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setembro 2003

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Folha de S.Paulo, 22/09/2003

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Matéria sobre proibição de menores de idade em LAN Houses que escrevi para Folha de S.Paulo.

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LAN houses do Rio de Janeiro estão sob fogo cruzado
BRUNO NATAL
da Folha de S.Paulo, no Rio de Janeiro

O prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, sancionou no último dia 8 a polêmica lei número 3.634, proposta pela Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente. O texto proíbe menores de idade de frequentar as casas de jogos de computador interligados em rede, conhecidas como LAN houses. A medida visa dificultar o acesso dos menores de idade a games que, supostamente, estimulam a violência.

As penas serão destinadas aos donos das LAN houses ou fliperamas, e a fiscalização do cumprimento da lei caberá ao Juizado da Infância e da Juventude. As punições irão desde uma advertência administrativa, com multa, até a cassação do alvará de funcionamento.

O pivô da questão é o jogo “Counter Strike”. Nele, há uma simulação de uma luta entre policiais e bandidos no morro Santa Marta, no Rio. Por permitir ao jogador escolher ser tanto o policial quanto o bandido, o jogo havia sido anteriormente acusado de apologia do crime.

Os jogadores se defendem e dizem que, ao contrário do que tem sido noticiado, o jogo não mostra traficantes, mas, sim, terroristas que sequestraram um membro da ONU e se escondem no morro.

O proprietário de um desses estabelecimentos, que fica no bairro de Botafogo (zona sul), discorda da decisão. Por medo de represálias, ele pediu que não fosse revelada sua identidade, mas disse que, desde que a lei foi sancionada, o movimento caiu cerca de 80%.

“Se for para cumprir essa lei, é melhor fechar a loja. A maior parte dos clientes das LAN houses são adolescentes e querem jogar justamente esses jogos. A decisão de proibir o acesso a qualquer coisa deveria caber aos pais, não ao Estado.”

É também o que pensa Maria Isabel da Silva Leme, que pesquisa os supostos nexos entre a violência e os jogos eletrônicos no Instituto de Psicologia da USP. “Os pais é que têm de atentar para o que os filhos fazem. Não vai ser com uma proibição que os jovens vão parar de jogar. Isso até os estimula”, diz ela. “Sou contra o jovem lidar com a violência de alguns jogos, mas não é isso o que mostra se ele vai ser um cidadão melhor.”

O prefeito César Maia acredita que mais importante do que definir de quem é a responsabilidade por esse tipo de controle é o debate iniciado pela lei.

“Nenhuma dessas ações, isoladamente, vale nada. O importante é o conjunto e a sinergia delas. A imprensa está cobrindo o fato, e milhares de pais estão discutindo o problema e tomando suas decisões”, defende Maia. De acordo com o prefeito, a classificação do nível de violência dos jogos será feita por educadores, de acordo com denúncias feitas pelas famílias.

Para D.N., 14, jogos como o “Counter Strike” não estimulam a violência. “Eu gosto desse tipo de jogo pela ação, mas também gosto de jogos que não são violentos. O pessoal fica nervoso, xinga, como em qualquer outro jogo, até jogando futebol. Ninguém sai para a rua e quer fazer o mesmo que faz na tela.” Segundo ele, sua mãe deixa que ele participe desses jogos.

Rodrigo Almeida, 24, concorda que talvez os jogos o influenciem negativamente. “Pode até ser. Mas, e as novelas, cheias de brigas, de sexo e de tudo o mais?”, questiona. “Melhor estar aqui do que na rua, exposto à violência real.”

Acabou a brincadeira

Outra decisão legal, desta vez federal, foi sobre os jogos de cartas “Yu-Gi-Oh” e “Magic: the Gathering”. O Ministério da Justiça aceitou um pedido do MP (Ministério Público) para que haja classificação de idade dos jogos, que serão recomendados só para maiores de 12 anos. O documento do MP que diz respeito a esse problema argumenta que os jogos “trazem conflitos e tensões psicológicas”.

Colaborou Ricardo Lisbôa, da Folha de S.Paulo, no Rio de Janeiro

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