guitarra… Mais uma vez uma narrativa de algo que degringolou. Aqui nosso herói sabe bem qual deve ser o proceder do malandro. Sabe que “falar é prata e ouvir é ouro”, sabe que deve pisar devagar em solo novo. Saber ele sabe, mas nem sempre se salva com aquilo que se sabe. O rapaz acaba no xadrez e tem um telefonema pra tentar sair de lá e ao mesmo tempo conferir se sua amada é também sua amante. — Só fiz a ligação pra ver se ela ainda me queria…

“In the sky” – experiência psicotrópica natural, sem necessidade de auxílio químico de procedência externa ao organismo. Espacialidade através do tempo. Respirar, caminhar, voar, superfícies terrestre e estelar. O eu lírico, um voyer das constelações narra uma estrela sonhada. Das idéias para os fatos, o poeta anseia pelo vôo, não pela volta. Alguns amigos disseram que é música de doidão… talvez.

“Made of sand” – Mais um personagem que sonha, se apaixona e cogita. Quer saber o que vai ser depois que o mundo se acalmar, quer saber também o que será feito do amor. O refrão: Made of sand… representa aquilo que não se pode controlar, representa um mundo onde tudo que se edifica, por mais que esteja real, não é o que fica… Nada fica, como dizia um amigo que virou Hare e eu nunca mais vi: “—Isso é apenas um instante da eternidade.

“Brincadê” – Nessa música o personagem está em seu momento hedonista e dionisíaco, orgiástico e carnavalesco, quando é surpreendido por uma voz que o convoca secamente a despertar. Essa faixa tem uma levada mais rap. Ela fala do fechamento das portas da percepção, como num filme de suspense, o sujeito passa do umbral e é surpreendido pelo som da porta que bate.

“Noite selva” – Blues em violão de nylon e cânticos espirituais, é um desfecho da experiência. Quando gravei fiz alguns sons com a voz, achei que era só um lalaiá universal, mas depois vi que tinha mandado um Eparrê (saudação a Iansã) e falava Oyá (um dos nomes de Iansã) algumas vezes. O mais curioso é que eu não sabia que Oyá era Iansã. Quando fui transcrever para o papel o que tinha cantado, resolvi pesquisar em dicionários de Yorubá e documentos sobre as religiões afro.

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  1. Gabriel Shamai

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