Faith No More e os outros tempos (ao vivo no Rio)
Written by urbe, Posted in Música, Resenhas
foto: -ferrr
O significado da passagem da turnê “Second Coming” do Faith No More pelo Brasil vai além de simplesmente matar saudades dos fãs ou arrecadar alguns tostões.
A visita da banda marca também (o início) da despedida de uma era em que a TV e rádio tinham um força que cada vez tem menos e bandas tornavam-se denominadores comuns em um corte social horizontal e contínuo.
Para constatar, bastava olhar a sua volta no Metropolitan, ouvir os papos ou notar as bandas estampadas nas camisetas (de Slayer a Daft Punk, de ícones do Reggae a blusas sociais dobradas). Tirando a faixa etária, flutuando nos 30 e poucos, o público tinha pouco em comum além do gosto pelo FNM.
Durante seu auge, o FNM encontrou no país sua verdadeira casa, com uma base de fãs que não tinha em nenhum outro lugar. O fato impressionou a própria banda, que chegou até a gravar partes em português na música “Caralho Voador”.
Mesmo assim, tocaram no Brasil apenas três vezes e somente em uma delas numa turnê própria (as outras tendo sido nos festivais Rock in Rio II e o Monsters of Rock).
Com o retorno da banda anunciado em 2009, a expectativa era de que finalmente voltassem ao Brasil era grande. Catorze anos depois da última visita, finalmente o FNM veio outra vez.
— Voltemos no tempo, 18 anos para ser exato —
Dois anos após o lançamento do disco que os botou no mapa do pop — “The Real Thing” (terceiro da banda, o primeiro com Mike Patton nos vocais) — o Faith No More veio ai Brasil pela primeira vez,participar do Rock in Rio II, em 1991.
“Epic”
Apesar do clipe de “Epic” rodando forte na recém-nascida MTV, eram uma incógnita na noite que tinha como grande atração o Guns N Roses. O FNM surpreendeu e foi apontado como a grande revelação do festival, mesmo tocando músicas de um disco lançado dois anos antes — eram outros tempos e novidade era um conceito menos apressado.
A consagração do FNM no Brasil se deu num palco gigantesco. Não o montado no Maracanã, mas sim as telas, uma vez que a Globo trasmitia ao vivo os shows do Rock in Rio.
Camisas de flanela transformaram-se num item da moda, antes mesmo do estouro do grunge. O corte de cabelo de Patton, longo em cima e raspado embaixo, apareceu na cabeça da garotada (quem? eu?). A exposição massiva criou quase uma base de fãs quase automaticamente.
Tanto foi que a banda voltou para uma mini-turnê nacional no mesmo ano, tocando em diversas cidades além do Rio.
— Pausa. De volta a 2009 —
Cantando letras feitas há mais de vinte anos, comunicando-se em português o tempo todo, ao ponto de mandar uma versão brazuca de “Evidence” (“eu não senti nada / não tem significado algum”), Mike Patton continua com o carisma de sempre e a banda com o mesmo peso.
Tanto tempo e andanças depois, influências dos muitos projetos paralelos de Patton encontraram espaço na nova formação do FNM, como a versão jazz de “Midlife Crisis”, ruídos e doideiras pós-Fantomas ou o uso de efeitos via kaoss pad por Patton, ampliando a sua já vasta paleta vocal.
Os tempos são outros, alguns integrantes da banda beiram os 50, não seria justo esperar um repeteco exato do que foram os outros shows do FMM no Brasil. Esperava-se apenas que no quesito tecnologia o passar dos anos tivesse ajudado o Metropolitan.
“Falling to Pieces”, cheia de erros, especial para o Rio, segundo Patton
A qualidade de som MEDONHA do Metropolitan (com direito a caixa estourada, fritando sem parar desde antes do show) e uma área vip ocupando exatamente a melhor área da platéia, quase põe tudo a perder. Os agudos descompensados estão rasgando meus ouvidos até agora.
Nada que atrapalhasse a celebração dos conformados trintões na platéia. Nesse quesito, o túnel do tempo funcionou que foi uma beleza e a turma se esbaldou.
Quando um show dessas bandas parecem perder o sentido e essas reuniões ressoam como meros caça-níqueis, surge um outro fator. Servem também pra lembrar que um dia também fomos novos. E tome air-guitar (para os que já tinham parado, né), sacudida de cabeça e soco no ar.
Dos anos 2000 pra frente tudo mudou, e não apenas porque hoje você precisa desviar tanto de pessoas altas quanto de câmeras digitais pra enxergar o palco.
Com tanta diversificação e nichos proporcionados pela i nternet, é difícil dizer qual vai ser o denominador comum das novas gerações, se é que isso vai existir — o que pode ser bom inclusive.
Uma coisa não deve mudar. O carinho que se tem pelos sons que moldaram sua cabeça na adolescência é igual amor de mãe, dura pra sempre. Mesmo que você não ouça a banda desde então.
Taí o Faith No More pra confirmar.
Ah!! Então era “Falling to Pieces” que a galera ficou gritando no final do show?
Pensei que a galera tava gritando “Flamengo Vice!”.
Enfim.. foi um showzasso. Faltou “Mouth to Mouth”, “Stripsearch”, “Edge of the World” e “Diggin’ the Grave”.
É óbvio que eles não têm a mesma energia de 15 anos atrás, mas também… nem eu tenho como platéia! Mas mesmo assim, o show foi bom demais!
Tocar Falling To Pieces (mesmo toda errada por falta de ensaio) depois de anos e anos sem tocar ao vivo, demonstrou o carinho que ele tem pelo Brasil, especialmente pelo Rio. MPatton continua cantando muito, presença de palco incrível e a banda afiada, acompanha muito bem.
E a resenha foi muito feliz. Mais do que o show em si, seus auges e seus problemas, o mais bacana foi reunir os amigos trintões, reencontrar gente que não via faz tempo e se divertir horrores escutando músicas que marcaram a infância de todos.
Que voltem logo!
Queria muito ter ido ao show. Nao sei, mas esse lance frenetico de so escutar coisa nova nao cola para mim. Escuto Faith No More ate os dias de hoje. Sem essa de saudosismo, sem essa de fase. Musica boa nao tem idade, nem epoca.
ótimo show…. muita energia e o Patton é um dos vocalistas mais completos do mundo…
aqui em Porto Alegre o show foi muito bom também, EXCETO pela péssima qualidade do som do Pepsi on Stage…
bela resenha.
O que mais gostei no texto foi chamar o Metropolitan por seu nome original! Vou tentar seguir essa “tendenssa” sempre que puder.
Nem é por estilo, Otaner. É mais por catalogação. É tanta mudança de patrocinador que fica impossível acompanhar. Depois vc quer encontrar uma info e tem que lembrar o nome da casa em determinado ano. Já pensou?
Shows históricos, tanto no rio como em sampa.
Fica o registro de quem conferiu os dois shows…
Apesar do frio na barriga devido aos estalos nas caixas durante o show do Deftones, o som resolveu ficar bom na hora do show deles!
Achei que o general patton foi melhor no rio (com midlife crisis lounge e as repaginadas nos gritos dos velhos refrões)…
Mas em sao paulo rolou digging the grave né…
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
Seções
Arquivos
Posts recentes
Comentários
Tags