quinta-feira

24

maio 2012

8

COMMENTS

Entrevista – Eduardo Paes, prefeito do Rio, sobre bicicletas (parte 3/3)

Written by , Posted in Destaque, Texto, Urbanidades

Finalizando, a terceira e última parte da entrevista com o prefeito Eduardo Paes sobre bicicletas (leia a intro e a primeira parte e segunda parte), falando sobre bicicletas do sistema Bike Rio e o patrocínio do Itaú.

URBe – Vamos falar do Bike Rio. Além da necessidade de campanhas de conscientização, como a gente falou, tem dois pontos aqui que são polêmicos em relação ao Bike Rio. Um deles é a questão do próprio patrocínio, que é uma coisa que não foi dita claramente e que foi levantada algumas vezes e é, inclusive, uma curiosidade pessoal: como foi escolhido o patrocinador?

Eduardo Paes – Por licitação.

URBe – Porque, de novo, as bicicletas públicas em Copenhague são de fato públicas. Você deposita 20 Kronos e você pega os 20 Kronos de volta quando devolve. São grátis. Aqui as bicicletas, apesar de um patrocínio bem ostensivo, estão na cidade inteira mas são pagas. Como é que foi essa matemática?

Eduardo Paes – Por licitação. Não tenho os detalhes aqui, mas foi um processo licitatório, que na verdade não foi o Itaú que ganhou, foi uma empresa, Serttel, lá do Porto Digital, em Recife. Pessoal muito organizado. E eles, pra viabilizarem o projeto, trouxeram o patrocínio do Itaú, entendeu. E acho que foi um sucesso, não tenho reparos a fazer ali. Só acho que a marca do Itaú ficou grande demais, eu não gostei não. Mas acho que foi uma idéia tão legal no início, depois a gente vai fazer os ajustes. O contrato termina agora no fim desse ano. Na renovação da licitação eu provavelmente vou diminuir aquela marca. Eu também não gostei não.

[N.E. – De acordo com O Eco, a Serttel investiu R$2,5 milhões no Bike Rio, mas não diz qual é o valor do patrocínio do Itaú]

URBe – Que bom, porque pergunto na seqüência: você soube da campanha que teve, dos corações nas bicicletas? É um pavor, aquilo parece um caixa eletrônico voando na minha direção.

Eduardo Paes – Em um primeiro momento eu achei que fosse o César Maia voando na minha direção, porque era tudo laranjinha dele, eu falei “ai meu Deus” (risos).

URBe – Acho de mal gosto e um equívoco.

Eduardo Paes – Também acho.

URBe – Acho que o Itaú teria muito mais a ganhar promovendo a campanha.

Eduardo Paes – É igualzinho… você lembra daquele dedão da Brahma? Número um? Era igualzinho, parecia que o cara tava me mandando pra “aquele lugar” todo dia.

URBe – Eles estão viabilizando uma coisa pra cidade que é muito maior que esfregar aquela bicicleta na cara das pessoas, que é um hábito. E ao invés deles explorarem esse lado, estão explorando outro, raso. Uma menina chamada Mirna saiu um dia nessas bicicletas, e incomodada com o logo desse tamanho, cobriu com corações, impressos em casa . Imprimiu e colou por cima. Alguns viam na rua, ficaram estimulando e ela organizou um bicicletaço num domingo. Nem foi tão sucesso assim, botei no meu blogue esse assunto na época, como discussão. A maioria das pessoas não parecia estar incomodada com o tamanho do logo. Mas eu acho horroroso aquilo, acho que aquilo deveria ser revisto. Acho que eles estão tendo um ganho muito maior do que o benefício que eles estão dando.

Eduardo Paes – Não tenha dúvida. Inclusive eles querem renovar e ampliar, e a gente disse “não”.

URBe – E isso está indo totalmente de encontro com a sua nova política dos outdoors, de tirar. Como é que você vai resolver esse conflito?

Eduardo Paes – Vou esperar acabar o contrato. Eu tenho que respeitar um contrato perfeito. Acabando o contrato no final desse ano a gente vai fazer de maneira diferente. É isso, essa coisa do espaço público, da publicidade no espaço público do Rio, foi se permitindo muita coisa. Não to falando nem dessas placas grandes que estão tirando, mas é aquela coisa, cada um foi colocando uma coisa, cada banquinho foi colocando uma, faz equipamento de ginástica, tá lá o Santander – nem fala mal do Santander que é o banco da Prefeitura – , o outro bota a bicicleta e tá lá o Itaú, o outro não sei quê… Eu não gosto disso também. Então assim, a gente tá começando a interromper esse processo. Mas são contratos anteriores que a gente tem que conduzir.

URBe – No caso da bicicleta o contrato é seu, né?

Eduardo Paes – Mas é licitação.

URBe – Ah, entendi.

Eduardo Paes – Não, então, foi feito, eu tô de acordo. Acho que a gente tem que valorizar. A verdade é o seguinte, cara: ninguém queria nada do Rio quando eu entrei na prefeitura. A gente mudou esse jogo nos últimos três anos e meio. Hoje o Rio tá na moda.

URBe – Pois é, a cidade está com uma força e não aproveita…

Eduardo Paes – Trouxemos a força! Quer dizer, você é de uma geração… Você é um pouco mais novo que eu, eu tô com 42. Minha geração se acostumou a ver as pessoas indo pra São Paulo. Desde que a gente entrou na prefeitura a gente está fazendo as pessoas voltarem de São Paulo. O Rio voltou a ser uma cidade desejada, querida.

URBe – E agora pra finalizar, são as duas últimas questões. Uma é a questão dos bicicletários, que é outro problema. O equipamento é totalmente bagunçado, não tem uniformidade nenhuma . Não sei quem são os designers que criam isso, porque parece que nunca subiram em uma bicicleta. A praia, cartão postal da cidade, é um caos pra parar bicicletas. Tem algum plano pra isso, você pensa em algum patrocinador?

Eduardo Paes – Não, não quero patrocinador não. A gente fez um bicicletário agora, acho que até tenho uma foto dele aqui, cara, o modelo que a gente quer adotar, só que é mais caro e a gente não quer colocar patrocínio, entendeu? Esse aqui ó. [o da foto acima]. Acho que você já viu.

URBe – Vi sim, ele está sendo um pouco criticado pelos ciclistas também, né. Ele melhora porque você pode prender a bicicleta pelo quadro e ele é bonito. O problema é que as bicicletas ficam amontoadas umas nas outras. Principalmente na orla, pra onde as pessoas vão com rack de prancha ou cestinha e você não consegue encaixar nesse bicicletário.

Eduardo Paes – Prancha e cestinha não pode não, é? Acho que é por isso que a gente colocou umas de teste agora, pra assistir, mas é bonito pra caramba isso aqui, eu gostei… Achei leve, bonito.

[N.E. – Existem muitas opções de bicicletário]

URBe – Em Nova York agora eles estão pegando as esquinas, todas as curvas de esquinas… Sabe onde tem um bicicletário no Leblon, na rua do BB Lanches, que chega na praia? Aquela última esquina ali onde vira o bicicletário?

Eduardo Paes – Sei.

URBe – Eles estão usando várias esquinas pra fazer isso, pra tirar as bicicletas da rua, pra não ficarem no poste atrapalhando os pedestres. E o que isso fez foi diminuir os acidentes, porque melhorou a visão dos motoristas nos cruzamentos.

Eduardo Paes – Cara, eu vou te contratar pra ser meu consultor, sem sacanagem pô, você tá aprofundado no assunto.

URBe – Tem gente que sabe melhor do que eu. Tem alguns blogues que você deveria estar acompanhando. Mas acho que é questão de fazer realmente uma consulta pública.

Eduardo Paes – Não, não, eu acho que tem uma coisa legal, uma idéia muito legal que você me deu aqui, que a gente depois pegar isso e levar pro transporte, né? Porque tá no meio ambiente? É que antigamente era uma coisa exótica e tal,

URBe – Esse é o problema, essa visão, essa cultura…

Eduardo Paes – Mas a gente não tá mais no exótico cara, quando você faz 300 km…

URBe – Tem que educar os motoristas, de ônibus, de táxi, pra poder andar.

Eduardo Paes – Você tem razão.

URBe – Finalizando na parte do lazer, outro problema que vejo é a ordenação de espaços como o calçadão. Se você for no Central Park, acredito que você já deva ter ido, todas as zonas são separadas. Tudo bem que é muito maior que o calçadão, mas tem a zona dos patins, a zona do skate, tem as faixas de bicicleta e as áreas onde se corre. Acabo falando isso por causa do compartilhamento da faixa, que é uma coisa que não acredito. Acho que compartilhamento de faixa simplesmente quer tentar resolver vários problemas com uma solução só, quando são completamente diferentes. Andar é uma coisa, correr é outra e andar de bicicleta é uma terceira. O calçadão da praia do jeito que é hoje em dia, e eu acho que é o exemplo perfeito pra te falar da questão de “tem ciclovia e põe bicicleta e a coisa se resolve”, no Aterro do Flamengo é a mesma coisa. Fechar é ótimo, gera um espaço, mas o que acontece? Ciclistas trafegam pela pista, então uma pessoa que poderia andar com mais calma nas pistas fechadas, fica em zigue-zague de bicicleta, as pessoas não obedecem mão de um lado pro outro, e não tem zona restrita pra nada. Não tem área de skate, não tem área pras crianças andarem, de maneira que fica uma coisa até perigosa. Você tem crianças aprendendo a andar de bicicleta, um cara zunindo vindo da Vista Chinesa, essa coisa meio solta do Rio, que é óbvio uma característica da cidade. Sou um pouco organizado além da conta, talvez…

Eduardo Paes – Isso é bom, tem que ter.

URBe – Mas acho que falta uma certa organização nesse sentido, da faixa compartilhada ter realmente um planejamento.

Eduardo Paes – Eu acho que assim, de novo: você tem razão, há uma indisciplina. Porque o poder público tem muita dificuldade de punir quando o sujeito não tá com uma porcaria de placa na bunda. Mas é que é verdade, então é por isso que o cidadão na rua… É a mesma história do cara que joga o lixo, né? “Cadê a tua placa, mermão? Não sei onde eu te aplico a multa”. Então você tem razão nisso. Aí, de novo: você vai ter pra cada lugar uma solução. Você fala de faixa compartilhada muito mais por uma solução física, de custo, do que qualquer outra coisa. Cada lugar vai ter sua solução, agora essa solução não precisa ser necessariamente zoneada. A faixa compartilhada pode ser uma solução, entendendo-se que ali é uma faixa compartilhada. E aqui vai ter que segurar mais a onda. O lugar onde só existir ciclovia não precisa segurar tanto a onda. Então acho que é isso, é um pouco de comportamento mesmo. Enfim, e aí a gente volta de novo pro tema que a gente tava falando aqui, que é o tema da campanha, do esclarecimento. O cara não pune…

URBe – Eu acho que e aí que a prefeitura poderia entrar forte mesmo, acho que o papel do Estado é esse, estimular esse uso. A parte dos aparelhos está sendo feito, embora eu tenha minhas críticas a respeito. Mas é a educação, é ajudar essas leis a serem cumpridas, dar prioridade mesmo para as bicicletas em algum lugar, para que isso possa mudar.

Eduardo Paes – Totalmente de acordo.

URBe – Obrigado, prefeito, por ter nos recebido.

Eduardo Paes – Imagina cara, prazer grande.

URBe – Espero que esse assunto evolua ainda e a gente veja mais bicicletas pela cidade.

Eduardo Paes – Amém, também quero.

Deixe uma resposta

8 Comments

  1. Daniel Ferro
  2. Bruno Vouzella
  3. Polla
  4. Luiz Fernando
  5. francisco manoel rodrigues

Deixe uma resposta