segunda-feira

21

julho 2008

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Família Kuti

Written by , Posted in Resenhas


URBe TV: Seun Kuti & Egypt 80
fotos: URBe Fotos

Talvez antes mesmo do aspecto musical, o Lovebox, festival de dois dias organizado pelos integrantes do Groove Armada, se destaca pela comida. Reunindo algumas das melhores barracas do Borough Market, quase vira uma tarde gastronômica.

No domingo, os shows de Sebastien Tellier (divertido como sempre), Roni Size (fora de lugar e com o som sem pressão), Buraka Som Sistema (sacudindo a gringalhada), Operator Please (tocando numa cabana tosca), Goldfrapp (fraquinha e brega que só ela), Flaming Lips (também com som ruim), equilibraram a equação.

Quem fez a diferença mesmo foi Seun Kuti, filho mais novo do criador do afrobeat, Fela Kuti.

A frente do Egypt 80 desde a morte de Fela em 1997, nessa que foi sua última banda, Seun Kuti prova que não é um mero herdeiro aproveitador.


Seun Kuti & Egypt 80

12 dos 16 integrantes são veteranos das longas noitadas comandadas pelo pai no The Shrine, sua própria casa de shows — diários! — em Lagos, na Nigéria. É difícil imaginar que músicos desse nível aceitassem ser comandandos por qualquer um.

O caminho escolhido por Seun é mais próximo do pai e diferente do traçado pelo filho mais velho de Fela, seu meio-irmão Femi Kuti (que tocou na derradeira edição do Free Jazz Festival, em 2000), vez ou outra acusado de amaciar o afrobeat para ouvidos estrangeiros.

É uma encruzilhada sem solução aparente: se a escolha é atualizar os camihos, é chamado de água com açucar, se a opção for dar continuidade, pode-se facilmente ser chamado de oportunista.

Felizmente, isso não está acontecendo com Seun, cujo disco de estréia “Seun Kuti & Fela’s Egypt 80” está sendo bastante elogiado.

Além do quê, com a leva de afrobeat brotando nos EUA, através do Antibalas, Nomo, Amayo’s Fu-Arkist-Ra ou Ocote Soul Sounds, nada mais justo que o filho do homem também tenha direito a dar sua contribuição.

Durante o show, lembrei da Nação Zumbi e de como seria injusto se não tivessem tido a chance de continuar sem Chico, um direito muito bem exercido por eles. Teríamos perdido uma bela banda e um dos melhores shows brasileiros.

A relação musical de pai e filho no caso dos Kuti, é bem diferente, por exemplo, da dos Marley. Seun toca com a Egypt 80 desde os 8 anos (Femi também) e assim como o pai, foi para Inglaterra estudar música.

Ele tem carisma, energia e talento próprio de sobra, ainda que a semelhança física com Fela (menor que a de Femi) e o jeito de dançar possam criar uma atmosfera saudosista.


Fela Kuti, no Shrine, no documentário,
obrigatório, “Music is a weapon”.

Abrindo o show com uma música de seu pai, “em respeito”, como Seun mesmo disse, suas próprias músicas não ficam para trás.

As frases dos metais grudam na cabeça já na segunda volta, as levadas de guitarra, simples e funcionais fazem a cama para hipnose, enquanto o baixo e a percussão lá na frente vão empurrando o conjunto. A sonoridade solidifica-se na dança das duas vocalistas de apoio.

Se tem um lugar no Brasil onde seria interessante ver esse show acontecer, seria Salvador, talvez fora do carnaval. Seria curioso ver as reações, do público e da banda (Lucas Santtana, dê um alô sobre o assunto!).

Seguindo os politizados passos do pai, letras falam do sofrimento africano e clamam por mudanças. “Quero fazer afrobeat para minha geração. Em vez de ‘levante e lute’, será ‘levante e pense'”, disse em entrevista ao Independent.

É curioso como tanta gente gosta de música politizada, mas poucos gostam de política. Em vez de instigar a consciência, esse tipo de música faz o contrário; como se suprisse a necessidade diária de cada cidadão de se indignar. Como se ouvir um disco bastasse.

Seun Kuti segue lutando para que a música continue sendo uma arma.

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