Funk Brasil e o efeito Simonal
Written by urbe, Posted in Música
É curioso que os 20 anos do lançamento da coletânea “Funk Brasil” esteja sendo amplamente ignorado na imprensa. Recentemente, o DJ Marlboro, produtor do disco, também ficou de fora da escalação do evento Red Bull Funk-se. Tremenda ausência.
Considerado o marco zero do movimento baile funk, o disco (e suas continuações), “Funk Brasil” foi o primeiro lançamento com músicas cantadas em português e bases feitas especialmente para as faixas, inagurando o gênero.
Por se tratar de funk, é claro, sempre esteve cercado de polêmica. Lembro do natal daquele ano, quando pedi o disco de presente. Muito a contragosto, meu primo entregou o embrulho dizendo — lembro a frase até hoje — “não acredito que estou te dando essa porcaria”.
Com a proporção tomada pelo baile funk ao longo dos anos, o aniversário merecia um pouco mais de atenção e respeito. Até para evitar absurdos como a afirmação do produtor americano Diplo, de que “ninguém no Brasil ouvia baile funk fora das favelas antes de eu tocá-lo nos clubes europeus” (esqueça um programa de pouca audiência, chamado Xou da Xuxa).
Uma espécie de redoma parece ter sido erguida em volta do DJ. Será que o silêncio sobre os 20 anos do “Funk Brasil” vem do receio quanto ao processo de pedofilia, ainda em andamento?
Caso as acusações se confirmem, isso mudaria a importância histórica do disco ou de clássicos como “Melô da Mulher Feia”, “Feira de Acari”, “Rap do Arrastão” ou “Melô do Bêbado”?
No ano em que a morte de Michael Jackson causou comoção, o documentário sobre Wilson Simonal o tirou do ostracismo e bailes funk continuam a ser proibidos, as três histórias se misturam.
É realmente uma pena! 🙁
muito bem lembrado!!!
SÉRIO que o cara disse isso? Pãtz.
Eu já tinha visto essa matéria no rraurl e tinha ficado indignado! Mas eu procurei de todo jeito a matéria original na internet e não achei. Será um rumor, ou só uma linha tao desimportante para o jornal ingles (acho q era o guardian) que não aparece na internet?
Agora, esse disco é um clássico e todo mundo sabe! Acho que todo mundo por volta dos 30 sabe cantar alguma estrofe de feira de acari.
Pelo que eu entendi, esse comentário foi feito para matéria do próprio Rraul, que se inspirou no formato da matéria do Guardian para produzir sua própria versão.
Caffarena, autor da matéria do Rraurl pode responder essa questão.
A primeira metade da matéria é tradução de uma entrevista pro Guardian em que ele escolheu suas produções próprias favoritas e fazia um comentário. link: http://www.guardian.co.uk/music/2009/jan/24/popandrock-worldmusic
“Bonde Do Role
Solta O Frango (2008)
No one in Brazil outside of the favelas would listen to baile funk until I played it in the Euro clubs; it’s like some kind of colonial attitude where they need an outsider to play it back to them. These kids aren’t actually from the baile funk scene. They’re kind of like CSS – middle-class art kids. They don’t represent ghetto funk. This song has made me the most money ever.”
A segunda parte da matéria são as minhas produções favoritas do Best of que ele tava lançando.
Espero ter ajudado!
Tinha entendido errado então: a citação do Diplo foi retirada da matéria do Guardian.
Valeu, Raphael, obrigado pela explicação e pelo link pra matéria original.
muito bem lembrado bruno, tava agora mesmo conversando com o rodrigo pinto sobre isso. a parada mais legal que aconteceu no rio depois do samba eh completamente ignorada aqui, pior, eh excluida mesmo. entra governo sai governo nada muda.
Bruno, eu morei 28 dos meus 30 anos no Pirajussara, perifa da Grande São Paulo eternizada por “Fim de Semana no Parque” dos Racionais. Lembro quando meu primo-irmão e vizinho Ricardo comprou esse disco e ouvíamos muito. Minhas preferidas eram Melô do Bêbado, Melô da Mulher Feia e o Marlboro Medley (ultima e longa faixa do disco). Todos os caras da vila tiravam um sarro da gente porque a gente ouvia ‘rap de carioca’ que era considerado ‘comédia’ sempre uma gíria pejorativa nestas bandas.
Mas eram letras geniais, muito bem humoradas, e que em muitos casos soavam melhores que as originais, como era o caso de Melô da Mulher Feia. Fiquei muito feliz quando chegou a internet e pude baixar o disco e perceber que ele havia envelhecido com muita dignidade. Ótima lembrança
Sou maranhense, nunca morei em outro Estado, e desde a primeira vez que vi um programa especial de sábado da Xuxa com esses e outros cantores, fiquei fascinado com o funk para sempre. Lembro bem do Melô do Ricardão que tocava muito nas rádios daqui, assim como alguns anos depois outra coletânea que foi tão importante quanto essa daí, a Rap Brasil (que tinha o Rap da Felicidade), colocou mais da metade das suas músicas na programação das rádios saqui.
O funk sempre bateu forte em considerável parte da periferia de São Luis, havia até nos anos 90 um programa na Difusora FM chamado Rap Mania que nos apresentou as montagens, esse estilo de funk que, com excessão da Melô do Gaiteiro, só fez sucesso dentro do Rio. O miami bass, chamado por nós apena com Miami, era um estilo obrigatório nas danceterias na década passada, e isso explicava por que essas primeiras gerações do Funk fizerão sucesso aqui. (acho que uma coletânea que também foi importante na divulgação dessa cultura era aquele lp da Furacão 2000, com uma mulher de vermelho na capa, cujo comercial passava na tv).
Muito bem lembrado… viva o Funk!
Estava esperando pra dizer uma coisa e pelos depoimentos que estão aparecendo aqui, parece que já dá pra falar: o funk toca fora das favelas faz muito tempo, o que demorou muito pra acontecer foi o som se tornar “cool”. O produtor americano tomou uma parte muito pequena de um país gigante como o todo e se embananou na sua declaração.
pequena correção: feira de acari não tinha no funk brasil. foi gravada no disco solo do mc batata. valeu pela lembrança desse discaço
Teve um programa da rede globo mais ou menos nessa época – daqueles que a regina casé apresentava (acho que era brasil legal) – que apresentou uma entrevista com o dj marlboro.
Ele citava inclusive quais eram as bases usadas em cada musica.
Ja procurei no youtube mas nao achei.
Eu moro em Minas Gerais e esse disco bombou por aqui em 89/90. Era musica de criança. Tocava nas festinhas de aniversário até.
Nao entendo em que momento o funk carioca se perdeu nas linhas machistas e os proibidoes.
Opa, corrigido, leonardo!
Tá vendo como é importante falar do disco? A história vai se confundindo…
eu nunca gostei de funk carioca e hoje em dia tbm nao gosto, mesmo sendo cuuol hj me dia e olha q sempre curti um som mais “esnobe” heim?
mas por outro lado, minha ex namorada sempre gostou, e ela sempre curtiu um som mais “popular” como sertanejo, pagode e forró universitário.
A memória mais antiga que tenho de Feira de Acari era que essa música era faixa de trilha sonora de uma novela das sete da Globo.
A Som Livre lançou 3 coletâneas Rap Brasil, e o funk que foi divulgado nesses discos eram em sua maioria chamados de rap, e possuíam letras conscientes, e mesmo quando falava de amor, fazia-se uma crônica da favela, como em Se liga moça, do RP3, e rap da Morena, no RP2. Depois do sucesso desses discos, a Som Livre lançou Rap’s Hits, mas não fez muito sucesso, aí houve um espaço de tempo de alguns anos em que não houve hits nacionais de funk, até o momento em que saiu, um logo depois do outro, “Popozuda rock’n’roll” do Edu K, e a outra grande coletânea de funk carioca, o Furacão 2000 Tornado, que mostrou ao mundo o Bonde do Tigrão, Tapinha, Dança da Motinha, entre outros, que acho que foram os pioneiros no funk sexista (o proibidão de crime já rolava; o pioneiro acho que foi o Rap das Armas, do Júnior e Leonardo, que concorreu a melhor videoclipe de rap em uma das premiações da MTV nos anos 90, foi sucesso nacional e teve um revival na versão mais gangsta eternizada pelo Tropa de Elite).
Também não dá para esquecer do Funk Melody, pois o Latino se lançou no gênero seguindo fielmente Stevie B, o maior ídolo do Miami Bass de linha latino-americana, e foi muito divulgado pela Xuxa também.
Bruno, acho que pedofilia é um tabu muito grande, um dos únicos crimes imperdoáveis na nossa sociedade. O Michael foi “perdoado” depois de morto… E no caso do DIA ainda rola o fato do Marlboro ser DJ da concorrência, não rola de dar espaço pra ele mesmo. Mas esse disco marcou mesmo minha pré-adolescência, eu achei em mp3 ano passado e baixei (com qualidade bem ruim, diga-se), foi engraçado lembrar de músicas como “Tonheta” (!).
E, por falar em Regina Casé, é dela e do Luis Fernando Guimarães um dos maiores clássicos dessa primeira onda do funk, “Melô do terror”, do Funk Brasil 2: ôôôô, a galera é o terror, ôôôô, Frankstein é o terror”
Pois é, Kamille… Ele é DJ da concorrência hoje, porque fez história na FM O Dia. E independente disso, a importância histórica do disco não pode ficar refém desse tipo de disputa, afinal a notícia deveria ser o mais importante, né?
Até porque, as notícias sobre as acusações de pedofilia circularam por muitas redações (que eu saiba), mas apareceram mesmo foi no próprio O Dia, logo depois do DJ trocar a FM do jornal pela Beat, do Globo.
Pergunto: pra falar mal não tem problema ele ser da concorrência? (não é uma pergunta retórica).
Bjs,
Concordo plenamente aliás grande post. Essa do Diplo é real e é totalmente lastimável. O cara deveria era agradecer e não pagar este vale… Afinal ELE é que só ganhou cartaz lá fora como o NOSSO funk. E tu falou bém: Xou da Xuxa. Eu também lembro disso.
Falando no disco: quem sabe será melhor lembrado nos seus 30 anos. Já que (acho) a ficha do funk não caiu com ainda. Ainda. Se tivesse a “Feira de Acari” então… hehe
Parabéns pelo teu blog aliás a festa no cabeção tava ótima
Valeu, Gustavo, bom que vc se divertiu na festa!
Bem colocado, parece até que não foi ele que se deu bem com o funk lá fora.
Abs,
Se o Diplo” internacionalizou” o funk, parabéns para ele.
Agora dizer que ninguém ouvia fora das favelas eh forçar a barra.
Quanto a não presença do Marlboro , acho muito bom, pois o Funk tem mais de vinte anos e ele não soube criar novas lideranças.
Soh agora vemos o surgimento do Sany e mesmo assim porque ele foi rotulado como pós-funk ou seja algo “diferente” do Marlboro.
Ué, mas uma liderança deve necessariamente anular a outra? Não podem coexistir, duda?
Mais de vinte anos se passaram e o Marlboro não trabalhou neste sentido, então não me admira isso acontecer , se eu acho isso correto ? Não , mas ele estah colhendo o que plantou.
Aliás isso não deveria e não deve ter a menor importância para o Marlboro que já está aí hah anos, não ?
Quanto ao Simonal eu acho samba raro tão bom quanto e pouquissimo falado como o pai.
Ainda sobre o Dj Marlboro, peça a opinião do Lobão sobre ele e depois me conte ok ?
Tenho a minha própria opinião sobre o Marlboro, baseado nos meus encontros com ele. Se vc quiser compartilhar a do Lobão, fique a vontade.
opa.
não poderia deixar de comentar esse post. antes de mais nada, gosto mto do seu blog, aliás, dO Esquema todo. parabéns.
sobre os 20 anos do Funk Brasil, tal aniversário me faz lembrar q tô ficando velho mesmo. tenho esse e o Funk Brasil 2, com autógrafo do dj Abdullah – esbarrei com o cara na cantina do prédio da Xerox, no centro, onde minha mãe trabalhava. mandei o disco depois por ela e ele autografou 😀
nostalgia à parte, tb ainda não entendo como o funk ainda não recebe a devida importância nessa brasila.
aquele abrá!
ainda nao descobri porque essa série “funk brasil volumes 1, 2 e 3”, que rolou de 89 a 91, nao foi nunca lançada em CD. É um trabalho simples e eficiente nas pistas (o minimalismo soa melhor em sistemas enormes de som), todo em cima do miami bass da época, a maioria apenas versões em portugues. 2 Live Crew era a maior influência do Marlboro. Lembro de ter conversado com Marlboro na época de porque ele chamava de “funk”, se o ritmo era miami bass, e ele me disse que o povão nao sabia falar miami bass, era melhor “simplificar” pra “funk. Só em 98 criaram o tamborzão (aquele loop de maculelê eletrônico) e se deu a gênese do Funk Carioca, a partir desses dois estilos (miami bass + maculelê) como ritmo genionamente criado no Brasil.
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
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