quarta-feira

12

novembro 2008

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Entrevista – Deeplick

Written by , Posted in Urbanidades

Você pode não conhecer o DJ e produtor Deeplick, mas deve ter ouvido um de seus trabalhos, mesmo que tenha sido sem querer ou sem saber.

É ele quem assina os remixes de artistas como Vanessa da Mata, Seu Jorge, Jota Quest, Marisa Monte, Marcelo D2 e outros, levando a música desses artistas as rádios pop onde alguns deles não chegam. E em alguns casos, ao topo da lista de mais executadas do ano — onde alguns deles também não chegam.

Outro dia o camarada Leo Lichote fez uma matéria com sujeito e fiquei interessado em falar com ele também.

Trata-se de um dos poucos produtores de música eletrônica residentes no Brasil que efetivamente transformaram isso num negócio lucrativo. Goste ou não goste, não dá pra ignorar o trabalho do Deeplick.

Seus remixes recente figuram entre as músicas mais executadas do ano. Qual foi o seu primeiro sucesso comercial e de que maneira você conseguiu essas oportunidades?

O primeiro sucesso foi o remix do Claudio Zoli – “Cada um cada um”. Nessa época eu já conhecia algumas pessoas de gravadora, inclusive da Trama, que é a gravadora do Claudio Zoli. Já tinha feito trabalhos menores, mas de qualidade. Eles resolveram arriscar fazer comigo e o resultado foi muito bom.

Como ocorre o contato para fazer esses trabalhos? É um pedido direto das gravadora, querendo emplacar a música em rádios de perfis diferentes do artista?

As vezes a gravadora pede com o objetivo de tocar em rádio de perfis diferentes, as vezes ela pede com o objetivo de distribuir para os DJs e tocar na noite. No meu caso é muito comum também o próprio artista encomendar o remix.

Qual o seu contato com os artistas no processo? Tem algum papo? Muitos deles são muito distantes desse universo da música eletrônica, como é a reação deles ao resultado final?

Quase sempre tenho contato com eles. Dependendo do trabalho eu até converso antes com o artista na hora que eu estou achando um caminho para a música. Na verdade falamos remix , mas o que acontece mais é produzir uma versão nova do zero.

No caso do Seu Jorge por exemplo, fiz o instrumental todo e ele gravou a voz. Não tem nada da original. Conversamos muito durante esse trabalho. Aliás ele é uma pessoa muito legal e muito engraçada. São 30 minutos gravando a voz e 3 horas conversando um papo ótimo, sempre.

A reação deles é sempre positiva. Esses artistas que eu estou trabalhando estão muito modernos e pensando com a cabeça bem aberta.

De que maneira a pressão para fazer uma música que precisa chegar ao número 1 das paradas afeta o seu trabalho?

Não afeta em nada. Trabalho para o resultado ficar bom. Uma música boa e honesta tem mais chance de fazer sucesso do que as outras. Faço com o coração e com o maior respeito pelo artista e isso me traz boas consequências. Quando aparece alguem falando que quer fazer um remix pra virar primeiro lugar eu não faço.

Como você encontrou esse formato de remix comercialmente viável?

Eu trabalhei em rádios e toquei como DJ minha vida inteira. Gosto de fazer o som para o público , acho que DJ tem que agradar e fazer as pessoas felizes. Isso já está na minha essencia como DJ, acaba saindo naturalmente. E claro, muita pesquisa em cima de novas tecnologias pra me dar conhecimento e me ajudar colocar em prática tudo que eu penso.

Como é sua negociação com as gravadoras? você recebe apenas pelo trabalho executado ou tem participação nas vendas e na arrecadação por execução nas rádios?

Recebo por trabalho, das gravadoras ou dos artistas. As vezes tenho participação nas vendas e as vezes não, mas quando a música e executada eu recebo direitos conexos pagos pelo Ecad, como músico acompanhante, afinal acabo, quase sempre, tocando junto com meu parceiro de produção, o Miller, todos os instrumentos daquela versão remix.

Quanto custa um remix seu?

Pode variar muito, faço vários tipos de negociação. Em média de 4000 a 7000 Reais. E se esse trabalho vira hit acaba rendendo de outras maneiras, como já respondi.

Quais são suas referências, o que você gosta de ouvir por prazer, longe do trabalho?

Rock , aquele rock com infuências de outros estilos, como The Clash. Acid jazz , adoro! Flash back, principalmente os clássicos do funk como Funkdelic. E música eletrônica dos anos 80. Ah, um chill out as vezes vai muito bem também.

Você já fez remixes de artistas menos sucedidos comercialmente no brasil, como “Hardest button to button” (White Stripes), “Technologic” (Daft Punk), “Superluz” (Nego Moçambique) e “LDN” (Lily Allen). Esses você fez por vontade própria? Como escolheu as músicas?

O Nego Mocambique , o White Stripes e a Lily Allen foram encomendados sim pela gravadora. Fiz eles da mesma maneira que fiz todos os outros.

No caso do Daft Punk, foi uma experiência. Eu tinha feito uma música que parecia do Daft Punk e coloquei a voz do “Technologic” pra testar, como ficou bom comecei a usar em festas que eu tocava. Esse tipo de coisa é legal para meu trabalho como DJ, porque acabo tocando uma versao exclusiva que só eu tenho e acabo tendo um diferencial na minha apresentação.

O que você acha da cena alternativa de música eletrônica, de DJs e produtores que fazem música que não tem sucesso comercial? Você é aceito pela “elite” dos produtores bacanudos ou visto com maus olhos?

Amo música eletrônica. Admiro os grande nomes da música eletrônica como Fatboy Slim, Moby, Chemical Brothers, Daft Punk , etc. Gosto desse eletrônico porque é um alternativo mas é inteligente, musicalmente rico e sem preconceitos da parte de quem faz, por isso foram tao longe.

Existem nomes menos conhecidos que fazem esse mesmo tipo de música e eu acho tudo muito bom. Gosto muito do eletro barulhento mesmo, com influências de artistas dos anos 80. Frequento essa cena e toco em festas assim de vez em quando , então eu acho que faco parte disso também.

Você falou de produtores bacanudos e o maior exemplo é o Gui Boratto , o maior produtor de música eletrônica no Brasil e muito meu amigo, somos parecidos em muitos aspectos pessoais, ele me respeita muito e eu respeitos muito ele. Já fizemos trabalhos juntos, mesmo tendo estilos diferentes.

Outra pessoa que eu tenho uma grande afinidade é o Dudu Marote, foi ele que me pediu o remix do Nego Moçambique e ficou muito feliz com o resultado. Tenho grandes amigos como Patife e Ramilson Maia, trabalho com eles de vez em quando, são pessoas maravilhosas de muito bom gosto e de nenhum preconceito musical. É nesse eletrônico que eu acredito.

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  1. Neto Xavier

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