sexta-feira

16

fevereiro 2007

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Infinitamente viral

Written by , Posted in Urbanidades

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No dia 26 de janeiro, surgiu um vídeo no YouTube que supostamente devendava os segredos do Google TV, ainda em versão beta, serviço que transmitiria a programação de três das maiores redes de TV americanas, gratuitamente.

Não satisfeito, o autor da façanha, Mark Erickson, ensinava como qualquer um poderia se auto-convidar para ser um dos primeiros usuários da novidade. A história está bem explicada pelo Alexandre Matias, no Trabalho Sujo.

A notícia veio em uma edição do videocast Infinite Solutions. Apresentado e dirigido pelo tal Mark Erickson, o programa dá dicas de tecnologia e soluções para problemas técnicos tão inusitados quanto como aumentar seu sinal Wi-Fi enrolando um cabo de internet em torno de um celular, como atualizar seu iPod automaticamente com conteúdo do YouTube ou recarregar pilhas.

Naturalmente, em se tratando de Google, o vídeo sobre o Google TV causou um auê e rapidamente a história foi replicada pela rede. Dois dias depois, no dia 28, o Techcrunch desmentia a história, embora com poucos argumentos. O próprio Mark fez um vídeo resposta, defendendo sua descoberta, assim como fizeram outros internautas, para confirmar a veracidade das informações. O Google TV era pra valer.

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A história estava bem contada e, principalmente, bem montada. Tão bem montada, que gerou desconfianças. Uma das pistas capazes de entregar a farsa do “Infinite Solutions”, ademais do próprio histórico de vídeos absurdos do programa, foi justamente o excesso de zelo com o dizáine.

A Fatal Farm, produtora do vídeo, deve ter se empolgado com a oportunidade de criar um visual tosco, tão em voga atualmente, e exagerou na dose.

Do apresentador, um tipo que lembra um Napoleon Dynamite mais velho e de cabelo alisado, ao logo do programa, o capricho no clima retrô-tosco tem como objetivo criar uma atmosfera caseira e, com isso, imprimir credibilidade.

Essa estética está na moda e mandar um dizáine retrô bem feito assim, tão bom que parece natural, não é brincadeira. É coisa de profissional. O cuidado em cada escolha é perceptível. Ator, locação, objetos de cena, tudo milimetricamente pensado para parecer verdadeiro. Feito para se tornar — atenção, marqueteiros, para a palavra do momento em 10 entre 10 agências — viral.

Funcionou. O esquete foi assistido mais de 280 mil vezes em dez dias, mesmo com um artigo na Wikipedia sobre o Google TV mostrando, ponto por ponto, a mentira ou do Technorati explorar a mesma mídia para questionar o vídeo. A quantidade de conteúdo gerado para discutir o vídeo é espantosa.

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Alguns incrédulos questionaram, “mas fazer um viral desses pra promover o que, se o serviço (ainda?) não existe?”. Ora, para promover a Fatal Farm, o ator, eles mesmos, enfim, o que não é pouca coisa. Imagina-se que tenha dado certo, um “Tapa na pantera” em proporções maiores.

A fixação com os virais aqueceu após a bem sucedida campanha da Virgin, “Exercise you music muscle, que escondia 75 bandas codificadas numa figura. Segundo consta, a expectativa dos criadores não era que tomasse a proporção que tomou.

Daí pra frente, toda empresa está a trás do seu viral, a ação de marketing perfeita, que se espalha sem fazer força, em alguns casos confundindo o simples ato de despejar propaganda na rede com a troca espontânea de um bom vídeo entre os usuários.

Converse com algum publicitário ou gente de departamento de marketing de alguma empresa grande e é só isso que você vai ouvir. Trazendo o exemplo pra perto, do ano passado pra cá, absolutamente todos os vídeos que venho produzindo vêm com a observação para “prestar atenção nos possíveis virais escondidos no material”.

Essa obsessão tem consequências que merecem ser discutidas. Tateando o novo caminho, agências especializadas no chamado marketing de guerrilha, vem alternando boas idéias com outras péssimas.

Os virais começaram a se tornar um festival de pegadinhas, apontada para os desavisados e, em alguns casos, abusando da boa fé das pessoas. Parte deles, hoje, consistem em mentiras bem contadas, sem um fundo de verdade sequer.

O assunto está presente também no cinema, muito antes do sucesso de Borat. De “Vérités et mensonges”, de Orson Wells, também conhecido como “F for fake – verdades e mentiras” (1974), à “Mera coincidência” (1997), o poder das verdades midiáticas é constantemente debatido.

Ou mesmo antes disso, quando em 1938 — de novo ele — Orson Welles fez uma leitura de “Guerra dos mundos” (de H.G. Wells) no rádio, apavorando os ouvintes.

É cedo pra dizer se o uso desses atalhos, pra não dizer trapaças, pode diminuir o mérito do sucesso de algumas dessas campanhas ou mesma fazê-las ter efeito contrário: repulsão no público alvo, seja por questionamentos éticos ou por sentir-se enganado.

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Se você acompanha o URBe regularmente, pode estar pensando, “sei, mas e o faking of?”. Salvo engano, o documentário sobre as gravações do disco do Moptop que mistura realidade e ficção, tem a função explícita de divulgar a banda. Não há nada escondido.

Enquanto o Google TV não vem pra valer (se é que já não veio), o SopCast, apoiando-se nas redes P2P, faz suas transmissões.

Complicado é conseguir alguma informação concreta sobre o saite. Na Wikipedia, por algum motivo, o verbete referente ao SopCast foi deletado pela administração do saite, que aproveitou pra imperdir que ele seja recriado.

Apesar do sucesso do YouTube, TV na internet continua um mistério.

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  1. Fisch

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