Disse o Cícero
Written by urbe, Posted in Destaque, Música, Resenhas
Assim que entrou em cena, Cícero se deparou com problemas no seu violão elétrico. Sem graça, pediu desculpas, disse que tinha acabado de passar o som e que tudo ia dar certo. O público do teatro Solar de Botafogo, abarrotado em pleno recesso não-oficial de final de ano, com gente sentada pelas escadas, nem ligou. Eram todos fãs e estavam na mão do compositor.
Quando comentou sobre o coro de uma música em que a plateia participou (após insistentes pedidos do cantor), disse que em Belo Horizonte não tinha sido atendido e tinha ficado até sem graça. Um rapaz gritou “é mentira! eu estava lá!”. Desde que lançou o clipe de “Tempo de Pipa” em junho, uma viagem neo-hippie pelo bondinho de Santa Teresa, Cícero vem conquistando seguidores – de verdade, não no Twitter.
Lançado de maneira independente e disponibilizado gratuitamente em sua página, o disco “Canções de Apartamento” foi se espalhando e levando Cícero a tocar pelo Brasil, entrando em listas de melhores do ano de blogues (“não que isso seja importante”, disse após contar para o público sobre esse fato), começando a construir uma carreira. Conferir o burburinho foi o motivo da ida ao show.
Cícero gosta do palco. Pode ser somente uma empolgação inicial, fato é que a quantidade de trejeitos e gracinhas para plateia (como roer as unhas ao microfone apenas para ser repreendido por uma fã mais entusiasmada) beiram a afetação. O que pode atrapalhar ou ajudar, depende do público que ele estiver mirando.
Em certo momento, Cícero brincou com participação da plateia, dizendo que estava se sentindo a Maria Gadu. No ponto em que está, a comparação faz sentido, mais até do que as apontadas similaridades com Los Hermanos e Rodrigo Amarante. As boas letras estão prontinhas para as massas; “Ensaio Sobre Ela” é só botar pra tocar na novela.
Musicalmente, no entanto, tudo ainda soa bastante derivativo (Radiohead, LH): toda música inicia bossa, explode indie e fecha bruscamente, num formato repetitivo. Faria bem um despreendimento estético, experimentar mais. Caminho tem e a interessante versão de “You Don’t Know Me”, feita em cima de “João e o Pé de Feijão”, (ah, se Caetano vê…) mostra isso.
Antes do final, Cícero agradeceu aos fãs pela divulgação no Facebook e na internet (nessa ordem) e num discurso altruísta, convocou o público a ajudar mais artistas a aparecer publicando músicas de novos nomes em seus perfis, dividindo a própria audiência sem nem saber com quem.
Entre as canções o compositor sentia-se obrigado a se comunicar com o público, repetindo o agradecimento por todos estarem ali, emcerrando o papo com um “não tenho mais o que dizer”. Engano dele.
Ainda no começo da jornada, Cícero já tem um número relevante de fãs dispostos a ouvi-lo. Só isso deveria ser motivo para sentir-se seguro para arriscar mais e explorar o próprio talento. Em tempos de carreiras relâmpago, em que artistas se descobrem e amadurecem na frente do público, não dá para esperar muito tempo pra isso.
Show muito bom!!!!!!!!!! Adorei!!!!!!!! Primeira vez que assisti ao vivo!!!! E ele não estava roendo a unha. Qualquer um que toca sabe que ele quebrou a unha tocando e tava dando um jeitinho, rsrsrs!!!!!
Adorei que estava lotado!!!! (Apesar de não ser um espaço grande) e com certeza ele ainda irá evoluir, mas gosto de como é pessoal esse cd. Além de ter sido gravado (inclusive os instrumentos) quase todo por ele.
Ele irá evoluir sim. Assim como jornalistas evoluem, nem que seja relendo artigos para evitar erros de português…
É a ordem natural de quem ama o que faz!
bom texto!
curto o trabalho do Cícero desde os tempos da Alice e acho que agora ele acertou.
escrevi sobre o show de lançamento para o Urbanaque, aqui: http://urbanaque.com.br/2011/10/25/cicero-estreia-seu-belo-disco-cancoes-de-apartamento-em-palco-carioca/
Tinha baixado o disco há quase quatro meses, mas ainda não tinha nem descompactado.Darei uma ouvida.
Também gostei do texto.Ah, se as críticas musicais de jornal/revista estivessem pelo menos nesse nível…
Texto muito bom!
Não tinha visto um show dele ainda também. Mas achei bonio e sincero. Tem uma coisa de anti-estrela na forma como ele fala com o público, olha a platéia. Uma aproximação que todo o novo-hype de “Thiagos Pethit, Tulipas e Céus” não tê. Eles passam uma soberba com a tal humildade forçada dos intelectualizados que me incomoda bastante. Ele passa de forma sincera a tal “coisa carioca” de falar o que dá vontade, mesmo que seja 10 vezes “tô feliz que vocês vieram” ou insistindo pra gente fazer Laiá laiá. Acho que tudo soa ainda imaturo no palco, mas sincero.
E sinceridade é tudo na arte.
Achei a dinâmica ao vivo um pouco pesada demais… no cd o disco não é tão forte, mas não comprometeu.
Acho de verdade que Cícero vai ser o novo nome forte da MPB porque ele é sincero no que faz. Fazendo bem ou não.
Só achei, assim, que “beirando a afetação” foi um pouquinho over, né?
Não quero ser desagradável, mas “ser carioca” não é ser “humilde”.É só perguntar para o resto do Brasil. 😛
Achei o show DO CARALHO!
Muito mais pressão ao vivo. No disco em a coisa da atmosfera te envolver, o que deve ser muito complicado de fazer ao vivo sendo independente e tal. Mas o lado indie rock ao vivo é bem mais contagiante.
Achei que crítica pegou meio pesado com o cara. Tem menos de 3 meses que ele começou a fazer shows e a cobrança em cima já tá muito pesada. A mídia é que tá colocando ele como revelação da música brasileira, o cara, tanto em entrevistas como nos shows, sempre deixa claro que tá sendo um work in progress tudo isso que tá acontecendo com ele.
E achei FODA o discurso sobre terem boa vontade com outros artistas novos e não com ele. Toco também e sinto falta dos artistas puxando outros… o muleque é bom. Não toa que já tem uma legião de fãs pelo país. No underground não é tão fácil ganhar a admiração de tanta gente se não for por talento legítimo.
Todos concordamos que ele tem.
Ele quebrou a unha! por isso que em Ensaio Sobre Ela ficava uma corda fazendo “tém tém” demais… por isso ele roeu depois!
Implicância!
Sintetizou fantasticametne bem … ” tudo ainda soa bastante derivativo (Radiohead, LH): toda música inicia bossa, explode indie e fecha bruscamente, num formato repetitivo.” … e acrescentaria muito óbvio. A renovação da música brasileira está complicada, mas é isso aí tem que dar espaço, divulgar, prestigiar quem se arrisca e aos poucos a coisa vai tomando forma.
Legal o texto, Bruno. Também acho que vc definiu bem o lance mpb + indie = fórmula básica de muita gente que acha que está renovando a música popular brasileira. Na real, a renovação ainda é só uma ilusão (nação zumbi e mundo livre sa, por exemplo, foram muito mais “revolucionários” vinte anos atrás). Tem muito cara bom (Cícero é um deles), mas só a rodagem vai dizer quem vai ficar ditando o futuro e quem vai ficar no meio caminho, “entre um chico, jobim e radiohead da vida”.
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
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